Comentários do Pr. Otoniel Tavares de Carvalho
Texto Central: “Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce, por amargo! Ai dos que são sábios a seus próprios olhos e prudentes em seu próprio conceito!” (Isaías 5:20, 21)
Leituras bíblicas da semana: Levítico 9; 10:1-11; Deuteronômio 33:26-29;1Samuel 1; 15:22, 23; Apocalipse 20:9
Introdução
Em culturas voltadas para a individualidade, é muito fácil esquecer aquilo que deve ser sempre o ponto de partida de toda a adoração: a ação de Deus na história. A adoração autêntica deve ser a resposta sincera do cristão aos atos poderosos de Deus, tanto na criação quanto na redenção (mais uma vez, o tema da mensagem do primeiro anjo). A verdadeira adoração emana de nossa resposta ao amor de Deus e deve afetar todas as áreas de nossa vida. No fim, a adoração genuína não é somente o que fazemos no sábado; ela deve permear todos os assuntos de nossa vida, não apenas na igreja. Especialmente em nosso desejo de ser relevantes, é muito fácil mudar o foco da adoração, unicamente para nós mesmos, nossas necessidades, desejos e anseios. E embora a adoração deva ser pessoalmente satisfatória, o perigo surge na forma pela qual buscamos experimentar essa satisfação. Somente no Senhor, somente naquele que nos criou e redimiu, podemos encontrar verdadeira satisfação, tanto quanto possível neste mundo pecaminoso e caído.
Nesta semana, analisaremos um pouco mais a história de Israel, tanto as coisas boas que aconteceram quanto as ruins, tirando algumas lições sobre a verdadeira adoração.
Lição de Domingo
A Consagração (Levítico 9)
O termo CONSAGRAÇÃO está bem associado a SANTIFICAÇÃO. E a palavra SANTIFICAÇÃO está associada ao ato divino de SEPARAR alguém para uma função ou missão específica. Uma pessoa consagrada é alguém que se entregou completamente a Deus, e vive pela fé em Jesus Cristo. Uma pessoa consagrada a Deus vive o DISCIPULADO. É pessoa que permite a Deus ser Deus em sua vida. Quando Deus chama o pecador para ser dEle, este chamado vincula três coisas específicas: (1) O CHAMADO para ser de Jesus cristo exclusivamente; (2) A SANTIFICAÇÃO, ou separação para uma função ou missão; (3) O DISCIPULADO, ou cumprimento da missão. Na Carta aos Romanos, Paulo fala dessas três coisas como estando vinculadas. (1) “Chamados para serdes de Jesus Cristo” (Rm 1:6); (2) “chamados para serdes santos” (Rm 1:7); (3) “Chamado para ser apóstolo” (Rm 1:1), ou seja, no caso do crente, chamado para ser “missionário”. Isto é CONSAGRAÇÃO em seu mais alto nível e significado.
Falando da doação de Jesus Cristo por nós, os pecadores, Paulo declara que essa entrega de Jesus por nós teve um propósito específico: “O qual [Jesus Cristo] a Si mesmo Se deu por nós, a fim de nos remir [redimir, salvar] de toda iniquidade e purificar [santificar, limpar] para Si mesmo um povo EXCLUSIVAMENTE SEU, zeloso [cuidadoso, responsável, comprometido com a missão], de boas obras [que faz o que é certo e bom]” Tito 2:14, com grifos, interpolações e comentários nossos.
Lição de Segunda-Feira
Fogo do Senhor (Levítico 10:1-11; Êxodo 30:9; Levítico 16:12; Levítico 10:9)
Quando o Santuário hebreu foi erguido no deserto, durante o êxodo (saída) de Israel do Egito para Canaã, o Senhor Deus deu a Moisés e a Arão todas as instruções a respeito dos móveis, utensílios e serviços desse santuário consagrado a IAVÉ. Uma das recomendações dadas, era que somente fosse usado fogo tirado do altar do sacrifício para ser colocado no incensário, o qual ficava sobre o altar do incenso (leia Êxodo 30).
Nadabe e Abiú, dois dos filhos do sumo sacerdote Arão, “tomaram cada um o seu incensário e puseram neles fogo, e sobre este, incenso. E trouxeram FOGO ESTRANHO [não tirado do altar do sacrifício] perante a face do Senhor, o que lhes não ordenara. Então saiu fogo de diante do Senhor e os consumiu; e morreram perante o Senhor” Levítico 10:1 e 2, com grifos e comentários nossos. O que Nadabe e Abiú fizeram foi semelhante à oferta de Caim (leia Gênesis 4). Podiam estar cheios de boas intenções, mas não seguiram à risca o que o Senhor ordenara (leia Êxodo 30). E Deus não aceita de nós menos do que aquilo que Ele ordena ou pede. O que vale em adoração não é o que eu acho ser o certo, ou aquilo que eu penso ser o certo. Se Deus me disse o que é o CERTO fazer, então para Deus somente é CERTO o que Ele ordenou. Nada mais. Nada menos.
A palavra latina “PROFANO” é uma palavra composta de duas outras palavras latinas: PRO= diante de, perante + FANUM= templo. Logo, a palavraPROFANO significa algo que é para ficar “diante do templo”, do lado de fora do templo, mas que não deve ficar dentro do templo, como elemento essencial e necessário à adoração que se processa no templo. Algo que não foi separado e consagrado para ser posto dentro do templo.
Observando o TEMPLO onde a IGREJA se reúne hoje para adorar a Deus, mediante a fé em Jesus Cristo, vê-se que muita coisa PROFANA tem sido levada para dentro do templo. Roupas, maquiagens, pinturas, joias, palavras, maus pensamentos, erotismo, sensualidade, inveja, cobiça, mundanismo em geral, músicas que imitam as músicas profanas, conversas frívolas, brincadeiras, anedotas e piadas nos sermões, gestos não próprios para o ato de adorar, uso de aplausos, enfim, um FOGO ESTRANHO que não deveria estar ali, pois não pertence originalmente àquele lugar santo, sagrado. E quem leva esse FOGO ESTRANHO para o templo e para o ato de cultuar? Nós mesmos, os chamados ADORADORES. Todos nós somos culpados, de uma forma ou de outra, em um momento ou outro, de levar para dentro do templo do Senhor FOGO ESTRANHO, impróprio para o lugar e para o momento de culto e adoração a IAVÉ. Se não nos arrependermos disso, e não confessarmos ao Senhor nossa culpa, deixando de agir assim, o Senhor não nos terá por inocentes ao fazermos isto. Eis aí o urgente desafio do povo de Deus nesse tempo do fim.
Lição de Terça-Feira
Você é Feliz, ó Israel (Deuteronômio 33:26-29)
“Não há outro, ó amado, semelhante a Deus, que cavalga sobre os céus para a tua ajuda e com a Sua alteza sobre as nuvens. O Deus Eterno é a tua habitação e, por baixo de ti, estende os Braços Eternos. Ele expulsou o inimigo de diante de ti, e disse: Destrói-o. Israel, pois, habitará seguro; a fonte de Jacó habitará a sós [sem mistura com outros povos] numa terra de cereal e de vinho; e os seus céus destilarão orvalho. Feliz és tu, ó Israel! Quem é como tu? Povo salvo pelo Senhor, escudo que te socorre; espada que te dá alteza. Assim os teus inimigos te serão sujeitos, e tu pisarás os seus altos.” Deuteronômio 33:26 a 29, com interpolação nossa.
De maneira poética, e estando já prestes a morrer, Moisés, o servo de Deus, cantou sobre o cuidado de IAVÉ sobre Seu povo escolhido, naquele momento o povo de Israel. Era uma profecia em forma de cântico. Mas se tratava de uma profecia condicional. Israel precisava preencher as condições éticas, morais e espirituais para poder receber do Senhor tudo o que Moisés falara em sua profecia.
Gilberto Freyre, famoso antropólogo pernambucano já falecido, disse certa vez, nas comemorações do sesquicentenário (cento e cinquenta anos) da Independência do Brasil: “O Brasil sempre será dos brasileiros; mas para que o seja é necessário que os brasileiros sempre sejam do Brasil”. Parodiando Gilberto Freyre, podemos dizer: “Deus sempre será de Seu povo; mas para que o seja é necessário que o povo sempre seja o Povo de Deus”. Isto vale em relação ao Israel étnico, nacional; isto vale em relação ao Israel espiritual, o Israel que segue a fé de Abraão, a Igreja do Deus vivo.
O cristão é gente feliz, pois vive salvo pela Graça de Deus, mediante a fé em Jesus. O cristão vive um processo de santificação, cumprindo na Terra a missão evangelizadora que Deus lhe confiou. O cristão é feliz enquanto viver dependente de Jesus, sendo fiel e obediente a tudo o que Deus lhe ordena. Toda segurança e felicidade do cristão depende dessa consagração total e diária ao Senhor Deus.
Lição de Quarta-Feira
Uma Atitude de Entrega (I Samuel 1)
Adoração é um ato de entrega da vida a Deus. É lançar-se por completo nos braços do Senhor. Adoração é comunhão. Adoração é relacionamento amigo e confiável com Deus. Adoração é santificação.
ANA era uma adoradora de IAVÉ, nos tempos do Antigo Testamento, que estava vivendo dias difíceis. Ela era estéril, não conseguia dar à luz filhos. Seu esposo a amava, mas tinha outra esposa, e com essa outra esposa ele tivera dois filhos. A segunda esposa vivia zombando de Ana, considerando-a como uma árvore seca, que não conseguia dar frutos. Por anos seguidos, Ana orou ao Senhor seu Deus, pedindo uma solução para sua esterilidade. Certo dia, numa das grandes festas anuais em Israel, Ana saiu de sua casa e foi a Siló, lugar onde ficava a Tenda da Congregação (o Santuário) e a Arca da Aliança. Ali, diante do Senhor, oficiava o sumo sacerdote Eli, homem já bastante idoso, muito gordo e sonolento. Ele viu quando Ana chegou à Tenda e se pôs a orar. “Levantou-se Ana e, com amargura de alma, orou ao Senhor, e chorou abundantemente” (I Samuel 1:10). Ela orava balbuciando palavras, e parecia muito agitada e aflita. Eli a tomou como pessoa embriagada, e a repreendeu por isso. Sua resposta ao sacerdote foi: “Não, senhor meu! Eu sou mulher atribulada de espírito; não bebi vinho nem bebida forte; porém venho derramando a minha alma perante o Senhor. Não tenhas, pois, a tua serva como filha de Belial [filha do demônio, do Maligno]; porque pelo excesso da minha ansiedade e da minha aflição é que eu tenho falado até agora.” I Samuel 1:15 e 16. Então o sacerdote Eli lhe falou carinhosa e pastoralmente: “Vai-te em paz, e o Deus de Israel te conceda a petição que lhe fizeste” I Samuel 1:17. E Ana alcançou a bênção pedida com tanto empenho a IAVÉ. Ela ficou grávida, e deu à luz um menino, a quem deu o nome de SAMUEL. E Ana o entregou para ser totalmente do Senhor. E Samuel se tornou o maior e mais capaz de todos os juízes que governaram sobre Israel. Por quarenta anos liderou ele o Povo de Deus.
A entrega de Ana ao Senhor foi dupla: Primeiro, ela se entregou a si mesma a Deus e clamou pela bênção. Deus a ouviu e lhe concedeu a bênção: um lindo filho. Depois, Ana fez uma segunda entrega: ela entregou esse filho para ser completamente do Senhor. Isto significa ENTREGA TOTAL AO SENHOR. Fica para todos nós este exemplo de fé e comprometimento dado por Ana a todos nós, cristãos desse volúvel século 21.
Lição de Quinta e Sexta-Feiras
Adoração e Obediência (I Samuel 15:22-23)
“Porém Samuel disse: Tem, porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à Sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e a obstinação é como a idolatria e culto a ídolos do lar. Visto que rejeitaste a palavra do Senhor, Ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei” (I Samuel 15:22, 23).
A ADORAÇÃO ao Senhor se completa e se efetiva pelo ato de OBEDIÊNCIA a tudo o que Deus nos ordena. Disse Jesus a todos nós: “Nem todo o que me diz: Senhor! Senhor! Entrará no Reino do Céu; mas aquele que faz a vontade de Meu Pai, que está no Céu” Mateus 7:21. Cantar hinos; dizer frases bonitas sobre Deus; frequentar um templo; fazer parte de uma comunidade chamada cristã; estas são atividades boas e apropriadas, mas são insuficientes para alguém provar que é verdadeiramente crente em Jesus, um servo de Deus. Surge a pergunta: Você obedece a tudo o que Deus lhe manda fazer? Você costuma verificar o que é que Deus te pede, em cada coisa que você faz (leia Miquéias 6:6 a 8).
Saul era rei ungido para Israel. Desde o começo do seu reinado, Saul demonstrou que não levava muito a sério fazer as coisas do jeito que Deus mandava fazer. Ele sempre dava um jeito de fazer as coisas a seu modo. Ele pensava, como muitos pensam até hoje, que o importante é a boa intenção, e não fazer exatamente o que Deus ordena.
Samuel recebeu de Deus uma ordem que deveria ser dada para Saul executar: eliminar por completo os amalequitas, povo politeísta e idólatra que se opusera ao plano de Deus de levar Israel até Canaã. Amaleque se colocou contra Deus e contra Seu povo, Israel. A ordem divina era clara e direta: aniquilar o povo amalequita da face da Terra. Saul recebeu a ordem divina, dada através de Samuel, e partiu para cumprir a missão. Saul e o povo de Israel cobiçaram as gordas e belas ovelhas dos amalequitas, e viram nelas uma maneira de enriquecer, ficando com tais ovelhas e bois. Eles mataram os amalequitas, mas deixaram vivos o seu rei, e milhares de ovelhas, trazendo-os para o território de Israel. Deus falou a Samuel que Saul havia pecado no cumprimento da missão. Samuel chamou Saul e lhe perguntou: “Fizeste tudo o que o Senhor te mandou fazer?” Saul respondeu: “Sim, tudo foi feito como o Senhor mandou”. Nessa hora, algumas ovelhas soltam seu balido, e Samuel ouve. Então Samuel pergunta a Saul: “Que balido de ovelhas é esse que eu ouço?” Então, cinicamente, Saul se desculpa e diz: “O povo trouxe de Amaleque suas ovelhas para sacrificar ao Senhor!” A resposta de Samuel foi curta e direta: “Tem, porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à Sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e a obstinação é como a idolatria e culto a ídolos do lar. Visto que rejeitaste a palavra do Senhor, Ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei” I Samuel 15:22 e 23.
Adorar a Deus é importante e necessário. Mas adorar a Deus como sendo um álibi, ou uma desculpa para proceder em desobediência a um “assim diz o Senhor” é loucura. Deus não aceita adoração misturada com desobediência e infidelidade. E Deus sabe se estamos sendo honestos ou não. Ninguém consegue iludir ou enganar a Deus.
Existe hoje entre os cristãos muito ato de adoração na forma de missas, cultos, reuniões, mas sem que os adoradores esteja comprometidos em obedecer ao Senhor. São pessoas que cantam, oram, fazem pedidos a Deus, realizam shows religiosos (gospel), fazem curas, exorcismos, gritam pelo nome de Jesus, mas seu coração não está focando em obedecer a tudo o que o Senhor pede em Sua Palavra revelada, a Bíblia Sagrada. E isto também vem ocorrendo entre nós, adventistas do sétimo dia. Há muito barulho, festa, espetáculo, mas pouco compromisso de fé e obediência a Deus. É melhor que haja menos festa, menos espetáculo pirotécnico, menos gritos e menos alarido, e muito mais fervor, entrega, consagração e obediência. Ninguém vai ser salvo no grito, no barulho e no êxtase religioso.
Que Deus nos salve de nós mesmos!
Fonte: Otoniel Tavares de Carvalho
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