Amor Que por Amor Desceste
Letra: George Matheson (1842-1906)
Título Original: O Love That Wilt Not Let Me Go
Música: Albert Lister Peace (1844-1912)
Texto Bíblico: Assim diz o Senhor: O povo que escapou da espada achou graça no deserto. Eu irei e darei descanso a Israel. (Jeremias 31:3)
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1. Amor, que por amor desceste!
Amor, que por amor morreste!
Ah, quanta dor não padeceste!
Minh’alma vieste resgatar
E meu amor ganhar!
2. Amor, que com amor seguias
A mim, que sem amor, Tu vias!
Oh! Quanto amor por mim sentias,
Eterno Deus, Senhor Jesus,
Sofrendo sobre a cruz!
3. Amor, que tudo me perdoas!
Amor, que até mesmo abençoas
Um réu de quem Tu Te afeiçoas!
Vencido, ó Salvador, por Ti,
Teu grande amor senti!
4. Amor sublime que perduras,
Que em Tua graça me seguras,
Cercando a mim de mil venturas!
Aceita agora, ó Salvador,
O meu humilde amor!
Nascido em Glascow, Escócia, em 27 de março de 1842, filho de um abastado empresário, George Matheson sofreu uma crescente perda da visão desde sua meninice. Aos 18 anos já estava completamente cego. Mesmo assim, mostrou-se aluno brilhante, tanto nas Academias como na Universidade de Glascow. Licenciado ministro da Igreja Livre da Escócia (Presbiteriana), tornou-se assistente na Igreja Sandyford. Mais tarde assumiu o pastorado na igreja de Clyeside, em Innellan, condado de Arvallshire, ali ministrando por 18 anos.
Em 1886, Matheson aceitou o pastorado da Igreja São Bernardo, uma igreja de 2.000 membros, em Edimburgo, capital. Nesta igreja tornou-se altamente respeitado e amado, servindo até 1899, quando sua precária saúde o forçou a se aposentar. Muito conhecido, Matheson foi um dos mais destacados ministros escoceses dos seus dias. A Universidade de Edimburgo lhe conferiu o doutorado em Divindade em 1879 e a universidade de Aberdeen o doutorado em Letras (ambos honoris causa), em 1902.
Dr. Parkhurst, famoso pregador de Nova Iorque, descreveu Matheson depois de uma visita a sua igreja:
“A união da imaginação e razão na sua pregação e a profundeza da sua teologia fazem o seu ministério ter grande e viva influência, especialmente ente os jovens. Ele entra no púlpito, que não é maior do que um barril de trigo. Tem o rosto e porte do General Grant (famoso general da Guerra Civil, e então Presidente dos Estados Unidos), mas é mais alto.
Com olhos abertos naturais, ninguém adivinharia que é cego. Agora se levanta, (…) vacila um pouco antes de ganhar o seu equilíbrio. Anunciando um Salmo, toma seus versículos sem erro de palavra. Durante o culto, pedindo diversos hinos e leituras com capítulos e versículos, ele não erra. Então ora. E que oração! Parece-me profano falar sobre ela! Sente também o coração do seu povo. Quarenta minutos ele prega e somos instruídos, restaurados e inspirados.”
Matheson escreveu muitos livros teológicos e devocionais e um livro de hinos denominado Sacred Songs (Cânticos Sacros), em 1890. Ao menos dois destes hinos foram traduzidos para o português. Este, que aparece em muitos hinários evangélicos, e um outro muito profundo: Cativa-me , Senhor, que apresenta o enigma: a vitória real vem através de rendimento incondicional.
Sobre o surgimento do hino Amor que Por Amor Desceste Matheson escreveu:
Ele não foi composto. Veio, como inspiração. Lembro-me muito bem da ocasião. Foi em Innelan, numa noite de junho de 1882. Eu tinha sofrido uma perda enorme e estava muito deprimido. Enquanto sentava ali acabrunhado, as palavras brilharam na minha mente como relâmpago, e em poucos minutos as quatro estrofes estavam completas. Parecia que elas tinham sido ditadas a mim por mão invisível, completas em linguagem e ritmo.
O poeta não nos conta a fonte do seu sofrimento, mas relata que a ocasião foi no dia do casamento da sua amada irmã, que sempre fora sua mão direita. Aprendeu grego, latim e hebraico, para melhor ajudá-lo nos seus estudos teológicos. Esta irmã continuou a colaborar com ele durante toda sua vida. Era ela quem o guiava nas suas visitas pastorais. Concordo com Bailey que acha que o casamento dela trouxe a Matheson a lembrança de uma outra perda, a da sua noiva que o deixou, tantos anos antes, quando soube que ele se tornaria completamente cego, e que o intenso sofrimento de estar na escuridão da sua cegueira, totalmente só, foi o que afligiu o autor.
O hino apareceu pela primeira vez em 1883, em Life and Works (Vida e Obra), o periódico mensal da Igreja da Escócia. Em 1885, foi incluído no Scottish Hymnal (Hinário Escocês). Matheson faleceu repentinamente em 28 de agosto de 1906. Certamente, naquela hora, houve júbilo inexorável para aquele servo de Deus, ao deixar, para sempre, este mundo de escuridão para a luz do rosto do seu Salvador!
O dinâmico evangelista e hinista Henry Maxwell Wright não tentou traduzir este maravilhoso hino, mas adaptou-o em 1912. Foi publicado na coletânea In Memoriam Henry Maxwell Wright por seu grande amigo J. P da Conceição, juntamente com o seu acervo de 151 hinos e 42 coros. Seguindo-se logo sua inclusão em outros hinários evangélicos, este hino tornou-se muito amado em todo o Brasil.
Albert Lister Peace compôs esta linda melodia para o hino de Matheson para a edição de 1885 do The Scottish Hymnal a pedido dos seus editores.
Acredita-se que seu nome ST. MARGARET homenageia Margaret, a rainha de Malcom III da Escócia, canonizada em 1251. Sobre esta melodia, Peace falou:
“Foi composta (…) durante a época em que a música, estava em preparo. Escrevi-a em Brodick Manse, [em Arran, uma das pequenas ilhas ao oeste do norte da Escócia] durante uma visita a meu velho amigo o Sr. McLean. Não havia uma melodia daquela métrica disponível naquele momento, então a Comissão do hinário me pediu que escrevesse uma especialmente para o hino, escrevi a música logo em seguida e posso dizer que a tinta da primeira nota tinha acabado de secar pouco antes de eu terminar a última.”
Albert Lister Peace (1844-1912), nascido em Huddersfield, no condado de Yorkshire, Inglaterra, foi um prodígio musical. Aos cinco anos demonstrava a capacidade de identificar a altura de qualquer som que ouvia (diapasão absoluto). Tornou-se organista da sua igreja em Holmfirth aos nove anos. Continuou a tocar em outras igrejas da região até 1869, quando se mudou para a Glascow, assumindo a posição de organista da Universidade e da Catedral da cidade. Bacharelando-se na Universidade, fez doutorado, em música em Oxford (Inglaterra). Em 1897, aceitou a posição de organista em St. George’s Hall em Liverpool, continuando no cargo até sua morte em 1912. Peace foi um notável organista. Tornando-se membro do Royal College of Organistas (Faculdade Real de Organistas), organização nacional de honra, em 1866, foi reconhecido em toda a nação. Editou diversos hinários para a Igreja Livre da Escócia.
Bibliografia: Bailey, Albert Edward, The Gospel in Hymns, New York, Charles Scribner’s Sons, 1950, p. 458
George Matheson chamava este hino “The Fruit of Pain“, (O Fruto da Dor), e relata o seguinte:
“Meu hino foi composto na casa pastoral de Innellan, na noite de 6 de Junho de 1882. Eu estava sozinho. Era o dia do casamento da minha irmã e o resto da família estava passando a noite em Glasgow. Algo, que apenas eu sabia, me havia acontecido, e isto causava-me o mais tremendo sofrimento mental. O hino foi o fruto deste sofrimento. Foi o trabalho que executei o mais rapidamente em minha vida. Tinha a impressão de que uma voz interna ditava para mim, em vez de o estar fazendo por mim mesmo. Tive a impressão de que todo o trabalho foi completado em cinco minutos, e nunca o retoquei ou corrigi.” Ele disse mais: “Não tenho dom natural de rima. Todos os outros versos que tenho escrito são manufaturados; este surgiu como o amanhecer. Nunca mais fui capaz de expressar o mesmo fervor em versos.”
Após ouvir o Dr. Matheson pregar na igreja da paróquia de S. Bernardo, em Edinburgh, o Dr. Charles Parkhurst disse dele:
“Anunciando um Salmo, ele repete suas palavras sem enganar-se a vários hinos e a referencia escriturísticas, citando capítulos e versículos, sem nunca errar. No final ele ora, e que oração. Parece profano escrever a respeito dela. Apesar de não possuir a vista, vê a Deus, e vê dentro dos corações do seu povo. Ele pregou por quarenta minutos e nós fomos instruídos, refrigerados, inspirados.”
Apesar de ser fisicamente cego, Matheson expressa uma experiência espiritual rica neste seu hino.
O compositor da melodia “St. Margaret”, Albert L. Peace, diz o seguinte concernente a sua origem:
Ela foi composta durante o tempo em que as músicas do “Scottish Hymnal”, do qual eu era redator musical, estavam em preparação. Escrevi-a na casa pastoral de Brodick, onde estava em visita ao meu velho amigo Sr. McLean. Não havia nenhuma melodia a disposição com aquela métrica e assim a Comissão do Hinário pediu-me que escrevesse uma especialmente para o hino do Dr. Matheson. Após ler o hino cuidadosamente, escrevi a música toda de uma só vez, e posso dizer que a tinta da primeira nota ainda não estava bem seca, e eu já havia terminado toda a melodia.
Fonte: Histórias de Hinos e Autores – CMA – Conservatório Musical Adventista
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