por: Jefferson Paradello
Se a melhor referência que você tem da música clássica é o som do “caminhão do gás” ou a melodia tediosa de uma sala de espera de consultório, esse texto pode ajudar você a perder esses traumas. Imagine se as obras de Mozart e Beethoven, por exemplo, bombassem no Youtube como Gangnam Style? Não se assuste. Esse não é um cenário apocalíptico. Na verdade, você perceberá que algumas coisas na vida poderiam ser diferentes e melhores se você – e o restante da população – tivesse mais contato com a música erudita.
Menos câncer de mama
Pode parecer esquisito, mas a música clássica não serve apenas para agradar os ouvidos dos mais exigentes ou ser usada como trilha sonora de filme épico.. Um estudo desenvolvido no programa de oncobiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) constatou que quando células de câncer de mama são expostas à Quinta Sinfonia de Beethoven, aquela do “pam-pam-pam-pam”, a tendência é que elas diminuam e morram. Depois de “ouvirem” a obra, 20% delas vieram a óbito. O plano dos pesquisadores é criar sequências sonoras que ajudem a combater a doença de forma menos tóxica.
Direção defensiva
Quem é adepto da direção defensiva, deveria selecionar melhor o tipo de música que escuta no rádio do carro. Os que gostam de rock, por exemplo, tendem a visitar a oficina com mais frequência. É sério. Pelo menos é o que aponta uma pesquisa realizada pela Populus com 2 mil motoristas da Grã-Bretanha, dos quais 31% já se envolveram em algum tipo de acidente. Enquanto aqueles que preferem o jazz constumam abusar da velocidade, quem ouve música erudita fica mais calmo enquanto dirige, diminuindo assim as chances de colisão.
Classical in Rio
Há quem ainda considere a ideia de que a música de concerto é parte da cultura de elites. Já foi, mas isso tempos atrás. Hoje, os esforços de muitos maestros e instrumentistas estão concentrados na popularização do estilo. O que inibe as pessoas a frequentar as salas é, muitas vezes, a falta de informação. Para reverter isso, as rádios ajudariam muito. Embora a maioria das 9.479 emissoras brasileiras continuem a priorizar gêneros como pop/rock e sertanejo universitário, os mais tocados no Sul e Sudeste em janeiro deste ano, algumas dão mais espaço para a música erudita, como a Cultura FM de São Paulo. Se houvesse uma mudança musical radical, faltariam salas de concerto e o Brasil sediaria um Rock in Rio da música clássica.
Comportadinho desde criança
Lembra daquele seu amigo que dava um trabalhão para a professora na pré-escola? Ele seria outro se tivesse ouvido Mozart na sala de aula. É o que defende o livro 101 Essential Lists on Managing Behaviour in the Early Years, escrito por acadêmicos da Universidade de Derby, na Inglaterra. Segundo eles, crianças entre 3 e 7 anos que ouvem as obras do compositor austríaco, especialmente nas aulas de matemática, ficam mais calmas e apresentam melhor desempenho escolar. A música também pode reverter comportamentos agressivos, funcionando como uma espécie de terapia. Para saber se funciona, faça o teste com seus priminhos que não param quietos.
No quesito diversidade musical, o Brasil é um país rico. Gêneros como a Bossa Nova brotaram daqui. Mas o trabalho de muitos compositores permanece “enterrado”, principalmente os da música erudita nacional. Mesmo aqueles que ganharam o mundo, como Carlos Gomes e Villa-Lobos, são pouco lembrados. A popularização do estilo poderia incentivar o surgimento de novos músicos e composições, projetando a produção brasileira nas salas internacionais. Para tanto, facilitar o acesso à cultura erudita é o primeiro passo. Publicar edições com partituras, por exemplo, é um bom começo.
Fontes: 101 Essential Lists on Managing Behaviour in the Early Years, de Simon Brownhill, Clare Gratton e Fiona Shelton (Continuum, 2006); Driving Music Survey (Yonder Consulting); Portal do Programa de Oncobiologia; João Luiz Sampaio, jornalista e; Parcival Módolo, maestro; Tudo o que você precisa saber sobre rádio e televisão – licenças, outorgas, taxa de penetração, receitas e receptores (Abert, 2010).
C+
Melhor do que falar sobre música é ouvi-la. Por isso, separamos para você um dos concertos de Robert Schumann, interpretado pela Orquestra Filarmônica de Roterdã com participação do pianista brasileiro Nelson Freire, um dos mais requisitados do mundo.
Para saber +
Programa Encontro com o maestro, da rádio Cultura FM de São Paulo.
Fonte: Revista Conexão 2.0