por: Bob Smietana
“Se você já teve a sensação de que a maioria das músicas de adoração parece igual, pode ser porque essas músicas… foram escritas por uns poucos compositores.”
No domingo de Páscoa, a banda de adoração da Bethel Community Church, em Redding, na Califórnia, abriu o culto com “This is Amazing Grace” [Esta é a Maravilhosa Graça], um sucesso de 2012 que continua sendo um dos cânticos de adoração mais populares da última década.
Provavelmente, milhares de outras igrejas por todo os Estados Unidos [e no mundo inteiro] também cantaram essa música — ou outra muito semelhante a ela.
Um novo estudo descobriu que a Bethel e mais umas outras poucas megaigrejas dominaram o mercado de música de adoração nos últimos anos, produzindo sucesso após sucesso e assumindo o controle das paradas de adoração.
O estudo analisou 38 músicas que fizeram parte das listas das 25 melhores da Christian Copyright Licensing International (CCLI) e da PraiseCharts — organizações que rastreiam quais músicas são tocadas nas igrejas — e descobriu que quase todas se originaram em uma de quatro megaigrejas.
Todas as músicas do estudo — que variaram de “Our God” [Nosso Deus] e “God is Able” [Deus é Capaz] a “The Blessing” [A Bênção] — estrearam nessas paradas entre 2010 e 2020. Das músicas do estudo, 36 tinham vínculos com um grupo formado por quatro igrejas: Bethel; Hillsong; Igreja Passion City, em Atlanta; e Elevation, na Carolina do Norte.
“Se você já teve a sensação de que a maioria das músicas de adoração parece igual” — escreveram os autores do estudo — “pode ser porque as músicas de adoração que você provavelmente ouve em muitas igrejas são escritas por uns poucos compositores de umas poucas igrejas.”
A equipe de pesquisa, composta por dois líderes de adoração e três acadêmicos que estudam música de adoração, divulgou algumas descobertas iniciais no começo de abril.
Elias Dummer, líder de adoração e artista com músicas gravadas, disse que ele e seus colegas têm observado mudanças na música de adoração durante a última década. Eles queriam saber como as canções de adoração se tornavam populares entre as igrejas, disse ele. Eles também queriam saber como a indústria que produz e comercializa canções está moldando a vida de adoração das igrejas locais.
Dummer disse que muitos líderes de adoração acreditam que as melhores canções se tornam as mais populares nas igrejas. Eles também acreditam que essas músicas se tornam populares porque funcionam — as pessoas respondem a elas, durante os cultos, e querem cantá-las repetidamente. Mas isso não é exatamente verdade. Dummer e seus colegas descobriram que muitos dos sucessos mais recentes foram lançados como singles no Spotify e outros serviços de streaming, o que ajuda a alimentar sua popularidade.
“Existem mecanismos concretos por meio dos quais as músicas se tornam mais famosas”, disse ele. “Não são apenas as músicas que o Espírito Santo abençoa que chegam ao topo das paradas.”
Para o estudo, os pesquisadores compararam canções populares de adoração escritas antes de 2010 com aquelas escritas de 2010 a 2020. Essas primeiras canções eram frequentemente associadas a indivíduos que eram líderes de adoração, como Chris Tomlin e Matt Redman, não a igrejas, e vinham de várias fontes.
Contudo, a partir de 2010, os novos cânticos de adoração mais populares começaram a vir de bandas de adoração de megaigrejas — e os artistas de adoração mais populares começaram a se afiliar a essas igrejas.
Das 38 músicas do estudo, 22 foram inicialmente lançadas pelas quatro megaigrejas citadas anteriormente, e outras 8 músicas foram lançadas por artistas afiliados a essas igrejas. Mais 6 delas foram fruto de colaboração entre artistas dessas igrejas ou covers executados por essas igrejas.
Shannan Baker, pós-doutoranda da Baylor University, disse que as equipes de louvor das megaigrejas do estudo também popularizaram canções de outros artistas, como “Way Maker”, uma canção escrita por Sinach, conhecido músico nigeriano, bem como “Great are You Lord” e “Tremble”.
“Essas igrejas maiores, mesmo que não tenham estado envolvidas na composição das canções, as tornaram conhecidas”, disse ela.
Adam Perez, professor-assistente de estudos da adoração na Universidade Belmont, em Nashville, disse que as quatro megaigrejas mais influentes vêm todas da tradição carismática das igrejas protestantes. Todas elas, segundo disse ele, têm uma espiritualidade que acredita que Deus se torna presente, de “maneira significativa e poderosa”, quando a congregação canta um estilo particular de música de adoração.
Esses cânticos se tornam uma das principais formas de se conectar com Deus — em vez de orações, sacramentos ou outros rituais. Por causa de seu sucesso no mercado, essas igrejas mudaram as práticas espirituais e, às vezes, até a teologia de congregações de muitas tradições.
“A própria indústria se torna essa mão invisível”, disse ele. “Não nomeamos a teologia do louvor e da adoração — apenas a pressupomos. E usamos esse tipo de repertório de músicas para reforçá-la.”
O estudo não analisou especificamente as letras das canções mais populares. Baker disse que está analisando essas letras para um projeto diferente e detectou algumas tendências. Por exemplo, segundo ela disse, poucas das canções mais populares falam sobre a cruz ou a salvação.
“Muito disso é: O que Deus está fazendo por mim agora? E o que Deus prometeu fazer por mim no futuro?”, disse ela.
Baker disse que, no passado, artistas ou editores lançavam um livro de cânticos ou gravações de novas músicas de adoração, e, então, as igrejas escolhiam as músicas dessas coletâneas que melhor se encaixavam em seu contexto. Agora, Baker e outros pesquisadores se perguntam se essas megaigrejas estão direcionando quais músicas são usadas na adoração.
O estudo é baseado em dados sobre canções populares de adoração coletadas por Mike Tapper, professor de religião da Southern Wesleyan University. Tapper e seu colega Marc Jolicoeur, um ministro de adoração de New Brunswick, no Canadá, trabalharam em um estudo anterior sobre a rapidez com que os cânticos de adoração de sucesso aparecem e depois desaparecem.
Jolicoeur disse que quaisquer preocupações sobre a teologia daquelas quatro megaigrejas, ou sobre os recentes problemas na Hillsong, cujo escândalo envolve a renúncia de vários pastores, não parecem afetar a demanda por sua música.
A popularidade das músicas de adoração das megaigrejas não surpreende Leah Payne, professora de história religiosa americana no Portland Seminary, em Oregon. Payne, que estuda a indústria de música cristã, disse que esta provavelmente reflete padrões de adoração mais amplos. Enquanto a maioria das igrejas nos Estados Unidos são pequenas, a maioria dos cristãos adora em grandes igrejas. A pesquisa de 2020 da Faith Communities Today descobriu que cerca de 70% dos fiéis frequentam 10% das igrejas que estão no topo da lista.
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“O fato de a música de adoração das megaigrejas ter uma participação maior no mercado de adoração corresponde à prática dos fiéis”, disse Payne.
Payne duvida que escândalos em igrejas como a Hillsong venham a afetar a popularidade de suas músicas — pois as pessoas têm um relacionamento com as músicas, não com os líderes da igreja.
Payne disse que as bandas de adoração das megaigrejas mais populares têm um talento especial para criar grandes canções pop. E sabem como se conectar com o público de massa — tanto presencialmente quanto por meio de serviços de streaming.
“Elas podem encarar de igual para igual alguns dos maiores artistas da música [secular]”, disse ela.
Fonte: Christianity Today
Traduzido por Mariana Albuquerque