A Forma da Adoração

O Contraste Entre a Verdadeira e a Falsa Adoração – Parte 2/4

por: Ricardo Oliveira Luz

Satanás bem sabe que a experiência real de adoração “em espírito e em verdade” (sobre isso, clique aqui) resultará, enfim, num avivamento religioso sem precedentes (ver Joel 2:23, 28-29; Atos 1:8). Afinal, o povo que persevera em guardar os mandamentos de Deus e a fé em Jesus possui essas qualidades em virtude de uma resposta positiva e adequada ao evangelho eterno. Não há dúvida de que o inimigo da verdade empregará todos os meios possíveis para confundir e desviar as pessoas da experiência bíblica de adoração e reavivamento, introduzindo em seu lugar uma contrafação.

Ellen G. White escreve:

Antes de os juízos finais de Deus caírem sobre a Terra, haverá entre o povo do Senhor, tal avivamento da primitiva piedade como não fora testemunhado desde os tempos apostólicos. O Espírito e o poder de Deus serão derramados sobre Seus filhos… O inimigo das almas deseja estorvar esta obra; e antes que chegue o tempo para tal movimento, esforçar-se-á para impedi-la, introduzindo uma contrafação. Nas igrejas que puder colocar sob seu poder sedutor, fará parecer que a benção especial de Deus foi derramada; manifestar-se-á o que será considerado como grande interesse religioso. Multidões exultarão de que Deus esteja operando maravilhosamente por elas, quando a obra é de outro espírito. Sob o disfarce religioso, Satanás procurará estender sua influência sobre o mundo cristão. (1)

Falsa adoração: a batalha pelo controle de nossa mente

Considere a dimensão dessas palavras. Agora, se a adoração biblicamente correta consiste no culto racional pela renovação da mente, parece razoável que o adversário de Deus procure influenciar o mundo cristão favorecendo um modelo de adoração baseado principalmente em estímulos físicos e emocionais, sejam eles ruidosos ou não, visto que podem inibir as faculdades críticas e o discernimento normal e aumentar a sugestibilidade. Uma vez que se exerça determinado grau de excitação emotiva recorrendo-se a certa variedade de expedientes, haverá como consequência um comprometimento do juízo crítico e uma mudança nos padrões de pensamento e comportamento.

Fato digno de nota é a política de controle das massas. Ela beneficia-se desse fenômeno religioso na medida em que a mudança social desejada requer uma nova abordagem no modo como as pessoas pensam. Assim, a religião popular, comprometida com um modelo consensual globalista que pouco tem em comum com o evangelho, torna-se um eficiente agente de transformação social no sentido de condicionar seus membros a serem mais receptivos aos valores e comportamentos considerados universalmente válidos, e que jamais seriam aceitos por mentes reflexivas e inquiridoras. As técnicas de manipulação psicológica não são de todo desconhecidas, e está além do escopo limitado deste artigo considerá-las com a propriedade que merecem.

Da mesma forma, fica claro que a monopolização satânica de espaços que lidam diretamente com as emoções humanas, como o cinema, a arte, a literatura e a música nada tem de fortuita. Há anos a multimilionária indústria cultural, majoritariamente ocultista, vem condicionando a humanidade a reagir emocionalmente. Este, sem dúvida, tem sido um dos meios mais eficazes de romper as barreiras defensivas da mente, esvaziando o indivíduo de suas habilidades cognitivas.

Neste contexto, é de grande significação que o Apocalipse use a figura do vinho para representar o papel profético da moderna Babilônia em sua obra de embotar as faculdades superiores das pessoas (Apocalipse 14:8), anuviando-lhes a razão crítica e o discernimento moral e modificando seus valores, atitudes e comportamento por meio de uma ampla variedade de expedientes.

E podemos estar certos de que Satanás, atuando através de agentes humanos, sabe quais órgãos excitar e quais faculdades inibir a fim de obliterar a autoconsciência reflexiva e crítica pela qual distinguimos o verdadeiro do falso, e obter, desse modo, o completo controle da alma.

Compreendendo a hierarquia original da mente

Para bem compreender a ameaça que representa a manipulação emocional no contexto do grande conflito – manipulação pela qual Satanás espera atrair e conquistar o mundo cristão para a sua causa – é essencial entender como a mente humana foi originalmente concebida por Deus.

Em seu livro Simples Demais, o renomado psiquiatra e orador estadunidense Timothy R. Jennings oferece-nos uma descrição muito instrutiva sobre a estrutura organizacional e inter-relacional da mente antes da queda. No capítulo que trata sobre o tema, o autor compartilhar muitas informações valiosas, mas aqui me limito apenas a resumir as considerações mais relevantes para o nosso contexto.

Segundo o Dr. Jennings, as faculdades mais elevadas que possuímos são as que mais diretamente refletem a imagem de Deus, aquelas que geralmente chamamos de natureza espiritual, as quais Deus pretendeu que nos governassem. Faz parte dessa natureza:

1. A capacidade de raciocinar, a mais elevada faculdade da nossa mente pela qual pensamos, ponderamos evidências e extraímos conclusões. A razão capacita-nos a contemplar e entender.

2. A consciência, que, juntamente com a razão, permite um discernimento saudável e decisões válidas. A consciência é a faculdade mediante a qual Deus se comunica diretamente conosco. É a influência de Deus, atuando através da consciência e por meio da revelação da verdade, que santifica a razão. Não se pode, contudo, confiar apenas na consciência como guia, sem o equilíbrio da razão. Consciência e razão atuando juntas resultam em discernimento.

3. A adoração, a faculdade que completa nossa natureza espiritual e que constitui um desejo ou impulso inato. “Deus nos pede que O adoremos porque, na verdade, nos adaptamos às coisas que admiramos e nos dedicamos às coisas que idealizamos. A psiquiatria chama isso de modelar-se e, biblicamente falando, é a lei da adoração: pela contemplação, somos transformados. Nosso caráter, na verdade, se transforma para refletir aquilo que reverenciamos (II Coríntios 3:18).” (2)

A vontade é a faculdade da mente que vem a seguir. Como o agente governador ou executivo, ela é a parte da mente que na verdade escolhe. Deus planejou que a mente funcione com a vontade sob a direção da razão e da consciência, isto é, sob a direção da natureza espiritual. Quando exercemos nossa vontade para escolher agir de um modo que viola a razão e a consciência, somos prejudicados. Podem-se imaginar as terríveis consequências de sujeitar a vontade aos caprichos do que sentimos, ao invés de submetê-las às faculdades superiores da mente. (3)

A agência seguinte da mente são os pensamentos, subordinados à natureza espiritual e à vontade. Incluem não só as coisas seculares em que pensamos todos os dias, mas especialmente nossas crenças, valores, moral e imaginação. Augusto Cury lembra que pensar não é uma opção voluntária do ser humano; é o seu destino inevitável. Não podemos interromper a produção de pensamentos; só podemos gerenciá-la. (4) Daí a importância de submeter os pensamentos à natureza espiritual e à vontade.

A faculdade final da mente, que no plano de Deus se subordina a todas as outras, é a dos sentimentos. Inclui todo o espectro das emoções, como tristeza, alegria, raiva, felicidade, etc. Jennings destaca, porém, dois tipos particulares de sentimentos: o desejo de nos relacionar e nossas afeições. O primeiro – uma parte biologicamente programada de nosso ser – deve se subordinar à razão, consciência e vontade, com essas agências superiores avaliando os fatos, as circunstâncias e evidências de um potencial relacionamento, e então permitindo ou rejeitando essa possibilidade. O segundo consiste das ligações emocionais que desenvolvemos por pessoas e coisas. Jennings, contudo, adverte: “Tenha cuidado com aquilo a que você se afeiçoa. Quando Paulo escreve acerca da circuncisão do coração pelo Espírito Santo, ele insiste para que cortemos ligações mórbidas e fortaleçamos ligações salutares (Romanos 2:29).” (5)

A inversão das faculdades originais

A hierarquia e inter-relacionamento organizacional da mente foram planejados por Deus para que funcionassem em perfeito equilíbrio, beneficiando-se de uma comunhão pessoal com Ele. “Ao passar tempo com Deus”, escreve o Dr. Jennings, “Adão não só faria escolhas inteligentes no sentido de seguir a vontade de Deus, mas, devido à lei da adoração, teria todos os aspectos de sua mente permeados com o caráter divino.” (6)

O pecado comprometeu esse harmonioso equilíbrio da mente, invertendo sua estrutura organizacional; os sentimentos – com destaque para o egocentrismo – tomaram o lugar das agências superiores. Um novo princípio, completamente estranho e destrutivo, substituiu a influência de Deus na mente humana, contaminando suas faculdades e desestabilizando-lhe a função.

Desde então, Satanás tem trabalhado ativamente no sentido de exacerbar esse desequilíbrio, estimulando ao máximo os sentimentos egocêntricos que infectam a mente e afastam o homem de Deus.

Uma estratégia diabólica para conquistar o cristianismo

Visando influenciar e controlar o mundo cristão a partir de dentro, o inimigo das almas tem aprofundado o desequilíbrio da mente provocado pelo pecado usando como estratégia chave os apelos da religião popular, marcadamente emotiva e sensorial. Dessa forma, ele espera garantir que os sentimentos egocêntricos sejam o centro regulador e decisório da mente em lugar da natureza espiritual.

Ao desviar a atenção das pessoas do último convite divino expresso nas três mensagens angélicas (Apocalipse 14:6-12), o arquienganador espera também engolfar na ignorância a maior quantidade possível de cristãos, de modo que estejam despreparados para os eventos finais da história, tanto do ponto de vista espiritual, como do ponto de vista da missão. Sobre este aspecto, Ellen White observa:

Antes que o alto clamor da terceira mensagem angélica seja ouvido, ele [Satanás] suscitará um excitamento nessas corporações religiosas, a fim de que os que rejeitaram a verdade pensem que Deus ainda está trabalhando com eles. (7)

Como clara evidência de que se trata de um falso avivamento religioso, ela diz que estas mesmas igrejas “se têm tornado cada vez mais corruptas”; levam “o nome de seguidoras de Cristo, mas é impossível distingui-las do mundo.” E acrescenta:

Nada há no ministério popular que excite a ira de Satanás, que faça tremer o pecador ou leve ao coração e à consciência as terríveis realidades de um juízo prestes a sobrevir. (8)

Por favor, considere isto atentamente. Ellen White fornece mais alguns detalhes importantes sobre essa estratégia diabólica:

Satanás emprega vários meios para conseguir seus fins; e, se sob o disfarce de religião popular, ele puder desviar pessoas vacilantes e incautas da senda da verdade, muito haverá conseguido quanto a dividir a força do povo de Deus. Esse instável entusiasmo de reavivamento, que vem e vai como a maré, apresenta um exterior ilusório que engana muitas pessoas sinceras, levando-as a crer que seja o verdadeiro Espírito do Senhor. (9)

Avivamentos populares são muitas vezes levados a efeito por meio de apelos à imaginação, excitando-se as emoções, satisfazendo-se o amor ao que é novo e surpreendente. Conversos ganhos desta maneira têm pouco desejo de ouvir a verdade bíblica, pouco interesse no testemunho dos profetas e apóstolos. A menos que o culto assuma algo de caráter sensacional, não lhes oferece atração. Não é atendida a mensagem que apele para a razão desapaixonada. As claras advertências da Palavra de Deus, que diretamente se referem aos seus interesses eternos, não são tomadas a sério. (10)

Temos, assim, reveladas as terríveis implicações dos movimentos religiosos populares e a espécie de evangelho que promovem. É importante, neste ponto, sublinhar o seguinte fato: Desde o instante em que o homem ingressou na modernidade, proclamando o primado absoluto de sua vontade individual e forjando sua liberdade com base no relativismo, a experiência religiosa vem se ajustando progressivamente a essa cosmovisão humanista e antropocêntrica.

Desse modo, “o que você pensa” e “o que você sente” passaram a ser a norma de conduta para os cristãos em lugar da Bíblia, influenciando todos os aspectos da vida cristã e rebaixando nas igrejas a norma da piedade. A incompreensão sobre a origem desse fenômeno e a negligência quanto ao testemunho das Escrituras têm custado caro aos cristãos que ainda imaginam servir a Deus. Na prática, estão “substituindo sua base bíblica tradicional por uma base mais psicológica e sociológica, devido à influência das filosofias associadas ao pragmatismo e à nova espiritualidade.” (11)


Notas e referências

1. Ellen G. White. O Desejado de Todas as Nações. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007, p. 464. (voltar)

2. Timothy R. Jennings. Simples Demais. Tatuí, SP: CPB, 2010, p.29. (voltar)

3. O famoso ocultista Edward Alexander Crowley, mais conhecido como Aleister Crowley, dizia: “Faze o que tu queres há de ser tudo da lei”. Esta infelizmente tem sido a tônica dominante em nossos dias. (voltar)

4. Augusto Cury. O Mestre dos Mestres. Rio de Janeiro: Sextante, 2012, p. 44. (voltar)

5. Timothy R. Jennings, op. cit., p. 34. (voltar)

6. Ibid. (voltar)

7. Ellen G. White. Primeiros Escritos. 10ª ed. Tatuí, SP: CPB, 2007, p. 261. (voltar)

8. Ibid., p. 273. (voltar)

9. Ellen G. White. Testemunhos Seletos. 5ª ed., vol. 1. Santo André, SP: CPB, 1984, p. 461. (voltar)

10. ___________. O Grande Conflito. 19ª ed. Santo André, SP: CPB, 1978, p. 464. (voltar)

11. Herbert E. Douglass. Profecias Surpreendentes. Tatuí, SP: CPB, 2012, p. 163.  (voltar)


Fonte: As Três Mensagens Angélicas


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