por: Arival Dias Casimiro
Princípios Bíblicos Acerca da Adoração Agradável a Deus
A Adoração no Antigo Testamento
Os cultos oferecidos pelos crentes no Antigo Testamento podem ser classificados em:
individual, familiar e congregacional ou coletivo.
Até a saída do Egito e a constituição da nação de Israel, predominou o culto individual, marcado por encontro ou revelações especiais de Deus a uma pessoa, culminando com a edificação de pequenos altares (Gênesis 8:20; 12:7-8; 13:18; 26:25; 28:18-22; 33:20; 35:7,14-15; Êxodo 3:2-5). Não era uma adoração formal ou ritualística. A adoração era espontânea, resultado de uma manifestação divina. O encontro de Deus com o adorador era, na sua maioria, por iniciativa de Deus e marcado por muita reverência e temor.
John Frame declara: “Esses encontros foram muito diferentes uns dos outros, mas há semelhanças importantes entre eles. Deus apresentava-se em sua majestade como Senhor. O adorador era tomado por um temor reverente. O controle, a autoridade e a presença do Senhor impunham-se com absoluta evidência. Sua força e o seu poder eram esmagadores; falava uma palavra de autoridade e revelava-se na presença do adorador. Este não permanecia o mesmo. Saía da experiência com uma nova missão: servir a Deus com renovada dedicação”.
Até chegarmos ao Monte Sinai, examinaremos duas passagens bíblicas. Nelas encontraremos princípios permanentes sobre cultuar a Deus.
O culto que agrada a Deus (Gênesis 4:1-7)
O primeiro culto oferecido a Deus registrado no A.T. foi realizado pelos irmãos Caim e Abel. O texto registra: “Coabitou o homem com Eva, sua mulher. Esta concebeu e deu à luz a Caim; então, disse: Adquiri um varão com o auxílio do SENHOR. Depois, deu à luz a Abel, seu irmão. Abel foi pastor de ovelhas, e Caim, lavrador. Aconteceu que no fim de uns tempos trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao SENHOR. Abel, por sua vez, trouxe das primícias do seu rebanho e da gordura deste. Agradou-se o SENHOR de Abel e de sua oferta; ao passo que de Caim e de sua oferta não se agradou. Irou-se, pois, sobremaneira, Caim, e descaiu-lhe o semblante. Então, lhe disse o SENHOR: Por que andas irado, e por que descaiu o teu semblante? Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo.” (Gênesis 4:1-7).
Quatro princípios aprendemos neste texto:
- O objetivo do culto é agradar a Deus. E sem fé é impossível agradá-Lo (Hebreus 11:6). O culto oferecido por Abel foi por meio da fé (Hebreus 11:4).
- O culto que agrada a Deus é uma expressão da vida de quem oferece. Deus agradou-se de Abel e de sua oferta e desgradou-se de Caim e de sua oferta (confiraI João 3:12; Hebreus 11:4).
- Devemos oferecer o melhor a Deus. Abel ofertou das primícias do seu rebanho (ConfiraDeuteronômio 26:1-11).
- Deus recompensa os adoradores. Deus diz para Caim que ele seria aceito caso procedesse bem. Ser aceito por Deus é a maior bênção que uma pessoa pode receber (Levítico 22:29; Isaías 56:7).
O cântico de Moisés e dos filhos de Israel (Êxodo 15:1-21)
Moisés e todos os filhos de Israel celebraram coletivamente a saída do Egito, efetivada pelo triunfo sobre Faraó e o seu exército. Aquela celebração é considerada um ato espontâneo de adoração. Eles não estavam cumprindo uma ordem de Deus ou seguindo um ritual. A salvação ou a libertação concedida por Deus gerou adoração (Salmos 40:1-3).
A passagem pode ser dividida em duas partes: 15:1-18, o cântico de Moisés e dos filhos de Israel; 15:19-21, o cântico entoado por Miriã e todas as mulheres.
1 Então cantou Moisés e os filhos de Israel este cântico ao SENHOR, e falaram, dizendo: Cantarei ao SENHOR, porque gloriosamente triunfou; lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro.
2 O SENHOR é a minha força, e o meu cântico; ele me foi por salvação; este é o meu Deus, portanto lhe farei uma habitação; ele é o Deus de meu pai, por isso o exaltarei.
3 O SENHOR é homem de guerra; o SENHOR é o seu nome.
4 Lançou no mar os carros de Faraó e o seu exército; e os seus escolhidos príncipes afogaram-se no Mar Vermelho.
5 Os abismos os cobriram; desceram às profundezas como pedra.
6 A tua destra, ó SENHOR, se tem glorificado em poder, a tua destra, ó SENHOR, tem despedaçado o inimigo;
7 E com a grandeza da tua excelência derrubaste aos que se levantaram contra ti; enviaste o teu furor, que os consumiu como o restolho.
8 E com o sopro de tuas narinas amontoaram-se as águas, as correntes pararam como montão; os abismos coalharam-se no coração do mar.
9 O inimigo dizia: Perseguirei, alcançarei, repartirei os despojos; fartar-se-á a minha alma deles, arrancarei a minha espada, a minha mão os destruirá.
10 Sopraste com o teu vento, o mar os cobriu; afundaram-se como chumbo em veementes águas.
11 Ó SENHOR, quem é como tu entre os deuses? Quem é como tu glorificado em santidade, admirável em louvores, realizando maravilhas?
12 Estendeste a tua mão direita; a terra os tragou.
13 Tu, com a tua beneficência, guiaste a este povo, que salvaste; com a tua força o levaste à habitação da tua santidade.
14 Os povos o ouviram, eles estremeceram, uma dor apoderou-se dos habitantes da Filistia.
15 Então os príncipes de Edom se pasmaram; dos poderosos dos moabitas apoderou-se um tremor; derreteram-se todos os habitantes de Canaã.
16 Espanto e pavor caiu sobre eles; pela grandeza do teu braço emudeceram como pedra; até que o teu povo houvesse passado, ó SENHOR, até que passasse este povo que adquiriste.
17 Tu os introduzirás, e os plantarás no monte da tua herança, no lugar que tu, ó SENHOR, aparelhaste para a tua habitação, no santuário, ó Senhor, que as tuas mãos estabeleceram.
18 O SENHOR reinará eterna e perpetuamente;
19 Porque os cavalos de Faraó, com os seus carros e com os seus cavaleiros, entraram no mar, e o SENHOR fez tornar as águas do mar sobre eles; mas os filhos de Israel passaram em seco pelo meio do mar.
20 Então Miriã, a profetiza, a irmã de Arão, tomou o tamboril na sua mão, e todas as mulheres saíram atrás dela com tamboris e com danças.
21 E Miriã lhes respondia: Cantai ao SENHOR, porque gloriosamente triunfou; e lançou no mar o cavalo com o seu cavaleiro.
Este trecho narra o primeiro ato de culto a Deus, prestado pelo Seu povo após a saída do Egito. Ele contém alguns princípios importantes acerca da adoração.
- Quem são os participantes deste culto? Moisés e os filhos de Israel, isto é, participam do culto todos aqueles que saíram do Egito, e passaram a pé enxuto pelo mar vermelho. São os resgatados ou redimidos do Senhor. “Então cantou Moisés e os filhos de Israel este cântico ao SENHOR, e falaram, dizendo.” (Êxodo 15:1). Adorar a Deus é um privilégio exclusivo dos seus filhos.
- Quem é o objeto do culto? Deus, o SENHOR é o receptor e o assunto deste ato de adoração. “Cantarei ao SENHOR …” (v. 2) Os vinte e um versos que compõem esta canção são todos sobre o que Deus é e fez. Eles cantam a Deus e sobre Deus. Esta é a principal característica do culto verdadeiro. Deus é o tema e o objeto do nosso culto.
- Qual é a razão ou intenção deste culto? Naquela ocasião de conquista, quando Faraó foi derrotado com todo o seu exército, a pessoa de Deus estava sendo exaltada. Deus é a razão de qualquer ato de adoração. A intenção do adorador deve ser a exaltação do nome do SENHOR!
- Deus é superior a Faraó e ao poderoso exército do Egito – 15:2-10
- Deus é incomparável em Glória, Santidade e Poder – 15:11-12
- Deus conduzirá o seu povo para um lugar especial – 15:13-17
- Deus é o Rei Eterno – 15:18-19
Destaque: A dança das mulheres
Os dois últimos versículos narram o cântico de Miriam: “A profetisa Miriã, irmã de Arão, tomou um tamborim, e todas as mulheres saíram atrás dela com tamborins e com danças. E Miriã lhes respondia: Cantai ao SENHOR, porque gloriosamente triunfou e precipitou no mar o cavalo e o seu cavaleiro.” (Êxodo 15:20-21)
Primeiro, Miriã é identificada com uma profetisa (Juízes 4:4). Na época de Davi, os músicos profetizavam por meio da música: “Quanto à família de Jedutum, os filhos: Gedalias, Zeri, Jesaías, Hasabias e Matitias, seis, sob a direção de Jedutum, seu pai, que profetizava com harpas, em ações de graças e louvores ao SENHOR.” (I Crônicas 25:3).
Segundo, o cântico de Miriã reproduz uma prática da época. As mulheres normalmente cantavam e dançavam por ocasião de vitórias militares (I Samuel 18:6; 21:11; 29:5; Juízes 11:34). No período da restauração de Israel, época de Esdras e Neemias, as mulheres foram incluídas como cantoras do templo (Esdras 2:65; Neemias 7:67).
O cântico de Miriã nada acrescenta ao cântico litúrgico de Moisés e dos filhos de Israel: “Cantai ao SENHOR, porque gloriosamente triunfou e precipitou no mar o cavalo e o seu cavaleiro.” (15:21). A dança praticada por Miriã e pelas mulheres não foi um ato de culto e nem foi incorporada no culto do Antigo Testamento.
A adoração nos Dez Mandamentos
Três meses após a saída do Egito, Deus faz uma aliança com Israel: “Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel. Veio Moisés, chamou os anciãos do povo e expôs diante deles todas estas palavras que o SENHOR lhe havia ordenado. Então, o povo respondeu a uma: Tudo o que o SENHOR falou faremos. E Moisés relatou ao SENHOR as palavras do povo.” (Êxodo 19:5-8).
Israel torna-se um reino de sacerdotes e uma nação santa (I Pedro 2:9-10; Apocalipse 1:6; 5:10; 20:6). E uma das ocupações principais do povo de Deus é a adoração. Os primeiros princípios para a adoração a Deus aparecem na lei moral. Em Êxodo 20:1-17 temos os “Dez Mandamentos”. Os quatro primeiros mandamentos referem-se ao relacionamento do homem com Deus. Destacaremos os dois primeiros mandamentos:
“Então, falou Deus todas estas palavras: Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.” (Êxodo 20:1-6).
Dois princípios para o culto são estabelecidos:
1 – Não terás outros deuses diante de mim. A Quem devemos adorar? Adoremos a Deus! O Deus da Bíblia é o único Deus e Ele abomina o culto a outro deus (Isaías 48:11). A expressão “diante de mim” significa literalmente “perante a minha face” ou “na minha presença”. Deus é zeloso e reivindica adoração exclusiva.
2 – Não farás para ti imagem de escultura. Como devemos adorar? Não devemos adorar a Deus pela nossa imaginação, mas de acordo com a Sua revelação escrita – a Bíblia. Qualquer imagem é uma projeção da mente humana e uma deturpação da verdadeira identidade de Deus.
As Escrituras delineiam, conforme J.MacArthur Jr., pelo menos quatro categorias inaceitáveis de culto:
- Cultuar falsos deuses: a humanidade pecadora rejeita o Deus verdadeiro e se volta de forma irresistível ao culto falso. (Romanos 1:21,23).
- Cultuar de forma errada o Deus verdadeiro: Os teólogos de Westminster declaram que “o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por Ele mesmo e é tão limitado pela Sua própria vontade revelada, que Ele não pode ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens, de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras” (veja Deuteronômio 12:32; Mateus 15:9; Atos 17:24-25; Êxodo 20:4-5; Colossenses 2:20-23).
- Cultuar à nossa própria maneira o Deus Verdadeiro: Cultuar a Deus à nossa maneira constitui-se uma abominação. Em se tratando de culto, tudo o que as Escrituras não ordenam expressamente é proibido (Deuteronômio 4:2; 12:32). Há muita coisa sendo introduzida ao culto hoje, que Deus não estabelece em Sua Palavra. É tradição humana (Mateus 15:3). A base do culto é a Bíblia.
- Cultuar com atitude errada: O culto verdadeiro requer o envolvimento total do adorador Devemos oferecer o melhor para Deus. Não podemos tratar o culto com irreverência, desrespeito e desprezo. Deus odeia e abomina o culto que é prestado com atitudes erradas. Leia com atenção: Amós 5:21-24; Oséias 6:4-6; Isaías 1:11-15.
A adoração na lei cerimonial
Israel era o povo da Aliança. Deus revelou a Israel três leis que regulamentariam a aliança. Estas leis são classificadas em Lei Moral, Lei Civil e Lei Cerimonial.
O “modus operandi” do culto está na Lei Cerimonial, resumida no Código Sacerdotal (livro de Levítico). Deus regulamentou cada detalhe do culto e o livro de Levítico começa assim: “Chamou o SENHOR a Moisés e, da tenda da congregação lhe disse: Fala aos filhos de Israel e dize-lhes.” (Levítico 1:1). Observe que o livro é o registro de instruções dadas diretamente por Deus a Moisés (Êxodo 25:9), de dentro do Tabernáculo (Êxodo 40:34-38; Hebreus 8:5). Nada no culto a Deus foi copiado das nações pagãs e a marca fundamental do culto a Deus é a santidade. Seis características do culto santo:
Era oferecido ao Deus Santo
O atributo da santidade de Deus é o princípio determinante da adoração. “Disse o SENHOR a Moisés: Fala a toda a congregação dos filhos de Israel e dize-lhes: Santos sereis, porque eu, o SENHOR, vosso Deus, sou santo.” (Levítico 19:1-2). Veja também Josué 24:19; I Samuel 6:20; Isaías 6:1-3; Salmos 99. A santidade de Deus é o atributo que delineia a adoração na Velha Aliança.
A santidade de Deus pode ser definida como “aquela perfeição de Deus em virtude da qual Ele eternamente determina e mantém a Sua própria excelência moral, aborrece o pecado, e exige pureza de suas criaturas morais” (L. Berkhof).
Era oferecido por intermédio de oferta santa
A oferta por meio dos holocaustos ou sacrifícios foram estabelecidos pelo Senhor. Os sacrifícios eram a base da santificação. Por meio deles realizavam-se a propiciação dos pecados, e três lições eram ensinadas: primeira, o pecado ofendia a Deus e desencadeava a sua ira e punição – o salário do pecado é a morte; segunda, a ira de Deus era suspensa ou a sua justiça propiciada, somente através do sacrifício cruento – sem o derramamento de sangue não há remissão de pecado; terceira, todos os sacrifícios e ofertas eram tipos do único sacrifício que tira o pecado e estabelece a nossa comunhão com Deus – o sacrifício de Jesus (Levítico 17:11; João 1:29; Hebreus 9:25-26; 10:5-7,14).
A exigência fundamental da oferta de holocausto era que fosse “sem defeito”: “Se a sua oferta for holocausto de gado, trará macho sem defeito” (Levítico 1:3). Somente animais domésticos sem nenhum defeito deveriam ser oferecidos. Deus rejeitou o culto com ofertas defeituosas (Malaquias 1:12-14).
Era oferecido num lugar/espaço santo
Ao regulamentar o culto no Antigo Testamento, Deus estabeleceu um lugar central para a adoração. “Guarda-te, não ofereças os teus holocaustos em todo lugar que vires; mas, no lugar que o SENHOR escolher numa das tuas tribos, ali oferecerás os teus holocaustos e ali farás tudo o que te ordeno.” (Deuteronômio 12:13-14) O lugar onde Deus se revelava foi chamado de “terra santa” (Êxodo 3:5; Atos 7:33).
O tabernáculo (Êxodo 25:8; 29:31) e o templo (Salmos 79:1; Isaías 64:11) foram os lugares separados para o culto.
Era oferecido por pessoas santas
O povo de Israel foi identificado como “povo santo”: “Porque sois povo santo ao SENHOR, vosso Deus, e o SENHOR vos escolheu de todos os povos que há sobre a face da terra, para lhe serdes seu povo próprio.” (Deuteronômio 14:2).
Dentre o povo escolhido, Deus escolheu aqueles que iriam trabalhar no serviço do culto: os levitas (Números 1:47-54; 3:1-39), e família de Arão, para o sacerdócio (Êxodo 28:1-2; Levítico 8:1-36).
Quando Davi organizou o ministério da música no Templo, as famílias de Asafe, Hemã e Jedutum foram escolhidas para dirigir os cantores e músicos (I Crônicas 25).
Era oferecido em tempo santo
O tempo santo já foi estabelecido por Deus no quarto mandamento por meio da guarda do sábado (Êxodo 20:8-11). Ele também estabeleceu as “festas santas”: “Disse o SENHOR a Moisés: Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: As festas fixas do SENHOR, que proclamareis, serão santas convocações; são estas as minhas festas.” (Levítico 23:1-2). As festas eram em número de sete: festa da páscoa, festa dos pães asmos, festa das primícias, festa do pentecostes ou festa das semanas, festa das trombetas, o “dia da expiação” e a festa dos tabernáculos (Levítico 23:3-44). Além destas festas, os judeus guardavam “O ano sabático” e o “ano do Jubileu” (Levítico 25).
Era oferecido em objetos santos
O culto era oferecido usando objetos denominados de “coisas santas”: “Havendo, pois, Arão e seus filhos, ao partir o arraial, acabado de cobrir o santuário e todos os móveis dele, então, os filhos de Coate virão para levá-lo; mas, nas coisas santas, não tocarão, para que não morram; são estas as coisas da tenda da congregação que os filhos de Coate devem levar.” (Números 4:15).
Todos os objetos e utensílios usados no culto eram exclusivos, separados do uso comum para uso especial. A profanação do culto deu-se principalmente com a profanação das pessoas, do tempo e das coisas santas: “Os seus sacerdotes transgridem a minha lei e profanam as minhas coisas santas; entre o santo e o profano, não fazem diferença, nem discernem o imundo do limpo e dos meus sábados escondem os olhos; e, assim, sou profanado no meio deles.” (Ezequiel 22:26).
Em síntese, o culto da velha aliança é prestado ao Deus Santo, por meio de oferta santa, por pessoas santas, em tempos e lugares santos, utilizando objetos santos. A profanação do culto e as suas trágicas conseqüências fizeram parte da história de Israel, no período que vai de Moisés até Malaquias.
Acidentes relacionados ao culto
O código sacerdotal exigia obediência irrestrita aos mandamentos cerimoniais. Qualquer transgressão de um princípio cerimonial desencadeava o julgamento punitivo de Deus. Vejamos alguns exemplos:
Fogo estranho – Nadabe e Abiú eram dois filhos consagrados de Arão (Êxodo 24:1). Eles foram reprovados por Deus quando ofereceram fogo estranho ao Senhor. (Levítico 10:1-3).
A rejeição de Saul – Saul desobedeceu ao mandamento de Deus ao assumir as funções sacerdotais de Samuel. O rei jamais poderia assumir a função sacerdotal. (I Samuel 13:13-14) Saul repete o mesmo erro desobedecendo ao mandamento de Deus, justificando que a sua intenção era boa: sacrificar o melhor para Deus.Porém Samuel disse: “Tem, porventura, o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e a obstinação é como a idolatria e culto a ídolos do lar. Visto que rejeitaste a palavra do SENHOR, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei.” (I Samuel 15:22-24).
Davi e Uzá – Quando Davi resolveu trazer a Arca para Jerusalém, deveria ter obedecido aos mandamentos de transporte da arca (Êxodo 25:14; Números 4:1-6). Davi, porém, colocou a arca num “carro de bois”. Os animais tropeçaram e Uzá foi segurar a arca, quando foi ferido pelo Senhor (I Crônicas 13:9-14). Davi aprendeu a lição que somente os levitas poderiam transportar a arca, segundo o mandamento cerimonial (I Crônicas 15:1-3).
Os reis de Israel e Judá – O sucesso dos reis de Israel e Judá sempre esteve relacionado ao culto a Deus. A profanação do sagrado sempre foi duramente castigada pelo Senhor:
- Reino Norte:
- Jeroboão – I Reis 12:25-33; 13:1-10, 33-34; I Reis 16:2,19,2,30-33;
- Acabe – I Reis 21:25-26;
- Jeú – II Reis 10:16,28-31;
- Oséias – II Reis 17:1-23, 29-41.
- Reino Sul:
- Roboão – I Reis 14:21-31;
- Asa – I Reis 15:12-14;
- Josafá – I Reis 22:43; II Crônicas 17:3-4; I Reis 22:46;
- Jeorão – II Crônicas 21:5-20; 22:11-12;
- Joás – II Crônicas 24:19-21;
- Acaz – II Crônicas 28:1-4; 22-25;
- Ezequias – II Crônicas 29-31.
A adoração nos Salmos
O livro dos Salmos é um livro de adoração. São cento e cinqüenta composições musicais que formam o “Hinário de Israel”. Os judeus chamam-no de “o livro de louvores”. A palavra “Salmos” (mizmer – hebraico), significa “cânticos”.
O livro dos Salmos está estruturado em cinco livros:
- Livro I – do 1 a 41;
- Livro II – 42 a 72;
- Livro III – do 73 a 89;
- Livro IV – 90 a 106;
- Livro V – do 107 a 150.
Cada livro é encerrado com uma doxologia de adoração a Deus.
Os autores dos Salmos são diversos:
- Davi 75,
- Asafe 12;
- Moisés 1,
- Hemã 1;
- Etã 1; e
- 60 são anônimos.
O livro dos Salmos começa apontando o segredo da felicidade: “Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes, o seu prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite.” (Salmos 1:1-2). E é encerrado com uma exortação: “Todo ser que respira louve ao Senhor. Aleluia!” (Salmos 150:6).
É possível construirmos uma teologia da adoração a partir do livro dos Salmos?
Observamos nos Salmos uma teologia do culto que enfatiza mais o aspecto da adoração espiritual, do que a sacrifical. A última sem a primeira é totalmente vã. Apesar de os autores estarem ligados ao culto cerimonial levítico (Salmos 20:3; 51:19; 66:13-15), eles afirmam que o cerimonial não tem valor se não vier acompanhado de uma vida piedosa (Salmos 40:6; 51:16). Deus se agrada de uma vida reta (Salmos 15), do louvor e gratidão (Salmos 50:14, 23), do espírito quebrantado (Salmos 51:16-17), da obediência sincera (Salmos 40:6-8) de uma vida comprometida com a Palavra de Deus (Salmos 1 e Salmos 119).
Examinaremos dois Salmos que falam da adoração no templo e fora dele.
Salmo 100
1 Celebrai com júbilo ao SENHOR, todas as terras.
2 Servi ao SENHOR com alegria; e entrai diante dele com canto.
3 Sabei que o SENHOR é Deus; foi ele que nos fez, e não nós a nós mesmos; somos povo seu e ovelhas do seu pasto.
4 Entrai pelas portas dele com gratidão, e em seus átrios com louvor; louvai-o, e bendizei o seu nome.
5 Porque o SENHOR é bom, e eterna a sua misericórdia; e a sua verdade dura de geração em geração.
Este salmo é chamado de “hino de ingresso ao templo”. É um convite para adoração coletiva:
- Conceito de adoração: Adoração é celebração (fazer ou promover, comemorar, festejar), serviço (exercer a função de servo) e apresentação ( a + presentear = pôr diante, à vista ou na presença de) (v. 1).
- O objeto da adoração: o objeto da adoração é o SENHOR (v. 1, 2, 3 e 5). Adoração somente a Deus.
- Os adoradores: “Todas as terras”. Profeticamente, o salmista fala da igreja com pessoas de toda raça e nação. “E todos os reis se prostrem perante ele; todas as nações o sirvam.” (Salmos 72:11).
- Como devemos adorar: com júbilo, com alegria, com cânticos, com ações de graças e com hinos de louvor. São sacrifícios de louvor e ações de graças (Salmos 107:22; 116:17; I Crônicas 16:31). A natureza do culto cristão é a alegria, que se expressa por meio da música que brota de um coração alegre e agradecido. Deus é feliz e deseja adoradores felizes (Deuteronômio 30:9; Salmos 16:11; Sofonias 3:17; Lucas 15:5-6,23,32).
- Por que devemos adorar: o fundamento do culto verdadeiro é o conhecimento de quem é Deus: “Sabei que o SENHOR é Deus” (v. 3). Jesus disse que nós adoramos o que conhecemos (João 4:22). Quem é Deus? O salmista responde: Ele é o Criador, Ele é o nosso Pastor, Ele é bom, Ele é Misericordioso e Ele é Fiel. Observe que as razões da adoração acham-se em Deus, naquilo que Ele é e faz.
- Onde devemos adorar: O salmista convida-nos a adorar no templo. As expressões “entrai por suas portas” e “nos seus átrios” indicam o templo (Salmos 84).
SALMO 150
1 Aleluia! Louvai a Deus no seu santuário; louvai-o no firmamento do seu poder.
2 Louvai-o pelos seus atos poderosos; louvai-o conforme a excelência da sua grandeza.
3 Louvai-o com o som de trombeta; louvai-o com o saltério e a harpa.
4 Louvai-o com o tamborim e a dança, louvai-o com instrumentos de cordas e com órgãos.
5 Louvai-o com os címbalos sonoros; louvai-o com címbalos altissonantes.
6 Tudo quanto tem fôlego louve ao SENHOR. Aleluia!
Se o salmo 100 fala do louvor da igreja, no templo, o Salmo 150 fala do louvor cósmico, universal, extensivo a toda criação. Ele é a doxologia universal que encerra o livro dos Salmos. É uma exortação para que todo ser que respire louve ao Senhor.
- Onde louvar (v. 1): “Louvai a Deus no seu santuário; louvai-o no firmamento, obra do seu poder.” A Bíblia fala dos “santuários de Deus”: “Ó Deus, tu és tremendo nos teus santuários.” (Salmos 68:35). A ideia aqui é de que Deus deve ser louvado onde Ele se fizer presente. “Santuário” e “firmamento” indicam que Deus deve ser louvado até onde o seu poder se estende (I Reis 8:39,43). No Salmo 148, o louvor a Deus brota “do alto dos céus” – anjos, legiões celestes, sol, lua, estrelas luzentes, céus dos céus, e águas que estão acima do firmamento (v. 1-6) “e da terra” – monstros marinhos, todos os abismos, fogo e saraiva, neve e vapor, ventos procelosos, montes, outeiros, árvores frutíferas, cedros, feras, gados, répteis, voláteis, reis da terra, todos os povos, príncipes, juízes, rapazes, donzelas, velhos, crianças e o povo de Deus . (v. 7-14).
- Por que louvar (v.2): “Louvai-o pelos seus poderosos feitos; louvai-o consoante a sua muita grandeza.” Temos aqui duas razões fundamentais para a adoração. O que Deus faz (seus feitos) e o que Deus é (grandioso). Estas duas razões são a base da adoração na Bíblia e aparecem muitas vezes nos Salmos. (Salmos 117; 95; 107; 146).
- Com que louvar (v. 3-5): “Louvai-o ao som da trombeta; louvai-o com saltério e com harpa. Louvai-o com adufes e danças; louvai-o com instrumentos de cordas e com flautas. Louvai-o com címbalos sonoros; louvai-o com címbalos retumbantes.“
O texto fala de louvor com instrumentos musicais. Instrumentos de sopro, instrumentos de corda e instrumentos de percussão. O louvor com instrumentos é especificamente para o homem.
Um ponto muito discutido aqui é o significado do termo “dança” (machowal). “Louvai-o com adufes e danças“. Esta expressão aparece também no Salmo 149:3.
Primeiro, alguns estudiosos questionam a tradução da palavra “machowal” como “dança”. Defende-se que “machowl” deriva de “chuwl” que significa “fazer uma abertura”, uma possível alusão a um instrumento de “tubos”, uma espécie de “órgão”.
Na realidade esta é a versão de rodapé dada pela King James Version. O Salmo 149:3 declara: “Louvem-lhe o nome com danças” [ou “com órgão“, no rodapé da KJV]. Em Salmos 150:4 lemos: “Louvai-O com adufes e com danças” [ou “órgão“, rodapé da KJV].
Segundo, é de fato estranho que no meio de uma relação de instrumentos,apareça uma “expressão física”. Observe que em ambos os textos, Salmos 149:3 e 150:4, o termo ocorre no contexto de uma lista de instrumentos a serem usados no louvor ao Senhor. No Salmo 150 a lista possui oito instrumentos: trompete, saltério, harpa, adufes, instrumentos de corda, órgãos, címbalos sonoros, címbalos retumbantes (KJV). É mais lógica a tradução de machowal como um instrumento musical, seja qual for a sua natureza.
A palavra hebraica mechowlah é traduzida como dança sete vezes. Em cinco das sete ocorrências a dança é feita por mulheres na celebração de uma vitória militar (I Samuel 18:6; 21:11; 29:5; Juízes 11:34; Êxodo 15:20). Miriam e as mulheres dançaram para celebrar a vitória sobre o exército egípcio (Êxodo 15:20). A filha de Jefté dançou para celebrar a vitória de seu pai sobre os amonitas (Juízes 11:34). Mulheres dançaram para celebrar a matança dos Filisteus por Davi (I Samuel 18:6; 21:11; 29:5).
Nas duas ocorrências restantes, mechowlah é usada para descrever a dança dos Israelitas, nus, ao redor do bezerro de ouro (Êxodo 32:19) e a dança das filhas de Siló nas vinhas (Juízes 21:21). Em nenhum destes exemplos a dança é parte de um serviço de adoração.
- Quem deve louvar (v. 6): “Todo ser que respira louve ao SENHOR. Aleluia!” A exortação é para todos: animais, aves, répteis ou todos aqueles “em que há o fôlego da vida”, incluindo o homem. (Gênesis 1:30; 2:7). Sabemos que a fauna e a flora compõem-se de seres vivos (ou que respiram). “Todo ser” = todo ser criado, criatura (Gênesis 7:22 e Apocalipse 5:13). A criação animada e inanimada louva ao Senhor. (Salmos 96:11-13; 98:8; 103:22; 104:12; Isaías 44:23).
Chegamos ao final deste capítulo com alguns princípios sobre adoração:
- Primeiro, a adoração verdadeira é somente para Deus e deve ser prestada com o objetivo de agradá-lo.
- Segundo, a adoração que agrada a Deus é uma extensão da vida do adorador. O cumprimento de um ritual só é aceito por Deus, se vier acompanhado de uma conduta piedosa e justa.
- Terceiro, é Deus quem estabelece a maneira ou como Ele quer ser adorado. E uma exigência fundamental de Deus é a excelência. Ele quer o melhor.
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