por: Fernando A. B. Pinheiro
Qualquer coisa, em falta ou excesso, nos faz mal. Se tomarmos pouca água, corremos o risco de desidratação. Se ao contrário exagerarmos o consumo de água, os rins terão sobrecarga de trabalho e, em casos extremos, poderão entrar em falência.
Com o som não é diferente. Se o silêncio extremo nos dá uma sensação de vazio, de solidão, o som alto pode causar diversos danos. Vez ou outra saem reportagens na imprensa destacando essa situação. Desta vez, o jornal A Gazeta de 24 de Setembro de 2006 destacou o assunto. Vamos à reportagem:
“Cuidado: o barulho pode causar dependência – Altos decibéis causam a liberação de certas substâncias em nosso corpo.
A vida moderna trouxe uma série de comodidades, com equipamentos que refrescam o ambiente, trazem informações novas num piscar dos olhos e alimentam a alma com música em qualquer lugar. Mas o conforto tem seu preço e, por isso, o homem pós-moderno tem sofrido com os efeitos do barulho em excesso.
Presentes em todos os lugares, incluindo na nossa casa, os decibéis de aparelhos de TV, de som e de uma série de eletrodomésticos, além da zoeira da rua, podem causar dependência e trazer a reboque uma série de males, incluindo, além da perda auditiva, distúrbios do sono, problemas mentais e emocionais(…).
A constatação de que o barulho vicia partiu de cientistas mineiros. Eles descobriram, recentemente, que assim como o chocolate e os exercícios físicos, barulhos podem causar dependência física em algumas pessoas. A explicação, nesse caso, está no fato de os altos decibéis causarem a liberação de determinadas substâncias em nosso organismo.
A descoberta (…) demonstrou que ruídos acima de 55 decibéis, o nível de uma conversa normal, por exemplo, aumentam a produção do neurotransmissor noradrenalina, responsável por uma espécie de regulagem das emoções.
Já a partir de 80 decibéis, tem início a liberação de endorfina, um analgésico natural que suprime a dor e a punição que a pessoa sofre, sendo, dessa forma, condicionante de comportamento.
No time dos dependentes, os que gostam de música em alto e bom som são os mais suscetíveis. Esse é o caso do jovem (…) de 15 anos. “Gosto do som alto porque dá uma sensação boa”, dis ele, que aprecia vários estilos, em altos decibéis (…). O jovem não consegue ficar livre das músicas, seja na balada, seja em casa.
O consultor (…) da área de acústica (…) diz que, com os altos volumes, o corpo se prepara para a defesa e há descarga de substâncias que causam excitação. “A pessoa sente excitação ou também pode ficar irritada, mas ninguém fica passivo diante de sons muito altos”, explicou.
Jovens que vivem plugados se encaixam no perfil dos “viciados” – Ouvir música no MP3 durante os estudos virou mania entre os adolescentes.
O jovem (…) de 17 anos já esteve no consultório do otorrinolaringologista, especialista na saúde do ouvido. O motivo: apesar da pouca idade, já começou a sentir os efeitos da poluição sonora e começou a apresentar dificuldades na audição.
O vilão que tem afetado a saúde auditiva do jovem virou febre entre os adolescentes: os aparelhos de MP3, versão moderna dos antigos walkmans. “Quando sento no fundo da sala, sinto dificuldades em ouvir o professor”, explicou o jovem.
Apesar disso, as recomendações médicas não têm sido levadas a sério pelo rapaz. “eu gosto de ouvir música muito alto, não tem jeito. Eu sei que tinha que parar, mas gosto mesmo de barulho”.
Já os amigos (….) de 17 anos, que se preparam para o vestibular, ouvem música no MP3 enquanto fazem os exercícios. Segundo eles, uma música de fundo aumenta a concentração. “O som da música anula os outros sons do ambiente e, assim, é possível se concentrar mais”. (…) “Em casa, coloco som alto para descansar, Ajuda a relaxar”. (…) O jovem pode se encaixar no perfil de pessoas que, segundo os pesquisadores, acabam viciadas em barulho.
Ruído social pode causar perda auditiva – Sons de boate, de restaurantes e da televisão não deixam o ouvido descansar.
Além dos barulhos a que estamos expostos durante o tempo de trabalho, os pesquisadores alertam para o perigo do ruído social, conceito usado para definir os sons que nos afetam em casa ou na rua.
(…) testes mostraram que os sons de boates, restaurantes e até mesmo o da televisão, quando ultrapassam os 70 decibéis, em 24 horas, tornam as pessoas suscetíveis a perdas auditivas. “O grande problema do ruído social é que ele não deixa o ouvido descansar”, explicou.
Em caso do barulho fora do horário de trabalho, os cidadãos contam com a atuação do Disque-Silêncio, que realiza medições dos decibéis.
(…) as fontes de ruído, sejam residências ou comércios, são notificadas a respeitar a lei do silêncio. Em caso de reincidência, são emitidas multas que podem chegar a até R$ 15 mil.
Conforme a lei, em área residencial é permitido emissões de até 55 decibéis durante o dia, e de 50 depois das 18 horas”.
Fonte: Som ao Vivo