Os Ritmos Sincopados

por: Rosa Maria Susanna Barbara

A síncope, outra característica típica da música africana e do candomblé, é o efeito rítmico produzido pelo prolongamento ou deslocamento do acento do tempo fraco ao tempo forte. O prolongamento do acento faz com que não exista uma percussão na batida forte. Assim, produz-se uma quebra da expectativa por uma batida forte e por isso verifica-se um choque.

Os ritmos sincopados quebram a ordem dos ritmos esperados e criam assim um novo padrão de ordem. O nosso corpo, o coração, o nosso andar obedecem a um funcionamento rítmico isócrono. A falta desse ritmo provoca um choque, uma sensação de caída. Simbolicamente nos fala da possibilidade das coisas não acontecerem sempre na mesma forma, e obriga o corpo ao movimento. [1]

O ritmo sincopado proposto num modo obsessivo adquire, no contexto ritual, uma grandíssima importância porque altera a expectativa do padrão rítmico, movimentando os acentos do tempo forte para o tempo fraco. Abre assim, talvez, a porta a outras dimensões, indicando metaforicamente outras vias de conhecimento; vias que requerem o corpo e não apenas a mente.

(…) A síncope produz simbolicamente uma ação cíclica que se liga ao conceito de reversibilidade do tempo e do espaço no mito, que permite aos fiéis voltar naquele tempo e, assim, se juntar a energia do orixá. Essa volta não é uma simples emoção, mas produz efeitos físicos no organismo, na respiração, no movimento, muito mais fluido, enfim no corpo todo.


Nota dos editores do Música Sacra e Adoração

[1] – Esta “obrigação ao movimento”, citada no texto, provavelmente ocorre para tentar trazer de volta o padrão rítmico natural. Podemos notar que os movimentos espontâneos suscitados pelos ritmos sincopados sempre acentuam os tempos, e nunca os contratempos ou as síncopes em si. Outra observação é que as músicas cujas melodias são sincopadas sempre apresentam um forte acompanhamento rítmico, com acentuação nos tempos fortes, exatamente buscando o mesmo efeito.