por: Claudio Ruy Vasconcelos da Fonseca
A música na igreja cristã pós-reforma sofreu inovação conceitual, deixando de ser mero adorno ao culto, transformou-se em ferramenta de adoração e de educação. Neste contexto, tanto o texto musical como o poético deveriam explicar assuntos teológicos que deveriam ser compreendidos e guardados nas mentes de forma a servir de alicerce para o comportamento dos cristãos. Sendo que a música pode exercer influência marcante nos ouvintes e efetivamente influencia comportamentos, foi empregada amplamente no período pós-reforma, sendo que a polifonia sobrepujou à monofonia com o propósito de aumentar o alcance educativo da música. Mas, é muito importante a compreensão de que a polifonia é mais adequada à Lei (Torá) do que qualquer outro tipo de desempenho musical.
Por orientação através de Moisés, os israelitas foram ensinados acerca dos mandamentos colocando as palavras da Lei em músicas, conforme está assentado na Bíblia: “E as intimarás [as palavras] a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te.” Deuteronômio 6:7. Se era essencial que Moisés incorporasse os mandamentos nos cânticos, de modo que, enquanto caminhassem pelo deserto, os filhos aprendessem a cantar a lei verso por verso, quão essencial é, no tempo atual, ensinar a nossos filhos a palavra de Deus, tirando proveito da música como ferramenta didática.
A escritora Ellen White explica as funções da música no ambiente cristão: “[…] é um dos meios mais eficazes para impressionar o coração com as verdades espirituais. Quantas vezes, ao coração duramente oprimido e pronto a desesperar, vêm à memória algumas das palavras de Deus — as de um estribilho, há muito esquecido, de um hino da infância — e as tentações perdem o seu poder, a vida assume novo sentido e propósito, e o ânimo e a alegria se comunicam a outras pessoas! Como parte do culto, o canto é um ato de adoração tanto como a oração. Efetivamente, muitos hinos são orações.” (Educação, p.166-167). Falando ainda da vida de Cristo Jesus a escritora menciona que “[…] O alvorecer encontrava-O [Jesus] muitas vezes em algum lugar retirado, meditando, examinando as Escrituras, ou em oração. Com cânticos saudava a luz da manhã. Com hinos de gratidão alegrava Suas horas de atividade, e levava a alegria celestial ao cansado e ao abatido” (Ciência do Bom Viver, p.52). A música cantada é empregada para gravar verdades no coração. Frequentemente, pelas palavras de um canto sagrado, são liberadas as fontes do arrependimento e da fé (Evangelismo, p.500).
Nas cortes celestiais a música é parte da adoração e, por esse motivo, é nosso dever o devido treino da voz – um aspecto importante da educação – de modo a ser cabalmente utilizada no culto religioso. Muitos são os cantores entre cristãos, mas, poucos são os que aprimoram ou educam a voz para alcançar máxima eficácia no louvor genuíno. Deus concedeu à sua igreja dons sendo um deles a música, e Sua expectativa é de que este particular dom seja multiplicado de modo que possibilite o uso correto da fala e do canto. Há muita emoção e música na voz humana, e se o adorador fizer esforços determinados, adquirirá hábitos de falar e cantar que lhe serão um diferencial no ganhar pessoas para Cristo.
No culto cristão deve haver solenidade e reverência, pois a presença do próprio Deus é necessária e sentida. Tal solenidade é parte da guarda da primeira parte da Lei, o amor a Deus. A melodia do canto, derramada do coração em tons claros e suaves representa um instrumento divino para a salvação de pessoas e, considerando que a multiplicação do talento do canto atinge o coração dos ouvintes, o cantor também representa a guarda da segunda parte da Lei, o amor ao próximo.
O ambiente cristão deve respirar a Lei e, neste contexto, não há lugar para apresentações musicais que desonrem a Lei. O canto congregacional é sempre mais adequado do que apresentações individuais. No entanto, há muita incompreensão do papel da música e especialmente do canto na dinâmica eclesiástica. Muitos dos que participam dos cultos como cantores utilizam o talento do canto como efeito de preeminência ou oportunidade para granjear recursos financeiros, o que os torna negligentes em relação à Lei. Por outro lado a solenidade exigida na adoração é preterida por apresentações musicais inadequadas onde há predominância do ego somente.
A música cristã atual deveria ser de melhor qualidade observando o conceito do louvor de acordo com o contexto bíblico. Há grande esforço por parte de alguns em buscar semelhanças musicais com os ritmos e melodias que estão sendo executadas nas mídias comerciais, achando que tal atitude está coerente com o estágio de desenvolvimento social experimentado pela igreja. Todavia, a introdução de instrumentos de percussão ou maneirismo de executar instrumentos musicais semelhantes aos utilizados nos meios seculares não enriquecem a adoração, pois não contribuem para melhorar a guarda dos mandamentos. No livro Mensagens Escolhidas volume 2 (p.36) a escritora Ellen White diz: “O Senhor revelou-me que haveria de ocorrer imediatamente antes da terminação da graça. Demonstrar-se-á tudo quanto é estranho. Haverá gritos com tambores, música e dança. Os sentidos dos seres racionais ficarão tão confundidos que não se poderá confiar neles quanto a decisões retas. E isso será chamado de operação do Espírito Santo. O Espírito Santo nunca Se revela por tais métodos.”
É importante dar a conhecer que a percussão não é a preferência divina, e sim as trombetas. Em Números 10:8-10 lemos: “E os filhos de Arão, sacerdotes, tocarão as trombetas; e a vós serão por estatuto perpétuo nas vossas gerações. E, quando na vossa terra sairdes a pelejar contra o inimigo, que vos oprime, também tocareis as trombetas retinindo, e perante o SENHOR vosso Deus haverá lembrança de vós, e sereis salvos de vossos inimigos. Semelhantemente, no dia da vossa alegria e nas vossas solenidades, e nos princípios de vossos meses, também tocareis as trombetas sobre os vossos holocaustos, sobre os vossos sacrifícios pacíficos, e vos serão por memorial perante vosso Deus: Eu sou o SENHOR vosso Deus.” Sempre que Deus anuncia eventos não há utilização de tambores mas o sonido de trombetas, conforme vemos em Levíticos 23:24 “Fala aos filhos de Israel, dizendo: No mês sétimo, ao primeiro do mês, tereis descanso, memorial com sonido de trombetas, santa convocação.” Em Salmos 98:6 a Bíblia ratifica a preferência de Deus por trombetas: “Com trombetas e som de cornetas, exultai perante a face do SENHOR, do Rei.” Em nenhum momento nos textos bíblicos há rufar de tambores para quaisquer das festas sagradas ou para anunciar eventos. Até mesmo no maior dos eventos futuros, a volta de Jesus, está anunciado o uso de trombetas, conforme lemos em I Tessalonicenses 4:16 “Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro.”
É coerente definir as trombetas como sendo os instrumentos de comando de Deus e não tambores, estes não deveriam ser cogitados para o louvor solene na casa de Deus. E por que não se deveriam usar tambores como instrumentos de louvor nos cultos? Simplesmente porque é o instrumento utilizado na adoração pagã. O uso de tambores quer significar sincretismo o qual é recusado por Deus (II Reis 21:6; 23:24; Isaías 8:19), se é assim, por que os músicos e até mesmo a liderança religiosa insiste no uso de instrumentos inadequados? Em Oséias 4:6 lemos “O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; e, visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos.” O que se espera é que os cristãos, em consequência da história, não sejam imaturos e repitam os mesmos erros dos antepassados.
Fonte: Blog do Claudio Ruy