por: Calvin M. Johansson
Como a Música Pop Entrou na Igreja
Calvin M. Johansson é Professor na Faculdade de Música no Evangel College em Springfield, Missouri. Ele obteve seu mestrado em Música Sacra pelo Seminário Teológico da União e seu doutorado em Artes Musicais pelo Seminário Teológico Batista do Sudoeste. Conferencista famoso, ele é autor de numerosos artigos e de dois livros: Music and Ministry: A Biblical Counterpoint, e Discipling Music Ministry: Twenty-first Century Directions. Ambos os livros são amplamente utilizados por universidades e cursos em seminários de música e adoração na igreja. Seu ministério congregacional como diretor de música e organista se estende por um período de mais de quarenta cinco anos. |
É notável que um livro como este ainda seja considerado importante o suficiente para ser publicado neste momento da história. Cinqüenta anos depois do advento do rock ‘n’roll, questionar a validade do rock é considerado decididamente fora de moda, até mesmo ingênuo. O rock, um instrumento da mais alta importância na revolução dos valores mais reverenciados pela sociedade americana, é agora um fato estabelecido e aceito – uma parte principal do cenário musical nacional. Tire o rock e os gêneros a ele relacionados e nos sobrará pouca atividade musical. Ele não é apenas a música mais popular nos Estados Unidos; é a música mais popular no mundo. Pode-se ouvir os sons inconfundíveis da sua mistura estridente de ingredientes em qualquer lugar.
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Objetivos Deste Capítulo. Este capítulo está dividido em duas partes. A primeira examina alguns dos fatores que contribuíram para a aceitação gradual da música popular na igreja cristã. É dada atenção às críticas evangélicas inadequadas da música rock e da influencia da cultura secular sobre a igreja.
A segunda parte do capítulo considera algumas das características da cosmovisão da sociedade, as quais tem favorecido o desenvolvimento da música rock. É dada consideração ao materialismo, amoralismo, hedonismo e relativismo. Estas ideologias populares, que brotam do movimento naturalista do século XVII, promoveram um clima que conduziu à aceitação da música rock. O rock, por sua vez, promoveu a desintegração dos valores judaico-cristãos.
Parte 1
Como a Música Popular Entrou na Igreja
Nos anos 50 e 60, quando o rock estava apenas emergindo, era comum para os pregadores, bem como os críticos sociais, depreciarem esta forma. Músicos respeitados do tipo “clássico” se afastaram dela e os programas de educação musical a ignoraram. Advertências sombrias eram proferidas sobre as conseqüências do rock. “O rock apodrecerá as mentes da nossa juventude”, nos diziam. Lamentavelmente, estes profetas terminaram por estar certos, de modos mais complexos e intrincados do que podiam imaginar.
Primeiras Críticas ao Rock. Naqueles primeiros anos, era um modismo para os pastores e evangelistas gastarem tempo e energia nos males do rock ‘n’ roll. Como estudante da faculdade, lembro-me de como David Wilkerson, destacado fundador do Teen Challenge, saiu no meio de uma reunião de suas cruzadas evangelísticas para ir trás de um baterista de rock, filho de um dos membros da igreja local, que estava tocando em uma apresentação em um bar local durante o horário do culto. A congregação compartilhava da preocupação de Wilkerson e permaneceu em atitude de oração e meditação enquanto Wilkerson tratava com o jovem. Qualdo Wilkerson retornou, porém, ele veio sem o rapaz. Ele relatou: “Nunca vi um rapaz com tamanha convicção.” Wilkerson (e muitos outros como ele) consideravam o rock como uma séria ameaça à saúde espiritual.
Na verdade, as instituições religiosas evangélicas levaram o rock tão a sério naqueles primeiros anos que ministérios especiais se levantaram para fazer frente à sua popularidade e influência crescentes. Um dos primeiros panfletos
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anti-rock publicados foi o do próprio David Wilkerson, The Devil’s Heartbeat: Rock and Roll! 1 Ele listou no panfleto 16 pecados atribuídos à música rock.
Outros evangelistas como Bob Larson, um músico de rock convertido, os Irmãos Peters ou Craig e Mary Harrington estavam ensinando e pregando energicamente o cuidado com respeito a esta nova forma musical. Seminários, reuniões especiais e cruzadas se multiplicaram, enquanto pregadores em todos os lugares se uniram contra a nova forma.
As Críticas Falham. Infelizmente, a mensagem dos reformadores tinha uma falha fatal, que acabou sendo sua ruína. A ênfase tendia a ser no sentido de examinar os textos e dissecar as capas dos discos (grafismo). Eles criticavam o estilo de vida dos músicos de rock; as drogas; o sexo ilícito e pornográfico natural ao cenário do rock, a ênfase no satanismo, feitiçaria e cultos; as mensagens subliminares; mensagens ao contrário; danças de casais; e as práticas vulgares e sugestivas de execução. Em outras palavras, eles criticavam tudo, exceto a música em si! Além de mencionar a “batida” e uma leve preocupação com a instrumentação, a música foi essencialmente ignorada.
Os cristãos evitaram criticar a música do rock por várias razões: sua falta de familiaridade com os princípios estéticos; falta de conhecimento da gramática musical; indiferença ou absoluta aversão à música “clássica”; a criação e, portanto, familiaridade com ele, do gênero de música popular da primeira parte do século 20; falha em confrontar de forma decisiva o apelo da música rock aos jovens cristãos; relutância em pagar o preço de uma estética musical completamente bíblica; e/ou falta de habilidade para aplicar os princípios escriturísticos à música.
Além disso, críticos do rock religioso sabiam intuitivamente que, se eles denegrissem a música em si, a maior parte da sua própria música também deveria ser eliminada. Lembro-me vividamente como fiquei chocado com a dicotomia entre o sentimento anti-rock e o cântico pró-rock em um culto dirigido por um evangelista muito conhecido. Como poderia ser isto? A resposta jaz na compreensão da natureza da música.
Como havia a crença de que a música trazia poucas conseqüências e era praticamente incapaz de ressaltar o conteúdo da intenção, só era preciso analisar o texto, o estilo de vida dos músicos, ou suas práticas no palco, por exemplo, para se assegurar que ela era apropriada. A música em si podia então ser de qualquer estilo, desde que as palavras fossem apropriadas. Muitos críticos bem intencionados caíram nesta armadilha. Eles com freqüência terminavam suas lamentações com exemplos de rock “bom”, com letra cristã. No mais, eram similares ou, pelo menos, fortemente influenciados, pela música rock à qual estavam se opondo.
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Um gênero popular completamente novo surgiu de uma necessidade de rejeitar o conteúdo textual que era contra a fé, enquanto mantinha a forma musical – uma abordagem à questão do tipo ficar-com-o-bolo-e-comer-o-bolo-ao-mesmo-tempo. Logo, a inundação por atacado da música rock, tanto “cristã” quanto também não-cristã, começou a sua conquista inexorável da adoração cristã, conforme os jovens dos anos 60,70 e 80 começavam e assumir o poder.
Críticas Inconsistentes. Além disso, líderes cristãos confusos têm vacilado em suas posturas anti-rock. De uma posição inicialmente oposta ao rock, Wilkerson se retratou, depois de reconhecer que ele estava realmente usando “soft rock”em suas próprias reuniões. Em sua nova lista de regras, a quarta regra dizia: “É anti-bíblico criticar o gosto musical de outra pessoa.” 2 Tudo o que havia ensinado e pregado anteriormente, ele agora revogava. O rock era uma música aceitável porque estava além da crítica. Os indivíduos, musicalmente autônomos e com sua própria noção, estavam livres para fazer como quisessem.
Surpreendentemente, três anos mais tarde, Wilkerson se retratou novamente: “Perturbo-me quando ouço pais e ministros dizerem, ‘Não julgue.’ Digo que seria melhor se eles obedecessem a Palavra de Deus e fizessem um julgamento justo, antes que percam seus filhos para as seduções desta época. Pais estão agora confortáveis e indiferentes a respeito da música que seus filhos ouvem. Eles dizem, ‘Bem, cada geração teu seu estilo de música próprio. Não gostamos disso, mas parece que as crianças gostam. E eles estão cantando sobre Jesus, então deve estar tudo bem.’ Que incrível cegueira espiritual! Se a música dos demônios leva as crianças à frente para tomarem uma decisão, ela é aceitável. Como isto é perigoso. Uma das razões pelas quais o Espírito de Deus foi retirado do Movimento Jesus da última década, foi a sua recusa em abandonar suas antigas músicas. Eles abriram mão da maconha, heroína, álcool, sexo promíscuo e até mesmo de estilos de vida pervertidos. Mas se recusaram a abandonar seu amado rock” 3
A inconsistência de Wilkerson é um bom argumento nas mãos dos entusiastas do rock. Diferenças entre as pessoas são uma coisa. Mas quando um evangelista respeitado não consegue se decidir, então talvez tudo isso seja apenas uma questão de opinião. Se os ensinamentos de um líder religioso vão de um lado para outro e depois voltam, a credibilidade e a confiança se perdem. A desconsideração se abate sobre todo o campo dos julgamentos bíblico-musicais. Não é de surpreender que os relativistas clamem a vitória.
Determinação Declinante. Ainda mais comuns são os cristãos que resistiram inicialmente às incursões do rock na igreja, mas que gradualmente abandonaram
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as suas reservas. Conforme passam os anos, o cansaço da batalha cobra seu preço. A atitude da cultura em geral em direção à aceitação e promulgação do rock como a norma musical de nosso tempo tem convencido todos, exceto os críticos mais ardentes, que o rock veio para ficar. “Se não pode vence-los, junte-se a eles” tornou-se a postura comum.
É claro, esta tendência a um abrandamento na direção da maioria não está limitada à música. Por exemplo, a postura radical de Jerry Falwell com respeito à homossexualidade está sendo abrandada. A pressão para legitimar o homossexualismo como sendo apenas um estilo de vida alternativo parece ter alterado a abordagem de Falwell.
Em uma atmosfera saturada de rock cristão, Falwell, na hora da capela da Universidade Liberty recentemente explicou sua nova visão com uma linguagem que a revista Time relatou como sendo “meio estranha. ‘Podemos ter amizade com homossexuais,’ ele diz. ‘Vocês precisam aprender que … se devemos ter um testemunho cristão real aos milhões de pessoas gays e lésbicas, temos que usar cuidadosamente a nossa linguagem.” E assim ele fez, usando o termo politicamente correto “gay”, em vez da linguagem mais rude utilizada anteriormente. Ele se desculpou por sua atitude anterior diante de “200 pessoas gays de fé” em uma reunião com a Soulforce, um grupo ecumênico homossexual dirigido pelo Rev. Mel White, um ativista homossexual. 4
Sem dúvida, Falwell não alterou suas crenças básicas. Mas a sua nova retórica é uma indicação do tremendo poder exercido pela cultura. O melhor exemplo de determinação declinante dos líderes religiosos com relação ao rock e à música influenciada pelo rock, também é o menos notado, porque as mudanças amplamente aceitas ocorrem lentamente. Espalhando-se por décadas, o movimento ocorre de uma forma evolucionária. As alterações na música da igreja não são diferentes.
A vasta maioria dos jovens que freqüentam a igreja conhece pouco da transformação tumultuosa causada pela revolução do rock. Questionarmos uma parte tão normal da estética da vida diária é chocante. Como os jovens cresceram com o rock, ele é normal. As pessoas mais velhas, bombardeadas como são pelos sons estridentes vindos de todas as direções, acabaram se acostumando ao barulho. Suas sensibilidades estéticas se embruteceram e o assunto como um todo se enfraqueceu. “Qual era toda aquela confusão há anos atrás?” eles se perguntam.
Tendência Evangélica à Acomodação Musical. Existe uma outra importante razão para a eventual aceitação do rock pelos evangélicos. A igreja evangélica do século vinte sempre usou formas musicais
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populares. A familiaridade fácil dos evangélicos com as formas populares tornou a eventual aceitação do rock uma conclusão quase inevitável. A surpresa é que tenha levado tanto tempo.
Enquanto muitas igrejas estão engajadas atualmente em incorporar as músicas religiosas populares mais recentes em seus cultos de adoração, tal fenômeno é relativamente recente para denominações como a Presbiteriana, Metodista, Luterana e Episcopal. Mas as denominações mais agressivamente evangelísticas tais como Batista, Pentecostais, e a Aliança Cristã e Missionária, adotaram uma abordagem pragmática desde a sua fundação. Eles usaram qualquer coisa da cultura que pudesse dar o resultado desejado.
Conseqüentemente, as denominações evangélicas moldaram a sua música pelas formas musicais seculares, da moda, populares à cultura da época. As canções gospel são um dos exemplos mais importantes. Tomando indicações das canções de Stephen Foster, melodias de acampamento, canções da Associação Cristã de Moços, e outras semelhantes, elas incorporavam muitos idiomas musicais populares e qualidades de Tin Pan Alley e Hollywood. O desenvolvimento desta música foi equivalente ao desenvolvimento da indústria da música popular.
Milhares e milhares destas canções religiosas foram escritas, para sermos precisos, como correspondentes religiosos das formas populares seculares do momento. Com seu bater de pés, e uma atmosfera cativante, as pessoas gostavam de canta-las. Os textos eram diretos, falavam de experiências (enfatizando a primeira pessoa), e eram geralmente limitados a temas da salvação. Esta forma criou, de uma forma inteligente, uma ponte entre a música ligeira e os temas textuais pesados.
Se houvéssemos reconhecido mais cedo o que são as canções gospel e lidado com elas de acordo, a igreja evangélica poderia ser agora um pouco mais sábia com relação aos atuais assaltos da música popular. Donald Hustad notou, “Eu tinha uma tendência a sentir que a firme acusação das canções gospel feitas por meu amigo Calvin Johansson eram exageradas…. Mas neste caso, a acusação de Calvin era profética. O gênio deja vu que saiu da garrafa – o gênio da música popular religiosa comercial propagada pelas execuções e pela mídia de entretenimento moderna – tornou-se um dragão que poderia desafiar São Jorge. É possível que a igreja possa agora finalmente quebrar seus laços com a música secular, e especialmente com os negócios imitadores da religião (rádio, TV, concertos, discos, vídeos, publicações) por todas as razões que Johansson deu – especialmente estas três: (1) por causa da natureza excessivamente primitiva da música popular moderna, que se tornou um ícone cultural tão forte que não pode servir a outro senhor (Deus); (2) porque copiar os estilos que estão sempre se alterando do pop contemporâneo (do
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country ao rock, do rap ao reggae), tanto sugerem quanto asseguram que a única identidade da igreja seja a dos ávidos por novidades; e (3) porque tal cópia só pode continuar a encorajar a divisão da igreja ao longo das linhas divisórias das gerações.” 5
O Rock Influencia a Igreja Pop. As denominações que adotaram a filosofia pragmática popular do movimento das canções gospel estavam prontas para aceitar o corolário da revolução da música rock quase que por osmose. Afinadas como estavam com os desenvolvimentos da cultura pop, não levou virtualmente tempo algum para que alguém fizesse a pergunta inevitável:
“Por que não falar aos jovens acerca de Jesus em sua própria linguagem e com o som de sua própria música?” 6
A questão que havia impulsionado a música religiosa cristã popular por mais de 50 anos estava sendo invocada novamente. Em centenas de igrejas por todo o país, a música que havia tomado a imaginação da população mais jovem estava pronta para dar o salto do concerto de rock, do bar e do clube para o altar.
A despeito de todo o tempo, dinheiro e esforço gasto para combatê-la, a música rock varreu todas as objeções. Desconsiderando o que era dito ou feito, nenhuma pregação, nem fogueiras de discos comandadas por zelotes poderiam manter longe este suposto mal de forma eficaz. Críticas evangélicas inconsistentes, uma erosão contínua e demorada da determinação e uma filosofia evangélica pragmática contribuíram para a aceitação do rock como a base da nova música pop para a igreja.
De modo interessante, embora as denominações liberais não tivessem problemas particulares com a aceitação do pop na vida diária secular, elas fizeram todos os esforços para manter os padrões musicais históricos na adoração. Na maior parte delas as formas populares, particularmente o rock, nem sequer estavam em questão. Mas quando o papel dos membros começou a declinar e adoradores jovens que haviam crescido com o rock de tornaram mais influentes, o pragmatismo da sobrevivência e do agradar ao gosto, sugeriram uma revisão.
Com indicações de um movimento de crescimento mais amplo das igrejas, as igrejas liberais, com o passar do tempo, começaram a adotar as formas musicais usadas pelos evangélicos. Para os católicos romanos, o evento que foi a comporta que permitiu a admissão da música popular na liturgia foi o segundo Concílio do Vaticano (1962-1965). Mais de 1500 anos de tradição musical foram colocados de lado, enquanto as guitarras apareceram como que por mágica para acompanhar a versão pop católica da música evangélica de Jesus.
A igreja estava mal preparada para lidar com esta incursão da música popular por duas razões. Primeiro, muitas igrejas não tinham uma compreensão clara
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do que significa “estar no mundo mas não ser do mundo”, musicalmente falando. Além disso a mentalidade de peregrino, necessária para manter tal postura, está fora de moda.
Pensar na igreja como o Corpo de Cristo, o qual ministra no e para o mundo, sem ser corrompido ou impropriamente influenciado por ele é um conceito estranho àqueles que tem a “acomodação” como seu modus operandi – uma posição tentadora em um mundo que está mudando a passos quase exponenciais e em um mundo que passou a tratar a mudança não apenas como um fato da vida, mas como uma forma de vida. A tradição se torna um inimigo (exceto quanto a nostalgia é um fator importante).
A segunda razão pela qual a igreja estava despreparada para lidar com a revolução do rock foi sua compreensão errada do poder da cultura.
O Poder da Cultura. Antropólogos definem a cultura como a soma total de tudo o que há para saber sobre um povo: suas práticas, compreensão, e símbolos; sua comida, roupas de banho, educação, famílias, religião, música, adornos de cabelo, rituais fúnebres, trabalho, guerras, tatuagens, moralidade, instrumentos e linguagem. A vida não é apenas vivida em uma cultura. A vida é a cultura. Cultura é o ambiente no qual uma criança nasce e é criada, o estado gregário no qual a vida é vivida. Ninguém escapa da cultura, porque todos são parte dela.
O poder esmagador que a cultura exerce sobre um indivíduo ou uma estrutura social não é geralmente compreendido, pelo menos em toda sua extensão. Em vez das pessoas possuíram cultura, é a cultura que as possui. Nos imaginamos como livres e independentes, e ainda assim somos limitados por leis, costumes e todo o resto.
Mesmo os Amish (N.T. – comunidades ultra-conservadoras que vivem isoladas na área rural dos EUA), que propositalmente se isolam da cultura geral, não podem escapar dela inteiramente. Imposto de renda, ferramentas forjadas em fábricas modernas, carros que rodam sobre os últimos compostos de borracha sobre estradas feitas por modernos equipamentos de terraplanagem, escolas públicas e lojas, tudo isto atesta a dificuldade de escapar de seu ambiente. Não é uma distorção dizer que somos prisioneiros da cultura. Não importa quanto possamos fantasiar a respeito de sermos livres, este sonho é ilusório, na sua maior parte.
Existem certas áreas da vida nas quais podem ser tomadas decisões que sejam contrárias ao contexto cultural prevalecente. Algumas dessas decisões são óbvias. Os cristãos crêem que têm uma obrigação de guardar os Dez Mandamentos, por exemplo, embora a cultura geral os tenha rejeitado em grande parte. Mesmo aqui, contudo, a influência da cultura é tão
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forte que os cristãos não estão imunes à habilidade da cultura para redefinir sutilmente o centro moral do crente mediano.
O poder esmagador da cultura é difícil de discernir porque é formidavelmente difícil de analisar uma cultura estando dentro dela. E ainda assim, é exatamente isso que os cristãos são chamados a fazer. Isto requer um esforço hercúleo, intuição especial e sensibilidade. Tal tarefa será bem sucedida somente até o ponto em que confiarmos na revelação divina.
Quem Controla a Cultura? A questão significativa é “Quem controla a cultura?” Seria ela um empreendimento humano, puramente neutro? É o parque de diversões de Satanás? Ou Deus controla as atividades humanas? A despeito de respostas que podem ser sutilmente elaboradas, as escrituras nos dão amplas evidencias de que, embora Deus esteja no controle final, Ele permitiu que os humanos escolhessem entre o bem e o mal no Jardim.
Tendo escolhido o mal, nossa raça caída tem tendências claras na direção deste mal e permanece sob a influência de Satanás. A reparação da fenda causada pela queda ocorre quando homens e mulheres aceitam a oferta divina da salvação. Porém, ainda assim, o regenerado retém vestígios do Adâmico. Pecado, egoísmo e preguiça ainda operam. O dilema de São Paulo em fazer o que sabe que não deveria e não fazer o que ele sabe que deveria, é a cruz de cada cristão. A perfeição ainda está muito distante.
As Escrituras estão repletas de advertências para estarmos atentos ao sistema do mundo. “Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não vem do Pai, mas sim do mundo.” 7 “O qual se deu a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau, segundo a vontade de nosso Deus e Pai,” 8
“Infiéis, não sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.” 9 Poderíamos continuar indefinidamente. A Palavra de Deus diz que “Deus amou o mundo de tal maneira”, mas isto foi o que O motivou a dar Seu Filho para redimir o mundo caído. A cultura precisa ser vista com maior cuidado.
Uma Cultura Sem Normas? A cultura é impulsionada mais pelos não regenerados do que pelos regenerados, como podemos ver pela análise das normas de nossa sociedade. Nossa nação se desviou tanto dos ideais judaico/cristãos que a nossa cultura Pós-Moderna
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tem sido chamada de “Pós-Cristã”. É um rótulo apropriado. Em cada época os valores cristãos têm sido enfraquecidos e/ou destruídos.
É uma coisa ter um indivíduo como presidente que se comporta de forma imoral e anti-ética. Mas é outra coisa bem diferente notar a aceitação de tal comportamento pela população. A declaração de Will Herberg, feita em 1968, “A cultura de hoje está muito perto de se tornar uma cultura sem moral e sem normas,” 10 deveria ser revista, passando a ser, “A cultura de hoje é, em muitos aspectos, uma cultura sem moral e sem normas.”
Os anos que se passaram nos trouxeram a um ponto onde não se pode mais esperar pelos valores tradicionais. A cimento que sustenta a unidade de nossa cultura se quebrou. A falta de normas se tornou a “norma”. E a música rock é um dos principais instigadores.
Impulsionando ativamente a revolução da revisão dos valores está a cosmovisão básica da sociedade. A igreja é, evidentemente, parte da cultura. Mas também se supõe que ela seja supra-cultural – acima da cultura – falando ao mundo a partir de um ponto de destaque sobrenatural. Se ela é a cultura e está acima da cultura, é absolutamente imperativo que ela monitore continuamente os movimentos mais amplos da cultura, de forma a compara-los com seus próprios padrões e postulados divinos .
Que Valores Impulsionam a Nossa Cultura? A igreja se manifesta com relação a assuntos que claramente, até mesmo descaradamente, são anti-cristãos; ainda se crê que assassinato e flagrante imoralidade sejam errados. Contudo, os pontos que necessitam da mais cuidadosa vigilância são as atitudes e insinuações mais sutis da cultura que sinalizam desvios do centro judaico/cristão.
A questão é: “Qual é a cosmovisão real, funcional, operante, da nossa cultura?” “Quais são os pressupostos que nos fazem as pessoas que somos?” “Como estes pressupostos operam na vida cotidiana da nossa nação?” E, finalmente, “Como esses pressupostos se comparam com aqueles de uma cosmovisão baseada na Bíblia?”
O centro filosófico geral de uma nação define a sua cultura mais do que qualquer outra coisa. Algumas culturas comem com colheres e outras comem com garfos e usam facas para empurrar a comida, mas isto tem uma importância apenas periférica. As questões importantes alteram as coisas básicas da vida. Sistemas de valores que reflitam o pensamento coletivo de um povo devem ser notados e respondidos pela igreja.
Muito embora a cosmovisão de uma nação não seja um conjunto de pressupostos unificados, claramente articulados, sobre os quais todos concordam, a compreensão média,
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a partir da qual a maioria das pessoas age, é suficiente para determinar os pressupostos da cosmovisão que impulsiona uma cultura em particular. Estas características precisam ser compreendidas.
Parte 2
As Características da Cosmovisão da Sociedade
Considerando todas as coisas, a cosmovisão funcional que molda a nossa vida nacional é o naturalismo. No teismo baseado biblicamente, os princípios objetivos ordenados por Deus governam a vida. Estes se originam com Deus e são dados a nós na lei e graça, princípio e exemplo.
Naturalismo. No século XVII, apareceram as primeiras trincas. Pensadores reduziram o status de Deus ao de um senhorio ausente, uma entidade afastada do mundo. Embora teoricamente Ele ainda existisse, tornou-se de pouca importância na vida diária. Conhecido como deismo, a cosmovisão do relojoeiro ausente, Deus (o relojoeiro) criou o mundo, deu corda e o abandonou para que funcionasse por si mesmo.
O conceito de um Deus ausente, não envolvido, levou as pessoas a concluírem que a raça humana está cruelmente sozinha. A proposta de Nietzsche de que Deus estava morto não parecia implausível. Indo além, não seria exagero afirmar que Deus não estava apenas ausente, mas que talvez nunca tivesse existido. Portanto, eis o naturalismo. Não há Deus. A única entidade eterna é a matéria. Os humanos devem extrair o melhor de sua existência fortuita, porque não existe um propósito ou um plano geral para a vida. Os humanos são meros produtos da Mãe Natureza e tem o direito de viver de acordo com os desejos de seus gostos subjetivos.
O naturalismo é hoje a filosofia da cosmovisão dominante que impulsiona a cultura ocidental (assim como as sociedades sob a forte influência ocidental). Tendo surgido no século XVIII, finalmente amadureceu. Abrangendo muitas permutações, incluindo algumas que mudaram o mundo (tais como humanismo secular, marxismo, niilismo, existencialismo e o pensamento Nova Era), o naturalismo parece ter chegado para ficar. “Ele domina as universidades, faculdades e colégios. Provê o arcabouço para a maior parte dos estudos científicos. Cria o contexto contra o qual a humanidade continua a lutar por valores humanos, enquanto escritores, poetas, pintores e artistas em geral estremecem sob suas implicações…. Nenhuma outra cosmovisão rival ainda foi capaz de suplanta-lo.” 11
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Os pressupostos filosóficos do naturalismo afetam significativamente a sociedade. As características gerais que descrevem a nossa vida nacional são o resultado do naturalismo. O âmago das crenças básicas de um povo brota de certos pressupostos centrais. As características sociais são parte de um esquema mais amplo. Alguns podem parecer serem inofensivos; mas sendo parte do naturalismo, são mortais.
Materialismo. O argumento do naturalismo de que apenas a matéria é eterna coloca a prioridade nas coisas. Esta ênfase não é encontrada no teismo. Nossa preocupação em comprar e vender, em conseguir e guardar, é uma glorificação de um pressuposto central do naturalismo que diz, “o que você vê é o que você tem.”
O cosmo é uma realidade; vida após a morte não existe. O significado da vida está conectado àquilo que é sensual. Celebrar o eterno preenchimento da existência com coisas materiais está de acordo com este tema da prioridade pelas posses. Os bens são uma forma de vida.
Amoralismo. Não é surpreendente que o naturalismo englobe uma visão ambígua da moralidade. O naturalismo não é apenas contrário ao conceito da moralidade teista – ele sustenta, em primeiro lugar, que não existe um padrão moral. A moral é essencialmente uma questão pessoal. Se alguém deseja adotar um certo padrão, então está bem para aquele indivíduo. Por outro lado, outra pessoa pode acreditar na falta completa de padrões morais. Uma vez que a moralidade é uma invenção humana, estamos livres para inventar a nossa moral. Crê-se que nenhuma posição seja superior a outra. O naturalismo é moralmente neutro.
O naturalismo tem tido um efeito devastador na compreensão das pessoas do poder da música para influenciar o caráter. A antiga doutrina grega do ethos e a atitude cautelosa da igreja apostólica com relação à música se tornaram inaceitáveis para a sociedade moderna. Despojada de quaisquer pressupostos absolutistas fundamentais, a crença do naturalismo na falta dos conceitos morais de certo e errado afeta todas as disciplinas. Quem poderia argumentar que a música afeta o caráter, quando, em primeiro lugar, não existe essa coisa de caráter? A amoralidade tem tido o efeito de rejeitar séculos de preocupações éticas/musicais.
Não importa que a maioria das crianças e jovens que cometeram crimes hediondos nas últimas duas décadas tenha sido invariavelmente atraída para a música rock. Tal evidência subjetiva não é científica, mas isto não a torna não confiável ou sem importância. A música não pode ser considerada como uma entidade sem um componente moral, mas é exatamente o que o naturalismo infere. 12
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Egoísmo e Hedonismo. O naturalismo não tem qualquer padrão de referencia, exceto o mundo evolucionário impulsionado pelo processo evolutivo ao acaso. Os humanos são prisioneiros de uma senhora a quem não conhecemos, exceto por uma vaga noção de uma conexão a moléculas cósmicas, eternas e impessoais. A vida não tem qualquer propósito ou significado imposto exteriormente por algum ser de uma ordem mais elevada. O indivíduo posiciona o seu centro de existência na única coisa que faz algum sentido.
Dada a orientação mecanicista e ao vazio da ordem naturalista, o eu é tudo o que ele tem. Tornar a vida mais suportável pelo escape de um mundo determinado, de uma seleção natural impessoal, é uma forma de preencher o vazio da existência. Das muitas formas que este escapismo toma, uma forma principal é a busca de prazer.
O entretenimento se tornou um passatempo nacional, com milhões de dólares e milhões de horas gastas em esportes, produções de Hollywood e a “indústria” da música popular. O desejo de agradar a nós mesmos enquanto temos chance é inteiramente consistente com o pressuposto naturalista de que não existe uma vida maior, nenhuma cidade celestial pela qual aspirar ao morrer. Viver pelo momento, em uma atitude escapista, parece ser uma maneira lógica de esquecer os caprichos do passado e as incertezas do futuro.
O Hedonismo sustenta que o prazer é o mais alto bem. Entretenimento e diversão são objetivos louváveis. E por que não? Não existem níveis absolutos de busca no naturalismo. É uma cosmovisão voltada para si mesma. O indivíduo, embora seja determinado de alguma forma, autentica a sua existência ordenando o seu próprio mundo em torno do eu e fazendo isto da forma menos dispendiosa e mais prazerosa.
Relativismo. O naturalismo tem uma visão estreita dos absolutos. Esta cosmovisão, mais do qualquer outra, tem promovido uma das características mais visíveis da época em que vivemos – o relativismo, uma filosofia que evita a autoridade e opta pelo gosto. Desde os anos 50, o relativismo tem tido um papel preponderante nas vidas cotidianas de milhões de pessoas. O naturalismo, nos últimos 50 anos, tem alardeado a superioridade de uma subjetividade relativista absoluta. Seu caso de amor com o subjetivo é uma questão de necessidade e não de escolha. Não tendo para onde ir em busca de padrões e valores absolutos, a invenção subjetiva tornou-se a sua única opção.
De certa forma, o fundamento do naturalismo é o seu maior dilema. Sua insistência em que não existe Deus (e tudo o que isto implica) é central às suas proclamações. Levado à sua conclusão lógica, o naturalismo termina em niilismo,
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uma negação de tudo. Mas a vida como a conhecemos não pode ser vivida de forma niilista. Negarmos coisas como semáforos ou cogumelos venenosos não evita que paguemos um preço caso sejam ignorados. Assim é com o naturalismo. Embora a autoridade final seja desprezada, existem áreas na quais precisamos confiar em especialistas. É melhor deixarmos que um piloto treinado pilote um 747 do que alguém sem formação de piloto. Um cirurgião é mais bem qualificado para operar um dedão do que um encanador. No naturalismo, uma certa transformação camaleônica permite alterações objetivas na aplicação. Porém, na área da estética, a tendência para o subjetivo é claramente inviável. O gosto, puro e simples, é o meio funcional pela qual a seleção musical é feita.
A Influência do Rock na Cultura. Sem dúvida, os pressupostos naturalistas nutriram um clima no qual a música rock floresceu. Materialismo, amoralismo, egoísmo, hedonismo e relativismo apoiaram os sons musicais do rock e a sua filosofia textual. Contudo, seria simplista demais concluirmos que o rock foi meramente um resultado do naturalismo e das cosmovisões extremas subseqüentes. Os relacionamentos entre o rock e os pressupostos de uma cosmovisão são complexos. O rock tanto foi uma causa quanto foi efeito. Ele tinha uma proposta e esta proposta, inculcada nos textos e, mais importante, na sua música, serviu para moldar a cultura à sua própria imagem de cosmovisão. O rock foi usado para fazer avançar o humanismo secular de uma cosmovisão sem Deus e naturalista.
Os músicos do rock tiveram um poder imenso. A música serviu como catalisador para lançar a mais avassaladora revolução popular de sistemas de valores que o mundo ocidental já presenciou desde o tempo de Cristo. As noções tradicionais de moralidade, ética, estética e valores sociais do teísmo judaico/cristão foram virados de pernas para o ar.
Robert Bork nota esta reviravolta nos valores sociais: “Somos agora duas nações. Elas não são, como Disraeli coloca, os ricos e os pobres, ou, como as comissões presidenciais proclamam regularmente, brancos e negros. Em vez disso, temos duas nações culturais. Uma personifica a contracultura dos anos 60, a qual é hoje a cultura dominante…. A outra nação, daqueles que aderem às normas tradicionais e à moralidade, é agora uma cultura dissidente.” 13 Cantores e músicos se tornaram os heróis e ídolos do público alvo, os jovens. Absorvendo os valores contra-culturais através da música à qual ouviam, os jovens trouxeram seu sistema de valores com eles quando se tornaram adultos maduros.
A maior parte da juventude das igrejas evangélicas dos anos 60 estava de acordo com as suspeitas dos pais, pastores e professores com relação ao rock. Isto não
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os impediu de assimilá-lo, porém. Devido ao fato dele ser ouvido em todos os lugares aonde os jovens iam, eles dificilmente podiam evitá-lo. Conforme o tempo passou e o rock se tornou cada vez mais extremo em seu texto e música, todos, inclusive os adultos, foram levados de roldão pela onda. Finalmente, ele foi dado como fato consumado – um fato da vida.
O perigo real do rock não é que ele domine completamente a música de adoração – hip-hop ou punk religioso e heavy metal congregacional. O perigo real é mais sutil. O grande perigo é que a influência insidiosa da música rock sobre a música de adoração cristã e sobre os hábitos diários de audição daqueles que são responsáveis pelo campo da música cristã.
A igreja não está em perigo iminente da sua música vocal assumir as características do acid rock , embora algumas igrejas tenham feito isso. É claro, dezenas de solistas, bandas e conjuntos da MCC são roqueiros completos. Mas para a maior parte, a influência do rock sobre a música congregacional deveria ser a sua maior preocupação.
Rock e o Pop Religioso. Atualmente, o maior dilema da igreja está no campo mais amplo da música de adoração, que tem sido influenciada pela música rock. A música religiosa popular está inundando a igreja como nunca antes. A maior parte desta música não pode ser caracterizada diretamente como rock. Porém, as formulações musicais estão bastante longe do caráter de uma música que supostamente seria o reflexo do evangelho.
Uma olhada mais de perto nesta grande quantidade de música indica que, embora não seja estritamente rock, ela possui muitas das características da música popular. Enquanto bem poucas igrejas tolerariam a incursão do hip-hop na adoração, por exemplo, a maioria está recebendo de bom grado uma música com uma atmosfera decididamente popular. É, portanto, mais útil considerarmos a categoria mais ampla de música popular (que inclui o rock) no Capítulo 10, do que o gênero mais limitado do rock. Analisar as formas populares como um todo nos permitirá cruzarmos as linhas de demarcação das sub-categorias e olharmos o espectro mais amplo do campo da música pop religiosa.
Precisamos considerar a música pop como um gênero, como uma classe e como um estilo. Tal crítica é distintamente fora de moda, tendo esta questão sida supostamente definida a favor do pop há trinta anos atrás. Mas a história tem demonstrado que a acomodação por atacado à cultura altera o evangelho. Quem questionaria a afirmação que uma música mais leve, mais “divertida” por parte dos evangélicos tem acompanhado uma redução simultânea da piedade e da disciplina?
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Obviamente, tal estado de coisas não deve ser atribuído apenas à música. Outros fatores têm contribuído para isto: uma abordagem da fé baseada em se sentir bem, uma cultura de banalização, um relaxamento das restrições morais, o desmantelamento da unidade da família, desconfiança da autoridade, uma erosão na crença na soberania de Deus e assim por diante. Mas, na balança, a música tem tido uma influência desproporcional na vida da igreja.
Vivemos em uma Cultura Pop. Quando as histórias de música do século XX forem escritas, a característica musical mais proeminente a despontar será uma mudança em larga escala da música artística para a música popular. Esta mudança dramática pode ser descrita notando um interesse cada vez menor na música clássica, durante o desenrolar do século. Isto não quer dizer que a música clássica está morta, mas seu futuro é, no mínimo, incerto. Com o passar dos anos, ela poderá ser encontrada apenas como um artigo de museu, caso nosso atual sistema de valores continue.
Associações comunitárias de concertos, comissões de arte e assemelhados foram forçados a programar cada vez mais concertos pop para atrair o público necessário para se manter no negócio. Mesmo as orquestras sinfônicas mais prestigiosas recorreram à adição de atrações populares ou um concerto pop separado, de forma a manter a orquestra financeiramente viável. As sociedades corais, bem como muitos coros de igreja que cantavam um repertório de alto nível diminuíram em número.
Os cantores populares da primeira metade do século mantinham alguma beleza vocal em seu canto (Bing Crosby e Dennis Day, por exemplo [N.T.- No Brasil poderíamos citar Francisco Alves.]), enquanto que a segunda metade do século experimentou sons vocais que se tornaram cada vez mais feios. Máquinas fizeram da venda em massa de discos um império multimilionário. Solistas e grupos pop depois da II Guerra Mundial serviram para revolucionar a vida ocidental de todas as formas. Fazer isso lhes deu, com a ajuda dos estrategistas do marketing comercial, uma posição de força para moldarem o gosto musical. Os currículos das faculdades e universidades refletiram o interesse decrescente, assim como o desaparecimento do professor de piano da vizinhança. Considerando tudo, o século mostrou que a música não pode ser divorciada das características do desenvolvimento da sociedade. Os valores de um povo são demonstrados naquilo que ele canta e toca.
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Notas
1. David Wilkerson, The Devil’s Heartbeat: Rock and Roll! (Philipsburg, PA, n.d.).
2. David Wilkerson, Confessions of a Rock ‘n’ Roll Hater! (Lindale, TX, 1982), P. 3.
3. David Wilkerson, Set The Trumpet to Thy Mouth (Lindale, TX, 1985), pp. 91-92.
4. John Cloud, “An End to the Hatred,” Time (1 de novembro de 1999), p. 62.
5. Donald Hustad, The Merry Go Round Goes Round (artigo não publicado, Hardins-Simmons University Symposium, 1994), pp. 4-5.
6. Pat Boone em Paul Baker, Why Should the Devil Have All the Good Music (Waco, TX, 1979), p. vii.
7. I João 2:15-16.
8. Gálatas 1:4.
9. Tiago 4:4.
10. Will Herberg, “What Is the Moral Crisis of Our Time?” The Intercollegiate Review 2 (Outono de 1986), p. 9.
11. James Sire, The Universe Next Door: A Basic Worldview Catalogue, 3rd ed. (Downers Grove, ILL, 1997), pp. 71-72.
12. Veja William Kilpatrick, Why Johnny Can’t Tell Right from Wrong (New York, 1993), pp. 172-189.
13. Robert H. Bork, “True Conservatism,” The Intercollegiate Review (Spring 1999), p. 6.
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