por: Levi de Paula Tavares
O que é síncope? Qual é a sua influência na música e, mais especificamente na música utilizada para a adoração? Que efeitos ela causa ao ouvinte?
Uma definição de síncope pode ser a seguinte: “Quando uma nota é executada em tempo fraco ou parte fraca de tempo e se prolonga ao tempo forte ou parte forte do tempo seguinte. A síncope é regular quando as notas que a formam têm a mesma duração. É chamada de irregular quando suas notas têm durações diferentes.”
Exemplos de síncope:
Não temos visto estudos que tratem sobre o papel da síncope e sua influência na adoração. O que é uma pena, porque, pessoalmente, creio que a sua importância tem sido subestimada.
Assim como qualquer outro elemento musical, a síncope, por si mesma, não é errada. Ela é uma variação rítmica, que pode agir favoravelmente, quando utilizada de forma que não passe disso: uma variação, um detalhe, um ornamento, ou seja, é necessário que o uso seja ocasional. Numa música que usa a síncope de forma apropriada, continua muito claro onde ocorre o tempo forte e o tempo fraco e esta variação é interessante.
A mesma coisa acontece, por exemplo, na área da harmonia: se temos uma noção clara da escala e da tonalidade em que a música está, então a dissonância e a modulação podem ser variações interessantes deste padrão. Porém, ao terminar a variação (seja rítmica, melódica ou harmônica), o padrão deve ser reconfirmado: O ritmo deve ser retomado, a melodia deve seguir seu fraseado e a dissonância resolvida.
Porém, infelizmente, o que temos visto nas músicas utilizadas nos últimos anos em nossos cultos não é a utilização parcimoniosa, ocasional, da síncope. Abaixo, estão alguns exemplos de frases musicais retiradas de músicas populares ente os jovens da igreja:
Temos um problema com estes exemplos, porque a variação se torna o centro do movimento rítmico. Devemos ressaltar que estes são apenas exemplos pinçados aleatoriamente, mas sabemos que isto ocorre com a grande maioria da Música Cristã Contemporânea.
Tore Sognefest é músico profissional e pianista. Durante os anos 80 ele teve a sua própria banda de Rock que ficou famosa na Noruega. Ele recebeu o grau de Mestre em música pela Academia de Música em Bergen, onde lecionou durante vários anos. Sognefest é autor do livro “The Power of Music”. Ele comenta: “A exposição à música com ritmos harmônicos reforça os ciclos rítmicos do corpo humano, sincronizando mensagens nervosas, melhorando a coordenação, e harmonizando humores e emoções. Por contraste, a exposição à música com ritmos desarmônicos – quer seja a ‘tensão’ causada pela dissonância ou ‘barulho’ ou os balanços antinaturais de acentos rítmicos deslocados, síncopes, e polirritmos, ou tempo impróprio – podem resultar em uma variedade de mudanças incluindo: uma freqüência cardíaca alterada com sua correspondente alteração na pressão sangüínea; uma estimulação excessiva de hormônios (especialmente os opióides ou endorfinas) causando uma alteração no estado da consciência, desde mera estimulação num extremo do espectro até a inconsciência no outro extremo; e digestão inadequada.”
O problema que estamos apontando aqui é o seguinte: Se todo o padrão rítmico é sincopado, onde está o tempo forte e onde está o fraco? Esta falta de padrão ou, pelo menos, um forte deslocamento do padrão natural causa uma confusão mental, que precisa ser resolvida a qualquer custo.O recurso normal para resolver este conflito é marcar enfaticamente, de alguma forma, o padrão rítmico. Assim, o padrão fica claro e a variação pode ser executada e apreciada, sem causar angústia e confusão mental.
Esta marcação do padrão é feita de duas formas: com o auxílio de instrumentos de percussão ou com movimentos corporais. Obviamente que normalmente se faz uma combinação dessas duas formas, visto que uma reforça a outra. Portanto, chegamos à conclusão de que, para fazermos uma música altamente sincopada, torna-se necessário o uso de bateria, para reforçar o padrão rítmico, e este música também estimulará os movimentos corporais dançantes.
Se analisarmos as músicas onde a bateria não se faz necessária, como por exemplo os grandes hinos de nossa herança como igreja, ou mesmo músicas contemporâneas, mas que sejam solenes e reverentes, notaremos que a síncope, quando existe, é usada apenas como ornamento esporádico. Analisemos as músicas dançantes e onde a bateria se faz necessária e veremos que em todas elas a melodia é fortemente sincopada, sendo rara a coincidência das sílabas da letra com os tempos do movimento rítmico padrão.
Portanto, uma vez que a música é um estímulo e todo estímulo exige uma resposta, a música que escolhemos para o culto define o tipo de culto que desejamos: se queremos um culto racional, meditativo, solene, então usaremos músicas nas quais a síncope é apenas uma variação rítmica. Se desejamos um culto emocional, expansivo, que estimule movimentos corporais, então escolheremos músicas fortemente sincopadas. Mas a pergunta que verdadeiramente se impõe é: qual modelo de culto está de acordo com o que Deus espera de Seus filhos? (veja também o artigo Os Ritmos Sincopados).
Qual dos dois estilos de culto cumpre o padrão de João 4:23-24? “Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.”
Qual dos dois estilos de culto está de acordo com o pedido de Paulo em Romanos 12:1-2: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.”
Em nossos cultos estaremos renovando a nossa mente ou nos conformando com o mundo? Nossos cultos estão de acordo com o padrão de Deus ou com o padrão do mundo? Aliás, é possível fazer um culto a Deus, usando um padrão mundano? Não estaríamos quebrando o segundo mandamento?
Todos somos livres para fazermos escolhas. Mas não podemos esquecer que somos responsáveis diante de Deus por essas escolhas, e seremos chamados a prestar contar por elas.