A Forma da Adoração / Debate Sobre a Música na Igreja

A Bateria e o Transe nos Rituais Xâmanicos

por: Hilton Robson Oliveira Bastos

Fui pentecostal durante vários anos, falava línguas e realizava milagres, cria com toda a minha alma que estas manifestações eram obras de Deus. Vivenciei uma grande luta interna para poder me libertar deste movimento. Tudo que por anos acreditei ser verdade, dedicando parte de minha vida, de meus bens, foi-me revelado como sendo um erro. Minha família durante anos se dedicou ao movimento pentecostal, gostou dinheiro, vendeu bens para realizar doações, minha mãe havia recebido a cura de uma enfermidade neste movimento, como agora dizer a ela e a todos meus familiares que estávamos errados? Logo eu que era o maior defensor destas manifestações miraculosas como sendo obras de Deus, eu mesmo incentivei a minha família a fazer altas doações para a igreja a qual fazíamos parte, como poderia agora dizer que eu estava errado? Tente se colocar no meu lugar e pense nas lutas que enfrentei para mudar meus conceitos, minhas crenças, minha família. Foi difícil, muito difícil, tive que dobrar os joelhos em humildade diante de Deus para reconhecer o “Está Escrito”, reconhecer a força das palavras de Deus na minha vida. Mas eu venci com a graça de Deus.

Quando aprendi a estudar a Bíblia da maneira como os adventistas ensinam, fiquei maravilhado, era a maneira como ela própria ensinava. Não podíamos isolar textos, versos, nem parte alguma da Bíblia para formar doutrinas, nem ponto de vista, pensamentos e opiniões não poderiam ser tornados verdades sem o aval do “Está Escrito”. Isso foi o principal meio pelo qual aceitei as verdades, pois o estudo era completo, cheio de verdades, revelações importantes que encheram a minha vida de boas novas.

Antes de continuar quero afirmar que amo esta Igreja, Adventista do Sétimo Dia, confio que ela está sendo dirigida pelo Espírito Santo. Confio em sua administração e aceito todas as suas 28 doutrinas como declaradas no seu manual.

Uma reflexão

Entristeço-me quando vejo irmãos nossos utilizarem versos e acontecimentos isolados na Bíblia sem o apoio do contexto bíblico para satisfazer seus desejos e seus prazeres. Entristeço-me mais ainda quando vejo pastores fazendo o mesmo. Estes acontecimentos se assemelham aos protestantes quando defendem os animais imundos como alimento, utilizando a visão de Pedro com o lençol cheio de animais de todas as espécies, e ainda Deus dizendo “mata e come”, eles se baseiam neste fato e em poucos outros episódios relatados na bíblia sem entender todo o contexto para justificar suas crenças. O mesmo acontece quando tentam ensinar que o sábado e a lei foram abolidos utilizando parte da epístola aos Gálatas e alguns outros textos que, ao se estudar o contexto, teria eles uma visão totalmente diferente. Estes acontecimentos que tenho presenciado dentro da igreja são muito semelhantes às minhas objeções quando estava conhecendo a doutrina adventista. Está faltando por parte de muitos a humildade necessária para dizer: “eu estou errado”.

Hoje se tem levantado uma discussão na igreja concernente ao uso da bateria no templo, os argumentos de muitos para defender o uso deste instrumento se assemelham aos meus antigos argumentos contra a doutrina adventista, são argumentos fracos, baseado em opiniões pessoais e a utilização de textos bíblicos totalmente fora do contexto. A questão da bateria é algo tão óbvio que eu não consigo entender o porquê muitos que aceitaram o sábado e todas as verdades que pregamos não conseguem enxergar algo tão claro.

Quando comecei a estudar os escritos de Ellen White em 1996 fui compreendendo o drama que se desenrola deste da queda de Lúcifer, e que todo assunto deve ser analisado à luz do Grande Conflito. Então, como o tema principal é a adoração neste quadro, não podemos ignorar o fato de que o louvor, que é parte integrante na adoração, está fora deste contexto. Devemos deixar nossos pensamentos, opiniões próprias e levar este assunto bem mais a sério do que tem sido levado.

Temos que compreender com toda humildade que não pertencemos a mais uma igreja evangélica, não somos mais alguns em meio a uma multidão de evangélicos, não, nós somos os remanescentes da mulher a qual o dragão foi fazer guerra. Nós somos o povo que Deus elegeu para ser reparador de brechas, não podemos nos assemelhar ao paganismo, nós que temos a obrigação de sermos diferentes.

A Bateria e os rituais xâmanicos

Quando abandonei minha antiga fé, abandonei por que tive a certeza de que estava no caminho errado, e agora que encontrei o caminho verdadeiro não posso ficar nas mesmas práticas de antes. Eu cantava e dançava e ainda conduzia muitos outros a fazerem o mesmo. Tocava bateria na igreja que pertencia e quando cheguei à igreja adventista trouxe minha bateria para tocar lá também, mas alguém, meio que sem jeito, chegou pra mim e me disse que não era aconselhado que fosse tocada bateria dentro da igreja, no mesmo instante eu perguntei o motivo, pois eu queria os cultos mais animados, a pessoa não conseguiu me explicar e apenas me disse que era determinação da igreja, eu aceitei, afinal estava na igreja verdadeira, fiquei muito entristecido, pois era o único instrumento que eu sabia tocar de verdade, mas o que era a bateria para mim depois de tudo que havia aceitado como sendo verdade? Vendi minha bateria. Passei muito tempo sem saber o motivo de não usar a bateria, foram cinco anos na dúvida por que ouvia muitos cantores utilizá-la em seus cd’s, até que, no ano 2001, li um artigo de Vanderlei Dornelles, Editor da Casa Publicadora Brasileira, sobre a bateria e o êxtase, aí tive convicção de que realmente fiz certo ao vendê-la.

Ninguém melhor do que Satanás conhece a maneira perfeita do tipo de louvor que Deus aceita, não podemos ser crianças em achar que ele não iria desvirtuar o louvor na igreja a qual ele veio fazer guerra, seria muita ingenuidade de nossa parte pensar assim.

Deus é espírito e importa que seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.” João 4:24

Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional“. Romanos 12:1.

Estes dois versos apelam à uma adoração conscientes, verdadeira, racional, eles deixam claro que Deus deseja adoradores com uma mente pura, sadia, livre de qualquer entorpecimento. Sendo nós sabedores que a bateria tem o poder de entorpecer a mente e embotar os sentidos, levando ao um êxtase, isto é cientificamente provado, não sou eu quem está dizendo, é a ciência, então estes dois versos já seriam suficientes para abolir dos cultos qualquer louvor que houvesse bateria. Foi por isso que ela não foi aceita no templo como instrumento de adoração. Instrumentos de percussão como o címbalo não tem o mesmo poder que a bateria possui, devemos ter em mente que nosso culto deve ser racional e não emocional.

Alguns utilizam o texto de Ellen White onde ela diz que não devemos nos opor ao uso de instrumentos musicais na adoração, eu pergunto: será que ela está dizendo que podemos utilizar qualquer instrumento no louvor e adoração a Deus? Será que esse texto dá plena garantia que podemos utilizar qualquer instrumento? Ou ela está se referindo apenas ao acompanhamento com instrumentos musicais aos cantores ao realizar o serviço de cântico como era realizado em II Crônicas 29:25? Você já prestou atenção na frase que vem logo depois desta declaração? Veja o texto completo: “Escolha-se um grupo de pessoas para tomar parte no serviço de canto. E seja este acompanhado por instrumentos de música habilmente tocados. Não nos devemos opor ao uso de instrumentos musicais em nossa obra. Esta parte do serviço deve ser cuidadosamente dirigida; pois é o louvor de Deus em cântico. Nem sempre o canto deve ser feito apenas por alguns. Permita-se o quanto possível que toda a congregação dele participe“. Obreiros Evangélicos, págs. 357 e 358. Preste atenção na frase: “cuidadosamente dirigida, pois é o louvor a Deus em cântico”, por favor reflita sobre isto de maneira humilde, sem pensamentos pré-concebidos, pois às vezes prestamos atenção só na parte que nos interessa e esquecemos do restante que daria outro sentido à frase, será que o verdadeiro sentido do texto não seria este: “podemos utilizar instrumentos musicais no serviço de cântico, mas devemos ter cuidado ao escolhê-los, pois é o louvor a Deus que está em jogo”? Pense nisto, por favor. Outro ponto a ser analisado é que se com este texto podemos utilizar qualquer instrumento musical na adoração no templo isso poderia causar grandes inconvenientes. Então, amado irmão, pense com carinho neste texto, ore a Deus e peça entendimento e humildade para aceitar a determinação de Deus.

Veja estas citações de autores não adventistas quanto ao tambor (a bateria é composto de um conjunto de tambores e pratos):

“Os xamãs preparam o seu transe cantando e tocando tambor” (Mircea Eliade, História das Crenças e das Idéias Religiosas, Tomo I, Vol. II [Rio de Janeiro: Zahar, 1983], pág. 106)

“o tambor não é um simples instrumento de ritmo quanto à sua mais antiga tradição ligada às danças sagradas. Ele é, por sua vez, um instrumento de correspondência, isto é, de comunicação entre o homem e os seres misteriosos que governam a natureza” (Aguiar Bastos, Os Cultos Mágico-Religiosos no Brasil [São Paulo: Hucitec, 1979], pág. 99).

“o tambor desempenha papel de primeira ordem nas cerimônias xamânicas. Seu simbolismo é complexo, suas funções mágicas são múltiplas”. Ele é “indispensável ao desenrolar da sessão, seja por levar o xamã ao ‘Centro do Mundo’, por permitir que ele voe pelos ares, por chamar e ‘aprisionar’ os espíritos, seja, enfim, por que a tamborilada permite que o xamã se concentre e restabeleça o contato com o mundo espiritual que está prestes a percorrer” (Xamanismo e as Técnicas Arcaicas do Êxtase, pág. 194).

“O tambor xamânico distingue-se justamente de todos os outros instrumentos da ‘magia do ruído’ por possibilitar uma experiência extática”. O historiador acentua o fato de essa experiência ser “preparada, na origem, pelo encanto dos sons do tambor – encanto ao qual se atribui o valor da ‘voz dos espíritos’ – ou de a ela se ter chegado em decorrência da concentração extrema provocada por uma tamborilada prolongada”. Ele conclui: “Uma coisa é certa: o que determinou a função xamânica do tambor foi a magia musical” (Xamanismo e as Técnicas Arcaicas do Êxtase, pág. 200).

É só tirar os tambores da bateria e deixar só os pratos, pois estes eram usados no templo como címbalos retumbantes, se bem que os címbalos emitiam sons belíssimos.

Todas estas citações e muitas outras se encontram no artigo de Vanderlei Dornelles que você pode ler clicando aqui.

Algumas considerações:

1. A mensagem adventista mudou minha vida e meus conceitos, creio que esta igreja tem a função de combater o paganismo nas suas mais diversas formas. As grandes verdades foram duras para aceitar, pois tinha haver com conceitos mais profundos e significativos na minha vida. Muitos são aqueles que aceitam as grandes verdades e esquecem os detalhes que as envolvem, quero lembrar que muitos se perderão por não aceitar os detalhes, não serão os “grandes pecados” os causadores da perdição da maioria, mas sim os “pequenos”, aqueles que nos mostra quem realmente somos e qual decisão tomaremos quando a hora final chegar, e não adianta enganar a nós mesmo pensando que estaremos prontos agindo desta forma.

2. Sabendo que Deus deseja um culto racional e verdadeiro onde a mente deve ser mantida pura, devemos afastar todo e qualquer objeto que impeça isto, pois podemos não fazer sentir em nós mesmos, mas, como é de conhecimento de todos, não somos iguais, alguns podem se sentirem tocados pela batida dos tambores enquanto outros não, sendo assim, estaremos contribuindo para um louvor inaceitável a Deus se utilizarmos a bateria.

3. Um instrumento totalmente usado para o paganismo e práticas espíritas não pode ser usado no louvor a Deus, isto seria trazer fogo estranho ao templo sagrado.

4. São muitos os problemas relacionados com a bateria, Ellen White usou a confusão dos sentidos ao utilizar tambores no culto, algo que aconteceria nos últimos dias. “o Senhor revelou-me que haviam de ter lugar imediatamente antes do fim do tempo da da graça. Demonstrar-se-á tudo quanto é estranho. Haverá gritos com tambores, música e dança. Os sentidos dos seres racionais ficarão tão confundidos que não se pode confiar neles quanto a decisões retas. …Uma balbúrdia de barulho choca os sentidos e perverte aquilo que, se devidamente dirigido, seria uma bênção. As forças das instrumentalidades satânicas misturam-se com o alarido e barulho, para ter um carnaval, e isto é chamado de operação do Espírito Santo. … Essas coisas que aconteceram no passado hão de ocorrer no futuro. Satanás fará da música um laço pela maneira por que é dirigida“. Mensagens Escolhidas, vol. 2, págs. 36 e 38. “Não demos lugar a essas estranhas tensões mentais, que afastam na verdade a mente das profundas atuações do Espírito Santo. A obra de Deus sempre se caracteriza pela calma e a dignidade“. Mensagens Escolhidas, vol. 2, pág. 42.

5. O Domingo é paganismo, a imortalidade da alma é paganismo, o purgatório é paganismo, a idolatria é paganismo, o espiritismo é paganismo e muitos outros temas que não cabe aqui discutir é paganismo, e a bateria é o principal instrumento utilizado nos rituais pagãos para adoração e possessão demoníaca, então não posso aceitar meia verdade, sendo assim a bateria não serve como instrumento para adoração no templo em louvor ao nosso Deus, a menos que, tirem delas os tambores.

6. Então, levando em consideração tudo que tem sido exposto sobre a bateria, fica assim este instrumento inadequado para a utilização nos cultos de adoração.

7. Você é livre irmão, mas saiba que cada um dará contas de si mesmo diante de Deus. Romanos 14:12.


Fonte: http://restaumaesperanca.blogspot.com

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