por: Comissão de Música & Liturgia da União Portuguesa da IASD
O sentido do termo adoração, significa “serviço”. Tanto no hebraico (עבדה – Abhôdhá) como no grego (λατρεία – Latreia), o significado de adoração está intimamente relacionado com o trabalho que os escravos desempenhavam, quando estes se prostravam reconhecendo a superioridade dos seus senhores. [1]
Numa relação de proximidade e companheirismo com Deus, concluímos que existem muitos motivos para que o ser humano sirva o seu Criador. Tudo o que existe de belo e sublime; tudo o que desabrocha do amor sem limites e que está ao alcance de todos, são certezas de que Deus é merecedor de toda a nossa adoração. Por esta razão o ato de adorar está intimamente relacionado com a nossa vertente espiritual.
“Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” (João 4:24)
A adoração que se presta ao Senhor está enquadrada num ato de louvor diário (Pessoal) e semanal (Coletivo) ou sempre que a congregação se reúne para escutar a mensagem bíblica.
– Quando Moisés recebeu as novas tábuas dos dez mandamentos:
“…apressou-se, e inclinou a cabeça à terra e encurvou-se.” (Êxodo 34:8)
– Depois de Salomão ter abençoado o povo e ter dado graças ao Deus de Israel, o Senhor Deus revelou os sinais da Sua aprovação e,
“todos os filhos de Israel, vendo descer o fogo e a glória do Senhor sobre a casa, encurvaram-se com o rosto em terra, sobre o pavimento, e adoraram e louvaram ao Senhor: porque é bom, porque a sua benignidade dura para sempre.” (II Crônicas 7:3)
– Quando João recebeu a visão do trono com os vinte e quatro anciãos, ele viu que:
“…se prostravam diante do que estava assentado sobre o trono, e adoravam o que vive para todo o sempre; e lançavam as suas coroas diante do trono, dizendo: Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder; porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram criadas.” (Apocalipse 4:11)
– Nas palavras de Jesus dirigidas a Satanás, “…ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele servirás” (Mateus 4:10), verificamos a importância, não só de nos curvarmos em respeito junto do Supremo Rei do Universo, mas também de Lhe oferecermos a exclusividade na adoração, “olhando para Jesus autor e consumador da fé” (Hebreus 12:2).
Adorar é, portanto, muito mais do que simplesmente pronunciar um conjunto de palavras dirigidas a Deus. Jan Paulsen, afirma que a verdadeira adoração a Deus implica um conjunto de atos extremamente importantes: “Desde o começo, Deus instituiu serviços específicos através dos quais o povo iria a Ele em adoração. Durante o êxodo, Ele esboçou em grandes detalhes um tabernáculo onde o Seu povo pudesse aproximar-se d’Ele, com cultos ordeiros idealizados para ensiná-lo sobre a Sua majestade e a Sua provisão para salvar todos os que fossem a Ele com fé.” [2]
O exemplo da impenitência de Judá, relatado por Isaías, mostra-nos que Deus em nada se alegra com uma adoração de meras palavras de circunstância:
“Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído.” (Isaías 29:13)
Deus espera de nós muito mais do que um simples e superficial conhecimento d’Ele. Ele espera que O reconheçamos como o único Senhor a quem devemos servir.
Para Robert E. Webber, “A adoração é um encontro pessoal com Deus no qual glorificamos, magnificamos e cantamos ao Senhor por Sua presença e pelos Seus atos…” [3]
Horton Davies salienta um dos aspectos muito interessantes no ato de adorar: “A adoração cristã é a alegre resposta que os cristãos dão ao amor santo e redentor de Deus, revelado por meio de Jesus Cristo a cada um de nós”. [4]
O ato de adoração a Deus leva-nos a declarar que o Criador tem superioridade absoluta, acima de qualquer outra coisa ou pessoa. Quando adoramos Deus, reconhecemos a Sua grandeza, a Sua sabedoria, a Sua eternidade, o Seu poder, o Seu amor e a Sua glória.
Um dos exemplos bíblicos que melhor retrata o conceito de adoração está escrito em Apocalipse 5:11,12
“E olhei, e ouvi a voz de muitos anjos, ao redor do trono e dos animais, e dos anciãos; e era o número deles milhões de milhões, e milhares de milhares, Que com grande voz diziam: Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de graças.”
A Bíblia foi oferecida por Deus como um compêndio no qual podemos manter uma relação de fé e prática. Nela encontramos qual deve ser a nossa reação perante os atos de amor de Deus. E essa reação demonstra-se precisamente pelo serviço de abnegação que o crente oferece a Deus quando está na Sua presença. Como resultado desta cumplicidade, Deus aceita a nossa adoração, pois esta começa em Deus (ação divina em favor do Seu povo), passa pelo homem (resposta de gratidão e louvor) e termina de novo em Deus (aceitação dos atos de louvor do Seu povo). [5]
É por esta razão que o salmista David apela:
“Dai ao Senhor a glória devida ao seu nome, adorai o Senhor na beleza da sua santidade.” (Salmo 29:2)
Parece-nos claro que o verdadeiro ato de adoração a Deus compreende uma resposta sincera e uma entrega total da parte do homem à graça divina, que se disponibiliza para redimir a nossa vida de pecado. Esta resposta e entrega da nossa parte, está bem vincada nas palavras de David, quando disse:
“Entrai pelas portas dele com louvor, e em seus átrios com hinos: louvai-o e bendizei o seu nome.” (Salmo 100:4)
O respeito que devemos ter por Deus, prostrando-nos ou curvando-nos, engloba reconhecê-l’O como o nosso Senhor pessoal, aceitando os Seus desígnios e ordens divinas. Ao mesmo tempo, o sentido de adoração deve ser visto e vivido como um tempo totalmente separado para o Criador, onde a criatura procura conhecer a grandeza e plenitude do Seu amor e dedicação.
Razões e Formas de Adoração
Na adoração a Deus, a humanidade deve reconhecê-l’O como Criador e Mantenedor do Universo, assim como Salvador e Rei da humanidade! “A adoração não é algo que fazemos para nós mesmos. Ela deve ser feita [somente] para Deus e a Deus.” [6]
Por causa da adoração no Céu a Deus/Filho, Lúcifer provocou um verdadeiro conflito entre os adoradores celestiais, atingindo “a terça parte das estrelas do céu”(Apocalipse 12:4). Depois, e não dando por concluída a sua obra de maldade, Satanás produziu no coração do homem o pecado por meio da mentira, sugerindo-lhe que “…no dia em que dele comerdes, se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus” (Gênesis 3:5). Tudo isto não passou de uma verdadeira provocação ao Criador como também uma armadilha feroz para roubar a humanidade das mãos do Criador. Porém, mesmo com a entrada do pecado na nossa vida e no mundo, todos nós somos criaturas formadas à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1:27), mantendo características únicas no que toca à vocação para a adoração.
Ellen White enfatiza esta virtude afirmando que “o Criador pretendia que na vida dos seres humanos a adoração tivesse prioridade sobre qualquer outra atividade humana.” [7]
As Escrituras permitem-nos conhecer não só a forma correta de adoração a Deus como também a configuração programática e a ordem correta da Liturgia. Para além do livro de Isaías (Isaías 6:1-8), o livro dos Salmos está carregado de textos que falam de adoração e que apresentam muito material litúrgico, que pode ajudar-nos a descobrir a maneira correta de louvarmos ao Senhor. Eis alguns exemplos:
– Salmo 95:1 – Invoca a verdadeira adoração, apresentando um desafio:
“Vinde, cantemos alegremente ao Senhor, cantemos com júbilo à rocha da nossa salvação.”
– Salmos 19:14 – Mostra que a adoração deve ser em tudo agradável a Deus:
“Sejam agradáveis as palavras da minha boca e a meditação do meu coração perante a tua face, Senhor, Rocha minha e Libertador meu!”
– Salmos 9:1,2 – A adoração é um reconhecimento a tudo o que Deus fez e faz pelo homem:
“EU te louvarei, Senhor, de todo o meu coração; contarei todas as tuas maravilhas. Em ti me alegrarei e saltarei de prazer; cantarei louvores ao teu nome, ó Altíssimo.”
Quando prestamos culto de adoração a Deus, estamos a responder positivamente ao Seu chamado com ações de graças, celebrando e reconhecendo a grandeza de Deus como nosso Criador. Estamos igualmente a reconhecer a necessidade de entrega, consagração, arrependimento e confissão diante do Deus Supremo. Esta motivação torna-se assim num ato demonstrativo de que aceitamos o apelo do Senhor para uma maior intimidade com Ele. “Adorar, portanto, é uma experiência de parceria: Deus, de um lado, inicia o chamado à adoração e o adorador responde ao chamado.” [8]
Podemos dividir o tempo de culto de adoração e louvor a Deus da seguinte forma:
1 – Tempo de Invocação;
2 – Tempo de Introspecção/Reflexão;
3 – Tempo de Confissão e Reconsagração;
4 – Tempo de Intercessão;
5 – Tempo de Louvor;
6 – Tempo da Palavra;
7 – Tempo de Convite ou Apelo;
Esta é, sem dúvida, a melhor maneira de prestarmos culto a Deus, porque sempre que O adorarmos estaremos a utilizar um tempo muito especial da nossa vida – o tempo de estarmos na presença de Deus.
Qual a forma ideal de adorar Deus?
Mais do que um estilo ou formato de adoração que possamos pensar ou desejar, nunca nos esqueçamos que o que importa verdadeiramente a Deus “… é a condição e a atitude do coração do adorador.” [9] Ele nunca desprezará aqueles que O adoram com “um espírito quebrantado; um coração quebrantado e contrito.” (Salmos 51:17). Acima de tudo, Deus espera que na intimidade com Ele saibamos retirar a certeza daquilo que Ele declarou: “senão que pratiques a justiça, e ames a beneficência, e andes humildemente com o teu Deus” (Miquéias 6:8).
Para Lilianne Doukhan, “…a transformação genuína do coração que vai garantir o formato genuíno de adoração. Qualquer formato que utilizemos será destituído de significado se não o fizermos com um coração transformado.” [10]
A Igreja Adventista do Sétimo Dia, desde a sua fundação, teve sempre a preocupação de retirar das Sagradas Escrituras os fundamentos e princípios imutáveis para todas as áreas de ação. E no que diz respeito à adoração, reverência e louvor, não existe tempo nem lugar. O que o Senhor Deus requer do Seu povo é que O adorem com um mesmo espírito, uma mesma atitude e uma mesma alegria.
Porquê? Porque, “… a alegria na adoração é um contentamento concedido por Deus, o resultado do nosso encontro com Ele e daquilo que Ele fez por nós..” [11]
A Adoração pressupõe instropecção/reflexão
Mais do que vir à igreja para ouvir o sermão, Sábado após Sábado, é necessário que os participantes sintam a necessidade de uma entrega total e sem reservas a Deus:
“Rasgai o vosso coração, e não [apenas] as vossas vestes, e convertei-vos ao SENHOR vosso Deus; porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade…” (Joel 2:13)
“É importante que todos os que se apresentam diante de Deus para o adorar o façam com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé; tendo o coração purificado da má consciência, e o corpo lavado com água limpa. (Hebreus 10:22)” [12]
a) Itinerário do Santuário
A. Kuen apresenta-nos o seguinte: “…na apresentação simbólica do culto da antiga aliança, ou seja no tabernáculo, encontramos uma progressão que sugere uma certa ordem para o culto, entrar nas portas com louvores, no pátio com cânticos! Bendize, ó minha alma, ao Senhor! (Salmo 104:1)” [13]
No pátio da tenda:
Ao entrar pela porta, o sacerdote encontrava o altar dos holocaustos que simbolicamente lembra-nos, por um lado, que sem derramamento de sangue não há remissão de pecados (Hebreus 9:22) e, por outro, que somente Cristo expia as nossas faltas na cruz. [14] É graças ao Seu sacrifício que podemos ir à presença de Deus.
Atrás do altar estava a pia, que servia para que o sacerdote lavasse as mãos e pés antes de entrar no lugar santo. Apesar do nosso novo nascimento (batismo) ter permitido a mudança da nossa vida [15], temos, no entanto, necessidade de lavar a nossa vida antes de entrar no lugar santo para oferecer as orações de louvor. Segundo João 15:3 e Efésios 5:26, o lavar da água, simboliza a Palavra de Deus, que é lida e partilhada em cada culto [16].
No lugar santo:
O sacerdote encontrava o altar dos perfumes, representando assim “as orações daqueles que pertencem a Deus” [17]. Estas orações exaltam a Cristo, a nossa luz (representado pelo candelabro de ouro) e o nosso pão da vida (simbolizado pelos pães da preposição). A mesa dos pães faz-nos pensar também nas refeições do Senhor, celebradas regularmente na hora do culto.
No Lugar Santíssimo (uma vez por ano):
O sacerdote encontrava-se face a face com Deus para O adorar. Ao virmos à igreja, toda a Liturgia de Sábado deve ter um crescendo até que todos estejam na presença direta de Deus. Este é o momento do culto solene. Neste momento estamos diante d’Aquele:
- que provê todas as nossas necessidades (o maná);
- que perfeitamente cumpriu a lei de Deus (tábuas da lei);
- que ressuscitou dos mortos (vara de Arão);
- que está sentado no meio dos Querubins sobre o trono celestial – Jesus Cristo o Justo.
Notas:
1 – J. D. Douglas, O Novo Dicionário da Bíblia. Edição Revisada, Vida Nova, São Paulo, 1986 (voltar)
2 – Jan Paulsen, “A quem adoramos?”, in Revista Adventista, Tatui SP: CPB, Outubro de 2002, pp. 4-6. (voltar)
3 – Robert E. Webber, Worship Old and New. Grand Rapids, Mich: Zondervan, 1982, p.16 (voltar)
4 – Horton Davies, Christian Worship: Its History and meaning. Nashville: Abingdon, 1957, p. 105. (voltar)
5 – Paul Basden, Estilos de Louvor, Editora Mundo Cristão, p. 23 (voltar)
6 – Lilianne Doukhan, Como adoraremos?, https://dialogue.adventist.org/pt/1036/como-adoraremos, 01 de Agosto de 2009, 14h00 (voltar)
7 – E. G. White, Testemunhos Seletos, Vol. 2, CPB, p. 193 (voltar)
8 – Lilianne Doukhan, Como adoraremos?, http://dialogue.adventist.org/articles/15_3_doukhan_p.htm, 01 de Agosto de 2009, 14h00 (voltar)
9 – Ibid (voltar)
10 – Lilianne Doukhan, Como adoraremos?, http://dialogue.adventist.org/articles/15_3_doukhan_p.htm, 01 de Agosto de 2009, 14h00 (voltar)
11 – Ibid (voltar)
12 – Féderation France-nord, Comission de Music, Cult d’adoration, Paris, 2001, p.17. (voltar)
13 – A. Kuen, Renouveler le Culte, Féderation France-nord, Comission de Music, Cult d’adoration, Paris, 2001, p.29 (voltar)
14 – Hebreus 2:17 “Por isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo-sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo.” e I João 4:10 “Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados.” (voltar)
15 – Tito 3:5 “Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo.” (voltar)
16 – II Pedro 1:19 – “E temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça, e a estrela da alva apareça em vossos corações.” (voltar)
17 Salmos 141:2 – “Suba a minha oração perante a tua face como incenso, e as minhas mãos levantadas sejam como o sacrifício da tarde.” (voltar)
Fonte: Trecho do Documento sobre Liturgia de Sábado – União Portuguesa da IASD – Disponível em Música Sacra e Adoração (formato PDF)