por: Pr. Douglas Reis
Converse com dez adventistas. Pergunte-lhes se veem coisas erradas na igreja – dirão que sim, os dez, sem dúvida! Pergunte-lhes o que está errado. O problema começa aí. As respostas não seriam concordes. Muitas, seriam quase banais, relacionadas a questões locais, congregacionais. Temas como relacionamentos, incoerência, críticas a líderes, etc. Outras assumiriam uma dimensão mais ampla, afetando erros administrativos, estratégicos ou deficiências espirituais. O que há por trás de tudo isso?
Duas igrejas. Uma jovem, com pouco entendimento da história da igreja, querendo mudanças e imbuída do espírito deste tempo. Esta parcela de adventistas é formada por indivíduos cansados de crítica, sequiosos por mais ação. Acham que falta amor, justiça social e cultos mais dinâmicos. Querem uma igreja com a cara deles: jovem e descolada. Se pudessem, rapariam a barba de James White e fariam John Andrews usar penteado moicano.
A outra igreja, que está morrendo, abomina as mudanças. Refere-se aos “bons e velhos tempos”, quando a igreja “era outra”. Detestam as músicas barulhentas e a falta de sermões doutrinários. Reclamam dos rumos que o movimento adventista está tomando e chegam, em alguns casos, a falar de apostasia. Tenho a impressão que essa segunda parcela de adventistas se vê sem rumo, com pouco apoio e confusa diante de tudo que vê acontecer.
Quem está certo nessa discussão? Todos. Ninguém.
As mudanças devem acontecer. Os adventistas surgiram com uma proposta de mudança radical. Uma mudança que se inicia com a interpretação da Bíblia (hermenêutica), atinge as doutrinas comuns à cristandade e chega a uma abordagem diferenciada sobre estilo de vida. Contudo, engana-se quem creia que a ênfase esteja na mudança pela mudança. A mudança visa a um objetivo – desconstruir a tradição evangélica. Não se trata de uma desconstrução derridiana, porque me parece que Derrida propunha uma desconstrução visceral e nunca finalizada, uma mutação que se perde em um jogo de interpretação, sem a possibilidade de alcançar uma verdade palpável. A desconstrução adventista é do tipo de retira o entulho para reconstruir sobre o alicerce correto, os inscritos inspirados.
Alguns querem mudar para acompanhar as tendências da cultura. Péssimo motivo. A cultura não é parâmetro para o cristão. A Verdade que recebemos na Bíblia tem aspectos tremendamente contra-culturais! Nesse caso, vale o dito segundo o qual “não se pode servir a dois senhores” – ou Deus, ou a cultura. As mudanças são mecanismos para nos aproximar da Palavra de Deus, cujo estudo deve ser renovado pela atuação do Espírito Santo.
Muitas das explicações doutrinárias que dávamos há trinta anos devem ser abandonadas, não porque a cultura mudou, mas porque estavam equivocadas e há explicações melhores do ponto de vista exegético. O avanço na pesquisa bíblica proporciona uma melhor fundamentação doutrinária – mas é impossível notar isso ouvindo (pela milésima vez) o mesmo sermão sobre o cego Bartimeu!
E para quê mudar a liturgia? Se for possível elencar boas razões bíblicas, eu apoio! Se for apenas para copiar o modelo de outras denominações ou congregações, isso é mera distração, quando não, algo nocivo, vindo da cultura secular. Já notou como se gasta tempo discutindo música, quando o Novo Testamento dá pouco espaço ao tema e Ellen G. White enfatiza o canto congregacional em sua simplicidade? Estudar a Bíblia, o ponto essencial do culto cristão, parece um caso perdido; deixe que o pregador leia alguns versos, conte trezentas histórias interessantes e voltemos para casa, porque é hora do almoço…
Em suma: nem como antes, nem com o tipo de mudança que se pede. Nem pela tradição dos anciões, nem pelo modismo do “viva sem criticar”. Os problemas existem porque a Bíblia está empoeirada e nós queremos diversão ou resgatar “a igreja da infância”. A solução? Como disse o profeta, no contexto da infidelidade do reino do norte, “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor.” (Oséias 6:3).
Fonte: Questão de Confiança.