O Adorador

Os Cristãos e a Música – Parte 1.3

por: Carlyle Manous

Fazendo Escolhas

Tendo dito tudo isto, quais perguntas um cristão deveria fazer conforme faz suas escolhas musicais? Deixem-me sugerir algumas:

  • Alguém que realmente compreenda o que Satanás está tentando fazer, e que está comprometido de corpo e alma com o serviço de Jesus Cristo, desejaria escolher uma música que transmita significados não compatíveis com o agradar a Deus?
  • Alguém que está orando cada dia por sabedoria e poder do Espírito Santo desejaria escolher uma música que tenha letras impuras ou que glorifique o pecado?
  • Alguém que está lutando a cada dia para ser mais semelhante a Jesus, que deseja ser usado por Deus para salvar almas perdidas, desejaria escolher uma música que tenha relacionamentos associativos que saem diretamente do reino de Satanás?

As respostas a essas perguntas não são totalmente claras? Isto não seria suficiente? Infelizmente, as coisas nunca são tão fáceis como parecem, então serei mais explícito.

Existem basicamente dois tipos de música que creio serem especialmente repreensíveis – mas que são comumente utilizadas em muitas comunidades cristãs. Estes são o jazz e o rock e vou discuti-los um de cada vez.

Os Cristãos e o Jazz

Cristãos que estão interessados em música, se são realmente sérios sobre fazer a vontade de Deus, precisam, em algum momento, enfrentar o problema do jazz. Por um lado, houve um tempo em que o jazz (como muitas outras práticas agora encontradas nas igrejas) era considerado como uma ferramenta do diabo. Por outro lado, um grande número de cristãos sinceros sente, hoje, que o jazz é uma forma de arte totalmente aceitável. E, diferentemente da música rock, que é não apenas falida espiritualmente, mas esteticamente fraca, o jazz pode declarar-se possuidor tanto de sofisticação musical quanto respeitabilidade estética. Assim, temos a pergunta: O discernimento espiritual da igreja se tornou nebuloso com o tempo, ou o jazz se tornou – ou talvez sempre tenha sido – algo desejável para os cristãos?

Baseado em tudo que já foi apresentado neste artigo, gostaria de sugerir uma maneira de olhar o jazz que me ajudou a lidar com essa questão.

Sustento que o jazz é impróprio para os cristãos por dois motivos básicos: primeiro, sua origem e utilização – e o que isto implica em termos de significado; segundo, a natureza básica da própria música – especialmente a qualidade “física” óbvia deste estilo.

O jazz teve sua origem em um amálgama de vários estilos diferentes, mas relacionados. Estes incluiriam a música evangélica negra e o que é chamado de “Blues”. Outro importante antecedente seria a música das cerimônias de Vodu da África Ocidental, trazidas para a América com o tráfico de escravos. A descendência destes vários elementos foi criada, nos primeiros anos, principalmente nos bordéis e clubes noturnos de Nova Orleans. A natureza sórdida de tudo isso se torna mais clara quando aprendemos que o termo “jazz” era originalmente um eufemismo para o ato sexual, a palavra com “F” de uma geração anterior. (*)

Uma referência útil para alguns destes fatos a respeito do jazz podem ser encontrada no livro Planet Drum (Planeta Tambor). Cito duas passagens relevantes.

“Aquelas culturas que escolheram ter acesso aos altos domínios – o mundo espiritual, o outro mundo, Céu, Vahalla, consciência transpessoal, o inconsciente coletivo, chame isso como preferir – freqüentemente usaram algum tipo de ruído ritmicamente controlado para facilitar a comunicação. Os xamãs dizem que eles “cavalgam seus tambores” para a Árvore Mundial. As culturas da possessão clássica dizem que os Orixás, os espíritos ancestrais, cavalgam no ritmo do tambor, descendo até os corpos dançantes. Tambores de trabalho, tambores de dança, tambores de guerra, tambores de transe. Como a música rítmica serve como catalisadora para a transformação? Que papel o músico desempenha? Quanto treinamento é exigido antes que um tocador de tambor possa lidar com estes poderosos ritmos de transe e não entrar em transe ele mesmo? Que espécie de equilíbrio é necessária antes que possamos dançar no limite da música e não cairmos?” (Hart, Lieberman & Sonneborn, Planet Drum, pp. 102).

“Alguns eruditos fazem uma conexão entre a possessão da África Ocidental com as antigas culturas neolíticas da deusa mãe, mas há nove mil anos atrás [sic] saíram da Europa Oriental para o que é hoje o deserto do Saara. Quando o tráfico de escravos começou no século dezessete, esta técnica de possessão e transe foi transportada para o Novo Mundo. Naqueles lugares onde os africanos receberam permissão de manter seus tambores, ela se transformou em candomblé, santeria e vodu. Na América [do Norte], onde os tambores foram proibidos por muitas gerações, este legado de ritmo de danças de possessão e transe foi separada de sua dimensão espiritual, tornando-se em vez disso, em jazz, blues, rhythm and blues, e rock and roll” (Idem, p. 138).

Outra excelente referência é African Rhythm and African Sensibility (Ritmo Africano e Sensibilidade Africana).

Depois de passar por uma cerimônia elaborada, envolvendo sacrifícios de animais, etc., o Sr. Chernoff, um sociólogo, relata sua experiência subseqüente conforme segue:

“Sendo um cético, não levei a cerimônia a sério, e pensei pouco nela depois. O feixe de varas era muito cheio de nós para que eu me preocupasse em colocá-lo debaixo do travesseiro.

Minhas reflexões sobre a cerimônia se tornaram um ponto importante porque, embora seja somente um músico amador, consegui aprender a tocar os tambores africanos… Durante meus primeiros meses em Gana, enquanto Gideão estava me levando a vários lugares para demonstrar minhas habilidades, ele gastou somente uma tarde ou duas me ensinando alguns ritmos de suporte. Mesmo assim, sempre que eu tocava com Gideão nas cerimônias, parecia que eu nunca cometia erros. Às vezes Gideão tocava ritmos para os quais eu nunca havia aprendido as respostas, e ainda assim meu toque era correto. Tocar tambores nas cerimônias é bastante difícil e eu era um real novato naquele tempo, e mesmo assim ninguém ficou surpreso quando toquei bem e ninguém, nem mesmo Gideão, fez qualquer referência sugestiva ao ritual quando me cumprimentaram. Ao praticar szinho em meu quarto, eu não conseguia manter de forma constante nem mesmo as respostas que havia aprendido” (John Chernoff, African Rhythm and African Sensibility, p. 15).

Creio que tais relatos, feitos por profissionais que não têm absolutamente qualquer “agenda” espiritual a apoiar, deveriam fornecer uma razão poderosa para que os cristãos se questionassem com algumas perguntas muito sérias sobre o uso e a apreciação do jazz. Um estilo que traz elementos importantes de cerimônias planejadas para facilitar o transe e a possessão por espíritos não deveria levantar algumas bandeiras vermelhas por parte daqueles que compreendem que “não é contra carne e sangue que temos que lutar, mas sim contra os principados, contra as potestades, conta os príncipes do mundo destas trevas, contra as hostes espirituais da iniqüidade nas regiões celestes” (Efésios 6:12)?

Minha segunda preocupação acerca do “jazz” é a natureza física deste estilo. Ao longo de sua história, o jazz tem sido associado a danças e outras respostas físicas que são rudes e vulgares. Parece haver algo acerca deste estilo que, como alguém disse, “apela para os nossos corpos do pescoço para baixo”. É claro que as marchas de Souza também apelam ao “corpo”, mas as respostas físicas do jazz sempre tem sido de uma natureza distintamente diferente do que as respostas à maioria dos outros tipos de música.

Em conexão com esta qualidade do jazz deveríamos também perguntar, Por que o jazz foi escolhido para ser utilizado primariamente em bordéis e clubes noturnos? Certamente este não era o único tipo de música disponível naquela época. Certas razões sociológicas têm sido sugeridas para esta associação, e tais razões são claramente verdadeiras até certo ponto. Mais importante, contudo, é que o jazz foi escolhido porque se encaixava; ele tornava mais atraente o que acontecia nos distritos da luz vermelha; o jazz estava em casa entre prostitutas e cafetões.

Um apoio para esta noção pode ser encontrado em um notável livro escrito por Martha Bayles chamado Hole In Our Soul (Buraco em Nossa Alma), com o subtítulo, The Loss of Beauty and Meaning in American Popular Music (A Perda da Beleza e do Significado na Música Popular Americana).

A autora levanta um ponto significativo em sua introdução, que nos ajudará a compreender todo o livro:

“Minha intenção não é esfregar seus narizes na lavagem mais recente; qualquer crítico poderá fazer isso. Em vez disso, minha intenção é explicar a situação: articular exatamente o que está errado, mostrar de onde esta lavagem veio, e sugerir por que a música popular não precisa ser desta forma. Ao contrário de muitos outros que têm atacado a música popular ultimamente, faço isto a partir de uma posição de profunda e duradoura simpatia. Neste sentido este livro não é um arroubo, mas um trabalho de amor” (Martha Bayles, Hole in Our Souls, pp. 3-4.).

Assim, a Sra. Bayles torna claro que está defendendo o que ela chama de música popular “autêntica” (a qual inclui tanto o jazz quanto o rock) contra uma legião de pretendentes esteticamente indignos – o que ela chama de “lavagem”.

Como base aos seus argumentos através de todo o livro está este ponto de vista subjacente: toda a música popular está baseada no erótico. Aqui estão algumas dentre muitas e muitas referências que poderiam ser citadas para demonstrar este ponto de vista:

“Existe um mundo de diferença entre o erotismo humano expresso em formas afro-americanas, como o blues, e a obscenidade desumanizada que é a preocupação perpétua e infantil do modernismo perverso” [que é como ela descreve muito da tendência popular atual (em 1994)]. (Idem, p. 13)

[Ela fala daqueles que] “podem apreciar as belezas complexas da música porque podem sentir a diferença entre o erótico, que preserva as conexões entre o sexo e o resto da vida; e o obsceno, que as corta”. (Idem, p 72)

“Este contraste entre estilos de execução é paralelo à distinção entre o erotismo e a obscenidade – uma distinção que em breve se perderia nos jovens avatares do rock”. (Idem, p. 200)

Estas citações também podem ser usadas para sublinhar outro ponto importante neste livro. Quando a Sra. Bayles lamenta a “perda da beleza e do significado” da música popular, o que ela quer dizer é que a música é, com muita freqüência, não apenas erótica (uma qualidade que ela aparentemente admira), mas obscena (uma qualidade que ela deprecia).

Mais uma vez, como é possível que tal avaliação de uma defensora da música popular não sirva de alerta para um cristão nascido de novo, para que fique atento? Como pode ser que expor-se a uma música que é obscena, ou mesmo “simplesmente” erótica, não seja uma coisa negativa para aquele que deseja tornar-se “puro de coração” (Mateus 5:8) ou que deseja seguir o conselho para pensar no que é “bom”, “verdadeiro” e “puro” (Filipenses 4:8)?

Como cristão, vejo nas origens – ou na natureza “física”, erótica, do jazz – razões suficientes para, pelo menos, fazer a mim mesmo algumas perguntas sérias com respeito a como esta forma de arte poderia me ajudar ou prejudicar em meus esforços para me tornar mais como Jesus.

Gostaria, agora, de prosseguir com algumas objeções que são freqüentemente levantadas com relação a essas duas ideias básicas.

1) Com relação à questão das origens do jazz, com freqüência é colocado o argumento que esta é uma objeção inválida, uma vez que os cristãos consideram como aceitáveis muitas práticas que também possuem origens pagãs – a Páscoa e o Natal sendo exemplos principais.

As origens destas duas festividades provavelmente não pode ser negada, mas a real questão é: Elas ainda são pagãs em sua natureza? Eu sugeriria que até o ponto em que elas ainda são pagãs, não são adequadas para a celebração cristã. Se a Páscoa não é mais do que uma forma de adoração ao sol ou uma celebração de rituais de fertilidade, envolvendo “ovos” e coelhos, então ela ainda é essencialmente pagã. Se o Natal é só sobre Papai Noel e duendes juntamente com um espírito totalmente comercial, ele também ainda é pagão. Creio que se estas celebrações não colocam ênfase no nascimento ou na ressurreição de Jesus, não foram realmente “cristianizadas” e provavelmente não sejam espiritualmente sadias para nós.

Seguindo a mesma linha de raciocínio, eu sugeriria os seguintes tipos de perguntas com relação ao jazz: Os elementos pagãos herdados dos rituais vodu foram erradicados? (Temos mesmo certeza sobre o que são todos estes elementos?) O uso do jazz ao longo das últimas décadas sugere que ele foi realmente “cristianizado”?

2) Freqüentemente também é levantado o argumento de que, embora o jazz realmente tenha tido suas origens em circunstâncias realmente desagradáveis, ele se tornou música de concerto séria e, portanto, foi, de alguma forma, “higienizado”. Se o jazz fosse utilizado apenas como música de concerto, alguém poderia tentar defender ser este o caso. Contudo, tenho amigos que ainda tocam jazz para as pessoas dançarem; portanto, pelo menos em alguns lugares, o jazz não é exclusivamente música de concerto. (E, até onde eu sei, o jazz ainda pode ser usado em bordéis também.)

Alguém poderia perguntar: O uso em “concertos” altera necessariamente a natureza do jazz? Em caso afirmativo, como exatamente isto ocorreria?

O periódico USA Weekend de 1-3 de Dezembro de 1989 apresentou uma entrevista com Wynton Marsalis, um dos mais importantes jazzistas de nosso tempo. O título do artigo era “Wynton Marsalis Sexy”. Ao lado da primeira página em letras grandes, dizia: “O jazzista em seu novo LP de final de ano, cheio de gás.” Aqui estão alguns dos diálogos que fizeram parte da entrevista:

Entrevistador: Qual é a grande ideia em fazer Noite Feliz soar sexy e Glória ao Rei Que vos Nasceu soar excitante? Você não acha que as pessoas vão ficar preocupadas e pensar “Não há mais nada sagrado”?

Marsalis: Temos estado fazendo estas canções na estrada por oito anos. As pessoas vem assistir e eles amam a música. Eles reconhecem que “sexy” é parte daquilo que a “América” é. Essas canções foram escritas por europeus, mas quando as apanhamos, nós as tornamos americanas. É como o que Duke Ellington fez com a suíte “O Quebra Nozes” [de Tchaikovsky].

Entrevistador: Mas aquilo não foi sexy…

Marsalis: Oh, sim, foi. Duke foi um dos músicos mais sexy que já viveu.

Entrevistador: O que há no blues que o torna tão sexy?

Marsalis: É uma compreensão profunda do que acontece entre um homem e uma mulher, do que acontece entre as pessoas em seu relacionamento com a natureza, e do amargo e do doce.

(Estes profundos pensamentos sobre os relacionamentos humanos provêm de um homem que também é descrito como sendo “impaciente acerca de assuntos como sua namorada que mora com ele e seu filho de um ano e meio” – certamente uma fonte importante de lições sobre questões éticas!)

Se o jazz na sala de concerto é completamente uma “forma de arte” pura, sem qualquer das implicações de sua história, por que Marsalis, um artista de concertos de jazz, a chamou de “sexy”? Agora, para sermos justos, deveríamos notar que o termo “sexy” pode ser usado de duas formas diferentes. Ele pode significar (a) “perspicaz”, “chique” ou “da moda” (como em “a fome mundial é um assunto sexy hoje em dia”) ou (b) simplesmente erótico. Qual forma estava sendo utilizada na entrevista? Se “sexy quer dizer somente “da moda”, por que seu álbum foi descrito como “cheio de gás”? – certamente um eufemismo para sexualmente provocativo. E se “sexy” significa “chique” ou “perspicaz”, por que Marsalis fala sobre “o que acontece entre um homem e uma mulher”?

Em maio de 1990 tive uma conversa com um bom amigo que dirigia a banda de jazz e ensinava História do Jazz em uma faculdade perto de onde eu morava. Nesta conversa aprendi que por vários anos na década de 1980 meu amigo havia sido um músico free-lancer na cidade de Nova Iorque. Uma de suas ocupações principais durante aquela época era tocar em um show musical. Ele não era membro da orquestra regular do teatro, mas era parte do “elenco”, já que tocava com um grupo de jazz no palco por três vezes durante cada show. Presumivelmente, seu grupo emprestava um sentimento de autenticidade ao show, cujo título era… “O Melhor Pequeno Prostíbulo Do Texas”. O sucesso deste show sugeriria que até os anos 80 ainda havia uma conexão evidente – para aqueles que entendiam dessas coisas – entre o jazz e os prostíbulos. Posso apenas concluir que a utilização do jazz em salas de concerto não quebrou o relacionamento desta música com suas origens.

3) Algumas pessoas afirmam que o jazz simplesmente não os afeta fisicamente de forma alguma que seja do tipo vulgar ou rude. Talvez não. Mas estamos sempre seguros sobre como estamos sendo afetados pela música? O campo da psicologia da música, como sugerido anteriormente, tem demonstrado quão poderosa é a música, e como ela nos influencia em níveis fora de nosso controle volitivo. Sendo assim, precisamos nos perguntar se queremos ser influenciados da maneira como o jazz tem influenciado comumente as pessoas, mesmo se esta influência possa ser menor explícita agora do que em outros tempos e lugares.

4) Outro argumento freqüentemente apresentado é essencialmente o seguinte: Como podem todos estes cristãos bem educados estarem errados a respeito de algo como o jazz? Em resposta, os seguintes tipos de perguntas precisam ser feitas: Deveria o certo e o errado ser baseado naquilo que a maioria pensa? De fato, a maioria alguma vez esteve certa acerca de qualquer coisa que seja espiritual? Como muitas outras práticas maléficas (sexo pré-marital, o uso do álcool, o divórcio praticamente casual, etc.) simplesmente alcançaram ampla aceitação entre os cristãos? Isto não demonstra simplesmente que os cristãos perderam o seu senso de certo e errado? Os cristãos devem sempre viver por padrões mais elevados do que os do mundo ao redor deles. Não devem perguntar: Isto parece ser bom? Outros estão fazendo isto? Eles devem perguntar: Isto é certo? Isto expressa a vontade de Deus?

Os Cristãos e o Rock

O termo “rock ‘n’ roll” foi cunhada em 1951 por Allan Freed, um disk jockey de Cleveland, Ohio e, como o termo “jazz”, também originou-se de um eufemismo para a prática sexual (**). E, da mesma forma que o jazz, a música rock tem uma longa história de estar associada a tudo o que é anti-cristão. Ainda assim, este estilo é um dos elementos que mais permeiam a sociedade americana da atualidade e tem se tornado uma parte principal nas vidas de muitos cristãos. Sendo assim, o cristão pensante deve analisar o problema de como de relacionar com esta forma de entretenimento.

É um fato bem conhecido que muitos cristãos tem se oposto à música rock desde o seu surgimento. Mas como os escritores da imprensa secular, aqueles que presumivelmente seriam amigáveis ao rock, vêem este estilo? E como os criadores e executantes desta música vêem a sua arte? As citações seguintes cobrem um período de quase quarenta anos, e ainda assim, demonstram uma consistência interessante. Eu sugeriria que estas citações fossem lidas tendo Filipenses 4:8 como referência principal.

Hifi/Stereo Review, Artigo sobre “Canção Popular” 1/64:

A diferença mais marcante [das canções dos anos 20 e 30] era a distinta, mesmo que indireta, sexualidade que veio com Sinatra e tem sido a fonte da popularidade dos cantores masculinos desde então.

High Fidelity, Artigo sobre Folk Rock, 12/68:

Houve um tempo em que o amor sem sexo era o grande tema das canções folclóricas; as de hoje fazem uma rapsódia do sexo sem amor… Desde o ataque de Londres à Restauração os cantores populares não têm sido tão explícitos e tão carnais… “Vamos passar a noite juntos”, convidam os Stones, e o seu gerente declara cinicamente, “Música pop é sobre sexo e você precisa bater na cara deles com isso.”

Time, Seção de Música, 3/1/60:

Em um certo sentido, o rock é revolucionário. Por sua batida e seu som, sempre rejeitou implicitamente as restrições e celebrou a liberdade e a sexualidade.

Time, Seção de Vida Moderna, 28/2/69

O artigo fala da… preocupação com sexo e drogas que é parte integrante da cultura do rock

Newsweek, Minha Vez, 6/5/85:

Uma que se considera uma conhecedora de rock diz:
Estou preocupada com a quantidade de canções de sucesso que só podem ser chamadas de rock pornô, e com a sexualidade sem gosto, gráfica e gratuita que está saturando as ondas de rádio e se infiltrando em nossos lares.

Newsweek, Seção de Justiça, 16/10/89:

Em Alexander City, Alabama, o proprietário da loja de discos Tommy Hammond sabia que muitos pais na cidade não tinham muita paciência com bocas sujas e mentes poluídas. Ele vendia os álbuns de rock e rap vulgares, mas sempre os manteve atrás do balcão, fora da vista do público… Jonhson [o advogado do proprietário da loja] argumenta que a linguagem sexual vulgar sempre foi um elemento vital da música pop.

Union Bulletin, 5/1/90:

Fiona escreveu ou foi co-autora de todas, menos uma das canções em seu recente lançamento de gravações. Seu dueto (“Everything you do you’re sexing me”) (“Em tudo o que você faz, você está me excitando”), com Kip Winger, está atualmente nos dez primeiros lugares da MTV. Localmente, está sendo colocada na lista negra por todas as estações de rádio comerciais.

U.S. News and World Report, 19/3/90:

As bandas de rock responderam vigorosamente ao excruciante desafio de como chocar aqueles que já estavam adormecidos. Você pode ver como o dial [do rádio] foi girado somente olhando os nomes das bandas de rock atuais. Os nomes de bandas que eram vulgares ou sexuais costumavam ser ambíguos ou ocultos… Agora existem pelo menos 13 bandas com nomes derivados dos genitais masculinos.

Newsweek, Piada da seção “Perspectives”, 16/4/90:

Nós penduramos sutiãs de Montana no Wyoming e calcinhas de Dakota do Sul em Utah. (O cantor Steven Tyler, do Aerosmith, que gosta de pendurar as roupas de baixo das fãs durante os concertos, a respeito dos pontos altos da atual turnê da banda.)

Union Bulletin, Mike Royko, Janeiro de 1993 sobre Michael Jackson:

Mas, simplesmente como um observador casual da cultura pop, duas revelações chamaram a minha atenção. Uma foi a resposta dele quando Oprah lhe perguntou por que ele segura seus genitais quando está cantando ou dançando.

Como os leitores podem recordar, esta é uma pergunta que eu coloquei na semana passada depois de ver Jackson agarrar repetidamente seus genitais durante a performance no Super Bowl. Bem, a música o faz fazer isso. O ritmo poderoso o leva a isso. Como ele disse, “Sou um escravo do ritmo.”

(Estas ações vulgares de Michael Jackson são colocadas em um contexto mais amplo em um artigo da Newsweek intitulado “The Glorious Rise of Christian Pop” (A Gloriosa Ascensão do Pop Cristão), de 16 de Julho de 2001. O autor disse: Ele [o executante] gesticula como um membro de alguma feroz gangue de rua, enquanto grita e ruge no microfone, seu braço balançando baixo como se estivesse a caminho da necessária agarrada nos genitais. Este movimento grosseiro é tão integral ao rap-rock quanto o jogar beijos é para o show em bares, e é comumente acompanhado por uma explosão de testosterona e vociferações obscenas.”Se agarrar os genitais é necessário e integral à música rock, aparentemente Michael Jackson não é o único que está envolvido com este tipo de coisa.)

Union Bulletin, 23/2/93:

O vocalista da banda de rock Jackyl, Jesse James Dupree, foi preso por supostamente expor-se durante um concerto.

Dupree foi preso no sábado em uma investigação de ter cometido uma exposição indecente e comportamento obsceno depois que pais reclamaram sobre o show de 17 de Fevereiro na Arena Long Beach.

“O que eles estão dizendo é que ele foi visto completamente nu, que ele havia exposto sua área genital e supostamente estava se masturbando,” disse o tenente da polícia Stephen Andrew.

Dupree foi libertado sob fiança e deve comparecer a uma audiência no tribunal em 4 de Março. O gerente da banda, Warren Tuttle, recusou-se a comentar as acusações.

Em Janeiro Dupree declarou-se inocente por indecência pública por supostamente haver abaixado suas calças no palco em Cincinnati.

Newsweek, Esportes, 15/3/93:

Patinação artística é o mais sensual dos esportes. Os parceiros planam através da quadra – membros entrelaçados, rostos enlevados – equilibrados em uma lâmina de aproximadamente um oitavo de polegada (cerca de 30 milímetros) de largura.

E o que dizer doa americanos, pais da revolução sexual, dos jeans apertados, e dos ritmos sexuais simulados do rock and roll?

Union Bulletin, 19/5/93:

Um concerto da banda de música alternativa The Screaming Trees (As Árvores Gritantes) foi interrompido antecipadamente, quando brigas irromperam na multidão que havia invadido o palco.

Os problemas começaram durante a performance de abertura da banda de Seattle Love Battery (Bateria do Amor), quando um membro da equipe empurrou um fã para fora do palco, em cima da multidão.

Newsweek, Assuntos Nacionais, 1/11/93:

Vivemos em um tempo em que as taxas nacionais de homicídios parecem não tem um limite de crescimento, quando a vulgaridade juvenil se disfarça como comédia, e quando muito da música popular carrega brutalidade, ódio às mulheres e rancor.

Newsweek, Música, 6/12/93:

Falando sobre música na CBGB, um lugar chamado de “o berço da uma revolução no rock”, o artigo descreve a ação:
No palco, alguma banda está tocando um horrível tipo de metal Led Zeppelinesco. O vocalista está jogando a cabeça para trás de forma teatral e esfregando sua pélvis contra o pedestal do microfone como um vira-lata super excitado.

Union Bulletin, 11/12/95:

Uma nova revista fez uma lista de quem é mau e quem é bonzinho neste Natal, verificando que somente 10 dos 40 álbuns populares à venda nesta época de festas estavam livres de coisas profanas ou letras que tratavam de drogas, violência ou sexo…

Newsweek, Música, 22/4/96:

Agora existe um novo álbum de Hottie [& Blowfish] sobre o qual discutir. Alguns podem ler o título “Fairweather Johnson” (Johnson Insincero) como uma referência a quem está mudando de lado, mas nós o lemos como outra das insinuações sexuais de Hootie.

Newsweek, Estilo de Vida, 26/7/96:

Trechos de um artigo sobe “Roqueiros, Modelos e o Novo Apelo da Heroína”:

Ainda assim, não importa quão espertos nós nos consideremos, o apelo da heroína persiste. Nos últimos dois ou três anos, a sua presença na cultura pop cresceu dramaticamente…

Quando o álbum de 1991 do Nirvana intitulado “Nevermind” (Deixe pra lá) chegou ao nr. 1, um conjunto de atitudes e comportamentos da periferia da cultura pop de repente atingiu o mercado de massas: vestir-se de forma rebelde, gritar realmente alto, tomar drogas, se é o que você quer. As bandas mais reverenciadas levavam esta mensagem em suas vidas, além de suas músicas. Uma vez que os garotos imitam os astros do rock, estão predispostos a imitar seu uso de drogas. A quantidade de bandas alternativas que têm sido ligadas à heroína porque algum de seus membros tomou uma overdose, foi preso ou admitiu o uso ou tratamento de recuperação é impressionante…

Pergunte aos executivos se existe um problema com a heroína no negócio da música e mais de um deles responderá, “É claro.” “Está pior do que jamais esteve”, diz um vice presidente de uma companhia de gravações.

Union Bulletin, 5/10/96:

Sobre o mais recente programa de premiações de vídeo da MTV:
“Ele [Dennis Rodman] parece ser muito respeitoso,” disse o vocalista Toni Braxton, que estava ganhou um premio com Rodman. “Ele não tira a roupa nem nada igrual a isto.”

O mesmo não poderia ser dito de Flea, que tentou sem sucesso convencer a modelo Claudia Schiffer a tirar a blusa. Depois, ele se virou e mostrou para a platéia uma lua cheia ou uma meia lua; ficou difícil de dizer, conforme a câmera se afastou da cena.

Newsweek, As Artes, 10/8/98:

Falando sobre Liz Phair, este artigo diz:
Os fãs do rock ficaram extasiados com sua voz feminina cadenciada, acordes distorcidos de guitarra e letras tão sexualmente explícitas que fariam corar um caminhoneiro.

Newsweek, Artes e Entretenimento, 19/7/99:

Em um artigo intitulado “Long Live Rock’n’Rap” (Longa Vida ao Rock’n’Rap) o autor descreve algumas das recentes alterações no cenário da música popular. Duas citações demonstram como muitas coisas não mudaram:

E como o fetiche retrô atual por todas as coisas do Rat Pack, o rock’n’rap oferece aos homens brancos ansiosos uma chance de executar as suas fantasias de machos alfa sem ter que assumir total responsabilidade por elas. As mulheres parecem acompanhar. Como o skatista Jerimiah Odem, que assistiu Limp Bizkit e Kid Rock em Dallas na semana passada descreveu a experiência, “É uma Meca para as garotas. As que chegam aqui tiram suas blusas.”

Em Del Mar, Califórnia, Marshall Mathers, mais conhecido como Eminem, espera para entrar no palco. Os quatro meninos brancos (idades de 9 a 11 anos) sortudos o bastante para conseguir passes para os bastidores, estão ocupados demais olhando seu novo herói para notar a loura de busto avantajado tirando seu top branco colado à pele para chamar a atenção do astro.

Newsweek, Artes e Entretenimento, 7/8/00:

Acerca da banda somente de garotas chamada Kittie, o artigo incluiu o seguinte:
…elas reconhecem sua [de um fã] adoração pelos chifres brilhantes do Diabo… Isto causa uma grande comemoração – Satanás sempre é um que agrada as multidões. No ônibus, elas revivem o show, se orgulhando de como chutaram duas garotas para fora do palco por terem mostrado seus seios para a multidão.

Family Circle, “O Show de Horrores do Rock’n’Roll: O Que Cada Pai Deveria Saber,” 1/11/01:

Surpreendentemente, algumas das maiores carnificinas ocorreram em alguns dos maiores shows, onde se poderia esperar que os profissionais da indústria de concertos fossem mais vigilantes acerca da segurança:

Foi relatado que quase 10.000 pessoas foram feridas em Woodstock em 1999 em Roma, Nova Iorque, onde um quase tumulto irrompeu durante a performance do grupo de hard-rock Limp Bizkit. Três mortes e vários estupros também ocorreram entre a multidão de quase 200.000 pessoas…

[Em Maio de 2000] mais de 900 pessoas foram feridas na 93XFest em Float-Rite Park em Somerset, Wisconsin. Artistas, locutores do show e celebridades convidadas incitavam as mulheres a se despirem e suas imagens nuas eram projetadas em grandes telas. Três mulheres disseram à polícia que foram estupradas durante o festival de três dias…

[Falando dos perigos das agressões durante os show, quando os espectadores chocam-se uns contra os outros propositalmente] Cory Meredith, proprietário da empresa de segurança Staff Pro em Orange County, Califórnia, coloca muito da culpa nos próprios artistas. “A violência”, ele diz, “poderia ser interrompida, mas parece como se ela fosse parte do show, então eles permitem que ela continue.”

Estas citações (admito que foram um esforço para “acabar” com o assunto) não foram escritas por pessoas necessariamente cristãs e certamente não por Adventistas do Sétimo Dia. Tomadas isoladamente, qualquer uma delas deveria levar um cristão renascido a ficar preocupado acerca da propriedade em utilizar tal música; tomadas como um todo, elas oferecem uma condenação devastadora da música rock e todo o cenário associado a ela. Adicionalmente, poderíamos notar que as citações falam, principalmente, da sexualidade descarada da música rock; elas não falam tanto acerca da celebração das drogas, da violência e do “Satanismo” – sendo que todas essas coisas também são comuns nesta forma de música.

Alguns podem desejar argumentar que o que apresentei acima é claramente um cenário pessimista, o que alguém ouve comumente é muito menos objetável. Qualquer pessoa que esteja sentindo desta forma deveria saber que em uma apresentação deste material em 2002 um jovem que havia acabado de vir do cenário do rock apresentou voluntariamente a opinião de que este quadro representa “somente a ponta do iceberg”.

Tem se tornado comum em épocas recentes para muitos cristãos afirmar que a música rock pode ser “cristianizada”. Eles afirmam serem capazes de remover os elementos objetáveis da música rock, de forma que ela pode ser transformada em uma ferramenta útil para o evangelismo e adoração. Dadas as descrições do cenário do rock apresentadas acima, isto é realmente possível? Deve ser recordado que mesmo os autores seculares falam de “ritmos sexuais simulados do rock and roll”e que Michael Jackson agarra seus genitais porque “Sou um escravo do ritmo”. Então, com o que se parecem os ritmos na música rock “cristianizada”? Eles são realmente diferentes em algum aspecto daqueles usados na música rock “normal”?

E note este comentário pela especialista em legislação constitucional Kathleen Sullivan sobre a questão de remodelar a música rock:

Você não pode tirar o sexo do rock-and-roll ou do rhythm-and-blues. Verdadeiramente, a qualidade da mistura abrange uma área muito ampla. As letras do Live Crew são rudes, vulgares e diretas. Elas não podem segurar uma vela para as letras de duplo sentido e sutis insinuações infinitamente mais inteligentes das canções mais antigas e mais sexualmente sugestivas (Martha Bayles, Hole In Our Soul, p. 349).

Aqueles que acreditam que a música rock possa ser “cristianizada” pela substituição das letras por letras melhores também deveriam notar a seguinte citação do Washington Post:

Paul McCartney, originalmente um membro dos Beatles a um artista solo desde os anos 1970, disse ao Washington Post:“A mensagem não está na letra, mas na música” (Citado na Adventist Review, 10/30/97).

Se a mensagem está “na música” – primariamente no ritmo – e não na letra, como acrescentar letras “cristãs” à música rock poderia torná-la mais aceitável? Eu afirmaria que o termo “rock cristão” é simplesmente um oximoro.

Também devemos perguntar, É realmente possível utilizar o jazz ou o rock sob quaisquer circunstâncias e ainda dizer “Senhor, o que queres que eu faça?” Estes estilos de música representam aquilo que é santo, o que é puro, o que é amável? A influência destes estilos de música nos ajudará ou atrapalhará em nossa batalha “contra os principados, contra as potestades, conta os príncipes do mundo destas trevas, contra as hostes espirituais da iniqüidade nas regiões celestes.” (Efésios 6:12)?


Notas do Tradutor

(*) Ao dizer “a palavra com ‘F'”, o autor refere-se a uma palavra da gíria em inglês (a qual me abstenho de grafar aqui) que denomina de forma vulgar o ato sexual. O português possui uma gíria correspondente, mas que é ainda mais vulgar e chula em nossa cultura do que a palavra citada pelo autor é na cultura americana. (voltar)

(**) Uma tradução livre e atualizada desta expressão, por uma expressão utilizada atualmente em Português seria “rala e rola”. (voltar)


Parte 1.2 – O Significado na Música   Parte 1.4 – Questões Finais Acerca de Escolhas

Fonte: International Adventist Musicians AssociationMusic In WorshipChristians and Music

Traduzido por Levi de Paula Tavares em Novembro/2009


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