Palestras e Sermões em Vídeo

Cantemos com os Anjos

por: Pr. Carlos Steger


Fonte: Live transmitida em 25/11/2021 pelo Centro White Brasil



Transcrição

Este tema está relacionado com a adoração, porque o cântico é uma das formas de adorar a Deus. Adoração é uma atitude dos seres criados em relação ao Criador; uma atitude de profundo respeito e de total humildade ao reconhecer nossa condição de seres criados e totalmente pequenos diante da majestade e grandeza do Criador.

O profeta Isaías usa uma figura interessante: ele disse que, para Deus, todas as ações da Terra são como a poeira que está simplesmente depositada sobre o prato da balança, ou como uma gota de água que cai de um balde ou de um cano. Todo o conjunto de todos os seres humanos, somos menos do que um pequeno grãozinho de areia no vasto universo.

E, quando reconhecemos que não somos nada diante da grandeza de Deus, diante de Seu poder, diante de Sua santidade, diante do Seu caráter, isso deve levar-nos à adoração. E, como dizíamos, uma das formas de adorar é cantar. É uma forma importante de adorar.

Qual é a música adequada para adorar a Deus?

Agora, com certeza você já deve ter ouvido esta pergunta: qual é a música adequada para adorar a Deus? Sem dúvida é uma pergunta muito discutida e que tem gerado debates muito intensos em muitas igrejas. A resposta para essa pergunta, temos que buscá-la na revelação, na Bíblia e nos escritos do Espírito de Profecia.

Ao procurar uma resposta para essa pergunta, encontro que a Bíblia nos apresenta um modelo do que é a música adequada para adorar a Deus: é o modelo da música que os anjos cantam no céu a Deus.

A música do céu

Felizmente, temos na Bíblia mais de um exemplo que nos revela como é esta música no céu. Então eu gostaria, nesta primeira parte, de compartilhar com vocês como é esta música dos anjos no céu.

Um versículo muito importante é o de Isaías 6:1-3. O profeta diz ali: “Eu vi o Senhor assentado num trono alto e exaltado, e a aba de sua veste enchia o templo. Acima dele estavam serafins; cada um deles tinha seis asas: com duas cobriam o rosto, com duas cobriam os pés, e com duas voavam. E proclamavam uns aos outros: Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos, a terra inteira está cheia da sua glória.”

Esta passagem possui muitos detalhes que são interessantes e instrutivos. Inicialmente destaca-se aqui que Deus é Santo. Isso se destaca porque é repetido 3 vezes. Mas o que significa dizer que Deus é Santo? Deus é moralmente puro, completamente livre de egoísmo e orgulho, o oposto a todo pecado ou maldade. Seu caráter é puro, não possui nada de pecado. A tripla repetição da santidade de Deus é única em toda a Bíblia. Os outros atributos de Deus são mencionados 2 vezes, mas Sua santidade é repetida 3 vezes, enfatizando a importância da santidade de Deus.

Isaías teve esta visão no princípio do seu ministério, e ele nunca esqueceu essa visão; todo o seu livro tem ecos dessa visão. Por exemplo, ele utiliza um nome muito especial para se referir a Deus: ele O chama “o Santo de Israel”. Este nome, esta expressão, é mencionada 30 vezes no livro de Isaías, e muito poucas vezes no restante das Escrituras. Este é apenas um exemplo de como Isaías ficou profundamente impressionado pela santidade de Deus, por isso ele chama ao Senhor de “o Santo de Israel”.

Existe outro exemplo nas Escrituras de adoração a Deus por parte dos seres celestiais a Deus. Está no livro do Apocalipse, o último livro da Bíblia. O apóstolo João diz: eu vi “Um trono no céu e nele estava assentado alguém[…], ao redor do trono, havia quatro seres viventes[…], cada um deles tinha seis asas”… Observe que ele não disse que eram serafins; ele só disse que eram “seres viventes”, mas a descrição que ele faz desses seres viventes é semelhante àquela do profeta Isaías: “cada um deles tinha seis asas[..], e dia e noite repetem sem cessar: ‘Santo, santo, santo é o Senhor, o Deus todo-poderoso, que era, que é e que há de vir.'”

Não tem como…. As primeiras palavras deste cântico dos seres viventes, dos anjos no céu, são exatamente iguais àquelas que Isaías ouviu quando teve essa visão do trono de Deus. Em ambas as visões, tanto de Isaías quanto do apóstolo Joao, eles escutam os anjos ao redor do trono cantando “Santo, santo, santo é o Senhor”.

Aliás, este cântico é o primeiro hino do Apocalipse. O livro do Apocalipse possui muitos outros hinos, mas este é o primeiro que se registra e é o que dá a nota tônica, o que estabelece o princípio fundamental, acima do qual todos os outros hinos serão construídos e apresentados.

Características da música do Céu

Vejamos, fundamentados nessas passagens que vimos, algumas características da música do céu.

Em primeiro lugar: é uma música centrada em Deus. E isto é muito importante. Vocês percebem que a letra do cântico dos serafins – e o mesmo ocorre no Apocalipse – louva a Deus. Essa letra não fala dos serafins, não fala da Criação, não fala de nenhuma outra pessoa; só fala de Deus, está centralizada em Deus.

Segunda característica: é uma música interpretada com fervor. E aqui, eu quero citar Ellen White. Ela escreveu: “Seus cânticos de louvor…” – ela escreveu isto quando descreve a visão de Isaías 6 – “Seus cânticos de louvor ressoavam com notas de adoração profundas e fervorosas” [1]. Notem que esse cântico era fervoroso, era interpretado com muito fervor.

Terceira característica: é uma música interpretada com profunda reverência. Os serafins cobrem suas faces e seus pés, em sinal de reverência profunda, e isso também tem uma grande lição para nós hoje.

Outra característica: É uma música interpretada com humildade. Os anjos “Não ostentam sua própria perfeição na presença e glória de seu Senhor”, diz Ellen White [2]. E, aprofundando isto, ela também comenta que os anjos “Estão tão cheios de temor reverente ao contemplar a glória de Deus, que nem por um instante sentem piedade própria, ou se admiram a si mesmos ou uns aos outros.”

Em nenhum momento eles param para pensar: “Oh, que lindo eu estou cantando, e realmente os outros anjos deveriam me admirar…” Não. Em nenhum momento “… se admiram a si mesmos ou uns aos outros. Seu louvor e glória são para o Senhor dos Exércitos.” Não para si mesmos. Eles “Estão plenamente satisfeitos de glorificar a Deus; e na presença divina, aprovados pelo sorriso de Deus, não desejam nada mais” [3]. Também de Ellen G. White, comentando Isaías capítulo 6.

Outra característica: A música dos anjos é uma música melodiosa. Disse a serva de Deus: Seu “cântico triunfante de louvor ressoa de um ao outro em cânticos melodiosos” [4]. É uma música fervorosa, como mencionamos antes, mas ao mesmo tempo é uma música melodiosa, uma música agradável, doce de ser ouvida.

A música na terra

E tudo isso que vimos que acontece no céu é um exemplo para nós, para estabelecer como deve ser a música de adoração a Deus aqui na terra. E aqui está uma declaração de Ellen G. White no livro Patriarcas e Profetas, muito importante. Ela diz: “A música faz parte do culto a Deus nas cortes celestiais, e devemos esforçar-nos, em nossos cânticos de louvor, por nos aproximar tanto quanto possível da harmonia dos coros celestiais” [5].

Vejo aqui que ela diz que os coros celestiais são o exemplo, o modelo que nós temos que imitar e procurar “nos aproximar tanto quanto possível” do canto dos anjos. Por isso é importante destacar essas características que nós já mencionamos.

Outro detalhe importante é que Deus é santo, como já mencionamos e, porque Ele é santo, Ele nos diz, a cada um de Seus seguidores: “Vós sereis santos, porque Eu sou santo” [6]. A santidade de Deus exige a nossa santidade.

Nós sabemos que somos pecadores, não somos santos por nós mesmos. Mas Deus, quando aceitamos a Cristo como nosso Salvador, Ele nos santifica, nos dá o status de sermos filhos de Deus e santos, porque Ele perdoa todos os nossos pecados. Mas, ao mesmo tempo, Ele nos convida a iniciarmos o processo da santificação, para crescermos cada dia mais em santidade, cada dia mais semelhantes a Cristo e avançarmos neste processo da santificação.

Esse mandamento de Deus não está apenas no Antigo Testamento, também está no Novo Testamento. O apóstolo Pedro diz: “Mas, assim como é santo aquele que os chamou, sejam santos vocês também em tudo o que fizerem, pois está escrito: ‘Sede santos, porque eu sou santo'” [7]. Portanto, isto está em toda a Bíblia.

Agora, nós somos conscientes, temos ciência de que temos um conflito interior entre o nosso antigo eu, nossa antiga vida e, por outro lado nossa nova vida em Cristo. A Bíblia nos exorta a morrer para o pecado a cada dia e seguir o Senhor [8]. Essa luta, este conflito, continua durante toda a vida cristã. E, como parte desta luta, nós precisamos lembrar que “A música não é moral nem espiritualmente neutra” [9].

Eu quero enfatizar isso, porque está muito divulgada e difundida a ideia de que a música, no final das contas, é apenas uma questão de gosto e que não tem nenhuma consequência moral, ou valor moral nem espiritual. Mas este documento da Associação Geral, o último que foi produzido pela Associação Geral da Igreja Adventista no ano 2004, ele afirma, assegura: “A música não é moral nem espiritualmente neutra”.

Portanto, é muito importante distinguir qual é a música que agrada a Deus e qual é a música contrária a Deus. E me surpreende esta declaração de Ellen White: Alguns cristãos professos “desonram frequentemente a Deus e sua fé por frívolas conversas e a escolha que fazem da música.” Observem quão importante é a música. A música pode ser aquela que Deus pode aprovar ou nossa música pode desonrar a Deus.

E ela continua: “A música sacra não está em harmonia com seus gostos.” [10] [Ou seja, o gosto] desses cristãos professos que desonram a Deus selecionando, escolhendo música contrária aos princípios de Deus. Ela também disse que assim como a música sacra não está em harmonia com seus gostos, pelo contrário, “canções frívolas e partituras de músicas populares de sucesso parecem estar de acordo com seu gosto” [11].

Você sabe que o gosto pode ser cultivado. Nós podemos aprender a gostar daquilo que é bom para Deus, e precisamos educar nosso gosto neste sentido. E ela [Ellen G. White] também disse que esta música mundana “estimula, mas não comunica a força e a coragem que o cristão só pode encontrar no trono da graça” [12].

Às vezes, falando com alguns membros da igreja, alguns dizem: “Ah, mas essa música cristã que você escuta é entediante, é sem graça, eu preciso de alguma coisa mais estimulante, algo que me entusiasme mais.” E Ellen White diz que essa música mundana estimula, é verdade, estimula; “… mas não comunica a força e a coragem que o cristão só pode encontrar no trono da graça”. Essas músicas mundanas “preparam os que delas participam para pensamentos e ações profanos” [13].

Outro detalhe que necessitamos lembrar: A presença de Deus santifica o lugar onde Ele está e inspira temor reverente. Você lembra quando Moisés observou aquele evento da sarça que se queimava, mas não se consumia. E, quando ele se aproximou para ver por que não se consumia, “Então disse Deus: ‘Não se aproxime. Tire as sandálias dos pés, pois o lugar em que você está é terra santa’. Disse ainda: ‘Eu sou o Deus de seu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, o Deus de Jacó’. Então Moisés cobriu o rosto, pois teve medo de olhar para Deus” [14].

Notem que a presença de Deus, quando Moisés percebeu que estava diante da presença de um Deus Santo, ele teve esse temor reverente e cobriu o rosto para não olhar para Deus.

No santuário que Moisés e os israelitas construíram no deserto, na mitra do sumo sacerdote havia uma expressão que dizia “Santidade a Jeová”. E Ellen White comenta isso dizendo: “Todas as coisas ligadas ao vestuário e conduta dos sacerdotes deviam ser de molde a impressionar aquele que as via, dando-lhe uma intuição da santidade de Deus, santidade de Seu culto, e pureza exigida daqueles que iam à Sua presença” [15].

Então, não apenas Deus é Santo, Ele pede que nós sejamos Santos, e temos que reconhecer que também o lugar de adoração, a igreja, também é santificado, é um lugar Santo pela presença de Deus.

Há um exemplo no Antigo Testamento de quando os homens se esqueceram disso, e Deus atuou drasticamente. Nadabe e Abiú eram sacerdotes filhos de Arão, mas eles ofereceram fogo estranho, diz Levítico 10:1-3. E, por tudo que diz a Bíblia e o Espírito de Profecia, parece que eles fizeram isso porque estavam sob influência do álcool. Por isso o Senhor disse para eles: “Não bebereis vinho nem bebida forte […], para fazer diferença entre o santo e o profano e entre o imundo e o limpo” [16]. Note que eles não fizeram a diferença entre o santo e o profano. Esqueceram que estavam diante de um Deus Santo e que o culto deveria refletir, mostrar, repetir esta santidade de Deus.

Isto é tão importante que o profeta Ezequiel diz que “os sacerdotes “ensinarão a meu povo a distinguir entre o santo e o profano, e o farão discernir entre o impuro e o puro” [17]. É um dever dos sacerdotes ensinar ao povo a distinguir o entre o santo e o profano. Lamentavelmente, o povo não aprendeu isto, os sacerdotes não fizeram essa distinção entre o sagrado e o comum e por isso, aconteceu o cativeiro babilônico. Você entende quão importante é este assunto à vista de Deus.

O apóstolo Paulo concorda com isso; não é somente no Antigo Testamento, mas também está no Novo Testamento. Paulo pergunta: “Que acordo há entre o templo de Deus e os ídolos? […] por isso saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; E não toqueis nada imundo, E eu vos receberei. […] Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus” [18]. Aqui está esse chamado à santidade e a apartar-nos daquilo que é profano e que é contrário a Deus.

Princípios para a música religiosa

De tudo isso que compartilhamos eu gostaria de extrair alguns princípios para a música religiosa. A música na igreja, a música de adoração, mas toda aquela música religiosa.

Em primeiro lugar, nós temos que distinguir entre o santo e o profano, assim como Deus indicou no Antigo Testamento e também no Novo Testamento. Isto é muito importante agora ainda mais que no passado, por que “A sociedade atual se caracteriza por uma grande separação entre o sagrado e o secular. A vida diária não está permeada com um sentido do sagrado como antes” [19].

Quero explicar um pouco isso. Vários séculos atrás, vamos dizer na Idade Média, ainda antes da Reforma Protestante – e inclusive durante os primeiros séculos da Reforma Protestante – a sociedade ocidental estava permeada com um sentido do sagrado. Se você conhece algo da história da educação universitária, como surgiram as primeiras universidades na Europa, você lembrará que as primeiras universidades surgem junto às grandes catedrais, as grandes igrejas, e a disciplina, a ciência principal do estudo era a Teologia. Esta era a rainha das ciências. E, subordinada a ela estava a Filosofia.

Mas, com o passar dos séculos, foram surgindo outras ciências e, depois de muitos séculos, já na época do Iluminismo e nos aproximamos da nossa época, a Teologia foi ficando cada vez menor comparada com as outras ciências. Já há aproximadamente 2 séculos e daí em diante, até a nossa época, a Teologia foi ficando de lado e as ciências foram adquirindo independência diante da Teologia, a ponto de que hoje a Teologia é praticamente ignorada no mundo universitário.

Eu trabalhei, como já foi dito, na Universidad Adventista del Plata, como vice-reitor acadêmico, como diretor da Faculdade de Teologia. Eu lembro quando nós participamos do processo de acreditação diante da CONEAU, que é a Comissão Nacional de Acreditação Universitária. E, quando eles pediram que nós teríamos que selecionar a disciplina… você sabe que aí você tinha [listadas] todas as ciências, as grandes ciências; mas a Teologia não estava [na lista]. Nós tivemos grande dificuldade para encontrar… Finalmente, a Teologia estava dentro de uma subdivisão da Filosofia, e ainda dentro de uma sub-subdivisão da Filosofia, finalmente estava a Religião e lá, no último lugar, a Teologia.

Quão diferente é a situação agora do que era há alguns séculos antes. Nossa sociedade atual está completamente secularizada. É proibido falar de religião, falar de Deus. Por isso nós precisamos, mais que nunca, fazer uma distinção entre o santo e o profano.

Um segundo princípio, derivado do primeiro. Se temos que desde distinguir entre o santo e o profano, para nos aproximarmos de um Deus santo, nós não devemos usar estilos musicais profanos. Toda música produz no ouvinte uma associação de ideias e experiências. Os estilos musicais vêm com um pacote cultural. Se associam com lugares, pessoas, ações, atitudes e estilos de vida determinados.

Novamente, assim como a música não é neutra, moralmente nem espiritualmente, os estilos musicais também não são neutros, porque cada estilo musical produz uma determinada associação de ideias e experiências, que estão relacionados com todo um estilo de vida, com uma atitude, com uma filosofia de vida particular. Cada estilo musical foi criado para alcançar um propósito definido, em um contexto específico. Cada estilo musical comunica um conjunto de valores. Por isso é tão importante discernir que estilos musicais são apropriados e que estilos musicais não são apropriados para adoração a Deus, ou para a música religiosa.

Outro aspecto importante é que a mensagem da letra deve concordar com a mensagem da música. Cada vez se escutam mais estilos musicais profanos misturado com letras religiosas. Isso acontece em nossas igrejas, tristemente. A maior parte da música cristã contemporânea possui o mesmo ritmo, instrumentação, arranjos e som que a música do mundo.

Mas se espera que, de alguma maneira, as letras religiosas convertam essa música mundana em um cântico sagrado. Mas, meus queridos, isto nunca acontece. Quando se combina uma letra religiosa com música profana, com música de um estilo profano, a mensagem da própria música, que é contrária aos valores cristãos, anula e interfere por completo com o propósito da letra.

Um terceiro princípio para a música religiosa, a música de adoração a Deus: a música deve ser da melhor qualidade possível, segundo as habilidades dos músicos, é claro. O melhor que nós podemos oferecer a Deus. Por isso temos que “interpretar a música com inteligência”, disse o salmista em Salmos 47:7. E Ellen White diz: “Vi que todos devem cantar com o Espírito e também com entendimento (1 Coríntios 14:15). Deus não Se agrada de barulho e desarmonia. O certo Lhe é sempre mais aprazível que o errado. E quanto mais perto puder chegar o povo de Deus do canto correto, harmonioso, tanto mais será Ele glorificado, a igreja beneficiada e os incrédulos impressionados favoravelmente” [20]. Observem que não é apenas para a igreja, ela fala também que além do benefício da igreja e a glória de Deus, inclusive os incrédulos serão impressionados favoravelmente.

Um quarto princípio: interpretar a música de forma simples e natural. Os anjos “se deleitam em ouvir os simples cânticos de louvor entoados em tom natural” [21]. Você lembra como Cristo teve palavras muito duras contra os fariseus por sua hipocrisia. O que é a hipocrisia? É aquilo que não é natural, é algo fingido é algo antinatural, não é autêntico. Deus espera e os anjos se deleitam em ouvir nosso louvor musical em forma simples, com cânticos simples de louvor, que sejam entoados em tom natural. Nada artificial, mas autêntico, natural. Devemos “Cantar de maneira que todos entendam. Não é o canto alto que é necessário, porém entonações claras, a pronúncia correta, a dicção distinta.” Por isso, “Tomem todos tempo para cultivar a voz, de maneira que o louvor de Deus seja entoado em tons claros, suaves, sem asperezas e estridências que ofendam ao ouvido” [22].

Quinto princípio: interpretar a música de todo o coração. Já falamos que deve ser algo sincero e [que não seja] artificial, e isto está relacionado também: de todo o coração. “A música deve possuir beleza, poder e faculdade de comover” [23]. Devemos cantar com “alegria de coração” [24]. “O coração deve sentir o espírito do cântico, a fim de dar a este a expressão correta” [25], diz a serva de Deus.

Agora, há um perigo nisto. Ultimamente eu estou percebendo e outras pessoas também veem isto, está o perigo de cair no sentimentalismo. Esse interesse em colocar todo o coração cai neste exagero do sentimentalismo, que consiste em exagerar uma sensação de êxtase totalmente desproporcional, fingindo uma emoção, frequentemente de forma teatral, às custas da razão. Já que o público gosta de ver emoções fortes, os músicos estão em constante perigo de cair no sentimentalismo, assumindo emoções exageradas.

E isso, tristemente, você pode olhar nas igrejas, na TV, na televisão, e quando os músicos interpretam, muitas vezes eles exageram de uma maneira teatral, nesta tentativa de expressar o sentimento; mas eles deveriam fazer de forma natural, espontânea. Vocês sabem que nós, que ouvimos e olhamos, nós percebemos quando aquele que está cantando ou interpretando um instrumento está fazendo com todo o coração, mas de maneira natural, ou quando ele está fazendo teatro, está fingindo uma emoção que, na realidade, não está nele. E isto também devemos levar em conta na música de adoração a Deus.

Outro princípio: devemos interpretar a música com reverência. Se esta música é apresentada na presença de um Deus Santo, você lembra como os serafins têm uma reverência profunda na presença de Deus. Tanto que cobriam o rosto e os pés nesta profunda reverência. E, no livro de Hebreus o apóstolo Paulo diz: “Adoremos a Deus de modo aceitável, com reverência e temor” [26].

Aqui, um pequeno esclarecimento: alguns dizem que, se vai ser om reverência, não será alegre. Não. Não há contradição entre a verdadeira alegria cristã e a reverência cristã. Elas se combinam na adoração genuína. Agora, notem que eu falo de alegria cristã, não da alegria do mundo, que é diferente da alegria do cristão. Mas o verdadeiro gozo, a alegria cristã, ela vai junto, de mãos dadas com a reverência cristã. Por isso, Ellen White diz: “Cheguemos, pois, com reverente alegria…”. Notem, estão combinadas: “…reverente alegria perante nosso Criador, e com ‘ações de graça e som de música’ [Isaías 51:3]” [27].

Nós precisamos usar “hinos com música apropriada para a ocasião, não com notas fúnebres, mas alegres e, contudo, com melodias solenes” [28]. Tem que ser não fúnebres, mas alegres, mas ao mesmo tempo melodias solenes. Aqui está essa combinação da alegria cristã combinada com a solenidade no culto [diante da] santidade de Deus.

Conclusão

Em conclusão, o debate sobre a música religiosa não se resolve limitando a música religiosa toda aos hinos tradicionais, porque não se trata de escolher entre música tradicional e contemporânea. Não é isso, porque tanto na música tradicional como na música contemporânea você tem exemplos de música adequada para adorar a Deus e música que não é adequada para adorar a Deus. O mais importante não é a data em que se escreveu um cântico, mas a mensagem que transmite através da sua letra e sua música. Não somente a letra; a letra e a música.

Deus nos redimiu para ser uma “nação santa” [29]. Se nós vamos crescendo neste processo de santificação, “A religião de Cristo refinará os gostos, santificará o juízo, elevará, purificará e enobrecerá a vida” [30]. Nos elevará acima dos valores que caracterizam a maior parte da música popular contemporânea, para apresentar música santa e edificante a Deus e àqueles que nos rodeiam.

E isto é válido também para a evangelização, porque na evangelização não usaremos estilos musicais mundanos, pois temos algo melhor, mais nobre e mais duradouro para oferecer àqueles que frequentam nossas reuniões.

E aqui, é muito importante nos lembrarmos desta passagem do profeta Jeremias, Jeremias 15:19. E Deus disse para o profeta: “Tornem-se eles a ti, mas não voltes tu a eles!” [31]. Eles têm que alterar sua maneira de ser, para ser como você é, mas tu não tens que alterar para ser como eles.

Quando nós procuramos fazer evangelismo, nosso alvo, nosso objetivo é que essas pessoas cheguem a ser como Cristo, e não que nós cheguemos a ser como essas pessoas. Essas pessoas estão buscando algo melhor, elas querem sair do mundo, estão cansados, enfastiados desta cultura secularizada que não satisfaz os anelos e desejos da alma e do espírito. Por isso é tão importante que nós ofereçamos a eles algo melhor do que aquilo que eles conhecem bem.

Por isso, Ellen White nos aconselha: “Aprendamos o cântico dos anjos agora, para que o possamos entoar quando nos unirmos às suas fileiras resplendentes” [32]. E alguém poderia dizer: Eu quero a partitura do canto dos anjos; a música, como é? Lamentavelmente, não temos ainda as notas como são, mas temos suficientes elementos na Bíblia e no Espírito de Profecia para saber como é esse cântico dos anjos, quais são suas características básicas, de tal maneira que nós podemos aprender a cantar como eles, a fim de que possamos unir-nos a eles nos céus.

Que pela graça de Deus, possamos “estar preparados para nos associarmos aos adoradores de Deus nas cortes celestiais, onde tudo é pureza e perfeição, e onde toda criatura demonstra absoluta reverência a Deus e Sua santidade” [33].

Para encerrar esta apresentação eu quero apresentar um exemplo; há muitos, muitos exemplos de música adequada para a adoração a Deus, mas apenas um. Esta foi uma interpretação [realizada] aqui na nossa Universidade, há bem poucos meses, então é muito recente, e eu acho que é um bom exemplo.

Amém!


Referências

[1] Review and Herald, 16 de outubro de 1888, em Comentário Bíblico Adventista, v. 4, p. 1162 (voltar)

[2] Para Conhece-lo, p. 171 (voltar)

[3] Review and Herald, 22 de dezembro de 1896, em Comentário Bíblico Adventista, v. 4, p. 1162 (voltar)

[4] Review and Herald, 22 de dezembro de 1896, em Comentário Bíblico Adventista, v. 4, p. 1162 (voltar)

[5] Patriarcas e Profetas, p. 645 (voltar)

[6] Levítico 11:44, 45; 19:2; 20:26 (voltar)

[7] 1 Pedro 1:15, 16 (voltar)

[8] Lucas 9:23; Colossenses 3:1-3 (voltar)

[9] Associação Geral, “Filosofia Adventista do Sétimo Dia com Relação à Música” (2004) (voltar)

[10] Testemunhos para a Igreja, v. 1, p. 505 (voltar)

[11] Testemunhos para a Igreja, v. 1, p. 435 (voltar)

[12] O Lar Adventista, p. 407 (voltar)

[13] Conselhos aos Professores, p. 339 (voltar)

[14] Êxodo 3:5, 6 (voltar)

[15] Patriarcas e Profetas, p. 250 (voltar)

[16] Levítico 10:9, 10 (voltar)

[17] Ezequiel 44:23 (voltar)

[18] 2 Coríntios 6:17-7:1 (voltar)

[19] Lilianne Doukhan, “Perspectiva histórica de los cambios en la música para la adoración”, Ministerio Adventista (novembro/dezembro 1996): p. 7. (voltar)

[20] Testemunhos para a Igreja, v. 1, p. 146 (voltar)

[21] Evangelismo, p. 510 (voltar)

[22] Evangelismo, p. 504 (voltar)

[23] Evangelismo, p. 505 (voltar)

[24] Isaías 65:14, ACF (voltar)

[25] Patriarcas e Profetas, p. 439 (voltar)

[26] Hebreus 12:28, NVI (voltar)

[27] Caminho a Cristo, p. 65 (voltar)

[28] Música — Sua Influência na Vida do Cristão, p. 31 (voltar)

[29] 1 Pedro 2:9 (voltar)

[30] Para Conhece-lo, p. 247 (voltar)

[31] Jeremias 15:19, NTV (voltar)

[32] Patriarcas e Profetas, p. 201 (voltar)

[33] Testemunhos para a igreja, v. 5, p. 500 (voltar)


Carlos A. Steger, atualmente jubilado, é Doutor em Teologia, e foi pastor, professor, administrador e diretor editorial da ACES.


Fonte: Live transmitida em 25/11/2021 pelo Centro White

Transcrita por Levi de Paula Tavares com autorização expressa dos envolvidos

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