por: Fernanda Mena
Folha de S.Paulo – 16/09/2002 – 14h29
Pelas ruas, você segue de walkman com o volume no talo. Em casa, sua mãe e seu pai vivem gritando para você abaixar o som. Na balada, com a música bombando, você se posiciona estrategicamente em frente às caixas para sentir o corpo todo tremer a cada batida. Se for a um show, prefere ficar colado no palco.
Tudo bem que ouvir música baixo muitas vezes não tem graça, mas você já parou para avaliar se não anda exagerando?
Nos EUA, uma pesquisa do Centro para Controle e Prevenção de Doenças detectou que cerca de 5 milhões de jovens apresentam alguma perda de audição causada por concertos de rock, fogos de artifício ou cortadores de grama.
O aparelho auditivo suporta ruídos com freqüência de até 85 decibéis, o que equivale ao barulho de uma avenida com tráfego pesado. O som de walkmans mais modernos, o do ambiente fechado de uma danceteria e o de um show de rock podem atingir 115 dB (decibéis).
Como se não bastassem os hábitos sonoros dos jovens, nos últimos dez anos, o ruído urbano de cidades grandes como São Paulo aumentou cinco decibéis. Com tudo isso, a deficiência auditiva está deixando de ser exclusividade dos seus avós -que agora correm o risco de ter de dividir os “o quês?” e “hãs?” com seus netos.
“Tenho uma previsão que soa alarmista: a geração de jovens tende a ser surda”, alerta Arnaldo Guilherme, 51, professor de otorrinolaringologia da Unifesp.
Zunzunzum
“Não existe matemática certa. O tempo de exposição e a intensidade do ruído que pode afetar a audição depende da resistência de cada um. No entanto, o sujeito que se submete a ruídos intensos, seja por um minuto, seja por horas seguidas, está correndo o risco de sofrer um trauma auditivo”, explica o otorrino João Carlos Chazanas, 43.
“Costumo brincar que o ruído é um “inimigo silencioso” porque seus efeitos não se apresentam imediatamente”, explica Guilherme. Segundo o médico, se o jovem ficar com um zumbido ou com uma pulsação nos ouvidos quando sair da discoteca ou de um show, pode estar certo de que houve lesão. “Tenho uma coleção razoável de pacientes roqueiros e todos apresentam perda auditiva. O pior é que essas lesões são irreversíveis.”
Ricardo Bento Ferreira, 48, chefe do Departamento de Otorrinolaringologia da USP, explica que o barulho nem precisa ser altíssimo para provocar danos ao organismo. Um som indesejado, mesmo baixo, gera estresse, aumenta a pressão sanguínea e as chances de a pessoa desenvolver doenças cardiovasculares.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia, a única forma de prevenir a perda de audição é a orientação. “O jovem deve tentar ser comedido no volume do som. Deve usar o walkman em um volume médio. Pode ir para a balada, mas não deve ficar muito próximo à caixa de som”, ensina Artur Augusto, 42, médico da sociedade.
Fonte: Folha Online