A Forma da Adoração

O Louvor que Agrada a Deus

por: Joêzer Mendonça

Há pessoas que falam de música sacra como se tivessem a fórmula da música que agrada a Deus. Elas garantem que só os hinos sem acompanhamento de guitarras ou percussão são aceitos por Ele. De outro lado, alguns afirmam que qualquer sonoridade contemporânea é capaz de satisfazer o Criador. Para esse grupo, a letra cristã santifica qualquer ritmo e melodia.

No entanto, o que ambos os lados esquecem é que a postura de agradar a Deus com esse ou aquele tipo de música não tem nenhuma base bíblica. Mas há um livro antigo que revela o estilo de louvor que Ele espera. Embora não encontremos na Bíblia um versículo sequer identificando o estilo musical preferencial ou exclusivo para louvar a Deus, ela faz várias referências à atitude de quem louva ao Senhor. Isto é, as Escrituras não dizem com qual música é possível agradar a Deus, mas elas são bem claras quanto à conduta do adorador.

Certas passagens bíblicas recomendam que o louvor seja feito com “júbilo e com arte” (Sl 33:3), com “espírito e entendimento” (1Co 14:15), e sem fingir santidade. “Afastai o estrépito de vosso cântico, porque não ouvirei a melodia de tuas liras”, a não ser que “corra a justiça como as águas” (Am 5:23, 24).

O salmista recomenda alegria, a mesma atitude manifestada por quem tem prazer em estar entre os irmãos em união (Sl 133:1). Mas isso não deve ser somente uma capa de aparência de santidade. O profeta escreve que Deus despreza os cultos solenes (Am 5:21), as melhores ofertas (5:22) e o louvor musical de um povo que detesta quem conta a verdade (5:10), pisa no pobre (5:11), oprime o justo e aceita subornos (5:12).

Deus não estava rejeitando a solenidade do culto nem os cânticos de quem se reunia no templo. Mesmo sem saber o que se cantava naquela época, ninguém pode dizer que os instrumentos e estilos musicais usados pelos levitas desagradavam a Deus. A partir desses versos, podemos entender de Amós que o cântico mais tradicional ou o mais contemporâneo se torna inaceitável se for feito por vozes que “honram a Deus com os lábios”, mas cujo coração está distante do Salvador (Is 29:13).

Alguém pode dizer: “Ótimo! Nenhuma menção sequer é feita ao estilo musical. Posso tocar o que eu quiser e Deus aceitará meu louvor, pois basta que eu toque meu violão e cante com alegria, com boa técnica, dentro do espírito de louvor e com entendimento, e também com sinceridade e como fruto de amor, justiça e obediência”.

A princípio, esse pensamento não está errado, visto que é exatamente desse tipo de coração e adoração que os versos bíblicos estão falando. Então, se os critérios são somente o coração do adorador, não há critérios para o louvor congregacional e não há regulamentação bíblica para o estilo musical na igreja, certo? Errado! Há critérios bíblicos que não precisam de partitura nem de gravações para indicar o estilo recomendável para o louvor congregacional que agrada a Deus.

E onde estariam esses critérios? Alguns deles estão na carta do apóstolo Paulo aos coríntios. Ele escreveu que “todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm; todas as coisas são lícitas, mas nem todas edificam” (1Co 10:23). Se não há uma clara desaprovação bíblica para nenhum estilo musical, por outro lado há uma advertência em relação à adequação ou conveniência do estilo. Então, a preocupação do cantor deve ser a mesma do pregador: edificar a igreja.

Paulo apresentou outro critério para o louvor: “Enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus, sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo” (Ef 5: 18-21).

Além de cantar com júbilo e arte, e também sem fingimento de santidade, Paulo recomendou louvar com um coração sincero e grato, “submetendo-nos uns aos outros no temor de Cristo”. É possível imaginar como uma igreja se une quando alguém, ao escolher uma música para cantar, sujeita seu pensamento musical aos irmãos e irmãs que irão ouvi-lo no culto; ou, por outro lado, quando os irmãos que ouvem sujeitam seu pensamento musical ao do irmão que louva. Todos procurando, no amor e sabedoria de Cristo, sujeitar seus gostos e habilidades musicais quando estão cantando ou quando estão escutando.

Os cristãos não discordarão de que a sujeição de “uns aos outros no temor do Senhor” é um princípio incontestável. Nesse sentido, pode existir um louvor que agrada a Deus. Um louvor em que todos sujeitam suas preferências musicais uns aos outros, em que se busca cantar com alegria, entendimento e gratidão. Um louvor que é precedido por obediência e serviço ao próximo.


Joêzer Mendonça é doutor em Musicologia (Unesp) com ênfase na relação entre teologia e música na história do adventismo. Atua como professor na PUC-PR e é autor do livro Música e Religião na Era do Pop


Fonte: Revista Adventista


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