A Adoração

Nosso Culto de Adoração

por: Ron Owens

A Quem Devemos Agradar?

Tenho constatado que uma pessoa perdida ou desviada do Senhor consegue de fato se sentir bem na maioria dos nossos cultos de celebração hoje. Queremos que as pessoas se sintam bem quando entram. Não há nada de errado em tentar elevar o espírito das pessoas. Mas a música tem um poder de fazer com que o pecador se sinta confortável naquilo que chamamos de cultos de adoração. Isto ao ponto dele sair dizendo: “Quero voltar para este lugar. O que aconteceu lá me fez sentir bem.”

Se é isto que está acontecendo ao pecador e ao desviado dentro do culto de adoração, então estamos perdendo toda a essência do que é adoração. Não creio que um pecador possa verdadeiramente gostar de adoração genuína. Na adoração, estamos nos encontrando com um Deus santo.

Geralmente estamos mais interessados no que o mundo pensa, e em como o mundo se sente, do que naquilo que Deus pensa, e em como Deus se sente. Fomos ao ponto de tentar acomodar o mundo com o que fazemos na igreja, ao invés de fazer o que Deus nos chamou para fazer. Adoração é direito, privilégio, e responsabilidade exclusiva dos filhos de Deus. Os pecadores ainda não podem adorar a Deus porque ainda não se tornaram adoradores. Não nasceram na família de Deus. Não têm nada para oferecer a Deus.

Eles precisam antes receber de Deus o dom da vida eterna. Precisam reconhecer que estão perdidos, e voltar-se a Deus em arrependimento pelos pecados, para que se tornem recipientes do seu dom de vida eterna. Naquele momento, se tornarão adoradores de Deus. A adoração continua durante toda nossa vida cristã aqui na terra, e continuaremos a adorar no céu por toda a eternidade.

Fundamentalmente, a adoração é base para tudo. Deus está procurando adoradores. Se não formos pessoas que adoram, então tudo o mais na vida não alcançará o ponto que Deus deseja. Não terá a unção e o poder do Espírito Santo.

Em muitas igrejas hoje, temos transformado as reuniões que deveriam ser direcionadas aos já regenerados em cultos evangelísticos, com prejuízo à nossa adoração. Há muitos tipos de reuniões e cultos, entre os quais os cultos evangelísticos, onde podemos e devemos focalizar os pecadores. Creio, porém, que a maior parte do evangelismo deveria acontecer fora dos cultos da igreja.

Observe todas as reuniões e assembléias no Velho Testamento. Eram exclusivamente para a nação de Israel. Veja as reuniões registradas no Novo Testamento. Eram para os crentes. De fato, um “incrédulo ou indouto” poderia entrar numa reunião da igreja, e ser convencido e julgado pela presença de Deus (1 Co 14.24,25).

Mas como isto acontecia? Pelo que podemos observar, nada no culto estava sendo direcionado ou adaptado para acomodar e agradar o visitante. A igreja estava totalmente envolvida com sua atividade normal de uma reunião. Estavam orando, ouvindo a doutrina dos apóstolos, e adorando a Deus. A presença de Deus estava manifesta pelos dons, permitindo que Deus falasse com seu povo. E o pecador dizia: “Certamente Deus está neste lugar”. Por quê? Porque viu algo diferente.

Hoje estamos tentando nos igualar ao mundo, de tal forma que o mundo possa se sentir em casa quando visita a igreja. O mundo é que está nos colocando no seu molde. O mundo nunca deveria se sentir “em casa” quando está com a igreja. Não é que estamos tentando ser diferentes, nós somos diferentes. Somos um povo peculiar (Tito 2.14; 1 Pedro 2.9). Fomos colocados à parte. Somos um povo santo.

Creio que quando voltarmos a adorar a Deus e a ser o povo que fomos chamados para ser, o pecador que entrar numa reunião sentirá a convicção de pecados, e o Espírito Santo fará uma obra no coração dele que nunca poderia ser feita no ambiente que normalmente lhe é proporcionado hoje.

Durante o avivamento no País de Gales de 1904 a 1905, temos muito pouco registro de pregação evangelística. Entretanto, aproximadamente cem mil pessoas vieram a Cristo num espaço de seis meses. O que aconteceu?

Muitas pessoas naquela região haviam orado por anos em favor de avivamento, e algumas delas ainda lembravam do avivamento que tiveram em meados do século XIX. Começaram a clamar a Deus. Depois Evan Roberts, que seria grandemente usado por Deus neste avivamento, ouviu Seth Joshua dizer que a igreja galesa precisava acima de tudo ser “dobrada” (quebrantada, feita como argila mole nas mãos de Deus). Isto gerou o clamor de coração que viria a espalhar-se por todos naquele avivamento: “Senhor, dobra-me”! Dentro de pouco tempo, a igreja galesa estava acertando seus corações com Deus. Os líderes estavam clamando a Deus. E de repente, Deus chegou!

No meio daquelas reuniões de adoração e louvor, nos períodos de oração e cânticos, pessoas do mundo entravam naquele ambiente onde Deus estava tão presente, e caíam nos seus rostos, clamando a Deus por misericórdia. O que acontecera?

O povo de Deus acertara seus corações para com o Senhor, e um para com o outro, e agora Deus os podia abençoar. Em muitas das nossas igrejas, uma razão fundamental de Deus não agir com aquele tremendo poder que tanto ansiamos presenciar é porque não estamos em condições de sermos abençoados.

Oramos: “Ó Deus, abençoa nosso culto!” Mas talvez seria melhor orarmos: “Ó Deus, mostra-nos por que não podes nos abençoar, a fim de acertarmos nossos corações, e assim podermos ser abençoados.”

Deus tem hoje o mesmo desejo de nos abençoar que sempre teve em todas as épocas passadas. Muitas vezes qunado não experimentamos suas bênçãos, tentamos fabricar substitutos para colocar no lugar. Há muitos falsos substitutos hoje, assim como havia no tempo de Jeremias. Em Jeremias 2, vemos que o povo nem sabia que Deus não estava mais presente. Ninguém perguntava: “Onde está o Senhor?” Nem hoje estamos perguntando: “Onde está o Senhor?”, porque estamos tão acostumados a usar substitutos para sua presença manifesta que nem sentimos sua falta quando ele não aparece.

Na maioria daquilo que acontece hoje, temos atores na plataforma e espectadores nos bancos. Muitos vão à igreja para ver o que podem receber, ao invés de ver o que podem dar, sem compreender que não existe adoração sem dar. Não estou falando sobre ofertas colocadas na salva. Isto faz parte, como expressão do que está no coração, mas adoração é muito mais que oferta. E as pessoas estão mais preocupadas em receber do que em dar.

Música e Adoração

Agora, vamos parar por um instante para pensar sobre a música. Hoje quando se pensa em adoração, se pensa exclusivamente em música. As igrejas chamam o diretor do departamento de música de “diretor de adoração”, ou “pastor de adoração”. Isto é porque pensamos que música é adoração, e adoração é música, e alguns chegam a adorar a música. Em muitas igrejas a música recebe mais importância do que deveria.

Na verdade, não é preciso ter música para adorar. Em muitas das ocasiões nas Escrituras quando houve adoração, não houve música. Por outro lado, os Salmos foram escritos para serem cantados. Mas apesar de ser músico, minhas experiências mais profundas com adoração, meus encontros mais íntimos e pessoais com Deus, foram sem música.

Não estou dizendo que música não é importante. Tem uma importância vital. Mas precisamos ter um entendimento do que é a essência da adoração.

A verdadeira questão da adoração não é como adorar, mas a quem adorar. Mas na maioria dos congressos sobre adoração, o assunto principal é como fazer para adorar melhor. O que funciona melhor? Que estilos você pode usar? Mas esta não é a questão fundamental. A essência é quem, começa com Deus. Quando se começa com o como da adoração, com certeza vamos sair do centro, porque o como começa com o homem, e com seus gostos e preferências. Temos que começar com o quem da adoração, porque a forma como correspondemos a Deus em adoração depende diretamente da maneira como vemos a Deus e de como o percebemos.

Impecilhos ao Mover do Espírito

Além do foco errado nos cultos e da falta de entendimento sobre o que realmente é a adoração, alguns outros fatores que podem frustrar a ação de Deus nos nossos cultos:

1. Insensibilidade àquilo que o Espírito Santo está fazendo. É extremamente importante que os líderes de louvor estejam abertos e sensíveis à ação do Espírito Santo durante o louvor. Se já temos uma agenda preestabelecida, podemos perder completamente o que Deus está fazendo num determinado momento no culto.

Imagine um momento em que algo acabou de acontecer que claramente conduziu a congregação a uma séria avaliação das suas vidas à luz da santidade de Deus. Os corações foram profundamente comovidos. No programa, o coral está escalado a cantar uma adaptação moderna do hino “Rica Verdade”. Não há nada errado com o hino, mas não é o momento adequado. E então, o que o dirigente vai fazer? Ir em frente, e fazer o que planejou, ou mudar de rumo, e levar a congregação a cantar algo que combina com o fluir do que o Espírito está fazendo?

Quantas vezes já vi o Espírito de Deus ser apagado pela música errada. Você pode ter um solo, ou um número especial programado, mas se o que foi planejando vai tirar o foco do povo daquilo que Deus está fazendo, seria melhor não fazer nada. Há momentos quando o melhor que pode acontecer é silêncio.

Organistas, pianistas e músicos em geral também precisam ser sensíveis ao que está acontecendo num culto. Se, por exemplo, o culto terminou com um profundo senso de convicção de pecados, precisam tomar cuidado sobre o que vão tocar como poslúdio (conclusão do culto). O foco pode tão facilmente ser tirado de Deus e daquilo que ele estava fazendo, e ser virado para si mesmos, e para a beleza e técnica de uma música rítmica e elaborada. Muitas vezes seria melhor simplesmente continuar tocando a música que expressa o que Deus estava fazendo, sem nenhum estardalhaço ou tentativa de impressionar.

Muitas vezes tenho visto o Espírito Santo entristecido por pastores, que depois de momentos em que Deus falou profundamente através de uma música ou mover especial, se levantam para contar uma anedota e tentar captar a atenção da congregação. O que realmente aconteceu foi que o pastor tirou o foco de Deus e o colocou em si mesmo. A adoração foi frustrada.

Devemos nos lembrar que os líderes de música e adoração tanto podem auxiliar como impedir o que Deus deseja realizar no culto. Devemos ter cuidado para não apagar ou entristecer o Espírito Santo pelas nossas atitudes humanas.

O pregador e escritor britânico, Dr. Martyn Lloyd-Jones, disse certa vez que a mais importante e elevada atividade em que uma congregação do povo de Deus pode se envolver é oferecer ao Deus Todo-poderoso uma adoração aceitável. Jesus disse que o Pai procura um povo que o adore em espírito e em verdade (Jo 4.24). Tal povo preparará o caminho para um avivamento.

“Senhor, que nossos cultos de adoração sejam uma estrada para tua presença, e não um obstáculo!”

2. Substituição de “adrenalina” no lugar do Espírito Santo. Muitos no mundo cristão parecem não estar conscientes do poderoso efeito que a música pode exercer sobre as emoções. Entretanto, o mundo secular e a comunidade Nova Era sabem muito bem que um surto de adrenalina (que traz sensações agradáveis e prazerosas) pode ser causado pela repetição contínua de palavras e acordes musicais. Num livro recente, o Dr. Archibald Hart destaca que a dependência por adrenalina é tão real quanto a dependência por drogas ou outros vícios. E mostra como isto ocorre dentro de alguns estilos de adoração. Em muitas igrejas hoje, estamos sendo enganados por “emoções de adrenalina”, produzidas por repetições musicais e ritmos estimulantes, achando que são a presença do Espírito Santo.

Nestes dias, quando se coloca tanta ênfase sobre “ter uma experiência”, as pessoas ficam mais abertas ao engano. A “sensação” que se pode receber ao participar de um louvor com músicas que apelam à alma ou ao corpo, não vem do Espírito Santo. Quando procuramos uma determinada “sensação” no louvor, podemos estar desenvolvendo uma dependência emocional a este efeito que encontramos na música. A tragédia é que em tais situações a “manifesta presença” de Deus já não está mais ali, no entanto, ninguém o percebe.

Não devemos buscar experiências ou sensações, mas um encontro com o próprio Senhor. Mais uma vez, é uma questão de foco, e a quem queremos agradar.


Fonte: Revista Impacto


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