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O Cristão e a Música Rock – Capítulo 4

por: Samuele Bacchiocchi

A Religião do Rock and Roll

Durante o último meio século a música rock tem exercido um impacto revolucionário em nossa sociedade, moldando o pensamento e o modo de vida especialmente da geração mais jovem. Outros estilos musicais como rag, jazz, e blues vieram e se foram. Após um período relativamente curto de popularidade, gradualmente foram se enfraquecendo, quase ficando no esquecimento. Ao contrário, a ressonância cultural da música rock ainda permanece inabalável. Como notado no capítulo anterior, a música rock passou por um processo facilmente discernível de endurecimento, de um rock simples nos anos cinqüenta, para o metal rock e rap rock nos anos noventa. Novos tipos de música rock estão aparecendo constantemente enquanto os mais velhos ainda são aclamados.

O impacto da música rock está sendo sentido não apenas na sociedade secular, mas também em muitas igrejas cristãs que adotaram formas purificadas de música rock para seus cultos de adoração e em seus esforços evangelísticos. Astros cristãos do rock e seus concertos parecem e soam de forma muito semelhante aos seus correspondentes seculares. Analistas predizem que a música rock veio para ficar e seu impacto na igreja e na sociedade será sentido ainda mais profundamente nos próximos anos. Dizem-nos que “o futuro do rock and roll será mais diverso, e mais excessivo que o presente”. 1

O prospecto de uma demanda crescente contínua por estilos mais excessivos e violentos da música rock, nos dá razão para nos preocuparmos, porque, como vimos nos capítulos 2 e 3, esta música promove, entre outras coisas, uma cosmovisão panteísta/hedonista, uma rejeição aberta à fé e as valores cristãos, perversão sexual, desobediência civil, violência, satanismo, ocultismo, homossexualismo e masoquismo.

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Alguns discordariam desta caracterização da música rock, porque as letras de algumas canções de rock não são imorais ou anti-cristãs. Pelo contrário, elas falam contra toda a forma de injustiça, racismo, ódio, e armas nucleares. Este importante argumento é examinado ao final deste capítulo. Veremos que a presença e mistura de letras boas e más na música rock, pode muito bem representar uma eficaz estratégia satânica de usar boas letras para levar alguns cristãos a aceitarem mais prontamente as más. Se todas as canções de rock só tratassem de sexo, drogas e violências, menos cristãos seriam atraídos por tal música. Mas o fato de que algumas canções de rock enfocam preocupações sociais legítimas facilita a aceitação da música rock como um todo, embora muito dela promova valores e estilos de vida anti-cristãos.

Objetivos deste Capítulo. Este capítulo busca entender as causas responsáveis por esta popularidade duradoura e completa da música rock, pela continuidade da investigação realizada nos capítulos 2 e 3 sobre a cosmovisão da música rock e seu desenvolvimento histórico. Descobrimos que a música rock tira sua inspiração de uma concepção panteísta de Deus como um poder sobrenatural impessoal imanente, que o indivíduo pode experimentar através do ritmo hipnótico da música rock, freqüentemente acompanhado pelas drogas. Esta cosmovisão panteísta promovida pela música rock conduziu, no decorrer do tempo, à rejeição da fé e valores cristãos, e à aceitação, em vez disso, de “um novo tipo de experiência religiosa para os jovens”. 2

Este capítulo analisa mais de perto o rock and roll como uma experiência religiosa, que envolve o uso da música rock, drogas, e a dança para transcender a limitação de tempo e espaço e se ligar com o sobrenatural. A tentativa de se ligar diretamente ao sobrenatural por meio de ritmos repetitivos fortemente estimulantes representa uma compreensão imanente da divindade.

Os estilos musicais não são neutros. São carregados de valores, incorporando crenças profundamente arraigadas acerca da essência da natureza da realidade e do sobrenatural.

O livro que tem sido mais útil para minha compreensão do rock and roll, como um fenômeno religioso, é The Triumph of Vulgarity: Rock Music in the Mirror of Romanticism, de Robert Pattison. Pattison é

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professor de ciências humanas na Universidade de Long Island. Seu livro é altamente erudito e fornece uma análise perceptiva das raízes ideológicas e do impacto social do rock and roll. O livro é citado freqüentemente por autores que lidam com a música rock.

Os resultados deste estudo são muito importantes porque revelam que há mais na música rock que os olhos podem ver. Ao contrário do que muitos cristãos crêem, a música rock não é apenas um outro gênero musical que pode ser purificado para a adoração a Deus e proclamação do Evangelho. Uma análise detalhada do cenário do rock revela que o rock and roll encarna um movimento religioso apóstata do tempo do fim, de rebelião aberta contra Deus e os princípios morais revelados em Sua palavra. Assim, é imperativo que os cristãos entendam as implicações mais abrangentes do fenômeno rock and roll.

Parte 1
A Religião do Rock and Roll

Em seu livro You Say You Want a Revolution, o sociólogo Robert G. Pielke argumenta que o rock and roll pode ser melhor entendido como um movimento religioso que provocou uma transformação religiosa na cultura americana. 3 Pielke escreve: “Todas as revoluções culturais são, no seu âmago, movimentos religiosos, e como tais, são batalhas e conflitos no nível mais profundo de nossa consciência (pessoal e coletiva).” 4

Caracterizar o rock como um movimento religioso pode parecer impróprio porque uma religião pressupõe a adoração de um Ser sobrenatural, transcendente. À primeira vista, dificilmente parece ser este o caso do rock and roll, que é um estilo de música preocupado com interesses mundanos tais como sexo, drogas, violência, rebelião, e questões sociais. Porém, uma análise mais detalhada revela que o rock and roll é mais que música. Envolve uma cosmovisão egocêntrica, um compromisso com um conjunto de crenças, um estilo de vida com seu próprio sistema de moda, linguagem, e valores. Promove uma visão panteísta do sobrenatural, refletida na adoração dos astros de rock como deuses, e no uso da música rock, drogas, e danças para transcender a limitação de tempo e espaço, ligando-se com o infinito.

Uma Experiência do Sobrenatural. Se a religião é definida como uma experiência do sobrenatural, que faz um indivíduo adotar um conjunto de convicções e práticas, então o rock and roll pode ser visto legitimamente como uma religião. Observadores do cenário do rock reconhecem a natureza religiosa dos concertos de rock.

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Referindo-se aos concertos de rock, um repórter de jornal escreveu: “Elas são as cerimônias religiosas de uma era sem religião”. 5 De fato, elas são realmente cerimônias religiosas de uma era panteísta, que reduz Deus a um poder infinito presente em todos os lugares e experimentado através dos rituais do rock.

Em seu livro clássico The Idea of the Holy, Rudolf Otto descreve o objetivo da religião como a apreensão e apreciação do “santo”, que ele define como “mysterium tremendum”, ou seja, a indescritível majestade do sobrenatural. 6

Na presença do sobrenatural, os crentes são inundados por um senso de degradação própria, temor e vazio. De muitas maneiras os fãs do rock têm uma experiência semelhante, especialmente ao assistirem a um concerto de rock. Como sociólogo, Charles Perecer demonstra que, “não requer um exercício de imaginação particularmente difícil comparar este sentimento com o do acólito [o fã] assistindo a um concerto de rock, a síntese da experiência do rock and roll, no qual as sensibilidades são subjugadas pelo poder e exigências da música. Suspeito que não importa se o concerto apresenta os Beatles, Megadeath, ou o New Kids on the Block – estes são apenas representantes das diferentes denominações de rock and roll – a perda do eu na presença de algum agente irresistível seria a mesma”. 7

Poderia se discutir que as intensas sensações experimentadas por aqueles que assistem a um concerto de rock não sejam diferentes das sensações experimentadas por aqueles que assistem a um concerto de música clássica. Este argumento ignora que a música clássica, não envolve, como no rock, “um estilo de vida, um sistema de moda, um conjunto de valores, etc… – somente a música rock preenche o significado do termo ‘religião.'” 8

Pressler argumenta que alguns dos sentimentos característicos na adoração cristã, como temor, humildade diante da majestade divina, atração e apropriação do poder divino, “também descrevem os sentimentos de uma pessoa assistindo a um concerto de rock and roll ou seu equivalente eletrônico. Portanto, parece haver legitimidade no argumento de que, pelo menos emocionalmente, em termos de experimentar o fenômeno, o rock and roll constitui uma religião”. 9

Pressler estende a comparação para a consciência do sobrenatural como experimentado pelos cristãos na igreja e pelos roqueiros nos concertos. Ele escreve: “A experiência do acólito do rock and roll [o fã] nos concertos de rock, envolve a apresentação, pelos sacerdotes, a banda de rock, do conceito do rock and roll, o conceito que descobre os valores, o poder,

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e as paixões revolucionárias da música rock and roll…. Antes do concerto, o mysterium tremendum [o senso do sobrenatural] paira por trás do acólito, como um tipo de presença aguardada que nunca se torna completamente presente. Conforme o concerto ou o CD prossegue, o acólito, e também os apresentadores, são varridos num redemoinho de energia emitido pelo oculto [poder sobrenatural].” 10

Sentimentos em Vez de Razão. Infelizmente a energia liberada pela música rock usa sentimentos em vez de razão. A racionalidade é secundária à emoção. Como a letra da canção “Oh, Me”, da banda de rock “Meat Puppets” explica:

Eu não tenho que pensar,
Eu só tenho que fazer.
Os resultados são sempre perfeitos…
Eu crio infinitamente.

O roqueiro conhece o mundo como um sentimento, e este sentimento é em geral uma experiência panteísta otimista do poder infinito. Os “Beach Boys” expressam este sentimento na canção “Good Vibrations” que fala de “Boas, boas, boas, boas, boas vibrações.” No álbum “Surf’s Up”, os Beach Boys elaboraram o sentimento das boas vibrações: “Sentimentos fluem. Sentimentos vão.”

Na sua canção popular “Love is All Around Us”, os Troggs expressam a doutrina central da religião do rock: “Eu me decido de acordo com o modo como me sinto.” O instinto, e não a razão, é a medida do universo do rock. Retornaremos em breve à experiência panteísta sobrenatural do roqueiro.

O roqueiro age de acordo com suas paixões descontroladas, em vez de agir de acordo com diretrizes morais claras. Encontra-se aqui uma diferença fundamental entre a experiência sobrenatural do cristão e do roqueiro. O encontro do cristão com Deus durante a experiência de adoração resulta em uma maior clareza e reafirmação das diretrizes morais reveladas na Bíblia. Por contraste, a experiência sobrenatural do roqueiro o deixa sem diretrizes morais, apenas com paixões inflamadas para seguir o comportamento excessivo, violento, e imoral de seus astros de rock.

Um Movimento na Direção do Excesso. Não possuindo as diretrizes morais de um Deus transcendente, a religião do rock and roll deu origem ao que Pressler chama de “o movimento na direção do excesso.” O processo de endurecimento que a música rock

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experimentou durante o último meio século, continuará no século XXI. Como Pressler explica, “o futuro do rock and roll será mais diverso, e mais excessivo que o presente. A nudez feminina já é considerada comercialmente em vídeos de música, e tem sido por algum tempo. A violência ficou mais gráfica, mais extensa, e mais gratuita, ao ponto que Blackie Lawless, do WASP, descrever a apresentação no palco, da introdução de uma mulher nua em uma máquina de moer carne, cuja manivela será girada e hambúrguer cru será borrifado sobre a platéia”. 11

O movimento em direção ao excesso promovido pela religião do rock and roll envolverá, no futuro, a experimentação de novos instrumentos e a produção eletrônica sonora mais intensa, para satisfazer a dependência de seus seguidores. Em termos de comportamento moral “A juventude continuará a fazer pressão por novas formas de expressar sua diferença e continuará a provocar os mais velhos através da apresentação de excessos – os valores em si não podem mudar tanto, porque os mais velhos são eles próprios membros da geração rock and roll. Então a tendência será continuar forçando, negando a semelhança, e os filhos de nossos metaleiros acharão seu próprio modo de atormentar seus pais. O conceito do extraordinário [sobrenatural] sempre será apresentado na insistência da batida de fundo… e a batida continua”. 12

Adorando os Astros do Rock. A natureza religiosa do movimento rock and roll também pode ser vista no compromisso dos fãs do rock à música e ao estilo de vida dos astros de rock – uma dedicação que equivale com a dos cristãos nominais ao nosso Senhor Jesus Cristo. Robert Pattison nota que “O roqueiro vive sua música com uma intensidade tal que poucos cristãos nominais imitam em sua profissão de fé. Ele vai aos concertos e escuta sua música com a mesma fidelidade com que os cristãos das gerações passadas compareciam à igreja e liam sua Bíblia. Um dos slogans mais freqüentemente repetidos em letras de rock é ‘o Rock ‘n’ roll nunca morrerá!’ – um brado de crença. Os astros de rock experimentam apoteose literal [deificação]: ‘Jim Morrison é Deus’ é uma frase em grafite agora perpetuada pela terceira geração de roqueiros”. 13

A apoteose, ou seja, a deificação dos astros de rock, é muito importante para a religião do rock and roll, porque fornece aos roqueiros os ídolos a serem adorados e imitados na vida real. Em um artigo intitulado “Elvis Para Sempre,”

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a revista Newsweek chama Presley de “um santo” e uma figura “como Jesus”. 14 O artigo acrescenta: “Você foi alcançado por esta figura de alguma forma, você o adorou”. 15 A adoração de qualquer ser humano é idolatria franca e blasfêmia absoluta contra Deus. É uma clara violação do primeiro mandamento: “Não terás outros deuses diante de mim” (Êxodo 20:3).

A religião do rock and roll promove a adoração de seus astros de rock, da mesma forma que o cristianismo ensina a adoração a Cristo. Tal adoração envolve, não apenas ouvir a música dos astros de rock, mas também em imitar o seu estilo de vida e visitar seus santuários. Isto se assemelha ao modo como os cristãos imitam a vida de Cristo e visitam os lugares associados com Sua vida e morte.

“Muitos imitadores de Elvis continuam a perambular pelos lugares de entretenimento ao redor do mundo. Suas artimanhas são perpetuadas não apenas por aqueles que se parecem e se vestem como ele, mas também toda a maneira de seu estilo de vida é preservado por centenas de outros artistas por toda a indústria da música. Seu comportamento e técnicas, que transformaram-no em uma lenda, não apenas invadiram a música secular popular desde eua estréia, mas são agora imitados em muito da música cristã contemporânea.” 16

A adoração de Presley é indicada pela venda de “mais de 1 bilhão de discos, fitas, e cds mundialmente”. 17 Sua propriedade Graceland tem se tornado uma indústria multimilionária e um santuário religioso virtual para a peregrinação de muitos roqueiros. O Daily News informou que “Graceland tem atraído 3.500 visitantes pagantes, diariamente – um total de 1.5 milhões [em cinco anos] desde que foi aberto ao público em 1982…. transformou-se na residência particular mais reconhecida e visitada da América, estando em segundo lugar apenas em relação à Casa Branca”. 18

O que é verdade a respeito da deificação de Presley também é verdade em relação a outros astros de rock. Por exemplo, Michael Jackson, como Hubert Spence mostra, “cuidadosamente, tem se apresentado pelo mundo como um ícone da divindade. Seus vídeos o exibem fazendo regularmente gestos eróticos para a câmera; suas produções de palco, exibidas de forma extravagante, apresentam fortes implicações de sua divindade (manifestadas nas suas entradas e saídas), louvando-o como salvador do mundo”.19

John Denver, um astro popular de rock que morreu em um acidente aeronáutico em 1997, disse em uma entrevista: “Algum dia eu serei tão completo, que nem mesmo serei humano. Eu serei Deus.” 20 Músicos de rock aspiram se tornar divinos e querem que seus seguidores os honrem, os sigam, e os adorem como os guardiões de um novo mundo.

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A adoração dos astros de rock também é promovida através de biografias que exaltam suas qualidades como santos. Robert Pattison mostra que “Os livros de maior sucesso sobre rock são as hagiografias [biografias de santos] de seus astros, como o de Jerry Hopkins e Danny Sugerman, sobre a vida de Jim Morrison, No One Here Gets Out Alive“. 21

Para alguns roqueiros, estar na presença de seus astros de rock é como uma experiência religiosa do sobrenatural. Em seu livro “I’m With the Band” Pamela Des Barres, uma entusiasta do rock, diz: “Algo vinha sobre mim na presença de meus ídolos de rock, algo vil e degradante, algo maravilhoso e santo.” 22 Ela explica que estar com os astros de rock é uma encruzilhada entre “a pornografia e o céu”. 23 O cruzamento entre o santo e o profano experimentado na presença dos astros de rock reflete a capacidade enganadora dos astros de rock para fazerem o mal parecer bem.

A Música de Babilônia. A adoração dos astros de rock tem influenciado um número crescente de igrejas cristãs. Em seu instigante livro, Music in the Balance, Frank Garlock e Kurt Woetzel reconhecem que “um grande segmento da comunidade cristã abraçou entusiasticamente esta música do mundo, seu comportamento associado, e sua filosofia. Todos os três foram implantados na vida da igreja. Não apenas muitos cristãos têm aceitado esta música como apropriada para o louvor e adoração, mas uma atmosfera impregna os concertos cristãos contemporâneos, não diferindo dos primeiros concertos da era Elvis. Os crentes fizeram ídolos de seus próprios cantores do rock and roll e continuam a adorar a seus pés com sua devoção e seus talões de cheques”. 24

A imitação dos astros de rock e de sua música nos cultos da igreja e concertos, faz-nos lembrar da descrição apocalíptica da falsa adoração do tempo do fim promovida por aqueles que buscam “fazer uma imagem à besta” (Apocalipse 13:14). Em Apocalipse 14 a besta e sua imagem (v. 9) são identificados com a falsa adoração promovida por Babilônia (v.8). Poderia ser que Satanás esteja usando a música rock de hoje para apresentar uma falsa adoração no tempo do fim, como ele usou na Planície de Dura, na Babilônia antiga, para levar todas as pessoas a adorarem a imagem de ouro (Daniel 3:7, 10)? Nós retornaremos novamente a esta pergunta nas considerações finais.

Uma Religião Panteísta. Outra indicação significativa da natureza religiosa do rock and roll, pode ser encontrada em sua orientação panteísta. Robert Pattison oferece uma análise perceptiva das convicções panteístas

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apresentadas na música rock. Ele traça estas convicções nas ideias panteístas do Romantismo, um movimento humanista popular do século XIX e que ainda é muito difundido hoje em dia. 25

O panteísmo rejeita a existência de qualquer ser transcendente, identificando o divino com todos os processos naturais. Isto significa que para os roqueiros Deus não é um Ser transcendente além deles mesmos, mas um poder infinito presente ao redor deles e dentro deles. Incrível como possa parecer, o objetivo do rock é “incluir o universo e tornar-se Deus”. 26 Deus é “obliterado num orgasmo cósmico do panteísta.” 27 A música rock, de acordo com Pattison, é o ritual da cultura panteísta de nosso tempo, “um meio de se chegar ao infinito”. 28 Por intermédio do êxtase da música rock, o roqueiro transcende a limitação de tempo e espaço e se conecta ao infinito.

O roqueiro panteísta compara a si mesmo com Deus e o vasto mundo. Seus sentimentos, em lugar da razão, são o meio fundamental do conhecimento. Esta mentalidade panteísta é refletida na canção popular “We Are the World”, que foi composta como a música de uma campanha para se angariar fundos para as vítimas da fome africana. Pattison observa que “aproveitando-se, simultaneamente, do panteísmo expansivo do rock e de seu sentimentalismo acerca do primitivo, os compositores de “We are the World” criaram uma música que subiu rapidamente ao topo das listas de discos mais vendidos em quatro semanas, e ganhou vários discos de platina, com vendas de quatro milhões de discos em um mês”. 29

O mesmo sentimento panteísta é expresso na famosa canção dos Beatles “I am the Walrus” que diz: “Eu sou ele, como você é ele, como você é eu e como nós somos todos conjuntamente”. “Todas as variações da identidade – eu, ele, você, nós, eles – são intercambiáveis. Todos os sentimentos e eventos são igualmente válidos, igualmente presentes, igualmente significativos. Todo o evento é o centro do universo. Não há uma localização transcendente para o significado… Em Eureka, Poe escreveu: ‘Que Deus seja tudo em todos, cada um deve se tornar Deus.'” 30

O objetivo da religião do rock, de incluir o universo e tornar-se Deus, faz-nos lembrar da tentação que levou nossos primeiros pais a se rebelarem contra Deus, com todas as conseqüências relacionadas. O enganador assegurou a Adão e Eva ao tomarem do fruto proibido, eles teriam uma experiência mágica: “Vocês serão como Deus” (Gênesis 3:5). De muitas maneiras isto é o que a música rock promete a seus seguidores: “Se você escutá-la você perderá a consciência de suas limitações humanas e desfrutará de uma experiência divina.”

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O Panteísmo e o Imperativo da Diversão. Reduzindo Deus ao processo natural do universo, o qual também está dentro de nós mesmos, o rock ensina as pessoas a se esquecerem de um Deus transcendente e, em vez disso, encontrarem significado no prazer imediato oferecido pelo mundo material que eles podem sentir. Isto explica por que a orientação panteísta do rock and roll conduz a um estilo de vida hedonista, isto é, à procura pelo prazer imediato.

Pattison dá vários exemplos de músicos de rock para ilustrar este ponto. “Chuck Berry é universalmente aclamado como o profeta negro da era do rock, porque suas canções são incessantemente sobre diversão: ‘Vou continuar dançando até não poder mais!’ Diversão, a mais elevada realização estética de um rigoroso panteísmo como o de Whitman ou do rock, é o prazer derivado de um universo resumido em nós mesmos e o qual não podemos transcender porque conhecê-lo é estar nele: ‘Bem, se você sente isto e gosta disso, Vá achar teu amante, se enrole e role’. Chuck Berry é um universo que gira em uma celebração não transcendente de energia, a qual eu posso extrair sem precisar de mais nada além de mim mesmo. ‘Vai, vai’ é o imperativo repetido de suas letras, o imperativo de diversão”. 31

Outro exemplo de hedonismo panteísta é o pop star de rock Bob Dylan, de quem Pattison diz: “Depois da imagem religiosa de ‘I Dreamed I Saw St. Augustine’ e da alegoria mística de ‘All Along the Watchtower’, Dylan terminou seu álbum John Wesley Harding com a balada country-rock, aparentemente, incongruente ‘I’ll Be Your Baby Tonight’:

Jogue longe teus sapatos,
Não tenha medo,
Traga aquela garrafa para cá,
Esta noite serei teu bebê.

Os problemas do mundo enumerados nas letras de John Wesley Harding, desaparecem no compromisso final do roqueiro ao presente sensível desta noite, e o que Dylan diz ao seu amante é o que o rock tem a dizer aos observadores transcendentais de todos os lugares:

Feche teus olhos, feche a porta,
Você não tem que se preocupar mais,
Esta noite serei teu bebê.

Dylan eleva a doutrina de diversão de Chuck Berry ao ponto mais alto da arte do rock. 32

A substituição da diversão pela alegria que vem de desfrutar as formas respeitáveis de arte, revela a natureza depravada da música rock. Seu objetivo é conduzir as pessoas para longe do prazer da bela arte genuína, inspirada por um Deus transcendente, para a excitação imediata gerada pelo abuso da boa criação de Deus.

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Parte 2
O Ritual de Sexo, Drogas e Dança

Sexo como União com o Infinito. O sexo desempenha um papel vital na religião panteísta do rock and roll porque é visto como um meio de se experimentar a união com o infinito. Algumas das letras das canções de rock que glorificam o sexo, são muito obscenas e ofensivas para serem inclusas em um livro desta natureza. 33 Mesmo os exemplos menos obscenos dados abaixo são ofensivos.

Tom Loc é muito gráfico na canção “Wild Thing”, que alcançou o segundo lugar nas paradas:

Não conseguia tira-la do meu ____
Ela estava como que paralisada.
Isso é o que acontece
Quando corpos começam a se bater
Por fazerem a coisa selvagem.

Em sua canção “Throb” Janet Jackson, a irmã mais nova de Michael, confia nas visões sexuais que “constroem um orgasmo.” A canção “Anytime, Anyplace” descreve sexo público. Paula Abdul usa letras sensuais e eróticas em canções como “Head Over Hells,” “Get Your Groove On”, e “Sexy Thoughts”.

A religião do rock adora a genitália como o centro criativo do universo. “Eu sou o centro criativo do universo, e o meu centro criativo é minha genitália. Little Feat diz: ‘Eu tenho um foguete em meu bolso.’ A virilha é a base de lançamento para a conquista do universo. O rock restabeleceu a adoração panteísta do falo [N.T. – representação do pênis, adorado pelos antigos como símbolo da fecundidade da natureza] no Ocidente. O verdadeiro astro de rock é um jovem do sexo masculino, ereto e bem-dotado. Jim Morrison e Iggy Pop foram os mais proeminentes de uma série de astros de rock que a si mesmos se expuseram para um público agradecido. Outros astros de rock, intimidados pela modéstia ou pela lei, atenderam às exigências rituais de suas platéias manipulando seus genitais ou realçando seus dotes. David Lee Roth, antigo componente dos Van Halen e um dos símbolos sexuais passageiros do rock, normalmente se apresentava em trajes apertados, acentuados por um tapa-sexo vermelho estufado. Com poucas variações, esses são os trajes da maioria dos ídolos do hard-rock.” 34

A adoração dos órgãos sexuais é evidente em algumas capas de álbuns. A capa do álbum “Velvet Underground and Nico” do Velvet Underground, apresenta uma banana amarela que ao ser descascada revela uma banana rosa cor de carne

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embaixo. O álbum “Sticky Fingers” dos Rolling Stones, caracteriza a virilha estufada de um par de calças jeans com o zíper abaixado até revelar a roupa íntima.

“O astro de rock ideal é a personificação da sexualidade. Ele é o foco de todo gosto possível… Em sua vida, Mick Jagger é o que chegou mais perto do cumprimento da fantasia pansexual do rock, e recebeu favores sexuais de garotas tagarelas, rapazes viris, sádicos de meia idade e velhos discomaníacos. Um astro do rock esperto alimenta a fantasia de que ele é sexualmente onívoro.” 35

O apetite sexual se estende aos atos de incesto. O Artista, anteriormente conhecido Prince, elogia sua relação de incesto com sua irmã em seu álbum “Purple Rain”:

Minha irmã nunca fez amor
com qualquer outro a não ser comigo.
Incesto é tudo
o que dizem ser.

Pattison conclui sua análise do sexo no cenário do rock com esta declaração interessante: “Nada poderia distinguir mais firmemente o rock de outras formas de música popular do que sua adoração insistente ao pênis”. 36 A adoração à genitália é fundamental para a religião do rock and roll porque, como declaramos antes, ela é vista como o centro criativo do universo e como uma forma de se aproximar da divindade.

Um bom exemplo é a canção “Closer”, cantada pela popular banda de rock Nine Inch Nails. A letra diz: “Eu quero te sentir por dentro, quero te f___ como um animal, toda minha existência está errada, você me leva para mais perto de Deus.” Esta noção pervertida de sexo como um meio de se aproximar de Deus nos lembra dos cultos de fertilidade no mundo antigo onde os órgãos sexuais e a prostituição religiosa serviam como formas de interação com os deuses.

A perversão sexual promovida pelo movimento do rock e pela indústria de entretenimento nos lembra dos pecados sexuais e da depravação moral nos dias de Noé e Ló. Jesus se referiu a esses dias para caracterizar o tempo que precederia Seu Retorno (Lucas 17:27). Semelhantemente Paulo predisse que “nos últimos dias” muitos seriam “sem afeição natural… incontinentes” (II Timóteo 3:3). Hoje estamos testemunhando o cumprimento sem precedentes deste sinal do tempo do fim dado por Cristo e esclarecido por Paulo.

Drogas para Experimentar o Infinito. As drogas, assim como o sexo, desempenham um papel vital nos rituais da religião rock and roll, porque alteram a mente de

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modo a conduzir a uma consciência enganosa do infinito. O roqueiro, que está “engajado em uma expedição ao infinito, necessita de constantes infusões de energia cósmica”. 37 Pretende-se que as drogas forneçam tal energia cósmica.

Na aclamada canção sobre drogas, “White Rabbit”, Jefferson Airplane faz menção ao potencial das drogas:

Uma pílula te faz maior,
E uma pílula te faz menor,
E as pílulas que a mãe te dá não fazem coisa nenhuma.

As prescrições lícitas da mãe são vistas como inúteis porque não alteram a consciência fazendo uma pessoa se sentir maior ou menor. Drogas como as anfetaminas e cocaína produzem um estado de euforia que faz o roqueiro crer que ele se encontra no centro de um universo de pura energia.

“As viagens alucinógenas do rock presumem uma totalidade composta do que o ‘Velvet Underground’ chama de ‘Luz branca/Calor branco’: ‘Luz branca, você não sabe que ela ilumina meus olhos, Você não sabe que ela me enche de surpresa.’ O perfeito ‘eu’, do qual as anfetaminas provêem uma compreensão passageira, é idêntico à energia pura do calor branco. Anfetaminas e cocaína são os bilhetes tradicionais para as viagens nos cardápios do rock exatamente porque eles são os ingredientes que elevam o eu a uma divindade incandescente”. 38

Esta também é a razão para o uso de drogas alucinógenas como o LSD e a mescalina. Elas promovem uma experiência semelhante à da “Luz branca/Calor branco”. Na canção “Lucy in the Sky with Diamonds”, os Beatles descrevem um mundo visto através de “olhos caleidoscópicos”, que estão vivos com “árvores de tangerina e céus de geléia”. Pattison explica que “a diferença entre as anfetaminas e as visões alucinógenas é apenas de qualidade, e não de tipo. O objetivo de ambos é fornecer ao eu uma eminência divina na qual o temor seja envolvido na sua totalidade”. 39

As drogas fornecem aos músicos de rock a inspiração extática necessária para produzir sua música. Em seu livro Lennon Remembers, Jann Wenner cita John Lennon, dizendo: “‘Help’ foi composta sob o efeito do haxixe. Em ‘A Hard Day’s Night’ eu estava sob o efeito de pílulas. Essas drogas, drogas mais fortes que o haxixe… Desde que eu me tornei músico, sempre precisei de uma droga para sobreviver”. 40

O uso que os roqueiros fazem de vários tipos de drogas para obliterar a consciência e experimentar o contato com o sobrenatural, revela seu esforço desesperado em preencher o vazio de suas vidas alcançando o sobrenatural através do poder hipnótico da batida do rock e das drogas. Os resultados de tais esforços são freqüentemente trágicos. Alguns relatos listam mais de oitenta astros de rock, mortos em anos recentes, em incidentes relacionados com drogas. 41

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O título do livro de Steve Turner Hungry for Heaven: Rock and Roll Search for Redemption, resume bem a religião do rock: É uma procura por redenção através da música rock e das drogas. Turner descreve as drogas como sendo uma experiência como a da “Estrada de Damasco” para os roqueiros. “As pessoas começavam suas viagens como materialistas convictos buscando um pouco de diversão, e emergiam com seus egos rasgados e esmagados, inseguros a princípio se eles haviam visto a Deus ou se eles eram deuses”. 42

As Boas Novas do Evangelho são que a experiência da “Estrada de Damasco” não será encontrada através da batida do rock ou das drogas que alteram a consciência, mas através de uma Pessoa – a Pessoa de Jesus Cristo que diz: “Vinde a mim… e eu vos aliviarei” (Mateus 11:28). A aceitação da provisão de Cristo por salvação enche nossa vida de paz e propósito – coisas que a batida do rock e a droga nunca poderão oferecer.

A Dança do Rock. A dança também é um aspecto importante da liturgia do rock and roll, porque oferece aos roqueiros a oportunidade de imitarem e representarem tudo aquilo que sentem acerca do infinito. “A liturgia do rock apela, repetidamente, ao crente para ‘dançar, dançar, dançar’, para ‘continuar a dançar e saracotear ‘ Um dos textos centrais do rock é a apresentação do sucesso de 1962 do ‘Contours’, ‘Do You Love Me Now That I can Dance?’:

Você partiu meu coração e me fez chorar
Quando disse que eu não podia dançar –
Mas agora voltei para que você saiba
Que eu realmente posso ter um romance.

A habilidade para dançar é equivalente à habilidade para sentir. É a celebração ritual do eu consciente imitando a infinidade de Dionísio…. A dança é um dos sacramentos do rock”. 43 A importância das danças repousa no fato que ela permite ao roqueiro expressar corporalmente a experiência do sobrenatural induzida pela batida e, freqüentemente, pelas drogas.

Pattison explica que enquanto na mitologia do rock o ritual de dança é executado na rua, na vida real é realizado em discotecas e em festas. “Se o rock é uma nova religião, não é o paganismo oriental retratado em sua própria mitologia, mas um panteísmo razoavelmente decoroso, cuja prática não exige mais orgias do que o ritual cristão exige sacrifícios humanos na missa. A dança do rock ocorre em discotecas e em festas, não nas ruas. O rock é a liturgia deste panteísmo… Mas o panteísmo por trás da liturgia, embora vulgar, é tolerante e pluralista”. 44

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A Natureza Eclética e Enganosa da Música Rock. A natureza pluralista e eclética da música rock pode ser muito enganosa aos cristãos, porque algumas canções de rock soam como cristãs enquanto outras como satânicas. Pattison explica: “Algumas canções rock, como as do Soft Cell, são abertamente cristãs; outras, como a de Feederz ‘Jesus Entering from the Rear’, é blasfema; e ainda outras, como a música do ‘The Police’, é, de forma polêmica, tanto cristã quanto atéia, tudo ao mesmo tempo. Existe o rock Védico, o rock Zen, o rock Rastafári, o rock dos convertidos, o rock dos não-convertidos, e graças a Kinky Friedman e o Texas Jewboys, até mesmo rock judaico, cada qual diferenciado por seu tratamento vulgar do material religioso. O panteísmo do rock acomoda alegremente as variedades da experiência religiosa, indiferente a qualquer contradição emergente, e no catálogo de sucessos da Billboard um disco do U2 que apresenta uma adaptação do líder vocalista Bono do Glória da missa aparece junto ao Shout at the Devil (Grito com o Diabo) de Mötley Crüe. 45

A natureza eclética e panteísta da música rock torna possível aos fãs de rock adorarem a Satanás “na discoteca durante a noite e a Cristo na catedral durante o dia. O rock simplesmente dá continuidade à tolerância religiosa e diversidade democrática americana”. 46

Sem dúvida, a maior parte dos fãs do rock admitirá que não estão conscientemente adorando a Satanás. Mas se Satanás é adorado de forma consciente ou inconsciente, o resultado final é o mesmo: ele recebe a adoração que é devida somente a Deus.

Inicialmente a música rock tratou a cristandade com blasfêmia e desprezo. Canções tais como “Sympathy for the Devil”, “Satan Rock”, “Mrs. Robinson”, “Fire”, de Arthur Brown e outras, eram deliberadamente sacrílegas. Com o advento do “rock de Jesus”, contudo, as conotações anti-escriturísticas foram obscurecidas, de forma que o ouvinte não crítico pode ser enganado e levado a pensar que o rock se tornou mais aceitável aos ouvidos cristãos.

Em seu livro The Day the Music Died, o ex-astro de rock Bob Larson escreve: “A religião e a síndrome do rock atuais podem conter temas tão variados quanto a visão metafísica hindu de George Harrinson em ‘My Sweet Lord’ e a apresentação de Judy Collin do amado número evangelístico ‘Preciosa Graça’. Nos últimos anos aprendemos que, supostamente ‘Jesus é um Homem com Alma’, um ‘Espírito no Céu’, e um ‘Superastro’ (N.T. – Estes são nomes de músicas de rock). As letras do rock religioso de hoje vêm completas, tanto com aleluias quanto com Hare Krishnas. A tendência foi tão longe que até mesmo os Rolling Stones incluíram uma canção de rock de Jesus em seu álbum “Exile on Main Street”. O rock realmente se tornou uma religião completa com sua própria liturgia distorcida e alterada.” 47

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A mistura do sacro com o profano na música rock pode explicar por que alguns músicos cristãos passaram para o rock secular. Afinal de contas, a letra de algumas canções de rock secular fala acerca de Cristo e de temas cristãos. Robert Sweet, do grupo “ponte” Styper (N.T. – Estarei usando o termo “ponte” para traduzir a expressão “crossover” que descreve grupos ou pessoas que passaram de um lado para outro da linha que separa o sacro do secular) admitiu: “Nós não somos religiosos fanáticos que estamos tentando converter a todos que encontramos. Não estamos tentando fechar estações de rádio que tocam rock nem fazer revistas saírem do mercado. Cremos honestamente que Jesus Cristo é o Salvador, mas somos praticamente banda cristã mais irreligiosa que você pode imaginar. A religião é real para nós, mas o rock and roll também é.” 48

A mistura do sacro com o profano na música rock pode explicar por que tantos cristãos não vêem nada de errado com tal música. Muitos que tiveram acesso ao primeiro esboço deste manuscrito, que foi enviado para os mais de 8000 inscritos em meu boletim informativo ENDTIME ISSUES, alertaram-me para o fato de que as letras de algumas canções de rock não são anti-cristãs. Na realidade, elas falam contra todas as formas de injustiças, racismo, ódio, e armas nucleares. Assim, a argumentação deles é que a música rock pode ser adotada legitimamente para a adoração cristã, depois de ter suas letras alteradas, porque algumas delas promovem causas dignas.

Esta observação está correta, mas a argumentação está errada porque ignora três considerações principais. Primeira, a música rock, como veremos no capítulo 5, tem seu impacto musicalmente e não liricamente. Como o sociólogo Simon Frith aponta em seu livro Sound Effects, Youth, Leisure, and the Politics of Rock ‘n’ Roll “Uma abordagem baseada nas palavras não é útil para compreender o significado do rock…. As palavras, se é que são notadas, são absorvidas depois que a música já deixou sua impressão.’ 49 Isto significa que a batida hipnótica da música rock neutraliza qualquer mensagem positiva que a letra possa conter. O meio afeta a mensagem. Este ponto importante será considerado mais completamente no capítulo seguinte.

Segundo, o bem e mal são freqüentemente misturados na mesma canção de rock. Vejamos Abanes Morissette, por exemplo. Suas canções são populares por causa de sua

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paixão e sua fúria contra alguns problemas sociais. Mas sua linguagem contém obscenidades e material psicosexual. Até mesmo aquelas canções que não contêm nenhuma linguagem obscena, não oferecem nenhuma resposta bíblica aos dilemas humanos. Por exemplo em sua canção “You Leram” (Você Aprende), ela sussurra:

Eu recomendo ter seu coração
pisoteado por alguém,
Eu recomendo andar nua
pela sua sala de estar.
Engula-a,
(que pilulazinha áspera)
Parece tão bom,
(nadando em seu estômago)
Espere até que a poeira assente.
Você vive, você aprende.
Você ama, você aprende.
Você chora, você aprende.
Você perde, você aprende.
Você sangra, você aprende.
Você grita, você aprende.

Esta canção fala de aprender pela dor. Pode até parecer com tudo o que significa viver por Cristo, mas Morissette não oferece a resposta correta. A solução para o problema da dor não será encontrada engolindo uma pílula (muito provavelmente uma droga vicejante), mas sim em confiar na providência de Deus para nos sustentar através do sofrimento.

Por último, a mistura do bem e do mal nas letras de música rock, pode bem representar uma estratégia satânica eficaz em usar boas letras para levar alguns cristãos a aceitarem mais prontamente as más. Se todas as canções de rock tratassem apenas de sexo, drogas e violência, poucos cristãos seriam atraídos por esse tipo de música. Mas o fato de que algumas canções de rock enfocam preocupações sociais legítimas, facilita a aceitação dessas canções de rock, as quais promovem valores e estilos de vida anti-cristãos.

Ao longo do curso de sua história, o cristianismo tem sido infestado por uma mistura de verdade com erro. O resultado foi o surgimento de incontáveis movimentos heréticos. A revolução religiosa e social provocada pelo movimento rock and roll, deve ser vista dentro deste contexto histórico. A melhor defesa cristã contra todas as formas de enganos, incluindo a música rock, será encontrada numa clara compreensão de seus falsos ensinos e práticas. Isto é o que este estudo pretende fazer. Até agora examinamos no capítulo 2 a cosmovisão filosófica da música rock,

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no capítulo 3 o processo de endurecimento discernível da música rock; e neste capítulo a experiência religiosa enganosa oferecida pelo rock. No capítulo seguinte daremos uma olhada mais de perto na verdadeira estrutura e valores da música rock.

CONCLUSÃO

A revolução cultural causada pela música rock durante a última metade do século XX é, em suas raízes, um movimento religioso, que está baseado em um entendimento panteísta de Deus. Para os roqueiros Deus não é um Ser transcendente além deles, mas um poder infinito presente ao redor deles e dentro deles. A música rock, o sexo, as drogas, e as danças são rituais importantes na religião do rock, porque se supõe que eles supram a seus seguidores com os meios para ultrapassarem a limitação de tempo e espaço e experimentarem o sobrenatural.

De muitas formas a música rock promete aos seus seguidores o que o Satanás prometeu a Adão e Eva: Você pode ser como Deus tomando do fruto proibido. Como nossos primeiros pais no começo da história humana, muitos hoje estão sucumbindo à tentação de Satanás na esperança de desfrutarem uma experiência divina.

Esta investigação realizada neste capítulo sobre as implicações religiosas, sociais e morais do movimento do rock and roll, convida-nos a considerarmos uma pergunta oportuna: Poder-se-ia dizer que a popularidade da mundial da música rock, que promove a adoração do eu e de ídolos humanos, é parte da estratégia de uma mente superior para promover a falsa adoração no tempo do fim descrita nas Três Mensagens Angélicas de Apocalipse 14?

É importante lembrar que a imagem apocalíptica da falsa adoração promovida pela Babilônia em Apocalipse, deriva do capítulo histórico de Daniel 3, que descreve um evento de significância profética para o tempo do fim. Na Planície de Dura, todos os habitantes do império babilônico foram chamados para adorarem a estátua de ouro do rei Nabucodonosor. Uma fornalha ardente foi preparada para aqueles que se recusassem render homenagem à estátua de ouro. Daniel nos informa que “todo tipo de música” (Daniel 3:7, 10) foi usado para levar todas as classes de pessoas de todas as províncias do império a juntamente adorarem a estátua de ouro (Daniel 3:10).

Em Daniel 3, por duas vezes, há uma longa lista dos diferentes instrumentos musicais usados para produzir “todo tipo de música” (Daniel 3:7,10). Esta

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música eclética foi tocada para induzir as pessoas à adoração da imagem de ouro. Poderia ser que, assim como na Babilônia antiga, Satanás esteja hoje usando “todo tipo de música” para levar o mundo a uma falsa adoração no tempo do fim, da “besta e de sua imagem” (Apocalipse 14:9)? Poderia ser que um golpe de mestre Satânico escreveria canções gospel que contivessem elementos de todos os gostos de música: música folclórica, jazz, rock, discoteca, country-western, rap, calypso, etc.? Poderia ser que muitos cristãos cheguem a amar a estes tipos de canções gospel, porque elas se parecem em muito com a música de Babilônia?

O chamado das Três Mensagens Angélicas para sairmos da Babilônia espiritual, pela rejeição de sua falsa adoração, poderia muito bem incluir também a rejeição da música rock de Babilônia. Logo o mundo inteiro será ajuntado para o conflito final na antitípica planície apocalíptica de Dura e “todo tipo de música” será tocada para levar os habitantes da terra a “adorar a besta e sua imagem” (Apocalipse 14:9). É digno de nota que, no Apocalipse, o resultado do conflito envolva o silenciar dos instrumentos de música da Babilônia. “Com igual ímpeto será lançada Babilônia, a grande cidade, e nunca mais será achada. E em ti não se ouvirá mais o som de harpistas, de músicos, de flautistas e de trombeteiros.” (Apocalipse 18:21-22)

Aqueles que raciocinam de que não há nada de errado com a música de Babilônia, podem estar se condicionando a aceitarem a falsa adoração promovida por ela. Satanás tem suas próprias canções para promover a falsa adoração no tempo do fim. Será que, pela adoção da música de Babilônia, alguns perderão a chance de cantar o Novo Cântico de Moisés e do Cordeiro? Que esta pergunta possa ressoar em nossa consciência e nos desafiar a nos levantarmos pela verdade como os três dignos hebreus.

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Notas

1. Charles A. Pressler, “Rock and Roll, Religion and the Deconstruction of American Values,” em All Music: Essays on the Hermeneutics of Music, eds. Fabio B. Dasilva and David L. Brunsma, (Aldershot, England, 1996), p. 146.

2. Evan Davies, “Psychological Characteristics of Beatle Mania,” Journal of the History of Ideas 30 (Janeiro-Março de 1969), p. 279.

3. Robert G. Pielke, You Say You Want to Revolution (Chicago, 1986), pp. 133-136.

4. Ibid., p. 133.

5. Patrick Anderson, The Milwaukee Journal Magazine (12 de outubro de 1975), p 43.

6. Rudolf Otto, The Idea of the Holy (London, 1923), p.5.

7. Charles A. Pressler (nota 1), p. 135.

8. Ibid., p. 136.

9. Ibid., p. 138.

10. Ibid., p. 140.

11. Ibid., p. 146.

12. Ibid.

13. Robert Pattison, The Triumph of Vulgarity: Rock Music in the Mirror of Romanticism (Oxford University Press, 1987), p. 184.

14. Jim Miller, “Forever Elvis,” Newsweek (3 de agosto de 1987), p. 54.

15. Ibid.

16. Frank Garlock and Kurt Woetzel, Music in the Balance (Greenville, South Carolina, 1992), pp. 81-82.

17. “The Big Business of Elvis,” New York Daily News (9 de agosto de 1987), p. C 28.

18. Ibid.

19. Hubert T. Spence, Confronting Contemporary Christian Music (Dunn, North Carolina, 1997), p. 72.

20. Citado por Steve Peters, Why Knock Music (Minneapolis, MN, 1992), p. 110.

21. Robert Pattison (nota 13), p. 90.

22. Citado por Steve Peters e Mark Littleton, The Truth About Rock (Minneapolis, MN, 1998), p. 79.

23. Ibid.

24. Frank Garlock and Kurt Woetzel (nota 16), pp. 82-83.

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25. Robert Pattison (nota 13), pp. 20-29.

26. Ibid., p. 108.

27. Ibid., p. 111.

28. Ibid., p. 29.

29. Ibid., p. 94.

30. Ibid., pp. 94-95.

31. Ibid., p. 197.

32. Ibid., p. 198.

33. Para uma seleção das letras sexualmente obscenas encontradas nas músicas rock, veja Steve Peters and Mark Littleton, Truth About Rock: Shattering the Myth of Harmless Music (Minneapolis, 1998), pp. 30-33; also Robert Pattison (nota 13), pp. 114-119.

34. Robert Pattison (nota 13), p. 114.

35. Ibid., p. 117.

36. Ibid., p. 115.

37. Ibid., p. 120.

38. Ibid.

39. Ibid., p. 121.

40. Jann Wenner, Lennon Remembers (New York, 1971), p. 53.

41. Para uma lista de nomes veja, Richard Peck, Rock: Making Musical Choices (Greenville, South Carolina, 1985), pp. 27-28.

42. Steve Turner, Hungry for Heaven: Rock and Roll Search for Redemption (London, 1994), p. 49.

43. Robert Pattison (nota 13), pp. 184-185.

44. Ibid., pp. 185-186.

45. Ibid., p. 186.

46. Ibid.

47. Bob Larson, The Day Music Died, (Carol Stream, IL, 1972), p. 21.

48. Hit Parade (novembro de 1986), p. 21.

49. Simon Frith, Sound Effects, Youth, Leisure, and the Politics of Rock ‘n’ Roll (New York, 1981), p. 14.

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Capítulo 5

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