Debate Sobre a Música na Igreja / Ellen G. White e a Música na Igreja

Não Seria Mais Fácil uma Profetisa Compositora?

por: Pr. Douglas Reis

Por estes dias, alguém fez um comentário à minha postagem Critérios para a Música Sacra. A pessoa, a qual desconheço, valeu-se de uma argumentação pífia, embora, talvez, bem intencionada. Eis a questão: se Ellen White recebeu luz sobre a música celestial, por que ela não nos deixou alguma composição? Ao fim, o comentário arrematava sugerindo que, na ausência de partituras de White, seria inútil discutir o que é adequado ou não em música sacra. Reservei algumas considerações sobre o tópico neste pequeno artigo, com a intenção de responder esta questão de forma um pouco mais abrangente, embora sinta já tê-la respondido de forma menos detida ao longo do tempo que mantenho o blog [Questão de Confiança].

A questão em si é tola. Eu a correlaciono com a confusão generalizada entre princípios e aplicação, pontos distintos. Podemos discutir a música sacra dentro de uma grade composta por, pelo menos, três questões contingentes:

I. Há algum princípio que norteie a música sacra? De uma forma ou de outra, a maioria de nós que ainda carrega um cérebro admitiria que há algum tipo de princípio;

II. Que princípio ou princípios devem ser adotados? Este é um ponto que exige consideração e pesquisa e vêm suscitando debates intensos que, se mantida a verdadeira cortesia e amabilidade cristãs, serão de inestimável utilidade para a igreja;

III. Como adequar os princípios à realidade de uma igreja mundial? Outro ponto bem controverso, que exige maturidade , sensibilidade e oração, além de firme decisão em buscar as orientações reveladas por Deus em Sua Palavra.

Pelo que considerei acima, não creio que ter uma voz profética dotada de habilitação musical pudesse evitar conflitos de entendimento (ou de interesse!) entre cristãos que debatem questões ligadas à música sacra. Mesmo que Ellen White fosse uma musicista profissional (o que de fato não era), e tivesse legado partituras ou trabalhos técnicos sobre o assunto, possivelmente teríamos basicamente dois problemas: (a) alguns idolatrariam suas composições, tornando-as normativas a tal ponto de serem consideradas as únicas aceitáveis; (b) consequentemente, isso deturparia sua intenção de que os princípios contidos em suas hipotéticas peças musicais se adequassem a outros contextos culturais, dada a rigidez da aplicação de tais princípios.

Teço estes comentários meramente conjecturais baseado em conflitos de interpretação a respeito de suas declarações, nos quais Ellen White teve de intervir para esclarecer o que de fato tencionava (como no caso de quando ela declarou que os pais deveriam ser os únicos professores de seus filhos até que eles atingissem a idade de oito ou dez anos, por exemplo).

Temos de ressaltar um dado relevante: Ellen White escreveu sobre educação, mas jamais deixou um plano de aula para ser imitado pelos professores. Também encontramos entre seus escritos firmes declarações a respeito da reforma de saúde – conquanto ela jamais deixasse um cardápio sugestivo! Em todos estes casos, a falta de um modelo sugestivo mais específico para se aplicar a orientação profética não invalida a orientação em si. Os próprios profetas bíblicos exigiam reformas sociais sem elaborar planos político-sociais; clamavam por justiça, sem se dedicarem a tratados de jurisprudência. A revelação divina, por vezes, trata de princípios gerais, que ficam no aguardo da inteligência humana, guiada pela santificadora ação do Santo Espírito, para adequá-los nos mais diversos contextos.


Fonte: Questão de Confiança

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