por: Rolando de Nassau
“A liberdade não consiste em fazer o que queremos, mas em ter o direito de fazer o que devemos” (João Paulo II).
Numa fase de plena popularidade, sob o comando do jovial cardeal Karol Josef Wojtyla, o Vaticano realizou, em 1984 e 1985, encontros internacionais, em âmbito diocesano, a fim de aproximar jovens católicos de todas as partes do mundo.
Esses eventos faziam parte da estratégia papal de renovar a música dedicada à juventude católica.
No Brasil, tiveram como resultados o hinário da Renovação Carismatica Católica (1994) e a coletânea “Louvemos o Senhor” (1995), e, como efeito duradouro, a adoção de cânticos ecumenistas, isto é, de uso comum a católicos e evangélicos (OJB, 21 abr 96 e 19 mai 96). Jovens que foram em 1995 ao Congresso da Aliança Batista Mundial, em Buenos Aires, voltaram cantando alguns desses cânticos.
Em 1985, João Paulo II tinha instituído a Jornada Mundial da Juventude, que sempre teve crescente participação de jovens; na 26ª., em Madrí, em 2011, mais de dois milhões. Tendo em vista a influência da música profana popular, durante duas décadas prevaleceu o gosto musical da juventude.
Para os teóricos da Renovação Carismática Católica (RCC) eram importantes os textos procedentes de fonte católica ou que exaltavam a doutrina católica; quanto às músicas, aos estilos e aos instrumentos musicais, não faziam restrições.
Ao assumir o papado, o cardeal Joseph Ratzinger (papa Bento XVI), deu sua orientação musical. Para nossa surpresa, em 29 de julho de 2005, na catedral de Köln (Colônia, Alemanha), ao abrir o 20º. Dia Mundial da Juventude (XX Weltjugendtag), mandou executar a “Missa Solene”, de Ludwig van Beethoven. Não sabemos se os jovens católicos gostaram da dieta musical de Colônia …
Tínhamos aprendido no estudo da música sacra que a adoção da sonata e o predomínio do instrumento musical sobre a voz humana prejudicara a música do culto cristão. Além disso, a linguagem romântica, a execução orquestral, a inobservância das normas litúrgicas, o estilo concertante, a comunicação emocional, a partitura grandiosa, a ênfase em certas palavras, a estrutura sinfônica e a supervalorização da expressão, tudo isso encontrávamos naquela obra-prima de Beethoven. Concordamos que ele não é compositor completamente mundano ou profano.
Paul Dukas, compositor e crítico, escreveu a respeito: “Obra isolada, fora da liturgia e mesmo de toda a interpretação religiosa tradicional, a Missa é uma concepção de dramaturgo e de visionário”. Foi contestado por Warren Kirkendale, para quem “essa Missa saiu do vácuo histórico: está profundamente ancorada nas tradições antigas”. Até mesmo Beethoven pode desagradar a certos ouvintes.
Ratzinger, erudito na teologia e na música, não analisou os aspectos técnicos da obra; preferiu apreciá-la como oração: “A “Missa Solene” é mais do que música litúrgica. As palavras da oração tornam-se meios de levantar-se com esforço para chegar a Deus, de sofrer com Deus, e consigo mesmo; assim fazendo, tornam-se degraus de uma escada que o homem sobe, para subir até Deus, aproximar-se dEle, e assim experimentar novamente a alegria com Deus. A “Missa Solene” é um testemunho de uma incessante busca pela crença, que se recusa a dar suas costas a Deus”. Ratzinger foi sábio: os jovens foram à Jornada num esforço para encontrar-se com Deus.
Em 24 de agosto de 2011, o papa Bento XVI anunciou a próxima Jornada; logo em seguida, fez questão de traçar o perfil do repertório musical, numa audiência no Vaticano, com as seguintes palavras: “Quando escutamos uma peça de música sacra que faz vibrar as cordas do nosso coração, nossa alma se dilata e se sente impelida a dirigir-se a Deus. Vem-me à memória um concerto de música de Johann Sebastian Bach, em Munique, dirigido por Leonard Bernstein. No final da última peça, uma das cantatas, senti, não racionalizando, mas no profundo do coração, que o que eu havia escutado havia me transmitido verdade, verdade do sumo compositor que me conduzia a dar graças a Deus. Ao meu lado estava o bispo luterano de Munique e espontâneamente lhe comentei: “Ouvindo isso se entende: é verdadeira, é verdadeira a fé tão forte e a beleza que expressa irresistivelmente a presença da verdade de Deus”.
A 27ª. Jornada será realizada no Rio de Janeiro, de 23 a 28 de julho de 2013, agora liderada pelo papa Francisco (cardeal Jorge Maria Bergoglio).
O repertório musical da Jornada foi organizado entre novembro de 2012 e fevereiro de 2013, quando Bento XVI renunciou ao pontificado. Considerando a antecedência que mereceu sua elaboração, é possível que ainda se faça sentir a orientação papal anterior.
Pelas informações que obtivemos, as músicas obedecerão a critérios de homenagens a Jesus, Maria, São Francisco e ao papa, e de celebração dos atos litúrgicos (“Kyrie Eleison”, “Gloria”, “Aleluia”, “Ofertório”, “Sanctus”, “Cordeiro de Deus”, “Tantum Ergo”).
Para certas composições, foram convidados os padres Marcelo Rossi, Fábio de Melo e José Cândido; os padres Jorjão e Sérgio Muniz fizeram a análise teológica dos cânticos, que vale como certificado de sua qualidade.
Gostaríamos que as editoras e gravadoras evangélicas contratassem revisores, não somente literários, mas também teológicos.
Da execução musical participarão instrumentos da música popular (bateria, baixo, violão, guitarra, percussão, cítara), além de pianos, teclados, sopros, cordas, e algumas vozes. Destacamos a presença dos nossos conhecidos trompista Philip Doyle, pianista Wagner Tiso e violoncelista Jaques Morelenbaum.
Cremos que os organizadores da Jornada, tendo em vista o tamanho e a importância do evento, são dotados de discernimento para oferecer à sua juventude música de boa qualidade.
Como a juventude católica, de várias partes do mundo, receberá a música executada na Jornada?
Sugerimos que os nossos pastores e dirigentes musicais ouçam os cânticos da Jornada. Como os jovens evangélicos receberiam esse tipo de música?
Fonte: O Jornal Batista, 07/07/2013, p. 3