Hinologia

“Cantai ao Senhor”

por: Gerson Gorski Damasceno [*]

A música é o pressentimento das coisas celestiaisBeethoven

“E crescia Jesus em sabedoria, estatura graça…” (Lucas 2:52)

Que maravilha o dom e a vontade de aperfeiçoamento, sabedoria e progresso! Na realidade Deus é um Deus de ordem (I Coríntios 14:40) e nada mais apropriado que o célebre provérbio: “Ordem sem Progresso é inútil e Progresso sem Ordem é falso”.

Como podemos ficar felizes sem saber que após vinte anos, a Organização Adventista no Brasil está lutando para um grande progresso – o aperfeiçoamento do “Cantai ao Senhor“[**].

Se cada membro da Igreja (quer leigo ou não em música) puder entusiasticamente colaborar com esse progresso, Deus estará feliz, pois automaticamente deverá haver ordem em Sua Igreja. Na verdade, muitas vezes se torna difícil para um leigo auxiliar em certas funções na Igreja, porém Deus deu a cada um, uma tarefa a qual deve desempenhar conforme suas forças (Eclesiastes 9:10), o resto Ele tudo fará (Salmo 37:5). Por isso, todo colaborador deve estar cônscio de sua grande responsabilidade, a de auxiliar com entendimento (I Coríntios 14:9).

Será que todos nós temos a consciência de que o Hinário é tão sagrado quanto a Bíblia? Que ele contém a mensagem da Bíblia para ser transmitida através do cântico? “Ao lado da Bíblia, um bom hinário é o melhor tratado teológico que a Igreja possui”.[1] A Sra. White nos diz que “poucos meios há mais eficientes para fixar Suas palavras na memória do que repeti-las em cânticos”.[2] Ainda falando sobre as escolas do tempo de Israel, salienta: “… os principais assuntos de estudo nessas escolas eram a lei de Deus, juntamente com as instruções dadas a Moisés, História Sagrada, Música Sacra e Poesia.”[3]

Todos nós sabemos que os hinos do hinário são nada mais, nada menos, que simples poesias cantadas. O interessante é que, musicalmente falando, as melodias dos hinos também são como as poesias, possuem pontos, vírgulas, interrogações, exclamações, respirações e tudo o que se necessita para uma boa interpretação.[4] Daí o fato de um profundo estudo entre a poesia e a música para a formação de um hino que possua ordem em sua estrutura para haver progresso através do qual teremos um nobre orgulho de apresentá-lo a Deus.

Há pessoas que muitas vezes preferem acomodar-se com o que já possuem e deixam-se levar por saudosismos, sem se lembrar de que Deus quer que enquanto aqui vivamos, estejamos sempre em crescimento, como Jesus na Terra. O Pastor Wood enfatiza que não há justificativa na atitude daqueles que dizem: “Mas nós gostamos disso”, visto que o certo e o errado não é questão de gosto pessoal.[5] Encontramos, sobre isto, um melhor esclarecimento na Bíblia: “Ter sua mente controlada pelo que a natureza humana quer, resultará em morte; ter sua mente controlada pelo que o Espírito quer, resultará em vida e paz.”[6]

Se perguntarmos a qualquer membro da Igreja se ele conhece a Escritura Sagrada em sua totalidade, quase ninguém ou ninguém poderá dizer que sim, pois todos estão cada dia em fase de crescimento e aprendizado da mesma e isso nos alerta de que constantemente deveríamos estar estudando e aprendendo hinos que nos são desconhecidos e termos por obrigação ensinar aos nossos semelhantes como devemos fazer com a Palavra de Deus, a menos que eles se recusem.

O ensino e prática de hinos desconhecidos podem ser uma atividade atraente, criativa e alegre, elevando o ser humano a um crescimento espiritual. Davi nos anima dizendo: “Cantai ao Senhor um novo cântico”.[7] Por quanto tempo temos nós cantado, e tão cansativamente os mesmos hinos, fazendo parte da liturgia, porém tão automatizados que muitas vezes se canta mesmo sem se dar conta do que estamos pronunciando? Quantos hinos lindos e ricos possuímos no Cantai ao Senhor que deixamos de cantar por falta de um pequeno esforço, de compreensão, ou mesmo por falta de boa vontade?

O Dr. Hamel nos diz: A todos nos deveria ser permitido acalentar certos hinos que possuem um significado especial. Contudo, isto não quer dizer que deveríamos estar sem o desejo de aprender novos hinos, enquanto continuamos com o processo de crescimento e maturidade”.[8]

Encorajamos a todos a possuírem o novo Cantai ao Senhor [***], com hinos mais novos e mais ricos e mesmo ainda com os desconhecidos que devem permanecer, e a fazerem um esforço para aprendê-los. Assim sendo, estaremos enriquecendo nossa vida espiritualmente falando, bem como aprimorando nossa maneira de louvar ao Criador.

Existem inúmeras formas de se aprender um hino das quais salientaremos algumas. Por exemplo:

a) Se a igreja possui um coral, seu principal papel é o de auxiliar o Canto Congregacional, [9] o que atualmente já está se perdendo de vista. A Sra. White é bem clara em dizer que todo o coral de igreja deveria ser formado de voluntários das mais variadas classes dos membros da mesma e que utilizassem os grandes hinos de nossa herança cristã.[10] A congregação sempre deveria ter a primazia de participar das mensagens musicais, tendo assim a chance de aprender sempre com o coral.

b) Durante o Serviço de Cânticos, antes da Escola Sabatina ou no intervalo entre a Escola Sabatina e o Culto Divino, através de um líder do canto congregacional ou mesmo de pianistas ou organistas, encontramos um meio bem eficaz de aprendizado.

c) Outra maneira que se tem feito com êxito é a escolha do Hino do Mês. O responsável pela música escolhe um hino desconhecido da congregação para ensinar através do coral, do pianista, do organista, ou mesmo de outro instrumento ou solo vocal. Esse hino seria anunciado com antecedência para a congregação e toda a reunião possível esse cântico seria entoado e/ou tocado até que todos se familiarizassem com ele.

Quase o mesmo processo pode ser utilizado, solicitando-se ao pianista ou organista que em cada mês execute durante o prelúdio ou o ofertório o hino escolhido e obviamente a congregação seria convidada a acompanhar a leitura do hino em pauta para já ir memorizando a melodia e a letra.[11]

d) Aos sábados à tarde, seria bom que cada membro, em sua meditação, observasse os hinos desconhecidos do hinário[12] e sugerisse ao responsável a seleção de alguns deles para o Hino do Mês.

e) Se a igreja não possui coral, instrumento ou nenhum musicista, poderia solicitar a ajuda de algum membro de outra igreja mais próxima ou um responsável de sua igreja poderia ir até outra, para trazer as informações assimiladas e divulgá-las.

f) Gravar os hinos, e utilizá-los nos momentos de meditação antes e depois dos cultos, para um grupo aprender e passar para a congregação.

g) Solicitar da Organização cursos de aperfeiçoamento, para os quais a igreja enviaria alguém que pudesse depois fornecer e transmitir essa bagagem musical, quebrando assim a barreira dos tão famosos “Hinos Desconhecidos”.

Colabore com seu crescimento espiritual, pelo menos, e com boa-vontade, no aprendizado de um hino que ainda lhe seja desconhecido. Deus, com certeza, terá alegria em aceitar sua humilde e gloriosa oferenda. Não nos esqueçamos de que a música é tão poderosa que pode destruir-nos ou levar-nos aos Céus. Beethoven disse: “A música é o pressentimento das coisas celestiais.”[13] E Guizot afirma: “A música oferece à alma uma verdadeira cultura íntima e deve fazer parte da educação de um povo”[14] e nós acrescentamos: principalmente do povo escolhido para estar entre os remanescentes. Por tudo isso, “Cantai ao Senhor”!


Notas:

[*] – Agradecemos à Loide Simon por esta contribuição ao Música Sacra e Adoração.

[**] – O leitor mais atento e familiarizado com o contexto musical da Igreja Adventista do Sétimo Dia, já percebeu que o presente artigo, escrito em 1986, está tratando de um Hinário já não mais utilizado pelas congregações Adventistas, o Cantai ao Senhor. Todavia, nós, os editores do Música Sacra e Adoração, publicamos o artigo com a intenção de melhorar o uso de nosso novo hinário o Hinário Adventista, já que o problema dos “hinos desconhecidos” continua sendo presente.

[***] – O autor aqui refere-se ao hinário que foi lançado em substituição ao Cantai ao Senhor, chamado “Hinário Adventista”. Presumimos que por ocasião da publicação deste artigo o novo nome ainda não estava definido.

[1] P. McCommon. A Música na Bíblia. Rio de Janeiro, Casa Publicadora Batista, 1963, p. 44.

[2] E. G. White. Educação, p. 167.

[3] E. G. White. Patriarcas e Profetas. pp. 635 e 637.

[4] B. H. Ichter. A Música e Seu Uso nas Igrejas. 2. Ed., Rio de Janeiro. JUERP, 1980, pp. 73-77.

[5] K. H. Wood. “Take These Things Hence”, in: Review and Herald, Janeiro 20, 1972, p. 2.

[6] Romanos 8:6 (Today’s English Version).

[7] Salmo 149:1.

[8] P. Hamel. The Christian and His Music. Washington D.C.: Review and Herald Publishing Association, 1973, p. 71.

[9] J. W. Faustini. Música e Adoração. São Paulo. Imprensa Metodista, 1973, p. 72.

[10] P. Hamel. Ellen White and Music. Washington D.C. Review and Herald Publishing Association, 1976, p. 85.

[11] P. Hamel. The Chritian and His Music. Obra Citada. p. 64.

[12] Ibidem.

[13] L. Pagano. Pensamentos e Curiosidades sobre a Música e Músicos. São Paulo. Editorial Mangione S. A., s/d. p. 69.

[14] Idem, p. 69.


Fonte: Revista Adventista, Maio, 1986, pp.44.5.

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