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Ouvir Cores: O dia a dia de um sinestésico

por: Gabriela Mateos (HypeScience)

Ouvir cores é uma condição neurológica sinestésica muito louca. Imagine que seu cérebro é como uma televisão, e tem cabos de áudio e vídeo separado. Agora imagine ligar o cabo de áudio na saída de vídeo. Se fosse uma televisão mesmo, nada ia funcionar. Mas, como nosso cérebro é uma tecnologia de ponta sem igual, funciona. E de um jeito muito maluco.

É como se todos os seus sentidos ficassem cruzados e interligados, criando sentidos diferentes. A seguir, vamos tentar descrever 6 jeitos como essa sinestesia de ouvir cores pode mudar a forma como uma pessoa vê o mundo. Divirta-se imaginando:

6. É quase impossível descrever essa habilidade para outras pessoas

Para uma pessoa que tem sinestesia lexical, por exemplo, as letras, números e dias da semana têm cores específicas e distintas. Algumas pessoas também podem “ver” sons, o que é igualmente fantástico. Tão fantástico que parece poder de super-herói de quadrinhos. Mas essas habilidades são possíveis porque algumas pessoas são o que chamamos de “associativas”, enquanto outras são as chamadas “projetoras”. Ser um associativo significa que essa pessoa não necessariamente precisa enxergar com os olhos uma cor para de fato vê-la. Fechar os olhos e se concentrar já é o suficiente. Já os projetores, por outro lado, podem realmente ver as cores como se estivessem vivendo em um eterno show de laser do Pink Floyd, o que provavelmente não é tão legal quanto parece, especialmente no trânsito.

Isso parece simples no papel, mas, na prática, descrever o que esses dois grupos de pessoas veem é algo perto do impossível. É o mesmo que tentar explicar a cor vermelha (ou qualquer outra cor) para alguém que nasceu cego. É incrivelmente difícil quebrar a cabeça em torno do conceito de um sentimento que você não tem.

Agora pense como uma pessoa que tem a habilidade de ouvir cores pode explicar que a letra A soa como roxo, mesmo que esteja escrita em preto.

“Depois de passar a infância assistindo ao desenho do Pica Pau, você provavelmente tem a voz daquela risada que tocava na abertura na sua cabeça, certo? Você consegue ouvir ela agora? (Desculpe por isso). Pois bem. Ser uma pessoa associativa com sinestesia lexical é basicamente assim – só porque o pica pau não está gargalhando no seu ouvido agora não significa que você não pode ouvi-lo”, explica um sinestésico.

Ver o som é como aquela cena do filme Fantasia, onde a trilha sonora é mostrada como uma linha reta que muda de cor e forma conforme instrumentos diferentes produzem sons diferentes.

Abstrato demais. Porém fascinante.

5. Tudo no mundo real está na cor errada

Você sabe que o céu é azul. O céu sempre foi azul, você aceita isso e pronto. Mas imagine que todas as pessoas ao seu redor insistissem deliberadamente no fato de que o céu na verdade é verde. Isso te enlouqueceria depois de um tempo, certo? É assim que uma pessoa que consegue ouvir cores se sente cada vez que alguém escolhe a cor errada para alguma coisa.

Seria algo tão ruim quanto alguém pintar o mar de verde no mapa mundi. Ou escolher o azul para sinalizar que o semáforo está aberto. É apenas errado. O problema é que só algumas pessoas tem a habilidade de saber que “quarta-feira” é verde, e uma pasta para guardar documentos de uma quarta-feira tem que ser verde e não vermelha. Imagino que deva ser enlouquecedor.

Surpreendentemente, há um grande grau de concordância entre os sinestetas (pessoas com essa habilidade) e os não sinestetas quando se trata de que cor as coisas deveriam ter. Por exemplo, a maioria das pessoas concorda que a letra A é vermelha. De fato, parece haver um esquema de cores universal que quase todo mundo concorda com cerca de metade do alfabeto, e ninguém está realmente certo do porquê. No entanto, as associações podem ser exclusivas para o sinesteta individual. O que significa que alguns percebem segundas-feiras como azul e terças-feiras como vermelho, e outros percebem exatamente ao contrário. Ou seja: não é uma ciência exata.

4. Cores que não existem deixam tudo isso ainda mais complicado

Os cérebros dos sinestetas têm uma coisa em comum: a capacidade de perceber cores que não podem realmente serem recriadas. São as chamadas “cores impossíveis”. Então pense comigo: explicar que você ouve cores já é complicado. Agora explicar que você ouve cores que não existem… É praticamente uma missão impossível.

Por exemplo, para alguns sinestetas, as vozes de algumas pessoas são associadas com cores impossíveis. Se alguém perguntar qual a cor de uma determinada voz e essa tal cor for um tom entre verde e rosa, é mais fácil dizer simplesmente “verde” ou “rosa” do que perder alguns bons minutos explicando que se trata de uma cor que não sabemos nem o nome.

3. As vozes de algumas pessoas são realmente muito feias

Se você já foi preso em um cubículo ao lado daquele colega de trabalho que parece ser moralmente contrário ao hábito de tomar banho, você provavelmente entende o desejo de ser capaz de desligar os seus sentidos (para momentos estratégicos). Então. É isso que algumas pessoas sinestetas sentem quando alguns sons são associados com cores muito ofensivas, e isso não está necessariamente relacionado com o quão agradável um som é ou não.

Inevitavelmente, algumas das cores que dão um certo mal estar se misturam com sons profanos e completamente desagradáveis. Já pensou uma voz com cor empoeirada, ou com cor de… Vômito? Ou pior: um som que faça você ver uma privada tão suja a ponto de deixar seu estômago embrulhado? Acontece. Pobres sinestetas.

Felizmente, como relatam algumas dessas pessoas que conseguem ouvir cores, isso não é de todo ruim porque a maioria dos cantores populares têm vozes muito bonitas. A voz de Christina Aguilera, por exemplo, é considerada vermelha para alguns, enquanto as vozes dos cantores de One Direction têm vários tons de verde e azul. Até a voz da cantora Ke$ha, que é toda trabalhada no autotune, é vista por alguns como um belo tom de roxo.

2. Ter o dom de ouvir cores lhe dá superpoderes de memória

Essa é uma das vantagens específicas que sinestetas têm. Por exemplo, um homem autista com sinestesia chamado Daniel Tammet tem recebido muita atenção do mundo científico por este motivo. Ele é capaz de associar letras e números com cores, formas e sentimentos de maneira tão forte que pode realizar façanhas incríveis como recitar o número pi a até 22.514 dígitos, porque ele tem um contexto sólido para se lembrar da ordem dos números.

1. A vida fica mais divertida

Toda essa experiência de viver a vida em cores que só os sinestetas têm parece realmente empolgante. E, de acordo com relatos de quem tem sinestesia, realmente é. A ponto de eles não terem a menor ideia de como a vida seria sem essa habilidade, mas imaginarem que seja algo absolutamente tedioso.

Da mesma forma que a gente está aqui quebrando a cabeça para entender a percepção de mundo que essas pessoas têm, eles também quebram a cabeça para imaginar como é a de pessoas “normais”. Um sinesteta, por exemplo, não tem a menor ideia de como é ouvir música clássica sem ver a música. Quando uma peça está tocando, eles são capazes de fechar os olhos e ver a música. E não de forma abstrata e imaginária, como você poderia supor, mas como se fosse uma pintura em movimento, uma imagem intrinsecamente entrelaçada com o som.

Parece algo realmente mágico.

Se você não tem sinestesia e terminou de ler esse artigo cobiçando MUITO ter essa condição… Junte-se ao clube!

[Cracked]


Fonte: HypeScience


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