por: Pr. Edilson Valiante
Um dos livros cristãos mais famosos no final do século XX foi escrito por Rich Warren e tem como título Uma vida com propósito. Dentre muitas frases de efeito que essa obra apresenta, chamou-me a atenção uma definição bem ampla de adoração: “Qualquer coisa que você faça que traz prazer a Deus.” O Dicionário Houaiss contém sob o verbete “adoração” um sentido mais específico e não menos significativo. Adoração é “veneração, culto que se rende a (alguém ou algo) que se considera uma divindade”.
Sem dúvida, a verdadeira adoração do cristão é culto e veneração a Deus como Criador e Redentor. Temos que reconhecer, entretanto, que culto e veneração não são artigos muito em moda em nossos dias. Para a maioria, é extremamente mais apreciado receber um convite para uma festa, para uma balada ou um show com um ídolo da música popular. Parafraseando a definição de Warren, o ser humano “adora” fazer qualquer coisa que lhe dê prazer. Infelizmente, posso lhe assegurar que não há muito fascínio ao convidar alguém para assistir um culto.
Por que nossos amigos oferecem resistência quando são convidados para adorarem conosco na igreja? Uma das razões mais significativas tem relação com a sociedade pós-modernista em que vivemos. Nunca foi simples chamarmos alguém para um momento de culto, mas nunca foi tão complexo como hoje. Adoração tem tudo a ver com respeito, reconhecimento e aceitação de autoridade. Na cultura pós-moderna, entretanto, não há mais referenciais de autoridade. Poderíamos discutir, como exemplo, as limitações da escola ou dos pais em estabelecer autoridade, limites e comunicação de valores. Há uma rejeição implícita a qualquer forma de autoridade, pois a autoridade última está, como se pretende, dentro de nós mesmos.
Com isso, nunca esteve tão tênue a linha que divide o Criador da criatura. Nossa geração perdeu o senso da presença do divino. Hoje, a criatura quer assumir o papel de Criador “o deus está dentro de você mesmo” insistem milhares de livros de auto-ajuda. “Adore a você mesmo!”, é o que sugere os sinais luminosos dos motéis, das grandes lojas, dos shoppings, etc. “Deus é, no máximo, uma energia organizadora”, afirmam os diversos “ismos” que se prevalecem do título de ciência. O diagnóstico é caótico: nossa geração está, literalmente, rejeitando o Criador.
Mesmo que a Primeira Mensagem Angélica deixe claro nossa missão de proclamarmos a Deus como Criador e o único digno de adoração (Apocalipse 14:6-7), parece-me que muitos estão confusos em relação a como se deve adorar. A verdadeira adoração requer espírito de gratidão, louvor, dedicação, atenção à palavra… Assim, podemos adorar nosso Deus com músicas apropriadas, com orações de gratidão e intercessão, com sermões, com gestos de entrega daquilo que temos e somos.
“Quem é que vai pregar hoje?” Essa pergunta não se deixa calar. Parece que nossa aceitação do estudo da palavra está diretamente relacionada ao mensageiro e não à mensagem. Conta-se que durante uma série de sermões do famoso orador Henry Ward Beecher, seu irmão teve que substituí-lo numa das noites. Quando o auditório notou que o pastor suplente subira ao púlpito, desapontados, muitos começaram a se levantar para deixarem a igreja. Foi então que o pastor proclamou com voz inequívoca: “Todos os que vieram para adorar Henry Ward Beecher, podem se retirar…. Todos os que viram para adorar a Deus, permaneçam nos seus lugares.”
Deve-se adorar a Deus até com absoluto silêncio. Apropriada foi a declaração de um pastor num momento de culto. “Amigos”, ele disse, “faz muito tempo que estamos precisando de alguns momentos de silêncio nesta igreja. Acabamos de ouvir um texto nos lembrando dos sofrimentos do Senhor de nossa adoração. O melhor que podemos fazer é simplesmente nos manter em silêncio e refletir sobre esse texto. Que o Espírito Santo guie nossos pensamentos ao adorarmos ao Senhor através de alguns momentos de silêncio.”
Onde devemos adorar? Em casa? Na igreja? Nas ruas? Em Jerusalém? Em Gerizim [*]? A adoração deverá ser individual, familiar, mas, também deve ser coletiva, na igreja. Contudo, percebe-se que muitas igrejas estão enfatizando a adoração, essencialmente em termos de músicas e orações, ao ponto de quase excluírem o ensinamento da Bíblia, a doutrinação. Quanto tempo sua igreja tem separado à pregação?
Em alguns círculos, há uma preocupação em praticar uma adoração que traga prazer aos próprios adoradores. Ao invés de serem períodos de louvor sincero e racional, as reuniões de muitos grupos religiosos, hoje, se tornaram espetáculos e shows para agradar aos homens e deixar os participantes decididamente emocionados. Pregadores que só se preocupam com a eloqüência… Corais, orquestras, conjuntos de rock evangélico e equipes de louvor são usados para atrair adoradores egoístas. Lotam-se as igrejas para um grande momento social – é o momento de encontro com os amigos e não com Deus. Esquece-se do Criador! Temos, às vezes, nos preocupado tanto com as formas e nos esquecido do Senhor da adoração. Vivemos num momento de crise na adoração, possivelmente como aquele que passou Israel, descrito em Isaías 1:3-16.
A falsa adoração é um sinal dos tempos… A vitória sob a terceira tentação resistida por Cristo deveria nos levar a refletir seriamente sobre os ataques de Satanás à sua igreja, hoje. “Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a Ele darás culto” (Mateus 4:10). Tomas Fullear disse que “os que adoram a Deus apenas porque o temem, adorariam também ao diabo.”
Jesus deixou claro em João 4:23-24 que há uma forma correta de adoração. Ele não nos deu opção. Não é adorarmos em espírito ou em verdade. Temos que adorar das duas formas de maneira equilibrada. Se adoramos mais em espírito, teremos muita paixão e pouca razão. Se adoramos mais em verdade, teremos muita razão e pouca emoção. Devemos ser equilibrados ao adorar o Senhor. São esses adoradores que o Pai procura. O coração da adoração é o nosso coração.
Podemos adorar a Deus em quase qualquer lugar e em qualquer dia, mas temos de deixar claro que há um lugar dedicado ao culto e um dia por excelência (Levítico 19:30). “Irmãos,” aconselha E. G. White, “a não ser que vos eduqueis a respeitar o lugar do culto, não recebereis nenhuma bênção de Deus. Podereis adorá-Lo formalmente, mas será um culto destituído de espiritualidade.” (Testemunhos Seletos, vol. 2, p. 251).
Assim, se o local e o momento são especiais, diferentes, tudo o que acompanha, também tem de ser distinto e adequado:
- A hora que estou pronto para o inicio do culto. Posso me permitir chegar atrasado para a aula, no serviço, no encontro marcado com a namorada… mas, Deus já está me esperando na igreja às 9h00!
- A roupa que visto.
- A maneira com que me sento.
- Como me porto (não fico entrando e saindo).
- As minhas palavras e pensamentos.
- A música que canto ou toco.
- A minha comunhão e oração.
- Os pais tomam o cuidado de ensinar adoração aos filhos, tendo-os assentados perto.
- Como adoradores devemos primar por ordem e respeito, nada podendo ser feito de forma leviana e improvisada.
Para promover a integridade do serviço de adoração em nossas igrejas a cada sábado, estamos reafirmando os modelos de culto que são trazidos pelo Manual da Igreja (2005), pp. 93-94 [**]. Se sua igreja já se adequou a essa liturgia, parabéns! Se não, esse é um bom momento para ajustar a forma de culto de sua igreja a um padrão sólido.
A primeira grande obra de Leonardo DaVinci, chamada de “A Adoração dos Reis Magos”, é um óleo sobre madeira, de aproximadamente 2,5m x 2,5m, datada entre 1481-1482. A obra foi encomendada pelos monges de São Donato de Scopeto, próximo a Florença, Itália. Nela Leonardo usou com sabedoria sua técnica de jogo de luz e sombra estimulando a imaginação do observador gerando uma ilusão de profundidade (3D). A pintura revela o domínio de DaVinci da anatomia humana, onde todos os elementos obrigam o olhar para o centro onde estão as figuras de Maria e o Menino. Surpreendentemente, o artista deixou a obra inacabada, contendo apenas aguadas de tinta.Da mesma forma, sabemos que nossa adoração, hoje, sob as tensões do grande conflito, nunca será perfeita, mas, com a graça de Deus, a será nos Céus. “Deus é altíssimo e santo; e, para a humilde alma crente, Sua casa na Terra, o lugar em que Seu povo se reúne para adorá-Lo, é a porta do Céu. O cântico de louvor, as palavras proferidas pelos ministros de Cristo, são instrumentos designados por Deus para preparar um povo para a igreja de cima, para aquele mais elevado culto de adoração em que nada do que é impuro ou não santificado poderá ter parte” (Mensagens aos Jovens, p. 265).
Notas
[*] – Os samaritanos sustentavam (ver João 4:20) que o monte de Gerizim era especialmente sagrado. Abraão e Jacó tinham edificado altares nas proximidades (Gênesis 12:7; 33:20), e o povo tinha ouvido as bênçãos pronunciadas do topo deste monte (Deuteronômio 11:29; 27:12). Os samaritanos tinham edificado um templo nesse monte por volta do ano 400 a.C., o qual os judeus destruíram perto de 128 a.C. Esses dois atos, naturalmente, aumentaram a hostilidade entre os dois grupos.
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[**] – A Ordem do Culto – As seguintes são duas formas de culto sugestivas:
Ordem de Culto Mais Longo
- Prelúdio Musical
- Anúncios
- Coro e Entrada dos Pastores
- Doxologia
- Invocação
- Leitura das Sagradas Escrituras
- Hino de Louvor
- Oração
- Cântico ou Música Especial
- Oferta
- Hino de Consagração
- Sermão
- Hino
- Benção
- A Congregação Permanece em Pé ou Sentada Para Uns Momentos de Oração Silenciosa
- Poslúdio Musical
Ordem de Culto Mais Curto
- Anúncios
- Hino
- Oração
- Oferta
- Hino ou Música Especial
- Sermão
- Hino
- Benção
- A Congregação Permanece em Pé ou Sentada Para a Oração Silenciosa
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