por: Pr. Isaac Malheiros Meira
“Menos é mais”, ensinava o arquiteto alemão Mies Van der Rohe, complementando com “Deus está nos pormenores”.
Sem querer defender o minimalismo, creio intensamente nesses aforismos de Van der Rohe. Tanto nos sermões quanto no louvor congregacional [1], a comunicação deve ser bela, direta e sem rodeios excessivos.
Há beleza na simplicidade, e normalmente o louvor congregacional deve ser simples. Assim, pode parecer rude, mas o louvor congregacional não é palco para o músico virtuose que faz milhares de escalas por segundo e malabarismos variados. A virtuosidade pode ter seu lugar em muitos outros momentos, não no louvor congregacional.
O clichê é batido, mas verdadeiro: menos é mais. Pelo menos na música congregacional isso é verdade. “Menos é mais” trata de abrir mão do malabarismo técnico e da pirotecnia sonora em nome do bom gosto e da clareza.
Em grupos de louvor congregacional, tocar bonito é geralmente bem mais fácil que tocar feio, pois exige menos de cada instrumento. É muito mais agradável ouvir uma banda onde cada um encontra seu lugar e todos podem ser ouvidos do que assistir a um sangrento Ultimate fighting musical entre instrumentistas que se embolam e se confundem.
Os excesso sempre surgem de pensamentos bem intencionados, como:
- “Vou aproveitar pra fazer um solo de improviso no interlúdio…”
- “Aprendi um acorde novo essa semana, vou tentar encaixá-lo nas próximas músicas…”
- “Eu acho legal terminar as músicas com sétima. Todas elas…”
- “Essa música tá muito quadrada, vou fazer uns ‘contratempos’ pra animar…”
- “Eu acho que tocar slap bass em todas as músicas fica legal…”
- “Comprei uma pedaleira Zoom. Vou testar todos os efeitos na igreja esse mês: uns quatro em cada música…”
- “Eu sou tecladista-pianista, o meu instrumento é que manda. Portanto, vou aumentar o volume e encher a mão.”
- “Devo oferecer meu melhor para o Senhor. E o meu melhor é esse mixolídio em velocidade máxima e com distorção!!!”
Livre-se desses pensamentos.
Apesar de ser individualmente mais fácil tocar de modo simples, a simplificação em grupo não é fácil. Requer planejamento e ensaio. É bem mais cômodo distribuir as cifras e partituras, contar “1, 2, 3 e…” e deixar cada um encher a música de floreios como bem entender.
Quando isso acontece, a sensação é de que tem muita cobertura para pouco bolo, muito molho pra pouco macarrão. As sétimas não saem, as quartas ficam batendo nas terças, os acordes invertidos embolam o grave e o louvor se torna um penoso exercício. O “amém” da congregação ao final é de alívio.
É extremamente difícil livrar-se da vontade insana de incrementar, de colocar um floreio aqui e outro ali.O grande drama é convencer a si mesmo de que tocar apenas 4 ou 5 notas por compasso não é mediocridade.
E o desafio-bônus é convencer a si mesmo que não tocar nada naquele compasso não significa o fim da amizade com o resto da banda. É para o bem da música, a fim de que ela “respire”.
A simplicidade ajuda a retirar os holofotes dos músicos. E quando os holofotes saírem da banda, do solista e dos vocais, então se repetirá no culto o que aconteceu no monte da transfiguração:
“E erguendo eles os olhos, não viram mais ninguém a não ser Jesus.” Mateus 17:8
[1] Louvor congregacional é o momento do culto em que toda a igreja canta. Não é o momento onde corais, grupos, quartetos e solistas se apresentam e a congregação apenas assiste e adora em silêncio. Por favor, tenha isso em mente ao ler o resto do texto. (voltar)
Fonte: Publicado originalmente em: http://www.adoracaoadventista.com