Diana Goulart: Há diferenças em muitos aspectos. Veja alguns:
Intensidade
Lírico: Precisa de grande volume ou potência vocal; a voz deve alcançar toda a platéia, mesmo cantando junto com uma orquestra sinfônica, sem usar microfone.
Popular: O microfone permite uma emissão no nível da fala, com naturalidade. O cantor regula o volume através da sua emissão vocal e também através do equipamento (microfone).
Qualidade vocal
Lírico: Existem cânones (“padrões”) já estabelecidos que devem ser respeitados, de acordo com cada tipo de voz.
Popular: O conceito de “boa voz” é mais flexível, e valoriza um estilo pessoal, uma voz que se identifique, uma “marca”.
Articulação e dicção
Lírico: Segue regras que às vezes tornam a pronúncia artificial e difícil de entender. Pode-se, até certo ponto, distorcer um fonema em favor da melhor emissão musical.
Popular: A letra deve ser dita como na fala, com clareza, naturalidade e sem distorções na pronúncia, para que seja compreendida imediatamente.
Extensão
Lírico: As composições frequentemente têm grande extensão, e tendem a explorar as regiões extremas das vozes. Busca-se o virtuosismo vocal, o desafio técnico; o cantor deve demonstrar todos os seus recursos.
Popular: Nem sempre é necessária uma grande extensão vocal. Entre as cantoras, parece haver certa tendência a rejeitar os agudos (principalmente no registro de cabeça) e valorizar a voz grave; uso da voz “mista” (mistura as ressonâncias de cabeça e peito).
Vibrato
Lírico: Sempre presente, exceto em alguns poucos estilos de música antiga, que o usam apenas como ornamento. A partir do Barroco, o vibrato caracteriza uma voz treinada.
Popular: Depende do estilo; pode estar ausente, presente em alguns pontos específicos (finais de frases, ou em alguns ataques) ou em toda a canção. É um recurso expressivo opcional.
Classificação vocal (soprano, tenor etc.)
Lírico: É o primeiro passo para se construir um repertório. Existem músicas escritas para cada tipo de voz, e esta intenção do autor tem que ser respeitada. Veja mais sobre este assunto na pergunta 17.
Popular: A escolha do repertório é feita pelo gosto pessoal, e a tonalidade da peça é modificada para se adequar à tessitura do cantor. A classificação perde importância: o que conta é mostrar uma voz interessante, pessoal, marcante, que o ouvinte possa identificar.
Liberdade, Criatividade, Improvisação
Lírico: Procura ser fiel à intenção original do autor, respeitando todas as indicações da partitura, como tonalidade, melodia, ornamentos, dinâmica etc. O cantor não pode improvisar.
Popular: Procura a novidade, o surpreendente, a releitura; espera-se sempre ouvir uma versão diferente da que já foi feita. É desejável que o cantor coloque na canção a sua “marca”, criando variações rítmicas e melódicas.
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Diana Goulart é professora de Canto, fonoaudióloga, pesquisadora do canto e palestrante sobre diversos temas ligados à voz e ao canto. Para informações mais detalhadas, visite https://www.dianagoulart.com.br