por: Pr. Douglas Reis
O sucesso de programas como American Idol e The Voice, revivendo os antigos shows de calouros, é um fenômeno mundial. Interpretações efusivas (para não dizer histriônicas) de músicas consagradas ganham as mídias sociais, espalhadas pelo Youtube, Facebook e Twitter. Quando se pensa no gênero pop, adotado pelos reality shows musicais, sem se restringir a eles, estamos diante de um padrão altamente disseminado nos canais convencionais, como programas de TV e FMs, e mesmo aplicativos de streaming, tais como o iTunes ou Google Play. Nós nos deparamos com a música pop em cada filme, série e clipe. Seu poder de atração não pode ser questionado ou subestimado.
Consumir essa música altamente estimulante e com viés sensual como forma de entretenimento representa vários riscos para os cristãos. Primeiro, o risco de assimilar pensamentos, conceitos e estilo de vida claramente mundano, diferente daquele ensinado pela Palavra de Deus. Segundo, adquirir um gosto por esse padrão de música, o que levaria a uma forma específica de rejeitar o estilo de vida cristão: a rejeição da música cristã. Compensa pensar sobre as consequências desse último aspecto.
Quando a música secular se torna o padrão para o cristão, dificilmente ele sentiria prazer em cantar os hinos cristãos tradicionais, seja em sua devoção particular ou mesmo no culto público na igreja. Simplesmente, os hinos soarão como cantigas inocentes, ou algo absurdamente antigo. E talvez poucas coisas aborreçam tanto algumas pessoas como algo desatualizado. Será preferível trocar as antigas canções dos hinários cristãos por música contemporânea, de viés cristão. Mesmo que você não seja um sociólogo da religião, será capaz de notar como a música pop cristã nem choca mais os adoradores contemporâneos: no caso particular dos adventistas, em pouco mais de duas décadas, eles se acostumaram com o novo paradigma.
Em nossos congressos, cultos especiais e mesmo nas reuniões regulares, a música cristã contemporânea, antes empregada sob a alegação de atrair e agradar aos jovens, já atingiu alcance congregacional, abarcando indivíduos das mais diversas gerações. Seu alcance, aceitação e a facilidade como dissemina ideias cristãs (ainda que de forma genérica, na maior parte dos casos) são as justificativas mais comuns dos defensores desse gênero de música.
Entretanto, seria, no mínimo, fato suficiente para nos causar mal-estar saber que há poucas décadas os adventistas se indignavam (acho que o termo descreve bem a reação) com as demais denominações por usar música popular na adoração. Evocava-se o fato para ressaltar que o mundanismo entrara nas igrejas evangélicas, enquanto ainda mantínhamos princípios bíblicos aplicados a música. Hoje, o quadro sutilmente se alterou: não ousamos mais demonstrar indignação. Há uma reciprocidade suspeita entre a forma como recebem nossos músicos e como recebemos cantores de outras denominações. Talvez não haja mais linhas divisórios tão profundas que identifiquem o que há décadas se chamava música adventista.
Precisamos de música nova, que exemplifique nossa doutrina, que criativamente explore aquilo que cremos. Não creio que a criatividade oriunda do Espírito Santo haja se esgotado, após profusamente abençoar autores de hinos de séculos e décadas anteriores. O problema está em nivelar a contribuição necessária para este tempo por padrão de música secular. Fazendo assim, transmitiríamos nossa mensagem na letra, todavia não na forma, associada a valores não cristãos, como satisfação própria, êxtase sensual e violência.
Se a música pop, surgida com a diluição e massificação do estilo rock’n’roll, nasceu em meio a revoluções de valores, liberdade sexual e expressão de uma juventude que queria mais liberdade, é impossível fazer uma avaliação positiva de seus constituintes desde uma perspectiva cristã. Música pop é o coração do homem contemporâneo colocado em notas musicais – e não precisa conhecer tão profundamente a Bíblia para saber qual a avaliação feita pelo Senhor acerca de nosso coração natural (Jeremias 17:9). Se veicularmos a essa estética a nossa mensagem, corremos o risco de distorcemos o que Deus tem a dizer a toda uma geração.
Fonte: Questão de Confiança