por: Arival Dias Casimiro
Princípios Bíblicos Acerca da Adoração Agradável a Deus
O conflito entre culto tradicional e culto contemporâneo, nos Estados Unidos, tem sido chamado de “guerra da adoração” (worship wars). Paul Basden expõe uma síntese deste conflito em seu livro “Adoração ou Show?” críticas e defesas de seis estilos de culto (2006): adoração litúrgica formal, adoração tradicional com hinos, adoração contemporânea, adoração carismática, adoração combinada e adoração emergente.
No Brasil, a situação não é muito diferente, principalmente nas igrejas históricas. A secularização da Igreja, o mercado da música gospel, a pressão dos modelos neo-pentecostais e a implantação de novos modelos eclesiológicos de cultuar.
Creio que mudanças são sempre bem-vindas, principalmente se elas estão baseadas na Bíblia e nos aproximam mais de Deus. Precisamos, entretanto, de muito discernimento espiritual. Paulo nos ordena: julgai todas as coisas, retende o que é bom; abstende-vos de toda forma de mal. (I Tessalonicenses 5:21-22). O eixo do conflito é teológico e não apenas musical ou de estilo litúrgico.
Antes de começar este estudo sobre o culto, preciso estabelecer alguns parâmetros que o nortearão.
1. Cremos que a Bíblia estabelece a maneira como Deus quer ser cultuado. A Bíblia regulamenta o culto, na sua forma e no seu conteúdo. Qualquer culto elaborado por conta própria e que não esteja de acordo com as normas de Deus é falso e inaceitável a Deus. (Êxodo 20:1-6; Deuteronômio 6:13-15). Quando Israel resolveu por conta própria cultuar a Deus, o profeta Jeremias protesta: “Edificaram os altos de Tofete, que está no vale do filho de Hinom, para queimarem a seus filhos e a suas filhas; o que nunca ordenei, nem me passou pela mente.” (Jeremias 7:31). Deus rejeita a Israel, pois a sua adoração nunca foi ordenada por Deus ou jamais passou pela mente do Senhor.
2. Cremos que o culto a Deus é uma antítese da vida e do culto pagão. Deus recomenda a Israel: “Quando o SENHOR, teu Deus, eliminar de diante de ti as nações, para as quais vais para possuí-las, e as desapossares e habitares na sua terra, guarda-te, não te enlaces com imitá-las, após terem sido destruídas diante de ti; e que não indagues acerca dos seus deuses, dizendo: Assim como serviram estas nações aos seus deuses, do mesmo modo também farei eu. Não farás assim ao SENHOR, teu Deus, porque tudo o que é abominável ao SENHOR e que ele odeia fizeram eles a seus deuses, pois até seus filhos e suas filhas queimaram aos seus deuses. Tudo o que eu te ordeno observarás; nada lhe acrescentarás, nem diminuirás.” (Deuteronômio 12:29-32). O culto a Deus é único, inédito, inigualável e exclusivo. Ele não é uma imitação do culto pagão.
3. Entendemos que o conceito de adoração na Bíblia envolve a vida do adorador e não apenas o momento do culto. A vida é o culto e o culto é a vida. Deus diz ao seu povo: “Agora, pois, ó Israel, que é que o SENHOR requer de ti? Não é que temas o SENHOR, teu Deus, e andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração e de toda a tua alma, para guardares os mandamentos do SENHOR e os seus estatutos que hoje te ordeno, para o teu bem?” (Deuteronômio 10:12-13).
4. Cremos que o ensino do culto na Bíblia revela uma simultaneidade com a revelação progressiva de Deus, culminando com Jesus Cristo. “Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.” (João 4:23-24). Logo, ao estudarmos acerca do culto, precisamos considerar as diferenças entre o culto no Antigo Testamento e no Novo Testamento, isto é, o culto antes de Cristo e depois de Cristo.
5. A nossa motivação para este estudo não é a defesa de um estilo de culto: “culto tradicional” ou “culto contemporâneo”, mas a exposição do ensino bíblico acerca dos princípios do culto a Deus. Entendemos que a Bíblia não apresenta estilos de cultos e também não estabelece nenhuma liturgia fixa para o culto cristão. Esta é a posição da fé reformada e da Igreja Presbiteriana do Brasil, que normatiza o culto por intermédio dos “Princípios de Liturgia”. [*]
6. Entendo que o crescimento espiritual da igreja e a sua influência espiritual fundamenta-se na sua prática de adoração. Antes de pensarmos em fazer qualquer coisa na igreja, precisamos restaurar o altar da adoração em nossas vidas pessoais, no nosso lar e na nossa igreja. Warren W. Wiersbe diz: “Adoração não é uma opção, é uma obrigação; não é luxo, é uma necessidade. Adorar a Deus e glorificá-lo é a única coisa que a igreja pode fazer e que nenhuma outra assembléia pode fazer. Não estou certo de que estejamos fazendo isto. William Temple disse: ‘A única coisa que pode salvar este mundo do caos político e do colapso é a adoração. A única esperança do mundo é a igreja e a única esperança da igreja é o retorno à adoração’. Deus precisa transformar o Seu povo e a Sua Igreja antes que Ele possa operar por meio de nós a fim de saciar as necessidades cruciais de um mundo perdido no pecado. Cada ministério da igreja deveria ser um subproduto da adoração. Ministério divorciado de adoração não tem raízes, portanto não pode produzir frutos que permaneçam.”
Finalmente, este trabalho tem dois objetivos: primeiro, motivar a reflexão sobre os princípios bíblicos da adoração, principalmente por parte dos presbíteros [pastores] da igreja e das pessoas envolvidas no ministério da música. Também, a incentivar a todos que persigamos a verdadeira adoração. O meu desejo é que a igreja e cada um dos seus membros desenvolvam uma fome e uma sede por Deus e pela Sua presença. “Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei e me verei perante a face de Deus?” (Salmos 42:1-2).
Notas dos Editores do Música Sacra e Adoração
[*] – A citação aos “Princípios de Liturgia” da Igreja Presbiteriana do Brasil explica-se pelo fato de o autor ser membro desta denominação. (voltar)
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