(Falsas) Estratégias de Crescimento para a Igreja

CD Jovem – Capítulo I

por: Rodrigo de Galiza Barbosa

CD Jovem: Cultura de Massa na Igreja Adventista do Sétimo Dia?

Capítulo I – Existencialismo e Desescatologia na Religião Pós-Moderna

Antes de analisar os cânticos do CD Jovem adventistas do sétimo dia, é importante definir e identificar bem os conceitos teóricos. A principal filosofia que será discutida nesse trabalho é o existencialismo-materialista. O conceito de simplificação da mensagem da indústria cultural, como característica da pós-modernidade, é importante na contextualização do CD Jovem como possível meio de cultura de massa, visto que o existencialismo-materialista e o imediatismo são características marcantes da pósmodernidade e da cultura de massa.

Na primeira etapa, serão apontadas as principais características do existencialismo em contraste com a filosofia essencialista do ser, como ela afetou a teologia e como essa filosofia contrasta com o pensamento adventista do sétimo dia. Após essa caracterização, uma descrição da cultura de massa é feita a fim de traçar paralelos entre suas características e as filosofias anteriores. A partir desses conceitos, nos capítulos seguintes, será aplicada a metodologia da análise de conteúdo à letra e as imagem dos CD Jovem para verificar se ele pode ser caracterizado como produto da indústria cultural.

1.1 Existencialismo-Materialista

A teoria existencialista é o oposto da filosofia essencialista no que se refere ao ser (MACINTYRE, 1972. vol.3 p.148; MORA, 1984. p.1088; Mirador, vol.9 p.4459; PENHA, 1989. p.59). O essencialismo é a crença que afirma a distinção entre as características acidentais e essenciais das coisas (BLACKBURN, 1997. p.126; MACINTYRE, 1972. vol.3 p.59; MORA, 1984. p.985). Os filósofos da essência como Aristóteles atribuíam à razão da existência ao conhecimento intelectual (Mirador, vol.9 p.4459; MACINTYRE, 1972. vol.3 p.59). A essência é a característica humana que o distingue dos demais seres.

No pensamento essencialista a verdade ou existência precede ao ser e ao sentimento (Mirador, p.4460; PENHA, 1989. p.13,59). Para esses filósofos a essência não coincidia com a existência em seres finitos, somente em Deus. E os filósofos essenciais centravam suas ideias em um ser supremo ou num ideal superior enquanto que os filósofos existencialistas centravam suas ideias no homem e na sua percepção ou sentimento (MACINTYRE, 1972. vol.3 p.59; Mirador, p.4460). Um dos expoentes do pensamento existencialista foi Sócrates (Mirador, p.4460). Ele enfatizava que a existência precede a essência. Por isso, a base de sua filosofia era o homem, e sua liberdade. Para o existencialismo o homem se torna o determinador da essência. Nessa teoria a primazia é da liberdade em relação ao ser; da subjetividade em relação ao objetivismo, dualismo, voluntarismo, ativismo (BLAKBURN, 1997. p.134; Mirador, p.4460).

No cristianismo esse pensamento existencialista é introduzido por Agostinho. A subjetividade impera na sua hermenêutica, e a interiorização do espírito divino marca a religiosidade agostiniana (Mirador, p.4460; OUTLER, 1965. p.290, 296). Mais tarde essa mudança de paradigma na filosofia, de um ser supremo para o homem, originou o intelectualismo de René Descartes e sua máxima “penso, logo existo”, como resultado desse pensamento existencialista-humanista. Com suas ideias, Descartes influencia a interpretação da realidade existencialista (MACINTYRE, 1972. vol.3 p.148) onde o homem se torna o centro e determinador da realidade (DESCARTES, 1968. p.33,107- 109; GRENZ, 1997. p.101).

Sobre o existencialismo moderno, o seu principal sistematizador é Sören Kierkegaard (MACINTYRE, 1972. vol.3 p.148; Mirador. p.4461; PENHA, 1989. p.15). O filósofo dinamarquês do século XIX exalta a existência ao invés da essência em sua crítica ao cristianismo vigente (KIERKEGAARD, 1964. p.vi). Kierkegaard acreditava que o conhecimento sensível era primordial ao intelectual (KIERKEGAARD, 1964. p.vi, 29, 31; MACINTYRE, 1972. vol.3 p.147; PENHA, 1989. p.20). Contradizendo a Descartes e sua filosofia do “Penso, logo existo” (Cogito ergo sum) ele afirma: “Quanto mais penso, menos sou, e quanto menos penso, mais sou” (KIERKEGAARD In: Mirador. p.4460). Na perspectiva do pensamento existencial a fórmula cartesiana deve ser invertida: não existo porque penso, mas penso porque existo (Mirador. p.4460; KIERKEGAARD, 1964. p.v,vi).

Combatendo o sistema religioso católico romano de sua época, que para Kierkegaard desfigurava o cristianismo, ele apela ao extraordinário, um co ntato mais direto com Deus, uma relação absoluta com o Absoluto (KIERKEGAARD, 1964. p.31; Mirador, p.4460). Ele é levado a exaltar a existência no que tem de secreto, misterioso e irracional (PENHA, 1989. 21). A experiência torna-se o determinante religioso. A verdade é subjetiva e a expressão do indivíduo (PENHA, 1989. p.21). A questão não está em encontrar a verdade, mas em uma verdade que se torna verdadeira quando o homem se apropria dela e a converte em vida (Mirador, p.4461; PENHA, 1989. 25,26). Esse pensamento existencial que influenciaria a teologia de Kierkegaard foi explorado pelos deístas. Um deles vindos do Iluminismo foi Jean Jacques Rousseau. Para ele, também, o sentimento precede a razão na apreensão da realidade e do sobrenatural (HIGUET, 2005. p.35).

Na mesma época de Kierkegaard o teólogo Friederich Schleiemarcher desenvolve sua teologia com base nessas características existencialistas. Assim também Rudolph Bultmann mais tarde refletirá essas mesmas características em sua teologia. Como expoentes teólogos que herdaram esse pensamento existencial (CLEMENTS, 1991. p.36; HIGUET, 2005. p.114; KÄRKKÄINEN, 2002. p.62) ambos consideram que a Bíblia torna-se a palavra de Deus com a experiência do cristão. Mas a Bíblia não é a palavra de Deus sem a experiência. A Bíblia para Schleiemarcher é apenas o testemunho de homens que tiveram seu encontro com o divino. E o mais importante na religião é o sentimento presente, o encontro intuitivo com o divino (CLEMENTS, 1991. p.44; HIGUET, 2005. p.114; PENZO, 2002. p.634).

Isso faz com que a religião se torne apenas presente e sensacional. Conceitos como: pecado, salvação e volta de Jesus, são reinterpretados com significados existencial presente (HIGUET, 2005. p.124), pois a relação Deus-homem é reinventada a luz dos conceitos existenciais (BLACKBURN, 1997. p.134). E o existencialismo tem como fundamento a negação do transcendente ao enfatizar a imanência (PENHA, 1989. p.62).

Friederich Nietzsche continua a desenvolver o pensamento existencialista no século final do século XIX. Para Nietzsche a realidade é múltipla e contraditória, e só as multiplicidades dos pontos de vista opostos pode traduzir a complexidade da existência (GRENZ, 1997. p.133; Mirador, p.4461). A verdade não é uma adequação realista do entendimento às coisas do mundo, mas uma forma de crença, uma opção pessoal, uma escolha de vida. Sua noção relativa da verdade se aproxima da visão de Kierkegaard.

No século XX influenciado por Kierkegaard e Nietzsche o filósofo judeu Martin Buber formula a sua “teologia do encontro” (BUBER, 1979. p.xii, xvi, xxx). “O homem encontra Deus através do mundo e o mundo através de Deus; ele encontra a si mesmo através de Deus e do mundo” (PENZO, 2002. p.197). Essa unificação envolve um encontro relacional entre o homem e Deus com ênfase no sentimento religioso.

A revelação, portanto, não é uma comunicação de verdades dogmáticas sobre Deus (PENZO, 2002. p199). A revelação é um evento, o advento de uma presença que abre caminho para o encontro (PENZO, 2002. p.199,201). Nesse contexto, o mundo não é algo que se deve abandonar mas ser conhecido e santificado. Pois o homem e o mundo podem ser reatualizados cultualmente (PENZO, 2002. p.199). Esse conceito é importante para o processo de unificação (yi‟hud), que é o núcleo da redenção messiânica de Buber (PENZO, 2002. p.199). O conceito de um mundo vindouro aplicase ao atual mundo, como é percebido na forte influência da teologia buberiana nas tentativas de paz no Oriente Médio (PENZO, 2002. p.195, 201).

Assim pode se ver uma característica existencialista marcante nesses pensadores, a ênfase na emoção em detrimento da razão humana, e o sentimento humano e não um ser supremo como determinante da religiosidade.

1.2 Raízes do Essencialismo Adventista

Em oposto a teologia existencialista, os adventistas do sétimo dia herdam a filosofia mais essencialista dos reformadores (DEDEREN, 2000. p.96). Os reformadores Martinho Lutero e João Calvino começam a colocar a razão como determinante religioso. Para eles somente a Bíblia deveria ser a regra suprema de vida do homem (CALVIN, 1966. p.36; LUTERO, 1992. vol.3 p.193-196). Ao romperem com a autoridade da Igreja Católica da época, eles afirmavam que a Bíblia deveria ser interpretada racionalmente e individualmente (CALVIN, 1966. p.36; LUTERO, 1992. vol.3 p.121), sem a interferência da igreja ou de filosofias humanas.

Contradizendo os teólogos liberais modernos, influenciados pelo existencialismo, os reformadores Calvino e Lutero acreditavam que a Bíblia era uma revelação divina que poderia ser compreendida pelo homem. Essa compreensão era feita primariamente através da razão. A importância da razão para Calvino é notada. Em sua obra Institutas da religião cristã, ele gasta seu primeiro volume discorrendo acerca do conhecimento, a razão que apreende o divino através da Bíblia.

Ele afirma que esse conhecimento racional de Deus via escritura sagrada determina a natureza humana e é fundamental para o cristão (CALVIN, 1966. p.37,38). Pois para Calvino “é evidente que o homem nunca conseguirá um conhecimento verdadeiro de si mesmo até que tenha previamente contemplado a face de Deus” através da Bíblia (CALVIN, 1966. p.38). Assim, a antropologia e a teologia eram interligadas de forma inseparável (CALVIN, 1966. p.37; LUTERO, 1992. vol.3 p.195).

Os reformadores criam, no entanto, que a natureza humana após Adão e Eva está corrompida pelo pecado e por isso, os seus sentimentos, apenas, não devem ser o determinante religioso e da verdade (CALVIN, 1966. p.36,38,40; LUTERO, 1992. vol.3 p.196). Pelo contrário, a emoção humana é uma tentativa frustrada de determinar o que é verdade sem a influência do divino através do conhecimento bíblico (CALVIN, 1966. p.36-38,41; LUTERO, 1992. vol.3 p.195). Não que eles rejeitem a experiência do crente (CALVIN, 1966. p.41-43, 58; LUTERO, 1992. vol.3 p.96,97), mas a ênfase e a primazia estão na racionalidade divina.

Assim também os adventistas do sétimo dia entendem que a Bíblia é o determinante religioso, acima da experiência humana (DEDEREN, 2002. p.42). No adventismo o intelectual é colocado acima do emocional em contraste com a teologia existencial. O cristianismo à luz do adventismo é baseado inteiramente na Bíblia e nela somente. Mais que uma experiência, a revelação é uma base espiritual e racional da fé e do relacionamento para com Deus. Essa importância é percebida em sua primeira crença fundamental: as escrituras sagradas.[1]

A Igreja Adventista do Sétimo Dia entende que o mundo foi criado perfeito por Deus e o homem feito à imagem da divindade. Essa imagem determina a essência humana.[2] Mas com a desobediência dos primeiros seres humanos, Adão e Eva, o pecado afetou a criação de Deus e trouxe a morte (DEDEREN, 2002. p.253,254). O que era antes perfeito, agora tornou ruim. O homem pecador é essencialmente mal (DEDEREN, 2002. p.214-217, 246). Portanto se faz necessária a intervenção divina para transformar o que é ruim em bom. O ápice dessa intervenção está no evento da morte na cruz de Jesus, o Deus que se tornou homem (DEDEREN, 2002. p.258).

Os adventistas pregam que quando o pecador acredita que a morte de Jesus substituiu sua morte, uma transformação começa a acontecer no homem (DEDEREN, 2002. p.292). Mas a completa mudança do mundo mal só ocorrerá quando Jesus voltar do Céu, onde está agora, para a Terra (DEDEREN, 2002. p.283). Esse evento marcará o último dia do pecado na terra, pois haverá uma plena transformação do homem que creu em Jesus. A ênfase de sua mensagem é, portanto, salvar o homem de seu estado ruim e preparar-se para uma vida futura.

Por isso, eles acreditam que o cristão pode experimenta nesse mundo o prazer e a alegria da salvação em Cristo com vista da salvação futura. Pois essa alegria só será plena quando Deus os levar para o Céu (DEDEREN, 2002. p.300). Essa é a escatologia adventista, relativa aos últimos dias, que contrasta com o pensamento existencialista (DEDEREN, 2002. p.370,371).

Enquanto os existencialistas enfatizam o aspecto emocional da religião que acaba por eliminar a necessidade de uma esperança futura e metafísica, os adventistas enfatizam a necessidade da salvação futura operado pelo sobrenatural, completando a experiência atual do crente.

1.3 A Cultura de Massa

Para transmitir suas ideias as igrejas cristãs atuais têm usado os meios de comunicação de massa, pois eles alcançam um maior número de pessoas em menor quantidade de tempo. É a cultura de massa que tem sido usada como forma de propagação da fé.

Na sociedade atual, denominada por muitos de pós-modernidade, a sociedade coleta experiências (GRENZ, 1997. p.65,66), dentre elas experiências religiosas. E essas experiências são fugazes. E para atender esse público a religião se tornou industrializada e comercializada (GRENZ, 1997. p.30). Como a espiritualidade possui essa característica de lenitivo, fuga do presente, ela facilmente se adequou às características do meio de comunicação de massa. Tem-se percebido uma predominância no uso da tecnologia e da cultura da massa pelas igrejas cristãs para cativar a atenção dos fiéis (GALINDO, 2004).

A cultura de massa é transmitida pelos meios de comunicação de massa, meios que comunicam a em grande escala. Eles fazem parte da indústria cultural. Essa indústria se apropria dos bens culturais e os industrializa. E como todo produto, ele sofre padronização (ADORNO, 1975. p.173; DEFLEUR, 1983. p.175-177; LIMA, 2002. p.117).

A padronização existe para atender uma demanda de mercado (ADORNO, 1975. p.173; DEFLEUR, 1983. p.175-177; LIMA, 2002. p.117). Pois os bens da indústria cultural são feitos para vender. Assim, todo produto é desenvolvido e fabricado nessa perspectiva de mercado. E para atingir um maior número de pessoas, e consequentemente aumentar sua venda, a indústria cultural simplifica e padroniza sua produção. Pois no conceito da cultura de massa, a mensagem mais complexa dificulta sua vendabilidade.

Para aumentar seu espectro de alcance ela é simplificada (ECO, 1976. p.40; LIMA, 2002. p.118) e padronizada ao ponto de igualar o consumo entre intelectuais e não- intelectuais. A música é um dos meios culturais afetados por essa padronização (ADORNO, 1974. p.15-17). Aquela música que antes era ouvida apenas por uma classe de pessoas, é ouvida agora por todas as classes sociais (ADORNO, 1974. p.15-18).

Para Theodor W. Adorno essa simplificação característica dos meios de massa fez com que o gosto popular se enfraquecesse. E esse enfraquecimento favorece a emoção em detrimento da razão (ADORNO, 1974. p.19; ADORNO, 1975. p.176), uma característica existencialista. Pois como a emoção é inerente a todos os seres humanos, o apelo ao sentimento é recebido com maior aceitação pela massa (ADORNO, 1975. p.176; LIMA, 2002. p.120). Adorno coloca a música como sendo o meio ideal para essa realização. Afinal, para Adorno a música é a expressão mais ideal dos sentimentos ou instintos humanos (ADORNO, 1975. p.173).

As músicas padronizadas da cultura de massa focalizam o prazer, o momentâneo e agora. E não algo a ser esperado no futuro. Mesmo porque os produtos da indústria cultural são fugazes. Elas são feitas para o entertainment/amusement (DEFLEUR, 1983. p. 183). Esse caráter momentâneo inabilita o homem a pensar no todo (ADORNO, 1975. p.176), pois com a tecnologia, e o tempo livre, o homem passa mais tempo com o consumo desses bens culturais como forma de lazer (LIMA, 2002. p.114). O homem usa esse meio como fuga da realidade ruim do mundo, dos problemas do trabalho e da sociedade para um prazer passageiro (DEFLEUR, 1983. p.185).

Uma vez que o meio de comunicação consegue materializar o abstrato, o sonho, o desejo humano, ele é usado para sublimar essa fuga da realidade. Os meios de comunicação de massa então focalizam o agora, o já (DEFLEUR, 1983. p.187-192; ECO, 1976. p.40,59). A indústria cultural se concentra em agradar no presente o consumidor. Com isso ela atende apenas a necessidade superficial do homem. A indústria cultural induz ao sentimento que não pode satisfazer, para criar uma dependência (DEFLEUR, 1983. p.188). Isso gera uma sociedade emotiva que é cega ás necessidades reais (ADORNO, 1975. p.176; DEFLEUR, 1983. p.188; ECO, 1976. p.317). Pois coloca a emoção como determinante social em detrimento da razão. E a pós-modernidade favorece uma sociedade emotiva. Pois é fortemente influenciada pela tecnologia e a indústria cultura (GRENZ, 1997. p.56-66).

Essa sociedade do consumo é advinda do racionalismo e positivismo moderno (OLIVEIRA, 2005. p.80). Alguns viram a cultura tecnicista de forma muito negativa. Um exemplo foi Herbert Marcuse. Influenciado por Hegel, Marx e Freud ele via a tecnologia moderna como alienante (MERQUIOR, 1969. p.10-24). “Marcuse condena a razão tecnológica porque ela exige a separação entre o ego e os instintos” (MERQUIOR, 1969. p.43). Pois a felicidade para ele era a liberação do eros (MERQUIOR, 1969. p.46), ou libido social (MERQUIOR, 1969. p.32). A emoção deveria ser realizada.

Isso, a religião imediatista irá realizar com a tecnologia. Pois o cientificismo e a razão positivista negam a escatologia bíblica, um livramento futuro. O neopentecostalismo atualiza e esperança cristã de forma imediata. Assim atinge a necessidade do homem pós-moderno e coaduna com a crença bíblica de um livramento do pecado. Influenciada pela filosofia existencial, o neopentecostalismo é uma adaptação/acomodação da esperança cristã a uma sociedade de consumo (OLIVEIRA, 2005. p.88).

Como a cultura de massa diviniza o humano (ADORNO, 1975. p.180,181; MORIN, 2002. p.106-109), ela mundaniza o divino (CONTRERA, 2006). O neopentecostalismo traz o Deus transcendente cristão para mais perto do homem através de um culto marcado pelos sentidos, pela emoção e pela cultura de massa (OLIVEIRA, 2005. p.85,91,98). E uma das características dessa religiosidade é o forte uso da música gospel com ênfase hedonista, no prazer (OLIVEIRA, 2005. p.85). E isso se assemelha bastante à teologia existencial de Buber, Bultmann e outros como visto acima.

Ou seja, como resultado dessa teologia existencial divulgada via cultura de massa, ocorre uma desescatologização da mensagem bíblica. O Jesus que era para voltar e livrar o homem e o mundo do pecado no futuro é trazido para o agora, o já (OLIVEIRA, 2005. p.91,98,107). E isso é feito com apelos emocionais e até eróticos em suas músicas, para retratar o encontro de cura entre o divino e o adorador (OLIVEIRA, 2005. p.99). A ênfase, portanto, não está na palavra de Deus ou na sua compreensão cognitiva, mas na sua experimentação do ser divino pelo homem (OLIVEIRA, 2005. p.108,109). Uma teologia marcadamente existencial.

A escatologia deles será terrena como a de Agostinho e seu reino milenar eclesiástico (OLIVEIRA, 2005. p.109). E seu determinante religioso e do ser é a emoção em detrimento da razão bíblico-divina. Ao contrário da crença adventista do sétimo dia que enfatiza a razão e o futuro com sua libertação desse mundo de pecado realizada por Jesus.

Em meio a essa religiosidade pós-moderna o CD Jovem é usado pela igreja adventista como meio de difundir sua mensagem. Como produto industrial ele é produzido em grande escala e em série, padronizado como todo bem industrial. Falta saber se como os meios de comunicação de massa, ele tem simplificado a sua mensagem para se adequar ao meio mercadológico da religião. Tendo assim a possibilidade de tornar sua mensagem existencial-desescatológica, como no neopentecostalismo, em contraste com a crença adventista essencial-escatológica. Isso será visto no próximo capítulo onde será feita uma análise dos textos musicais do CD Jovem à luz dos conceitos da cultura de massa.


[1] Seventh-day adventist believe…Hagerstown: Review and Herald Publishing Association. 1988 p. 4-15; Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Tatuí,SP: Casa Publicadora Brasileira. 2006. p. 9 (voltar)

[2]. Para uma discussão mais detalhada sobre o relacionamento entre criação (protologia) e volta de Jesus (escatologia), ver: HASEL, Michael “No princípio: a relação inseparável entre protologia e escatologia” em: DORNELES, Vanderlei; RODOR, Amin, TIMM, Alberto. O Futuro- a visão adventista dos últimos acontecimentos. Engenheiro Coelho, SP: Unaspress. 2004. E fora do adventismo: ELIADE, Mircea. Mito e realidade. São Paulo: Editora Perspectiva, 1972.(voltar)


Rodrigo de Galiza Barbosa é Bacharel em Teologia pelo Unasp, Campus Engenheiro Coelho, SP

O presente material é um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado em dezembro de 2008.

Orientador: Vanderlei Dorneles, Ms.


Fonte: Revista Kerigma – Ano 5 – nº 1 – 1º Semestre de 2009, pp.97-98.


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