por: Márcio Klauber Maia
Quando mais jovem, achava que louvor e adoração eram atividades musicais; que estavam relacionadas somente à música. Pensava que era somente cantando que se podia adorar a Deus. Talvez isto acontecesse, até por influência da nossa forma de apresentar os momentos musicais nos nossos cultos, quando dizemos que o cantor ou conjunto vai louvar a Deus com um hino, ou convidamos o povo para adorar com cânticos, como se fosse a única forma de adoração existente.
Talvez por esta razão alguns cristãos não se sintam capacitados para adorar a Deus, por não terem habilidades musicais mais desenvolvidas ou serem desafinados; e por isto, acham que sua “adoração” seja de qualidade inferior e, portanto, não agradável a Deus. Logo, delegam esta tarefa aos músicos da congregação.
Isto tudo, porém, é um grande engano. Hoje posso compreender que a música é apenas uma ferramenta, de grande ajuda, sem dúvida, para nos auxiliar na adoração a Deus. É um poderoso recurso para o adorador utilizar como auxílio, no desempenho de sua tarefa de buscar a presença de Deus e adorá-lo.
Acontece que a música auxilia no cumprimento de toda a missão da Igreja. É uma ferramenta útil à adoração, essencial na edificação e indispensável na evangelização. Com cuidado podemos verificar que a música sacra deve sempre servir a estes propósitos.
Como a música sempre exerceu uma atração sobre o ser humano, deve ser amplamente utilizada na obra de comunicar ao mundo a mensagem do evangelho. Com cânticos e instrumentos podemos anunciar a Cristo de forma que atinja o coração e a mente de todos os que gostam de música. Por isto mesmo, muitos dos nossos hinos têm esta finalidade. Observe a letra deste:
Pecador, vê a luz, brilha para ti,
Lá na cruz do Salvador,
Onde a vida deu; e do lado Seu
Corre sangue redentor (Almeida Sobrinho – Harpa Cristã, 12).
Quando cantamos hinos como este, estamos anunciando a Jesus Cristo como salvador aos que ainda não o confessaram como tal.
De igual modo, a música é amplamente utilizada para promover a unidade, facilitar o ensino e motivar os crentes a crescerem em maturidade. Este hino, por exemplo:
Irmãos amados – E resgatados,
Segui avante – E triunfantes,
Combateremos – E venceremos,
No nome santo de Jesus (Paulo Leivas Macalão – Harpa Cristã, 175)
Hinos assim são extremamente úteis para motivar os crentes a continuarem firmes na caminhada espiritual. Claro que isto redundará em glória para Deus, mas este tipo de mensagem não é dirigida a Deus, e sim, aos crentes. Ninguém poderia imaginar que é a Deus que nos dirigimos quando cantamos:
Tentado não cedas, ceder é pecar,
Melhor e mais nobre será triunfar,
Coragem, ó crente, domina o teu mal.
Deus pode livrar-te de queda fatal (Paulo Leivas Macalão – Harpa Cristã, 75).
Existem, porém, muitos hinos, do nosso repertório cristão, cuja mensagem é dirigida a Deus, e que são ferramentas para adoração ao Senhor. Podemos citar como, por exemplo:
A minha alma te ama, ó Senhor!
E desfalece sedenta de amor;
És meu consolo na aflição,
E luz perfeita na escuridão;
Meu verdadeiro pão (Paulo Leivas Macalão – Harpa Cristã, 145).
Esta missão tríplice da igreja está perfeitamente ilustrada nos móveis do Lugar Santo. A mesa dos pães da proposição fala-nos de comunhão, portanto está relacionada com o aspecto interno da missão eclesiástica, para promover a unidade (todos estavam representados nos doze pães, sobre a mesma mesa) e fortalecer os crentes com o alimento espiritual (os sacerdotes se alimentavam do pão dentro da tenda), levando-os a crescer como comunidade, para que o mundo possa sentir em nós o “bom cheiro de Cristo” (lembra-se do incenso colocado sobre os pães?!).
O candelabro fala-nos de testemunho, lembrando-nos que somos a luz do mundo (os seis braços do candeeiro) e que devemos andar como filhos da luz. Ele está relacionado com o aspecto externo da nossa missão, pois é através de cada crente, como lâmpada, cheio do Espírito Santo (o azeite), a espalhar a luz de Cristo por onde passa, que cumprimos o papel de testemunhas do amor de Deus, para que os que nos cercam possam ver em nós o poder do evangelho e também venham a confessar a Cristo como Senhor e Salvador.
O altar do incenso fala de oração (a queima do incenso), de buscar a Deus, de estar em sua presença. Desta forma, podemos relacioná-lo com a adoração, pois é através do nosso relacionamento com Deus, em oração, que estreitamos a comunhão com ele, conhecemos os seus desejos para a nossa vida e desenvolvemos maior amor e temor em sua presença.
É interessante observar tudo isto para verificarmos o ciclo contínuo que havia na caminhada do sacerdote até aqui: todos os dias ele passava pela porta para chegar até o pátio; no pátio ele se lavava na pia, para oferecer sacrifício no altar e também se lavava para entrar na tenda, o que acontecia pelo menos duas vezes por dia, pela manhã e à tarde.
Diante de tudo o que pudemos extrair como significado de cada movimento do sacerdote no tabernáculo, entendemos que a vida cristã também exige um padrão de procedimentos e disciplinas cristãs, que inclui: a renúncia diária de uma vida de humildade (o altar de bronze); a alimentação espiritual, pela leitura da Bíblia Sagrada (a pia de bronze); o crescimento para alcançar a maturidade no relacionamento com os santos, visando a unidade (a mesa dos pães da proposição); a retidão de comportamento perante a sociedade, para que o mundo possa ver o caráter de Cristo em nós (o candelabro) e uma busca constante pela comunhão com Deus em oração (o altar do incenso), para que possamos ser verdadeiros adoradores, estar na presença de Deus e desfrutar da sua glória (o Santo dos Santos).
Logo, podemos observar que a adoração está relacionada com uma vida de devoção que permita que Deus assuma o primeiro lugar em nossas prioridades e ocupe o lugar central em nossas mentes e corações, e não apenas com momentos em que cantamos, levantamos as mãos e dizemos palavras de amor, gratidão e louvor a Deus, nas igrejas.
Vivemos um momento, nas igrejas do Brasil e em muitos países, quando as pessoas têm-se voltado para este tema: adoração. Muitos livros e revistas têm sido publicados tratando deste assunto e muitos congressos, seminários e conferências têm sido organizados, com a finalidade de discutir as questões relacionadas a isto, alguns até com a pretensão de “formar” adoradores. (…)
É óbvio que buscar desenvolver nos membros de nossas igrejas uma maior conscientização no tocante à necessidade de voltar-se para Deus, em adoração, a fim de despertá-los para uma vida dedicada ao louvor e à glória do Senhor, é algo muito bom e importante.
Não há dúvidas que, promover um maior envolvimento de nossos jovens com as atividades da igreja, incluindo uma maior participação dos mesmos na programação dos cultos, oferecendo-lhes a oportunidade de prestar um serviço a Deus e aos santos, é fundamental para o seu crescimento espiritual.
O que não podemos esquecer é que não devemos apenas formar grupos, promover ensaios, realizar congressos e mudar a liturgia dos cultos, mas, acima de tudo, precisamos ensinar que a adoração a Deus exige a santidade e pureza do adorador; que para estar na presença de Deus e adorá-lo é indispensável uma vida dedicada a ele, transformada pela palavra e moldada pela oração.
Infelizmente, tenho visto movimentos de adoração nos quais muitos se prostram, pulam, cantam, dançam, emocionam-se, mas não têm as suas vidas impactadas pela presença de Deus. Quando saem do recinto voltam a viver as suas vidas “normais”, até o próximo “encontro” no culto, no congresso ou seminário. Não percebem que a adoração não é simplesmente coletiva, mas principalmente, individual. É o estilo de vida piedosa de cada um que fará com que esteja apto para permitir que a presença de Deus seja constante na sua vida.