por: Joêzer Mendonça
Quando no livro de Amós (capítulo 5) se lê que Deus pede para que “se afaste dEle o barulho dos instrumentos de louvor” deve-se entender que Ele não está dizendo que se pare de tocar qualquer instrumento musical que seja. O problema, na verdade, é o falso espírito de louvor de um povo que O louva com seus lábios mas O desonra em seus corações, fazendo da música apenas um ruído desagradável. Vê-se um Deus menos preocupado com o estilo musical e mais atento ao estilo de vida do adorador.
Porém, se alguém disser que os versos de Amós se referem ao atual volume das bandas de louvor estará exegeticamente errado, mas auditivamente correto. A intensidade exagerada das vozes e instrumentos se deve primordialmente à má direção musical – onde está o equilíbrio entre os instrumentos e as vozes dos cantores do grupo e da congregação? Submersa pelos decibéis empolgados da banda, a congregação acaba assistindo a um concerto. Essa megadecibelização do louvor contribui para uma inversão de papéis.
Com humor e muita pertinência, John G. Stackhouse Jr., professor de Teologia e Cultura no Regent College em Vancouver, Canadá, faz algumas observações a respeito da intensidade do volume dos grupos de louvor das igrejas:
” (…) Eu estava num acampamento cristão, há não muito tempo, onde nos reunimos para cantar ao redor de uma fogueira. Apareceram guitarras, mas, um pouco antes que eu pudesse ficar nostálgico e sugerisse que cantássemos “Pass it on”, apareceu o pedestal de um microfone também. Aparentemente três guitarras para quatro pessoas não eram suficientes. Não, elas tinham que ser amplificadas.
“Eu não tenho 110 anos de idade, amigos. Eu cresci nos anos 70 com montes de amplificadores Marshall e bandas barulhentas de heavy metal o suficiente para competir com boeings 747 e ganhar. Tenho tocado em bandas de louvor por mais de 30 anos e muitas músicas passaram pelo meu teclado Roland ou baixo Fender ou guitarra Godin. Além disso, sou um homem de meia idade e minha audição está propensa a ir falhando. Mas, ainda acho o som de quase todas as bandas em quase todas as igrejas que visito muito alto – não apenas um pouco alto, mas desconfortável, e mesmo dolorosamente, alto.
“Então, aqui estão cinco razões para que cada um diminua o som um ponto – ou talvez três ou quatro.
“Primeiro, eu sei que dizer isso significa quebrar as regras dos músicos – do mesmo modo que os mágicos nunca devem revelar um segredo – mas aumentar o volume é um truque barato para aumentar a energia do ambiente. A comédia This is Spinal Tap nos mostrou todos os absurdos truques de som utilizados para compensar a falta de talento. (Os botões das guitarras dos componentes de bandas foram modificados para ir até 11.) Não compensa aumentar a amperagem da mediocridade para transformá-la em MEDIOCRIDADE.
“Segundo, quando vocês não são muito afinados – e vamos encarar isso, a maioria dos cantores e instrumentistas não está próxima de um tom perfeito – aumentá-lo só faz prejudicar mais. Se eu ouço um “cantor afinado” tendo problemas em decidir se atinge a terça maior ou menor e ao invés disso ele chega a um meio termo com um volume alto, eu sinto como se a minha cabeça fosse rachar.
“Terceiro, as caixas de som, usadas na maioria das igrejas com o sistema PA, não devem colocar muita força nos pianos, baixos e baterias. Assim nós estaremos sendo triturados com um som desagradável e estrepitante – o que não induz à adoração.
“Quarto, considerem que vocês podem estar excluindo as pessoas mais velhas que, em sua maioria, não gosta do volume do Guns N´ Roses na igreja. E se vocês desconfiarem que os mais velhos estejam encantados por trás de seus sorrisos fechados, perguntem a eles. Eu desafio vocês.
“Quinto, deixe-me falar um pouco da história da igreja e de teologia pra vocês. Nos tempos em que a música se desenvolveu na Palestina [sic] no século XVI, tornou-se muito requintada e adornada para cantores comuns. Então os cristãos iam à igreja para ouvir um padre e um coral. (Atualização: Levi Tavares sugere que onde se lê na Palestina leia-se, mais acertadamente, com Palestrina – Giovanni da Palestrina, compositor da Renascença).
“(…) O problema hoje, certamente, é a raridade de músicas elaboradas. Nós poderíamos utilizar um pouco mais de arte, na verdade, do que normalmente conseguimos, com a simplicidade e formatos musicais repetitivos de muitas músicas de adoração contemporâneas.
“Não, o contraste com a Reforma é a insistência dos dias modernos de que as pessoas sejam o centro das atenções. Nós fazemos isso ao permitir que uma banda com seis membros faça mais barulho do que uma congregação lotada. Mas o culto na igreja não é um concerto no qual o público canta com os cantores principais. Musicistas – cada um deles, incluindo os cantores – acompanham o louvor da congregação. Eles deveriam estar misturados ao som o suficiente apenas para fazer a sua parte, conduzindo e apoiando a congregação (…)”.
Ilustração e trechos do texto de Stackhouse Jr na Christianity Today International
Traduzido por Ana Maria Neves para o site Cristianismo Hoje.
Fonte: Nota na Pauta.