Hinologia

Alguns Esclarecimentos Sobre o Hinário “Cantai ao Senhor” (Parte 2)

por: Dario Pires de Araújo [1]

Parte 2

Com estes critérios de trabalho (mencionados no número anterior) foram tratados todos os hinos novos, traduzidos de outras línguas e os que receberam letra especial. Quanto a estes, poucas objeções têm sido feitas. Eis algumas delas:

1. Hinos pátrios ou nacionais de outros países.

Os temas melódicos que existiam, e que vieram a ser aproveitados para hinos pátrios posteriormente, são usados em hinos que figuram na “melhor compilação de hinos jamais preparados para o uso de nossas igrejas adventistas do sétimo dia “(Prefácio da Comissão da Associação Geral, no Church Hymnal), e de lá traduzidos e adaptados ao Brasil (C.H. nº 304, 508,510, para os interessados).

2. “Nós quando aqui estivemos a vaguear,
Já nosso ser Jesus mudou”.
C.S. nº 1

Houve quem lesse estes dois versos da seguinte maneira: “Nossa alma (ou espírito?) quando esteve a vaguear pelo espaço, em encarnações sucessivas foi evoluindo até ser mudada por Jesus”. Vemos nisso imaginação fértil, para não dizer má intenção. Cremos que é muito mais fácil ler como está escrito do que inventar. Será que não está claro suficiente dentro da doutrina bíblica da conversão e do novo nascimento que nós, pecadores, vagueamos aqui no mundo, e que Jesus nos mudou o ser, como ao filho pródigo da parábola?

3. “Que forma a chuva, o vento e a luz;
A forte tormenta o Seu poder traduz”.
C.S. nº 10.

Houve quem objetasse que não é o poder de Deus que produz a tormenta, e sim o de Satanás. Embora creiamos que Satanás se aproveite de catástrofes para levar o maior número possível de homens à destruição, sabemos que nem todas as tormentas são catástrofes, e não podemos crer que ele tenha o controle destas forças da Natureza: caso contrário, o próprio Deus teria mentido em Jó 38:19-30.

4. Muitos não conseguem ler as palavras e reclamam dos tipos usados. A Editora testou vários tipos e chegou à conclusão de que estes eram os melhores. Para estas pessoas recomendamos que usem o hinário sem música, ou óculos.

5. Outros chamam a atenção a notas trocadas, ou seja, diferentes do que nos hinos originais. O prefácio do hinário, porém, já explica que houve CORREÇÕES MUSICAIS que não podem ser confundidas com ERROS. E assim por diante.

Todos percebem que o estilo e o tipo de objeções são muito frágeis.

O maior problema, porém, tem surgido por causa das palavras trocadas nos cânticos já conhecidos do antigo hinário. Tem passado pela mente de muitos que isto constituiu molecagem irreverente e arbitrária, com o objetivo de destruir e desrespeitar tudo de belo que havia anteriormente. E reconhecemos que o caso é realmente melindroso, mas compreensível.

Tudo, porém, começou quando a comissão decidiu que todos os erros de ajuste entre letra e música fossem tratados para que houvesse uniformidade em todo o hinário, e não duas partes (antiga e nova) com critérios de trabalho diferentes.

Para o ajuste, ou a música ou a letra deveria ser modificada; como para alterar a música em cada estrofe seria uma coisa impraticável, as palavras tiveram que se ajustar às ideias musicais; seria mais fácil ler palavras diferentes e entoá-las em melodia conhecida do que cantar as palavras de cor, mas com melodia estranha.

O grande objetivo de se fazer bom casamento entre música e letra é tornar as palavras cantadas tão compreensíveis quanto as palavras bem faladas: portanto as ideias falsas de que os hinos bem ajustados são meros jogos de palavras, ou produto de laboratório, não estão levando em conta a importância da compreensão das palavras, sem o que o cântico perde o objetivo.

Em todas as mudanças a preocupação foi de não se perder a ideia fundamental, que é muito mais importante do que as palavras que se usam.

Para exemplificar as dificuldades de compreensão que havia na grande maioria dos hinos antigos, geradas pelo ajuste defeituoso entre a letra e a música (principalmente nos dois primeiros aspectos que mencionamos), citaremos apenas uns dez trechos conhecidos do Hinário Adventista [2], mostrando os cortes nas palavras e as acentuações deslocadas, como são compreendidas ao serem cantadas, bem como fazendo uma comparação com as soluções dadas no “Cantai ao Senhor”. Basta cantá-los com atenção e se perceberá que, nas sílabas sublinhadas, a música provoca acentuações em lugar errado das palavras, e nos traços verticais sentir-se-á que as ideias musicais provocam os cortes nas palavras.

 H. A. nº 1  – Rê  peti-m’as ind’outra vez…
 C. S. nº 167 – Oh,  cantai, outra vez cantai…
     
 H. A. nº 9  – Que grande ami  go é meu Jesus
 C. S. nº 102  – Que amigo achei  em meu Jesus
     
 H. A. nº 13  – Jesus, Teu nó  me satisfaz:
 C. S. nº 104  – Quão doce és,  ó meu Jesus!
   – Por todo or  be espalha a paz;
   – Teu nome amor  e paz traduz,
   – Perfeito gô  zo e vida traz…
   – É gôzo, enfim,  é vida e luz…
     
 H. A. nº 17  – Carê  ço de Jesus,
 C. S. nº 485  – De Ti  careco, ó Deus,
   – Habi  ta, pois, em mim,
   – De Ti  meu Salvador,
   – E vêm  cedor serei …
   – Oh, vem  fazer de mim …

Nota:  

[1] Apesar de o hinário “Cantai ao Senhor” não estar mais em uso e, por este motivo, muitos dos exemplos dados aqui não serem mais aplicáveis, o presente artigo foi publicado, porque os editores do Música Sacra e Adoração acreditam que os conceitos e princípios aqui explanados são válidos para todas as épocas.

[2] E expressão “Hinário Adventista” neste artigo, refere-se à edição de 1933, e não à edição atual, de mesmo nome, e que veio em substituição ao “Cantai ao Senhor”. Para conhecer a divulgação daquela edição do Hinário Adventista clique aqui


Fonte: Revista Adventista, Agosto 1969. P. 11

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