CD Jovem – Capítulo II

por: Rodrigo de Galiza Barbosa

CD Jovem: Cultura de Massa na Igreja Adventista do Sétimo Dia?

Capítulo II – Existencialismo na Poesia da Música do CD Jovem Adventista do Sétimo Dia

No capítulo anterior vimos que a filosofia existencialista enfatiza o homem e sua experiência como determinante da religiosidade. Enquanto isso o adventismo do sétimo dia baseia sua crença no essencialismo que enfatiza a razão como meio de firmar a religiosidade do indivíduo. A cultura de massa e sua simplificação da mensagem e imediatismo favorecem a filosofia materialista-existencial em detrimento da uma visão escatológica-essencialista.

Como a cultura de massa é usada na propagação de conteúdos religiosos, devese investigar se ela tem influenciado o conteúdo do CD Jovem adventista com essas características de enfatizar o presente e o aspecto emotivo ao invés de conteúdos sobre o futuro e a razão da fé cristã. E para identificar a possível existência de tal influência, foi feita uma análise de conteúdo dos cânticos do CD Jovem adventista à luz das características da cultura de massa, tendo em vista esse contraste, existencialismoemoção e essencialismo-razão.

2.1 Análise do Conteúdo

O método de análise dos textos musicais do CD Jovem foi a análise de conteúdo. Os conceitos metodológicos aqui usados estão fundamentados principalmente em Lawrence Bardin. Pois Bardin é considerada como uma referência comum e primordial em diversos autores de análise de conteúdo (FONSECA JÚNIOR, 2005. p.280-303). Por isso que seus conceitos são revisados em diversos materiais.

Para Bardin “a característica da análise de conteúdo é a inferência” (1977, p.116). A inferência tem como objetivo trazer informações mais profundas, ou essenciais do próprio texto, construindo uma nova representação semântica (BARDIN, 1977. p.133; MARCUSCHI, 2008. p.249; BAUER, 2007. p.192). Isso ocorre porque a linguagem é um signo artificial, ou produzido por um emissor intencional, no caso o homem. E uma atenção mais detida (a inferência), pode extrair da comunicação mais que um olhar superficial (ECO, 1973. p.32).

Essa intencionalidade atribui significado à linguagem no contexto do que foi dito (ANTUNES, 2005. p.126). Esses signos lingüísticos num texto representam um objeto, acontecimento ou crença existente e real para o emissor (ECO, 1973. p.34). Essa crença poderá ser desvendada ou compreendida através da compreensão dos seus elementos unificadores, ou palavras codificadoras (ANTUNES, 2005. p. 126). É através desses codificadores lingüísticos que as inferências podem ser feitas.

“As inferências funcionam como hipóteses coesivas para o leitor processar o texto” (MARCUSCHI, 2008. p.249). Assim, a inferência da análise de conteúdo serve de metodologia importante para identificar qual crença ou filosofia às músicas do CD Jovem estão transmitindo.

A inferência é uma interpretação controlada do texto (BARDIN, 1977. p.133), a partir de codificadores claros (BARDIN, 1977. p.95). E para aplicar esses conceitos em um objeto, Bardin enumera alguns passos. Os passos para uma análise são: pré-análise, exploração do material, tratamento dos resultados e referência (comparação com fundamentação teórica) (BARDIN, 1977. p.95). No primeiro passo, a pré-análise ou escolha dos documentos, o analista deve submeter o objeto da pesquisa às hipóteses e objetivos na elaboração de codificadores (BARDIN, 1977. p.95).

Codificadores são os elementos que caracterizam cada ideologia tendo como referência unidades de registro e unidades de contexto. Das cinco unidades de registros descritos por Bardin, três são relevantes para nosso trabalho: palavras-chaves (unidade perceptível, sintáticas); tema (núcleo de sentido/ unidade semântica) e objeto ou referente (BARDIN, 1977. p.105,106; BAUER, 2007. p.192). A partir da definição dos codificadores, o analista deve considerar algumas regras para elaborar categorias de conteúdo, e classificar as respectivas músicas. As regras de enumeração dos codificadores usados aqui foram: a)ausências ou presença de elementos; b) freqüência e c) intensidade (BARDIN, 1977. p.108).

Após a definição das unidades de registro, a unidade de contexto servirá para codificar a unidade de registro, pois “suas dimensões (superiores às unidades de registro) são óptimas (sic) para que se possa compreender a significação exacta (sic) da unidade de registro” (BARDIN, 1977. p.107). Pois muitas vezes as unidades de registro mudam de sentido dependendo do contexto. E as palavras-chaves, para determinados conceitos, devem ser entendidas e definidas em suas dimensões mais amplas (BARDIN, 1977. p.107). Na análise da poesia do CD Jovem esse conceito é importante porque duas categorias são muito semelhantes, e sua diferenciação pode afetar o resultado final.

Assim, na unidade de contexto, a escolha dos documentos deve-se considerar: a escolha do universo relevante à hipótese, a exaustividade (não se pode deixar de fora nenhum elemento da categorização) e representatividade (em caso de pesquisa por amostragem) (BARDIN, 1977. p. 97-99; BAUER, 2007. p.196). E as análises podem ser quantitativas ou qualitativas.

2.2 Desenvolvimento do Tema e Análise

Seguindo os passos apontados acima, será descrito como foi feito à análise da poesia das músicas do CD Jovem. Após uma pré-análise do maior número de elementos possíveis, recomendada por Bardin, as músicas foram classificadas em três principais categorias e duas secundárias. Essas categorias foram elaboradas com base nos elementos das filosofias contrastantes do existencialismo-emoção e essencialismorazão. Pois esses são temas eixos pesquisados em redor do quais os discursos se organizam (BARDIN, 1977. p.106). Foram analisadas todas as músicas dos anos 1995 a 2007, pois na pré-análise quanto maior o corpus melhor os dados levantados (BARDIN, 1977. p.99).

Os codificadores selecionados foram relevantes à hipótese e aos objetivos, como determinados por Bardin (1977, p.95). Ao analisar as letras, o que determinou sua categoria foi o aspecto predominante (freqüência de elementos codificadores) na música, visto que em muitas delas existe um misto.

As categorias são abaixo explicadas, lembrando que a categorização “tem como primeiro objetivo (da mesma maneira que a análise documental), fornecer, por condensação, uma representação simplificada dos dados brutos” (BARDIN, 1977. p.119) e a partir delas apontar tendências. Assim as categorias são: mutuamente excludentes, homogêneas e estão associadas ao grau de pertinência da pesquisa (BARDIN, 1977. p.120).

a. Escatológica

Os códigos-palavras presentes que caracterizam a poesia das músicas classificadas escatológicas são verbos no futuro e adjetivos pejorativos aos elementos terrenos. Os códigos de palavras ausentes são substantivos que deno tam emoção, e quando presentes essa emoção e prazer, são ligados ao futuro e ao céu. Os códigos de frase mostram desprezo pelo presente e esperança no futuro. A música Quase no lar (2001) é um exemplo dessa categoria.

Estamos quase no lar, quase no lar
Falta pouco tempo, pra esse dia chegar
Estamos quase no lar, quase no lar
Com Jesus viveremos, nas mansões celestiais

Na unidade de registro temática essas músicas enfatizam o futuro, a esperança e alegria de salvação futura na volta de Jesus. Elas contrastam a maldade do mundo presente com a beleza do mundo vindouro como em Pés na terra e olhos no céu (2005).

Um novo dia surgirá quando Jesus aqui voltar
Todo o pranto findará, só alegria haverá
Não mais tristeza, não mais a dor, lá reinará o amor
Finalmente verei e adorarei o meu Rei e meu Salvador

Normalmente a escatologia das músicas não está desassociada da soteriologia (doutrina sobre a salvação) adventista e a pregação da volta de Jesus. Mas a ênfase, ou a predominância dos elementos, não está na pregação da mensagem nem no prazer presente, mas na expectativa desse evento ocorrer. Como por exemplo, a música Eu só quero estar onde estás (1995) que por causa do elemento da salvação presente possui elementos da categoria existencial (como o substantivo presença e verbos no presente e imperativos), mas a predominância está no futuro encontro com Jesus. Por isso, como explicado acima, é importante identificar o elemento contextual para determinar qual a categorização dos elementos predominantes, como predito por Bardin.

Eu só quero estar onde estás,
E viver em Tua presença.
Ver a Tua face e o adorar,
Junto a Ti eu quero estar.
Eu só quero estar onde estás.
Onde tudo é para sempre.
Leva-me pra este lugar,
Pois eu quero ali morar

b. Soteriológica – missiológica

Na unidade de registro temática, a poesia dessas músicas enfatiza o prazer do mundo vindouro com a volta de Jesus que pode ser experimentado um pouco hoje pela alegria da salvação em Cristo. Isso porque a soteriologia adventista está associada à escatologia. Mas a ênfase dessas músicas é na salvação em Cristo e não no prazer aqui no mundo como em Senhor somos tua voz (2004).

Para este tempo, para esta situação
Fomos escolhidos pra cumprirmos a missão
Vamos pelo mundo proclamando sem cessar
Que em breve Cristo, voltará pra nos buscar

Normalmente essas letras também falam do dever do crente em proclamar para outras pessoas essa mensagem de salvação do mundo de pecado. Os códigos-palavras que as caracterizam são verbos no tempo presente, mas que enfatiza a missão presente para ir ao céu no futuro. Os verbos atingem a outros, e não são verbos reflexivos. No código de frase a busca do homem retratada nessas músicas é uma decisão motivada pelo amor de Cristo e a maldade do pecado. Um exemplo é a música Sou de Jesus (2006).

Sou de Jesus, o Senhor da vitória
O alimento a vida, Rocha eterna da salvação
Seu amor me atraiu, deu-me paz e alegria
Eu já fiz minha escolha: Sou de Jesus
Decidi testemunhar mesmo em forte provação
Rejeitando pela fé o pecado e seu sabor
No caminho de Jesus estarei sempre seguro
E assim, eu prossigo rumo ao Céu.

E ainda há músicas que não apresentam elementos missiológicos, como verbos proclamatórios (pregar, anunciar, falar, testemunhar), mas como mescla elementos de salvação (perdão, amor, cruz, sangue) e volta de Jesus (céu, lar, glória) foram classificadas nessa categoria. Como é o caso da música Sou feliz com Jesus (1996) e Rocha eterna (1999) citadas abaixo respectivamente.

Jesus meu Senhor ao morrer sobre a cruz
Livrou-me da culpa e do mal
Salvou-me Jesus, Oh mercê sem igual!
Sou feliz e hoje vivo na luz
A vinda eu anseio do meu Salvador
Em breve virá me buscar
Então lá no céu vou pra sempre morar
Com remidos, na luz do Senhor

Nem trabalho nem penar pode alguém aqui salvar
Mas só tu meu bom Jesus, pode dar-me vida e luz
Peço-te perdão Senhor pois confio em Teu amor
Eis que vem a morte atrás, desta vida tão fulgaz
Quando ao lar do céu subir e teu rosto em glória vir
Rocha eterna que prazer eu terei de em Ti viver

c. Soteriológica – existencial

As poesias classificadas nessa categoria falam da salvação e libertação. Ao contrário da categoria acima, as músicas classificadas como soteriológica-existencial enfatiza a libertação ocorrendo “agora”, descreve o prazer da vida no mundo presente e no encontro com Deus hoje. Nessas músicas as emoções e estado de espírito é que regem a busca do homem a Deus. Os códigos-palavras estão no presente. Adjetivos e substantivos com conotação emotiva (alegria, braços, abraço, encontro, euforia) recheiam as letras dessas músicas. E o aspecto racional da fé é descartado.

Mostradas respectivamente abaixo, pode-se notar que na música A única saída (1996) a emotividade é que motiva o crente a buscar Jesus, e em Sempre confiante (2006) a razão e o futuro é considerado como sem valor num relacionamento com a divindade.

Os problemas e as tristezas não vão mais te dominar
Muita paz e segurança em Jesus tu vais achar
Pela estrada deste mundo Ele vai te esperar
E ao mostrar-te a saída vai sorrir e te abraçar

O que vai no futuro eu não sei
O caminho que vou passar
Mas sei que Ele sempre vai me guiar
E sei que seguro estarei

Nos códigos de frase dessa categoria é comum a presença de frases imperativas, pedindo para que o divino habite o corpo num encontro com o homem. A música Tempo de refrigério (1999) mostra esses elementos.

Vem refrigera-me em Tua presença
Não há maior benção do que andar contigo
Minh´alma restaura, renova minha vida
Estar em Tua graça é mais que euforia

Mas é bom lembrar que as mensagens da poesia das músicas adventistas não vão ter uma desescatologia tão forte como o existencialismo-materialista sugere. Inclusive algumas poesias classificadas como existencial até possuem elementos escatológicos. Mas como a ênfase é no presente encontro com Deus, ela entra nessa categoria, como é o caso de Nos braços de Jesus (1996).

Hoje aqui meu Jesus me tomou em Seus braços
E senti o calor do Espírito Santo
Vou em paz pois o meu Deus ao meu lado vai ficar
E em breve Sua face eu verei, lá no céu (2x)

d. Outras

Litúrgica – poesias com ênfase na adoração a Deus e agradecimento pela salvação recebida. Códigos-palavras como louvor, cantar, gratidão, são muito usadas. Na esfera temática há também um sentido de entrega, como no culto de Israel quando a dedicação fazia parte da liturgia no templo com agradecimentos e louvores. Unidos em Cristo (1995) é uma dessas músicas.

Santo é o nome do Senhor,
Ele é digno de todo o louvor.
Em adoração erguemos nossas mãos.
E unidos em Cristo,
Juntos em Cristo,
Damos glória ao nome do Senhor. (3x)

Fraternal – enfatiza a amizade. Os códigos-palavras giram em torno de sentimentos e relacionamento de amigos como saudade, abraço e aperto de mão. Elas podem ser relacionadas com o conceito existencialista pois muitas vezes as poesias retratam a interação do homem com Deus na base do relacionamento eu-amigo, o que lembra a teologia existencialista do encontro de Martin Buber. Exemplos dessa categoria são as músicas Momentos (2001) e Despedida (2000), respectivamente citadas em parte abaixo.

Momentos felizes passamos, momentos tão lindos não dá pra esquecer
Momentos que em paz conversamos e juntos cantamos com todo prazer
Momentos de amor e alegria, momentos de muita emoção
Momentos que compartilhamos e agora lembramos da nossa canção!

A saudade é grande antes mesmo de partir
Tantos sentimentos, é difícil resistir
Lágrimas e abraços nos ajudam compreender
Como vai ser bom com Cristo ali viver

2.3 Dados e Conclusões Parciais

Após a pré-análise os números encontrados foram: 21 (16,5%) músicas com ênfase escatológica, 34 (26,5%) com ênfase soteriológica-missiológica, 41 (32%) enfatizando elementos soteriológico-existenciais, 23 (18%) classificadas como litúrgicas e nove (7%) fraternais, totalizando 128 músicas.

As músicas classificadas como existenciais somam quase 50% a mais que o número das músicas da categoria escatológica (ver gráfico 1). E lembrando que os conceitos existenciais do encontro e do presente são enfatizados na categoria fraternal, pode-se facilmente agregar as músicas fraternais para uma melhor dicotomia entre músicas que enfatizam o existencialismo-desescatológico e o essencialismoescatológico.

Juntas, fraternais e soteriológicas-existenciais (50 músicas), elas resultam em 39% do total das músicas produzidas de 1995 a 2007. Quando somados ainda as músicas soteriológicas-missiológicas que possuem também um aspecto presente e existencial, o número sobe para 84 contra 21 que enfatiza a volta de Jesus. Isso seria quatro vezes mais. Todas essas análises são superficiais como a pré-análise que Bardin propõe. E essa primeira análise serve para apontar tendências iniciais para a análise posterior.

Gráfico 1 – Número total das músicas classificadas na pré-análise

Gráfico 2 – Número da categoria escatológica e curva de progressão anual

Gráfico 3 – Número da categoria existencial e curva de progressão anual

Outro dado relevante para a problemática levantada sobre qual filosofia é enfatizada nos cânticos jovens adventistas, é sua progressão (ver Gráfico 2 e 3). De forma geral podem ser percebidas duas curvas de tendências, uma curva ascendente das músicas classificadas como existenciais-soteriológicas e outra descendente das escatológicas. Principalmente do ano 2000 até 2007 essas curvas são mais notáveis. Justamente nesse período surgem as músicas fraternais que mantém uma freqüência nos anos subseqüentes enquanto que por três anos (2002, 2003 e 2006) canções escatológicas não aparecem.

Após essa pré-análise e a determinação dos codificadores foram feitos alguns recortes e analisadas todas as músicas mais detalhada e profundamente. Essa análise mais detida alterou um pouco os dados iniciais, porém não fugiram muito das conclusões iniciais da pré-análise conforme previsto por Bardin (1977, p.96).

2.3.1 Músicas temas

O primeiro recorte realizado foi o das músicas temas, porque elas tendem a comunicar a mensagem central do CD Jovem. A escolha segue o padrão de representatividade, homogeneidade e pertinência (BARDIN, 1977. p.97,98).

Nesse recorte, sendo uma música tema por CD, o total delas são 12, pois a música do ano de 1995 é repetida em 1996. Elas foram classificadas em três escatológicas, sete soteriológicas-missiológicas e duas soteriológicas-existenciais. Temos assim um aumento no número da categoria escatológica, comparado com o número da pré-análise, totalizando 25% agora e 16,5% anteriormente. E outra mudança significativa foi o aumento de poesias classificadas como soteriológicas (existenciais e missiológicas) de 58,5% na pré-análise para 75% nessa delimitação.

Nessa nova análise há um predomínio de mensagens soteriológicasmissiológicas (58,5%), com um aumento significativo comparado com os números da pré-análise (26,5%). Mas se colocarmos apenas escatológicas e existenciais juntas, elas estão em aparente igualdade, três e duas músicas respectivamente. Isso pode sugerir uma negação à problemática levantada no início do trabalho.

Visto que duas categorias (fraternal e litúrgica) não apareceram nessa delimitação, e a notável discrepância dos números comparados a pré-análise, deve-se questionar se essa delimitação é confiável. Mesmo assim, um dado alcançado com essa delimitação é relevante à problemática levantada. Em nenhum momento nessa delimitação das músicas temas as poesias com ênfase escatológica sobressaem muito às com poesias classificadas como existências, o que pode sugerir a confirmação da hipótese levantada. Mesmo assim, até essa etapa nenhuma conclusão definitiva pôde ser alcançada.

2.3.2 Últimos oito anos

Outro recorte feito foi de 2000 em diante pois, foi justamente nesse ano que as cinco categorias apareceram juntas pela primeira vez (ver Gráfico 4) e é a partir daqui que se podem ver curvas que sugerem uma confirmação da hipótese do trabalho.

Após a análise das 83 músicas do ano 2000 a 2007 nota-se que as músicas consideradas escatológicas (15,5%) são metade das classificadas como existenciais (38,5%). As conceituadas como missiológicas (19,5%), litúrgicas (17%) e fraternais (9,5%) completam o quadro. Um dado relevante é que considerando os números de cada CD separadamente, vemos que cinco dos oito CDs predominam músicas com ênfase existencial. E que por três vezes há CDs que não possuem músicas classificadas como escatológicas (2002, 2003 e 2006) enquanto que a categoria existencial está presente em todos os anos e a fraternal só está ausente em um ano (2002).

Outro dado importante é que em quatro dos oito CDs a presença de músicas classificadas como existencial é quase metade das músicas do CD, com cinco ou seis músicas de nove ou 10 no total. Visto que o CD tem sua “validade” e impacto anual, a sua influência é ainda maior nessa perspectiva.

2.3.3 Todas as músicas

Após uma análise completa de todas as músicas os dados são os seguintes:

Gráfico 4 – Todas as músicas analisadas distribuídas por ano

Gráfico 5 – Todas as músicas classificadas por categoria em progressão anual

Escatológica

Soteriológica – missiológica

Soteriológica-existencial

Litúrgica

Fraternal

Gráfico 6 – Porcentagem das músicas da pré-análise (esq.) e da análise detalhada

Os números mudaram pouco após a análise mais detalhada, o que demonstra que a amostra é fiel. Essas mudanças são normais visto que a pré-análise é apenas uma pesquisa mais superficial para elaborar as categorias. As mudanças percebidas nessa amostra é um aumento das poesias musicais classificadas como existenciais e uma diminuição da categoria escatológica, o que confirma a hipótese.

As poesias classificadas escatológicas diminuíram de 21 para 18 enquanto que as classificadas existenciais subiram de 41 para 45. Isso porque a categoria soteriológica possui as duas vertentes em sua mensagem, elementos escatológicos (missiológicos) e elementos existenciais, como detalhada acima. No decorrer da análise algumas mudaram da categoria escatológica da pré-análise para categoria missiológica e outras antes consideradas dessa categoria foram classificadas como existenciais.

Essa mudança aconteceu pelo critério de predominância dos elementos descrito por Bardin que na pré-análise não foi detectada. Houve também a passagem de uma fraternal para existencial, o que é comum, visto a semelhança de seus componentes temáticos. Esses números, posteriores a pré-análise, são mais fiéis e revelam algumas coisas relevantes à hipótese levantada.

As poesias classificadas como existenciais são mais que o dobro das encontradas na categoria escatológica e somam mais de um terço de toda produção musical (ver Gráfico 6 – direita). Se somarmos a essa categoria as poesias classificadas como fraternais, que possuem semelhança de conteúdo com as classificadas existenciais, elas seriam 41%. Isso resultaria em quase quatro músicas por ano num CD que tem uma média de dez músicas por ano. Considerando que seis dos 13 CDs analisados possuem mais músicas existenciais, a influência da filosofia existencial no CD Jovem pode ser notada.

Outra informação que vai de acordo com o dado anterior é que as poesias classificadas como fraternais surgem em 2000. E levando em conta o aumento de músicas existenciais desde 2000 e o declínio das músicas escatológicas nesse mesmo período, pode-se afirmar que a influência existencial é sutil, mas presente (ver Gráfico 4 e 5).

Isso pode ser notado quando se percebe que em quatro CDs as músicas escatológicas estão ausentes (1996, 2002, 2003 e 2006) enquanto que as existenciais somente não estão presentes no primeiro CD em 1995. Outro dado importante é a ênfase que as poesias musicais classificadas como soteriológicas-missiológicas demonstram. Visto que essa categoria é um misto entre o contraste presente- futuro e emoção-razão, sua ênfase pode aumentar o destaque existencial ou balancear com uma ênfase mais escatológica. Das 34 músicas classificadas como missiológicas, 24 enfatizam a volta de Jesus e o futuro enquanto que dez focam mais o presente. Esse último número pode equilibrar a balança entre existencialismo-desescatológico e essencialismo-escatológico no CD Jovem.

Outra perspectiva que foi considerada é se as músicas fraternais tinham elementos escatológicos em suas músicas. Das oito músicas com ênfase na amizade, apenas uma possui elementos suficiente para ter uma tendência mais escatologia que existencial.

Assim, se classificarmos de forma mais geral todas as músicas somente na ênfase escatológica e existencial teremos 43 escatológicas (considerando a fraternal com elementos escatológicos) e 62 existenciais. As litúrgicas não entram nessa classificação por ser de caráter bem distinto. Assim, com base nesse último número, aproximadamente 48,5% do total de músicas seriam de ênfase existencial enquanto que aproximadamente 33,5% apresentariam uma ênfase escatológica em sua poesia. Se excluirmos as músicas consideradas litúrgicas do número total dessa porcentagem, esse número saltaria para 59% delas com conteúdo mais existencial contra 41% de conteúdo mais escatológico.

Seja qual for o cálculo ou o recorte, as músicas que possuem poesias classificadas como existencial-desescatológico estão sempre em maioria no CD Jovem. Isso está de acordo a hipótese levantada no início do trabalho e com o historiador adventista do sétimo dia Alberto R. Timm que afirma que desde a década de 70 o adventismo tem enfrentado uma influência pós-moderna na sua mensagem, principalmente em sua escatologia (TIMM, 2004. 290; TIMM, 2007. p.11).


Fonte: Revista Kerigma – Ano 5 – nº 1 – 1º Semestre de 2009, pp.97-98.


Rodrigo de Galiza Barbosa é Bacharel em Teologia pelo Unasp, Campus Engenheiro Coelho, SP

O presente material é um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado em dezembro de 2008.

Orientador: Vanderlei Dorneles, Ms.


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