Sobre Corpo e a Mente Humanas

Revelado o Poder Maravilhoso da Música

por: Robin Lloyd

Mais de sete mil corredores que participaram de uma meia-maratona chamada “Run to the Beat” (Corrida com Ritmo) que ocorreu em Londres, no Reino Unido, em outubro de 2008, estavam sob o efeito de um poderoso estimulante, concebido cientificamente para aumentar a performance: a música pop. Pesquisadores identificaram que algumas trilhas sonoras podem ser até mais poderosas e eficientes para o desempenho de atletas do que substâncias ilegais que são encontradas com freqüência em exames antidoping.

Segundo Costas Karageorghis, consultor de psicologia do esporte da Universidade de Brunel, na Inglaterra, e autor da pesquisa, para avaliar os competidores, uma canção foi tocada eventualmente durante o percurso de 20 km, em 17 estações em pontos pré-determinados. Quando a intensidade física começa a diminuir é o momento em que os efeitos se tornam mais eficazes, de acordo com o especialista. Por isso, os participantes não escutaram a canção constantemente.

Em entrevistas ao final da corrida, os competidores consideraram o procedimento muito divertido e inspirador. Apesar da forte chuva e do vento, Karageorghis identificou que a música traz uma motivação extra aos atletas, mesmo que alguns não esteja participando do evento de forma coesa. “A necessidade psicológica de obter algo satisfatório estimulou os competidores a criar um elo comum com a meia-maratona”, considera.

O pesquisador constatou ainda que a música também é uma ótima maneira de regular o humor, tanto antes como durante as atividades físicas. “Muitos atletas se apegam à música como se fosse uma droga lícita, utilizando-a como estimulante ou sedativo. De forma genérica, música alta e ritmada tem um efeito estimulante, enquanto que uma canção mais lenta reduz a excitação”, afirma.

A relação com o desempenho atlético é apenas um exemplo dos avanços médicos que os cientistas buscam analisar para compreender melhor o incrível poder da música sobre a mente e o corpo. A ciência está dando suporte ao que já nos dizia a nossa intuição e experiência, demonstrando que essa força é capaz de acabar com dores, reduzir o estresse e aumentar a capacidade cerebral das pessoas, ou seja, basicamente alterando a maneira como experimentamos a vida.

Redução de Estresse

Cada vez mais profissionais da saúde, incluindo a pediatra Linda Fisher, do centro hospitalar da Universidade de Loyola, em Illinois, nos Estados Unidos, utilizam músicas terapêuticas para tratar pacientes em hospitais, hospícios e outras unidades hospitalares.

“A música que eu toco não é, necessariamente, familiar”, explica Linda Fisher. “É uma música que tem um poder de cura, capaz de colocar a pessoa em um estado de tranqüilidade, controlado pelo ritmo e qualidade dos tons que compõem a melodia”.

Estudos realizados no início da década de 1990, no Bryan Memorial Hospital, em Nebraska, e St. Mary’s Hospital, no Wisconsin, concluíram que o hábito reduz significativamente a freqüência cardíaca e controla a pressão arterial e a velocidade respiratória de pacientes submetidos à cirurgias.

Em 2007, uma pesquisa na Alemanha indicou que a musicoterapia ajudou a melhorar as habilidades motoras de pacientes que se recuperavam de acidentes vasculares cerebrais. Entre outros efeitos encontrados, o tratamento também pode impulsionar o sistema imunológico, melhorar o foco mental, ajudar a controlar a dor, criar uma sensação de bem-estar e reduzir a ansiedade de pacientes que aguardavam cirurgia.

Em outro estudo recente da escola de enfermagem da Kaohsiung Medical University, em Taiwan, a musicoterapia reduziu a tensão psicológica de grávidas após uma avaliação com 236 mulheres. A pesquisadora Chen Chung-Ei informou que as grávidas apresentaram significativas reduções de estresse, ansiedade e depressão depois de ouviram diariamente durante 30 minutos CDs com músicas infantis, canções de ninar, sons da natureza e músicas de compositores como Beethoven e Debussy. Os resultados foram divulgados no jornal científico Journal of Clinical Nursing.

A Música Torna a Vida Melhor

Cientistas também confirmaram que a música definitivamente provoca a memória, como todos nós já experimentamos, a tal ponto que nem precisamos ouvir uma música. Basta pensar nela e somos inundados pelas memórias evocadas por ela.

Também se descobriu que a música diminui a dor do parto, reduz a necessidade de anestesia durante cirurgias, deixa as pessoas mais inteligentes e diminuem a depressão.

O lóbulo temporal direito pode ser um ponto chave no cérebro para o processamento da música, já que foi descoberto por um estudo que as pessoas experimentam aumento na atividade desta região do cérebro quando se concentram na harmonia da música.Outros estudos demonstram que o lóbulo temporal, juntamente com o lóbulo frontal, é uma região chave para a compreensão de certas características musicais.

E, enquanto os seres humanos gostam de correr ao som da música, os peixes aparentemente possuem sua própria versão desta experiência. De fato, a capacidade de manter a noção de tempo é fundamental para o comportamento e processo cognitivo de todas as criaturas vivas, conforme escreveu Mu-ming Poo da Universidade da Califórnia, Berkeley, na edição de 16 de outubro de 2008 da revista Nature.

Poo e seus colegas descobrirem que entre os peixes-zebra, um “metrônomo” natural ou relógio biológico pode ajudá-los a se lembrar de um ritmo por períodos relativamente longos de tempo. Quando o ritmo pára, o peixe aparentemente se “lembra” da pulsação do ritmo e com freqüência continua a balançar a cauda no mesmo ritmo.

Música e Exercícios

Costas Karageorghis explicou os efeitos da música quando se está praticando atividade física em um ginásio. Primeiro, ela reduz em cerca de 10% a percepção da intensidade do exercício, durante exercícios de baixa a média intensidade. No caso de alta atividade, a música não funciona tão bem porque o cérebro lança sinais muito fortes para que se preste atenção aos sinais de estresse fisiológico.

Em segundo lugar, a música tem uma profunda influência no humor, elevando potencialmente os seus aspectos positivos, como o vigor, entusiasmo e felicidade, e reduzindo a depressão, tensão, fadiga, raiva e confusão.

Em terceiro lugar, a música pode ser usada para definir o ritmo do indivíduo, como no caso do etíope Haile Gebrselassie, que escuta a canção tecno “Scatman” nas competições – o atleta conquistou o ouro nos 10 mil metros dos Jogos Olímpicos de Sidney, em 2000 (provavelmente sem o auxílio desta canção).

O último efeito, segundo Karageorghis, é o de que a musicalidade pode superar o cansaço e controlar a emoção durante uma competição. O corredor Edwin Moses usava canções de soul como parte de sua rotina preparatória para as corridas.

“Está além da música”, diz ele. “A música cria um espírito de equipe, uma coesão que não se vê normalmente em um evento de participação em massa. Uma das causas principais desta motivação é a satisfação de uma necessidade psicológica de relacionamento. A música cria um laço comum, uma ligação social, que permite ao ouvinte satisfazer esta necessidade quase que automaticamente.”


Fonte: Revista Live Science


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