A Adoração

Reverência – Pr. Samuel Muniz Bastos

por: Pr. Samuel Muniz Bastos

Reverência é respeito às coisas sagradas, veneração, genuflexão. Nesta era de tremendo burburinho, o homem deixou para trás a prática da reflexão, e em conseqüência, a vulgarização de valores éticos e espirituais tem-se tornado a ordem do dia.

Deus também não é poupado. A imagem do Cristo Redentor tem virado propaganda em sunga de banho, o nome de Deus que já foi pronunciado com temor e tremor, é atualmente expresso vulgarmente por apresentadores de TV como “o cara lá de cima”.

Quanto mais os holofotes da tecnologia brilham, mais cego o homem se torna para as coisas espirituais e verdadeiras. É bem apropriada a pergunta de Confúcio: “Sem reverência, o que distinguirá o homem de um animal irracional?” E é bem apropriado para o assunto desta semana o que disse Goethe: “A alma da religião cristã é a reverência.”

Isaías entendeu isso muito bem quando exclamou: “Ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!” (Isa. 6:5). O profeta ficou estarrecido porque “homem nenhum verá a Minha face e viverá” (êxo. 33:20) em virtude da fragilidade pecaminosa do homem e por Deus ser extremamente poderoso e santo. “Tu és tão puro de olhos que não podes ver o mal” (Hab. 1:13). Em virtude disso, “seria, porventura, o mortal justo diante de Deus? Seria, acaso, o homem puro diante do seu criador?” (Jó 4:17).

Isaías tinha senso da sua pecaminosidade, a ponto de dizer: “todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia” (Isa. 64:6). O propósito dessa visão de si mesmo e sua debilidade não é humilhar o homem, mas reerguê-lo, pois “nenhum homem alcançará as alturas se menosprezar as coisas sagradas”.

A visão que Isaías teve objetivava somente salvar. Ela pode ser descrita assim:

1 – Visão da glória e da santidade divina (Isa. 6:1-4)

2 – Compenetração e confissão de pecados (verso 5)

3 – Purificação (versos 6 e 7).

Lembre-se, esta visão referia-se ao templo e nessa ocasião é dito: “Eis que Ela tocou os teus lábios; a tua iniqüidade foi tirada, e perdoado, o teu pecado.” Há um sacrifício implícito no simbolismo da brasa tirada do altar. Este sacrifício aponta para o sacrifício de Cristo no Calvário, que é o fundamento do perdão.

Brasas não tiram pecado. O simbolismo delas é explicado pelas palavras do verso 7, que apontam para o sacrifício de Jesus, cujo sangue é que nos purifica de todo pecado (I João 1:7).

– Vocação (verso 8). Eu chamo isto de o despertar da consciência para a gratidão.

– Comissão (versos 9-13). Isto, é a gratidão em ação, trabalhando para salvar outros.

O que Deus fez com Isaías quer fazer conosco também: dar-nos uma visão de Sua grandeza que desperte em nós a miséria que somos, suprindo-nos com o perdão e a salvação, e que por gratidão nos tornemos a Sua boca neste mundo, proclamando a salvação aos homens, pois é trabalhando pelos outros que mantemos viva a nossa própria chama. Ademais, todo verdadeiro filho de Deus nasce no Seu reino como missionário.

A visão que Isaías teve de Deus e de si mesmo fez dele um pregador da salvação, pois ele falava com a autoridade de quem já tinha experimentado e do que vivia diariamente. O Deus Salvador parece ser seu tema favorito:

“Também te dei como luz para os gentios, para seres a Minha salvação até à extremidade da Terra” (Isa. 49:6).

“Olhai para Mim e sedes salvos, vós, todos os termos da Terra; por que Eu sou Deus, e não há outro” (Isa. 45:22).

“Antes de Mim deus nenhum se formou, e depois de Mim nenhum haverá. Eu, Eu sou o Senhor, e fora de Mim não há salvador. Eu anunciei a salvação, realizei-a e a fiz ouvir” (Isa. 43:10-12).

“Pois não há outro Deus, senão Eu, Deus justo e Salvador não há além de Mim” (Isa. 45:21; cf. 43:3; 45:15; 49:26; 60:16; 63:8 e 9).

Amigo, na sua vida religiosa há tempo para meditar na santidade de Deus? Se não, o nosso maior pecado continuará sendo a auto-justiça, pois sempre nos compararemos limpos com alguém mais sujo que nós. Esta é uma tragédia. A igreja está cheia de pessoas justificando seus pecados em cima dos erros alheios.

Isso é prova que os olhos da espiritualidade estão fechados para Deus. é impossível ter uma visão correta de Deus e não haver mudança de mente. Lembra-se de Jó? “Eu Te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos Te vêem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42:5 e 6). Se a nossa religião for só de ouvir, será fraca, infrutífera e irreverente.

Reverência e a Cruz

“Vemos, todavia, Aquele que, por um pouco, tendo sido feito menor que os anjos, Jesus, por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todo homem” (Heb. 2:9).

Quero começar esta parte falando sobre a primeira palavra deste texto: “vemos”. Você consegue ver através das coisas? O Dr. Siegfried Júlio Schwantes no livro Colunas do Caráter, conta a história de José, um velho operário coxo que um dia deu uma lição a Jerônimo, um torneiro mecânico entediado com seu trabalho, e que não o fazia direito.

José pegou um pedaço de bronze mostrou a Jerônimo e disse: O que você vê através do bronze? Ele mesmo responde, dizendo ver um navio encalhado, sendo despedaçado pelas ondas, e mais de sessenta pessoas mortas, porque alguém que não via através do metal fez uma válvula defeituosa que, num momento de pressão, não resistiu, causando tão grande tragédia. (Colunas do Caráter, págs. 66 e 67.)

Na sua vida diária há tempo para ver a Cruz? O que você vê através do madeiro e dos pregos?

– Posso ver Céu e Terra entrando numa confluência causada pela Cruz.

– Posso ver todas as estradas do passado chegando a uma convergência na Cruz e da Cruz saindo todas as estradas do futuro.

– Posso ver encontrando-se na Cruz a graça e a verdade; beijando-se a justiça e a paz (Sal. 85:10).

– Posso ver Deus sendo justo e Salvador (Isa. 45:12) simultaneamente.

– Posso ver um caminho novo aberto ao Pai (Heb. 10:19 e 20).

– Posso ver o sonho de Jacó (Gên. 28:10-17) tornar-se realidade. Acesso livre entre o Céu e a Terra.

– Posso ver acessível o trono de Deus (Heb. 4:16) que era inatingível sem a Cruz.

Há muito mais para vermos através da Cruz. Agora, “só aprendemos a apreciar o acesso a Deus que Cristo ganhou para nós depois de primeiro termos visto a inacessibilidade de Deus aos pecadores. Só podemos gritar “aleluia” com autenticidade depois que primeiro tivermos clamado: “Ai de mim, estou perdido”… é em parte porque o pecado não provoca nossa ira que não cremos que ele provoque a ira de Deus”. – John Stott, A Cruz de Cristo, pág. 98.

Que Deus era inacessível, é revelado por diversas metáforas nas escrituras.

1 – Altura – Deus é o “altíssimo”. Essa palavra expressa tanto exaltação e soberana como inacessibilidade aos pecadores (Gên. 14:18-22; Sal. 7:17; 9:2; 46:4).

2 – Distância – não podemos chegar perto demais. “Não te chegues para cá”, disse Deus a Moisés (êxo. 3:5). Os limites ao redor do Sinai, as cortinas do tabernáculo, revelam inacessibilidade pela distância. “Haja a distância de cerca de dois mil côvados entre vós e ela [a arca]. Não vos chegueis a ela” (Jos. 3:4).

Os pecadores não podem chegar-se sem impunidade. Lembra-se de Uzá? (II Sam. 6:6 e 7).

3 – Fogo e Luz – A luz brilhante cega e não podemos suportar seu brilho, e no calor do fogo tudo murcha e morre. Ele “habita em luz inacessível” (I Tim. 6:16) e é um “fogo consumidor” (Heb. 12:29).

4 – Vômito – Deus não pode tolerar ou “digerir” pecado e hipocrisia. Não Lhe causam só dissabor, mas também desgosto. São-Lhe tão repugnantes que deve livrar-Se deles. Deve cuspi-los ou vomitá-los (Lev. 18:25, 27-29; Apoc. 3:16).

Esse quadro acima mostra que Deus não pode estar na presença do pecado, e que se este se aproximar será repudiado e consumido. No entanto, na cruz, “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões” (II Cor. 5:19).

Você entendeu a importância da cruz para o acesso a Deus? Agora, se a cruz não arrancar de mim profunda contrição e reverência, nada mais o fará.

O Nome do Senhor

“Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão, porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o Seu nome em vão” (êxo. 20:7).

A irreverência é uma das ofensas mais comuns em nossa geração; é de escala global, e às vezes é um ultraje contra a majestade de Deus. Alguns tomam o nome de Deus em vão na sua linguagem frívola e insincera dizendo: “se Deus quiser…” quando não manifestam nenhum respeito pelo que Deus quer.

O hábito de praguejar, de pronunciar frivolamente o nome de Deus, de palavras cínicas sobre assuntos religiosos, é uma ofensa a Deus pois, além de ser irreverência, destrói a seriedade da fé.

O nome revela a essência de alguma coisa, e quanto ao nome de Deus, a Bíblia diz que: “Santo e tremendo é o Seu nome” (Sal. 111:9). A mensageira do Senhor diz o seguinte: “Todos devem meditar em Sua majestade, pureza e santidade, para que o coração possa impressionar-se com uma intuição de Seu exaltado caráter; e Seu santo nome deve ser pronunciado com reverência e solenidade.” – Patriarcas e Profetas, pág. 307.

O nome de Deus não é apenas o seu som, mas uma representação do Seu caráter. A ideia que se tem de Deus será revelada pela reverência ou irreverência para com o Seu nome. Este indica o próprio Senhor.

“Em Ti se gloriem os que amam o Teu nome” (Sal. 5:11).

“Em Ti, pois, confiam os que conhecem o Teu nome ” (Sal. 9:10).

“Torre forte é o nome do Senhor, à qual o justo se acolhe e está seguro” (Prov. 18:10).

Um aspecto da reverência que é pouco falado, e que julgo imprescindível, não é o da pronúncia, mas o da vivência do nome de Deus posto sobre nós.

“E todos os povos da Terra verão que és chamado pelo nome do Senhor e terão medo de ti” (Deut. 28:10).

“Assim, porão o Meu nome sobre os filhos de Israel, e Eu os abençoarei” (Núm. 6:27).

Que importância temos dado a isso? Sou cristão e carrego sobre mim o nome de Deus como um distintivo de um estilo de vida, como sinal de pertinência e com o privilégio desse nome ser santificado em mim. Quando o meu testemunho é falho, o nome de Deus é desacreditado, vulgarizado e envergonhado, e quantas vezes “o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por vossa causa” (Rom. 2:24).

Portanto, “tributai ao Senhor a glória devida ao Seu nome” (Sal. 96:8).

– Você já parou de contar piadas com o nome de Deus-

– Como você imagina que as pessoas avaliam sua maneira de ser cristão?

Temer a Deus

“Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é chegada a hora do Seu juízo; e adorai Aquele que fez o céu, e a Terra, e o mar, e as fontes das águas” (Apoc. 14:7).

Antes de explicar que não há contradição entre o grande mandamento (Mat. 22:35-38), e a primeira mensagem angélica (Apoc. 14:6-8), precisamos entender primeiro o significado bíblico de “temer“.

“Guardareis os Meus sábados e reverenciareis o Meu santuário. Eu Sou o Senhor” (Lev. 19:30; 26:2).

“Aleluia! Bem-aventurado o homem que teme ao Senhor e se compraz nos Seus mandamentos” (Sal. 112:1).

A palavra traduzida por “temer” nesses textos, é “yáré”. Uma análise de seu uso na Bíblia revela pelo menos cinco categorias gerais de seu emprego: 1) a emoção do medo (Deut. 5:5; I Sam. 7:7); 2); previsão intelectual do mal (I Sam. 21:13); 3) reverência ou respeito (Lev.19:3; 26:2; Sal. 112:1; 86:11); 4) comportamento íntegro ou piedade (Lev. 19:14; 25:17; Deut. 17:19; II Reis 17:34); 5) Adoração religiosa formal (II Reis 17:32-34).

Existem muitos exemplos do terceiro uso citado acima. Tal reverência é devida aos pais (Lev. 19:3), lugares santos (Lev. 19:30; 26:2), Deus (Sal. 112:1) e o nome de Deus (Sal. 86:11). Não é uma questão de termos medo de Deus, como tememos algo que pode nos fazer mal.

A palavra “temer” no seu escopo de reverência que gera uma vida reta, não contradiz o primeiro e grande mandamento, que ordena amar a Deus acima de qualquer coisa (Mat. 22:35-38). Pelo contrário, a reverência ou temor é resultado do amor. Agora, lembre-se que “no amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento” (I João 4:18).

Não há contradição entre Apocalipse 14:7, a primeira mensagem angélica, e o grande mandamento. Em Apoc.14:6-8 há um chamado especial para uma preparação espiritual em função do juízo. O senso de juízo gera uma ética de vida para o povo de Deus: “Ora, se invocais como Pai Aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo as obras de cada um, portai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação” (I Ped. 1:17).

Essa ética do povo de Deus é medida pelos mandamentos de Deus, que se resumem nos dois grandes mandamentos do amor (Mat. 22:35-38), os quais estão em relevo nas três mensagens angélicas: “Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus” (Apoc. 14:12).

Em suma, “aquele que teme a Deus concretizará seu temor numa retidão ou piedade que se manifesta na prática. … Os que temem ao Senhor podem ser aqueles cuja piedade pessoal se manifesta numa reação positiva à mensagem divina”. – Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, pág. 656.

A palavra “temei” em Apocalipse 14:7, aparece na acepção de reverência e respeito.

– Que respeito para com Deus, essas três mensagens angélicas têm produzido em mim?

– Sabendo que estamos vivendo a hora do juízo, temos vivido de maneira santa, justa e piedosa?

– Que relevância tem para mim esse tema? Quão reverente eu sou?

“O temor do Senhor é límpido e permanece para sempre; os juízos do Senhor são verdadeiros e todos igualmente, justos” (Sal. 19:9).

Reverência e obediência

“Andareis após o Senhor, vosso Deus, e a Ele temereis; guardareis os Seus mandamentos, ouvireis a Sua voz, a Ele servireis e a Ele vos achegareis” (Deut. 13:4).

Esta é uma das passagens em que “temer” é sinônimo de ter uma vida correta. O temor, em seu vasto alcance, parece ser a motivação que produzia a vida justa. Afinal, “o temor do Senhor é o princípio do saber” (Prov. 1:7).

“Não oprimirás o teu próximo, nem o roubarás; a paga do jornaleiro não ficará contigo até pela manhã. Não amaldiçoarás o surdo, nem porás tropeço diante do cego; mas temerás o teu Deus. Eu sou o Senhor” (Lev. 19:13-14).

Nestes textos há uma íntima associação de temer com a observância da lei de Deus. A consideração para com os semelhantes, a justiça e a bondade de que deviam ser expressos é uma demonstração prática de reverência para com o Senhor da lei.

A guarda da lei não é um fim em si mesmo, mas é o meio pelo qual a gratidão se manifesta, motivada pela reverência. Não podemos reverenciar aquilo que não aceitamos e a aceitação deve ser por amor.

Estamos vendo a reverência como um fruto do reconhecimento do perdão. é a maior demonstração do amor de Deus, e a minha maior motivação para amar a Deus. Se O amo, guardo os Seus mandamentos (João 14:15).

Se O amo, prego o evangelho, a palavra da reconciliação (II Cor. 5:18), e procurarei viver de maneira santa, justa e piedosa (Tito 2:12), “pois o amor de Cristo nos constrange” (II Cor. 5:14).

Como o sábado se relaciona com o princípio da reverência? Não há nenhuma razão para se guardar o sábado a não ser respeito pela Palavra de Deus. é a aceitação por fé de algo que todos rejeitam. Guardar o sábado é experimentar semanalmente viver pela fé, em repouso nos braços de Deus. Isso é respeito pela palavra de Deus. Isso é reverência ao Criador.

Querido irmão, vamos apreciar diariamente o perdão de Deus, e que este nos motive a reverenciar o tão grandioso amor a Deus.


Pr. Samuel Muniz Bastos é Pastor distrital em São Luís, MA

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