por: Fernando Antônio Bersan Pinheiro
A revista Veja de 21/Jun/06 trouxe na pág 94 uma reportagem sobre uma “travessura” que os jovens estão fazendo com os celulares, usando um toque de frequência altíssima, próximo dos 20KHz e inaudível para a maioria dos adultos (pais, professores).
Bem, “travessuras” à parte, em qualquer curso de áudio aprendemos que o espectro audível – os sons que o ouvido humano consegue perceber – estão dentro de 20Hz a 20KHz. Essa é a teoria, mas o que os cursos costumam esquecer é que o espectro audível varia com a idade.
A própria revista traz uma tabela mostrando a relação idade x espectro audível. Valores médios (podem variar de pessoa para pessoa):
- Até 17 anos, ouve-se até 20KHz (o mais agudo que se pode escutar).
- De 18 a 29 anos, ouve-se até 17000Hz, em média
- De 30 a 39 anos, ouve-se até 15000KHz (eu estou nessa faixa), em média
- De 40 a 49 anos, ouve-se até 13000Hz, em média
- Acima de 50 anos, ouve-se até 12000KHz.
Essa perda gradativa da audição decorrente da idade, natural e irreversível, é chamada de Presbiacusia.
Bem, você deve então imaginar que, com 18 anos, o rapaz tem que se aposentar do som. Não é verdade: 90% dos sons que ouvimos estão dentro da faixa 100Hz-10KHz. É nesta faixa que temos o “grosso” das vozes e dos instrumentos. Olhe só o caso das vozes:
* barítonos: começam em cerca de 100Hz e vão até 350 ou 400Hz, mas seus harmônicos passam dos 5kHz;
* tenores: de 130 a 500Hz, harmônicos até 6 ou 7kHz;
* contraltos: de 150 a 600Hz, harmônicos até 8 ou 9kHz;
* sopranos: de 240 a 1200Hz, harmônicos até perto de 10kHz. As cantoras líricas chegam a 12KHz
Nos instrumentos, a situação não é muito diferente. A nota mais alta de um piano, por exemplo, é 4KHz. Nenhum instrumento de uma orquestra “fala” mais que 7KHz, mas podem ser gerados harmônicos que costumam alcançar valores entre 10KHz e 15KHz.
Da mesma forma, muitas caixas de som, mesmo de marca excelente, tem o limite de reprodução em 16KHz, outras em 17KHz ou um pouco mais, sem prejuízo de qualidade nenhum.
Pude confirmar o que é Presbiacusia com um problema de indução (chiado, ruído) no Anfiteatro que trabalho. A indução era muito aguda, algo em torno de 15KHz, e o Pastor responsável, de 53 anos, não conseguia ouví-la. Eu tive que chamar outras pessoas para confirmar para ele o problema. Só não disse que o problema dele era Presbiacusia, ou melhor, velhice mesmo!
De qualquer jeito, do alto dos meus 33, já estou um pouco velho mas ainda vou continuar trabalhando com sonorização, com presbiacusia ou não. Agora, carregar os materiais pesados de som com as minhas costas, tá cada vez mais difícil. Dói tudo…
Fonte: Som ao Vivo