por: Drizio Mathias Netto
Romanos 12: 1- 8
1 Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.
2 E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.
3 Porque pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não tenha de si mesmo mais alto conceito do que convém; mas que pense de si sobriamente, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um.
4 Pois assim como em um corpo temos muitos membros, e nem todos os membros têm a mesma função,
5 assim nós, embora muitos, somos um só corpo em Cristo, e individualmente uns dos outros.
6 De modo que, tendo diferentes dons segundo a graça que nos foi dada, se é profecia, seja ela segundo a medida da fé;
7 se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino;
8 ou que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com zelo; o que usa de misericórdia, com alegria.
A adoração verdadeira tem sido uma das coisas raras de se ver nos dias de hoje. Muitos têm empreendido escrever sobre o assunto e creio que há muita coisa boa escrita sobre a adoração, mas o problema é que na diversidade de religiões há, em muitos casos, uma total agressão aos princípios da palavra de Deus.
A igreja de Jesus Cristo nunca teve tão dividida no tocante a este assunto como está nos dias de hoje. É necessário olharmos para a Palavra de Deus e buscarmos nela as verdades sobre o modo de adorarmos a Deus. Penso que posso escrever algo sobre a Carta de Paulo aos Romanos e que envolva o assunto, porque o apóstolo dos gentios não conhecia a igreja em Roma e anelava em seu coração alcançar credibilidade e sustento para o seu ministério na Espanha.
Esta igreja não foi organizada por nenhum apóstolo, pois segundos os estudiosos, a Igreja em Roma surgiu no dia Pentecostes. Paulo esperava passar por Roma e mandou com antecedência este pacote doutrinário que é a carta aos Romanos.
A carta tem como tema principal à fé em Jesus Cristo. Paulo começa a abordar o assunto mostrando que todos os homens estão debaixo do pecado, tanto gentios como judeus. A igreja em Roma era composta de um povo misto de judeus e gentios. Assim, pelo fato de não conhecer a igreja, Paulo escreve as verdades sobre o pecado, a fé e seus resultados e sobre a história da situação de Israel, não deixando para traz a importância da adoração genuína.
O povo romano era dado à idolatria e à luxúria. A igreja era assediada pelas falsas doutrinas que se misturavam com o cristianismo como era o caso do judaísmo e talvez os ensinamentos gnósticos que começavam a tomar proporções relevantes.
Com tudo isso surgia a necessidade de Paulo abordar sobre a importância da adoração e isso ele faz de forma clara no capitulo 12 da Carta aos Romanos.
Não vou ser profundo sobre o assunto, mas pretendo abordá-lo de forma sucinta para que possa ser entendido e prático para todos os leitores, pois a palavra de Deus deve ser acessível e contextualizada para que possamos tirar o nosso proveito.Penso que podemos seguir os padrões paulinos para adorarmos a Deus com maturidade, pois encontrei princípios importantes para que possamos edificar as nossas vidas e também nossas igrejas, e isso numa adoração bíblica e contextualizada.
A adoração verdadeira tem certas características que devem ser observadas com atenção e quero abordá-las em quatro pontos importantes. Estas teses serão relevantes para que possamos entender o que Paulo pensava sobre a forma de adorarmos a Deus em nossos cultos e também refletirmos em nossa adoração à luz do conhecimento bíblico sobre o assunto.Vejamos o que podemos encontrar no texto de Paulo aos romanos, capitulo 12:1-8 sobre os requisitos para a adoração verdadeira e madura:
1 – A Adoração com Maturidade é uma apresentação diante de Deus.
Paulo começa o versículo um dizendo que a adoração consiste numa entrega diante de Deus. Ao dizer assim, ele se referia à oferenda. Em todo o Antigo Testamento nós podemos constatar o sistema judaico sacrifical.Outros povos pagãos também sacrificavam aos seus deuses, o que prova que a questão sacrifical não se prendia aos cultos dos hebreus.Deus mesmo exigia que se sacrificassem animais. Mas a ideia sacrificial estava ligada também às ofertas.
A adoração verdadeira e madura é uma oferenda para Deus e isso como um sacrifício vivo. Ao contrário do antigo testamento, onde eram apresentados sacrifícios pelos pecados, Paulo aborda que devemos tomar uma atitude de gratidão pela compaixão que Deus teve ao nos perdoar no sacrifício de Jesus Cristo.Não se pode dizer que adoramos a Deus se não nos apresentarmos diante dele em gratidão por tudo que ele representa para nós.
A apresentação solene que é feita diante de Deus é de essência santa. A santidade é um dos atributos de Deus. A palavra grega ?agian? tem sua designação dando a ideia de separado. A adoração com maturidade deve envolver a separação do pecado e a separação para Deus como oferenda imaculada no sacerdócio pessoal.
A forma de adoração apresentada por Paulo não é algo extremo ou estático, mas racional. A palavra que expressa razão tem uma melhor interpretação se pudermos pensar na coerência daquilo que estamos fazendo para Deus, ou seja, precisamos fazer a soma certa e Deus não pode ser somado ao ascetismo ou ao legalismo, mas à santidade e à justiça de que é exigida no ato da adoração.Então ser um verdadeiro adorador consiste em apresentar-se diante de Deus ao jeito de Deus e com o caráter de Deus.
Paulo diz que Deus é adorado em culto ou devoção pessoal e isso através da coerência de que aquilo que estamos apresentando ao Senhor seja realmente verdadeiro. Assim a adoração passa a atender as exigências de Deus, pois o ato de adorar é uma coisa e Deus receber ou confirmar a adoração é outra.O culto deve ser bíblico e ao jeito de Deus, pois ele é o alvo de toda adoração.
A igreja tem se tornado para muita gente um clube de encontro onde podemos ver as pessoas e sermos vistos por elas. Em muitos casos a igreja tem sido um lugar onde é proporcionada uma forma de culto que faz com que as pessoas extravasem as neuroses adquiridas no decorrer da vida. Eu penso que tudo isso pode contribuir para melhorar a pessoa, mas não podemos fazer do culto um consultório de psicologia onde a cada domingo nós tenhamos as sessões terapêuticas para cada pessoa.
Poucos são aqueles que realmente querem envolvimento com a obra de Deus com o objetivo de fazê-la crescer. Muita gente deseja receber as bênçãos de Deus, mas poucas querem o Deus das bênçãos. Não podemos dizer que culto seja um ato que nos faça receber bênçãos, ainda que isto esteja intrínseco, mas o culto é uma entrega pessoal diante de Deus como um sacrifício vivo, santo e racional.
Dentro desta ideia podemos perceber uma outra verdade que caracteriza uma adoração verdadeira:
2 – A Adoração com Maturidade é tomar uma atitude em relação à cultura secular.
Outra face da adoração é no ato de tomarmos uma posição em relação ao sistema em que estamos vivendo.
Paulo disse para aqueles irmãos em Roma que eles não deviam se conformar com o mundo. Há aqui algo que precisamos estar atentos. O mundo foi criado por Deus e é alvo do amor de Deus, mas a palavra usada pelo apostolo tem a ideia de século ou época. Outro fato que não podemos deixar de relacionar é que a palavra ?não conformar?, usada por Paulo nos dá a ideia de pose. É como alguém que vai tirar fotos e faz poses. O que Paulo nos diz aqui é que não podemos tomar a forma ou a pose do século.
Hoje nos estamos vivendo em uma época onde nossa cultura é voltada para os aspectos da juventude e dos hábitos de consumo da juventude. Nós não vemos na televisão propaganda de remédios para pessoas idosas. Não vemos a mídia colocar um idoso para fazer a propaganda de um sorvete ou algo do gênero. Tudo ou a maior parte do que presenciamos são mulheres sensuais e musicas sensuais, misturadas às drogas alcoólicas e pessoas de sucesso pregando a liberdade em nome do amor. Mas onde está Deus? Cadê a mídia de Deus? Porque não há novelas que falem como as pessoas podem encontrar a Deus?
Não sou contra a mídia e penso que tudo pode ser usado para o bem, mas não é assim que o nosso mundo usa as coisas. Estamos vivendo em dias onde precisamos questionar aquilo que temos aprendido e perpassarmos à luz da palavra de Deus para que não tomemos a forma do mundo em uma cultura agressiva que gera neuróticos e pessoas sem o temor de Deus.
Jesus disse que somos sal e luz e isto são coisas distintas e legitimas. Nosso cristianismo deve influenciar e não ser influenciado pelo mundo. Acredito que se quisermos viver uma vida autentica com Deus então precisamos tomar uma atitude em relação a nossa cultura ou época.Quando tomamos esta atitude, nossa adoração passa a ter uma marca distinta. Nossos valores serão diferentes, pois Cristo estará presente em nossa devoção. Nossa adoração será a resposta de nossa cultura bíblica. Esta é outra parte que quero abordar.
3 – A Adoração com Maturidade é uma renovação que provém do conhecimento da palavra.
Paulo começa esta parte mostrando que a adoração genuína é fruto do conhecimento da Bíblia. Ele diz que devemos nos transformar pela renovação do nosso entendimento.Ao dizer isso, Paulo afirma que uma adoração verdadeira deve ser bíblica, pois com a sobreposição de informações, ou seja, colocando a informação do evangelho em lugar dos falsos conceitos religiosos, teremos uma metamorfose. É como uma lagarta que passa do estado larvar e repugnante para um estado adulto, onde é transformada em uma bela borboleta.
O adorador precisa conhecer a Bíblia, precisa pertencer a ela e ser possuído por ela. Jesus afirma que o conhecimento da verdade pode libertar o homem. Há muita gente fazendo meninices em nome de Jesus sem mesmo conhecê-lo. Há tantos que buscam experiência e revelação da verdade ao passo que deveriam pedir a Deus iluminação da verdade para uma espiritualidade salutar e libertadora. A adoração madura transforma o adorador e renova a mente por causa da palavra da verdade.
Nosso padrão de adoração é a Bíblia, e interpretada de maneira legitima e inteligente, para que não coloquemos palavras na boca de Deus e que nunca Ele quis dize-las. Nossos cultos precisam ser bíblicos porque se assim não for, serão como lata vazia fazendo só barulho. Penso que muitos passam pouco tempo com a palavra de Deus. Há gente que cresce nas igrejas por aquilo que ouviram falar e não por aquilo que aprenderam com Deus e com Sua Palavra.Talvez esta seja a razão que faz com que haja tanta imaturidade externada no meio do povo de Deus e que tem escandalizado tanta gente, distorcendo e pré-conceituando erroneamente o culto evangélico.
A adoração muda o caráter do adorador, levando-o a apresentar-se diante de Deus de forma santa e, em conseqüência disso, experimentando a vontade de Deus.
4 – A Adoração com Maturidade possui identidade.
Paulo passa a dizer que não podemos pensar de nós mesmos além do que convém, mas segundo a fé repartida por Cristo a cada um. Depois estabelece o ensino dos dons espirituais.Ele estabelece uma semelhança da igreja e o corpo humano. Paulo mostra a diversidade de dons na unidade de Cristo. Podemos perceber que há o ensino de que devemos conhecer o nosso dom ou nossos dons para a apresentação de nosso sacrifício diante de Deus.
O cristão não pode ser aquilo que não é, mas não deve deixar de ser aquilo que é. Existe aqui um principio importante que é a identidade espiritual. Não somos ninguém sem nossa identidade e assim também em relação à igreja. Não podemos servir a Deus sem nossa identidade espiritual, sem o nosso dom espiritual. No Antigo Testamento os hebreus sacrificavam a Deus, mas na igreja usamos a nossa vida no dom espiritual, dado para edificação do corpo. A adoração está voltada para Deus e para o próximo. É aí que cumprimos a lei do amor que rege toda obediência. Nosso culto deve ser edificador e alimentador.
Para que isso se torne realidade, precisamos aceitar a diversidade e também a unidade, ou seja, há muitos jogadores e cada um em uma posição, mas os gols são feitos em um só lugar.Os pastores devem entender esta realidade e investirem em uma forma de cultuar que proporcione oportunidade para todos servirem a Deus nos dons espirituais.
Concluindo, se todos entendêssemos estas verdades, poderíamos experimentar o céu aqui na terra. A igreja é perfeita em si mesma, mas talvez o que a tem reduzido ao fracasso sejam os adoradores imaturos, que cultuam sem estarem diante de Deus como um sacrifício vivo. Adoradores que tomam a pose do século porque não conhecem a Deus e nem a sua palavra. Adoradores que não têm identidade e que servem a Deus no talento da carne. Que carregam a soberba e a fama respaldada na gloria do homem e não de Deus. Adoradores que não cultuam, mas fazem espetáculos em nome da fé.
Precisamos adorar com maturidade.
“A adoração é a submissão de toda nossa natureza a Deus. É a vivificação da consciência mediante Sua santidade, o nutrir da mente com Sua verdade, a purificação da imaginação por Sua beleza, o abrir do coração ao Seu amor e a entrega da vontade ao Seu propósito.” – William Temple
Que Deus nos abençoe e nos ensine a adorá-lo com maturidade.
Amém!
Drizio Mathias Netto é Pastor Batista em São Marcos – Espírito Santo
Os editores do Música Sacra e Adoração agradecem a autorização para publicação do artigo