por: Andrew McAlister
Muitas igrejas são reféns de um músico ou de uma equipe de música. Infelizmente, vivemos numa época em que o músico recebe uma importância desproporcional ao seu papel no culto de uma igreja.
A verdade é que em muitas igrejas, os músicos sobem ao palco e conduzem a música da igreja como querem. Afinal, são os “levitas”, a casta especial de ungidos do Senhor destinada a trazer o louvor para culto. E cada vez mais, o púlpito se torna palco, que vira cenário para uma verdadeira fogueira de vaidades, em vez de um altar ao Deus altíssimo.
Já perdi conta das vezes que recebi a pergunta: “Como lidar com o músico rebelde que não quer ensaiar / chega atrasado / sai na hora da Palavra / só aparece quando está na escala / não frequenta EBD etc…?”
Respondo: “Tira da escala, bota no banco. Simples.”
Boa parte das reações é: “Mas é que o irmão toca muito bem e se a gente não pode ficar sem ele. A gente não pode pegar pesado, se não perde o irmão.”
Qual foi a última vez que numa reunião num lar ou sepultamento, quando alguém tentou puxar um hino, foi interrompido por outro que disse “não podemos cantar, pois não há acompanhamento musical”? Duvido que alguém já tenha passado por isso.
O louvor é o culto do povo de Deus. Na reunião congregacional, a assembleia dos santos, o culto assume um caráter coletivo. E no culto coletivo, todo membro participa, unindo a sua voz a um único canto congregacional. E o membro que é músico não é diferente de qualquer outro. A única diferença é que ele tem o privilégio de fazê-lo com um instrumento nas mãos. Fora isso, é apenas mais um membro da congregação.
A adoração não deixa de acontecer por falta de músico. A Bíblia afirma que onde houver dois ou três reunidos em nome de Jesus, onde houver a proclamação da Palavra e corações redimidos pelo sangue de Cristo, ali haverá adoração. Às vezes será em forma de canto. E à vezes haverá até acompanhamento musical.
A música é, sem dúvidas, um dom de Deus dado aos homens. Deus nos imbuiu de uma capacidade criativa e artística para integrar a música ao nosso culto. Vemos ao longo da Bíblia, do Antigo Testamento até o livro de Apocalipse, referencias a música. Mas, não se engane: em momento algum o louvor deixará de acontecer por falta de músicos. Ou você acha que Paulo e Silas tinham um violeiro de plantão na prisão para que eles pudessem cantar?
Quando passamos a enxergar esta realidade, partindo da noção de que cada indivíduo é um membro de um corpo maior, de um culto coletivo compartilhado e eu como músico membro dessa congregação compreendo o meu lugar nela, não tenho como fugir da seguinte constatação:
Eu sou completamente desnecessário aqui! Nada do que está acontecendo neste lugar depende de mim! É meu privilégio poder servir a esta congregação, participar deste culto e louvar a Deus com a minha habilidade musical!
Então, quando recebo uma pergunta referente a músicos problemáticos, penso logo: esse irmão ou irmã provavelmente não faz ideia do que significa ser membro de uma igreja e do que se trata o culto público. Eu diria até que sua definição acerca do que é louvor esteja um pouco equivocada. E o músico que não tem uma visão clara da função da igreja na adoração e do seu lugar nela acaba tendo uma visão extrapolada de si mesmo.
Portanto, o músico que não submete o seu dom à congregação e que insiste em fazer “do seu jeito” a despeito da liderança e da igreja é um péssimo membro dela. Mas, a verdade é que quer ele esteja lá ou não, o culto não deixará de acontecer. Deus será louvado, quer o músico participe ou não.
Quando o músico compreende o significado da reunião congregacional e enxerga a beleza e preciosidade da reunião de discípulos fiéis, irmãos reunidos para numa só voz prestar culto a Deus, ele não tem como reivindicar uma posição especial. A única diferença entre ele e o próximo é o instrumento em suas mãos.
Logo, quando falamos em “grupo / equipe de louvor”, a ideia não pode ser restrita a meia dúzia de músicos. A congregação inteira, todo membro ali presente passa a compor a equipe, pois a adoração é a responsabilidade de todos, não apenas um grupo seleto. O louvor não é a oferta exclusiva daquela meia dúzia de irmãos dotados de um toque especial do Espírito Santo. O louvor é o privilégio e obrigação de todo membro do corpo de Cristo.
Então, aos músicos deixo o seguinte com todo o amor no coração (e me incluo nisso, pois também toco na minha igreja), da próxima vez que você pegar no seu instrumento para tocar no culto, entenda o seu lugar e lembre-se do seguinte:
1. Você é completamente desnecessário aqui, pois o culto a Deus acontecerá com ou sem a sua participação.
2. É um privilégio poder unir a sua “voz” ao culto desta parcela do corpo de Cristo.
Fonte: Cante as Escrituras