Comentários de César Luís Pagani
Texto Central: “Na verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia. E temendo, disse: Quão temível é esse lugar! É a casa de Deus, a porta dos Céus”. (Gênesis 28:16 e 17)
Escreveu o notável teólogo batista Dr. Russell P. Shedd: “Não é raro ouvir que a jóia que falta na coroa do cristianismo evangélico de nossos dias é a adoração. Sem dúvida nós, os crentes, passamos horas sentados nos bancos das casas de oração, mas, estaríamos por isso cultuando?…
“Em nosso mundo evangélico, repleto de reuniões, estudos bíblicos, bons livros, música sacra, mensagens, conferências, retiros, deveria se esperar que os cristãos refletissem o efeito destas atividades em vidas caracterizadas pela santidade.” Adoração Bíblica, pp. 7 e 8.
Jesus ensinou que existem dois tipos de adoração: a verdadeira (em espírito e verdade) e a vã, quando são seguidos preceitos de homens e não de Deus.
G. Verwer, fundador da Operação Mobilização, disse existir nas igrejas hoje a “esquizofrenia espiritual”. Isto é, a vida do professo adorador é dividida em dois compartimentos estanques: a vida religiosa que se sintetiza em cantar, orar, falar e testemunhar, e a vida extratemplo consubstanciada em conversas, sociabilidade, trabalho, lazer, laços sociais. Duas faces de um estilo de vida diferentes e opostas.
O Dicionário da Bíblia Almeida, no verbete “adoração”, diz: “Culto, honra, reverência e homenagem prestados a poderes superiores, sejam seres humanos, anjos ou Deus (Sl 96:9). Na Bíblia há quatro etapas de desenvolvimento da adoração a Deus: a) Os patriarcas adoravam construindo altares e oferecendo sacrifícios (Gn 12:7-8; 13:4); b) Em seguida veio a adoração no tabernáculo e no templo, com um sistema completo de sacrifícios; c)A adoração nas sinagogas começou durante o cativeiro; d) A adoração cristã de que fazem parte a pregação (At 20:7), leitura das Escrituras (I Tm 4:13), oração (I Tm 2:8), louvor (Ef 5:19) e ofertas (I Co 16:1-2), além de batismos (At 2:37-41) e da Santa Ceia (I Co 11:23-29).”
Ir simplesmente ao templo e participar das rotinas religiosas não é adorar verdadeiramente.
Um assunto importante a pesquisar é como funciona a adoração celestial. Como os anjos e os seres de outros mundos prestam adoração ao Criador? O que fazem? Há um procedimento-padrão? Há ordem? Há reverência?
No Éden, Deus comissionou anjos para ensinarem ao santo par como adorá-Lo. E ele fizeram tudo direitinho até o momento do pecado. Logicamente, Adão e Eva transmitiram a seus filhos o que haviam aprendido. Mas, nos primeiros dois filhos da humanidade, vê-se a fé em contraste com o racionalismo incrédulo e petulante. O culto prestado a Deus possuía apenas uma forma certa de ser prestado. Abel atendeu-a, Caim resolveu criar sua própria igreja e culto pessoal.
Domingo
Adoração no Éden (Gênesis 1; Gênesis 2:1-3; Gênesis 3:1-13)
De acordo com a objetiva colocação do texto introdutório da lição de hoje, a Terra devia ser uma extensão do Céu. Assim sendo, o culto terreno devia ser um prolongamento do culto celestial. Pelas evidências escriturísticas podemos concluir que o culto celestial é pleno de louvor, música e expressões de gratidão e amor pela incomparável presença divina. “Deus é adorado com hinos e músicas nas cortes celestes, e, ao exprimir-Lhe a nossa gratidão, estamo-nos aproximando do culto que Lhe é prestado pelas hostes celestes.” CC, 104. A própria apresentação física de Deus incute reverência, admiração, felicidade, sentimentos de perfeito amor expressos pela hoste angélica. Entendemos que no Céu não haja pregação de sermões para conversão de ninguém, mas bem pode haver exposição verbal da sabedoria e do amor divino aos seres criados lá presentes. A própria Fonte da sabedoria explica Suas obras e procedimentos ao “auditório” celeste, expressando indizível amor por Suas criaturas.
Cremos que o culto em estado de inocência na Terra primava pelos mesmos parâmetros. O modelo era o mesmo, o “auditório”, porém, diferia. Não era, em sua grande maioria, de seres alados, mas de humanos. Um par para começar.
Não cremos que o culto do santo par fosse apenas aos sábados, que fora designado como um dia muito especial para a comunhão com Deus. Todos os dias a comunhão ou sintonia espiritual precisava ser realizada. Adão e Eva tinham de trabalhar, mas antes do início de suas tarefas diárias, “… eram visitados pelos anjos, e concedia-se-lhes comunhão com seu Criador, sem nenhum véu obscurecedor de permeio” PP, 50.
O texto sagrado (Gn 3:8) fala da presença pessoal do Senhor no jardim ao cair da tarde. Infere-se que essa visita era costumeira e durou enquanto o homem permaneceu em estado de impecabilidade. Com a presença divina, o culto era devido.
O culto é uma homenagem ao Criador. Mas, precisaria Deus de elogios, de louvores, de encômios (discursos de louvor)? Não! Porém, o Senhor aprecia ser amado por Seus filhos. Qual é o pai que não gosta do carinho de seus rebentos? O culto é uma grande oportunidade de dizer a Deus que O amamos e apreciamos Suas obras, amor, providências e imensa misericórdia.
Sábado, família e culto
“O sábado e a família foram, semelhantemente, instituídos no Éden, e no propósito de Deus acham-se indissoluvelmente ligados um ao outro. Neste dia, mais do que em qualquer outro, é-nos possível viver a vida do Éden. Era o plano de Deus que os membros da família se associassem no trabalho e estudo, no culto e recreação…” Ed, 250.
Finalidade do culto
Observemos que o substantivo português “culto” tem como radical o prefixo “cult…”, que dá origem às palavras “cultivo” e “cultura”, dentre outras. Ou seja, o tempo dedicado ao culto a Deus é destinado ao cultivo do amor, da sabedoria da Palavra, do louvor, do espírito de oração e serviço, da mente de Cristo em nós, de uma espiritualidade sólida… É o esforço repetitivo de Deus para atrair o homem para fora do pecado. Em outros termos, você presta culto para que o Espírito Santo cultive Deus em seu coração.
Segunda
Adoração Fora do Éden (Gênesis 4:1-7)
A adoração pós-queda transferiu-se de dentro para fora do Jardim do Éden. O próprio Deus viu-se constrangido a expulsar de Sua santa presença o casal de transgressores. Ele não poderia mais receber o olhar reverente, terno e carinhoso do santo par, porque já não eram puros e inocentes. Permitisse Deus que Adão continuasse a ver-Lhe a face, o homem seria reduzido a nada imediatamente. Por compaixão ao casal, o Senhor teve de lançá-los fora.
Mas o plano da redenção ideado muito antes da fundação do mundo já iniciara seus efeitos. “Adão, em sua inocência, havia desfrutado ampla comunhão com seu Criador; mas o pecado opera separação entre Deus e o homem, e unicamente a obra expiatória de Cristo poderia transpor o abismo, e tornar possível a comunicação de bênçãos ou salvação, do Céu à Terra. O homem ainda estava desligado de uma aproximação direta com o seu Criador, mas Deus Se comunicaria com ele por meio de Cristo e os anjos. PP, 67.
O culto fora do Éden deve ter sido regular. A comunhão não fora interrompida, mas modificada e assim o culto a Deus. Todos os dias os ex-habitantes do Jardim vinham até o portal do Paraíso para oferecer sacrifícios pelos pecados, crentes no amorável perdão divino e no poder do sangue do vindouro Redentor. Cristo e os anjos, como foi dito, vinham ao encontro deles.
Havia sempre querubins poderosos guardando a entrada. Eles eram, com sua presença gloriosa, a espada inflamada que vedava a qualquer pecador a invasão do Éden. “Depois da queda do homem, porém, santos anjos foram imediatamente comissionados para guardarem a árvore da vida. Em redor desses anjos chamejavam raios de luz, tendo a aparência de uma espada inflamada. A nenhum da família de Adão foi permitido passar aquela barreira para participar do fruto doador de vida; logo, não há nenhum pecador imortal.” PP,60.
Acreditamos que o culto ainda mantinha elementos litúrgicos como cânticos de louvor e gratidão, orações, ensino da Palavra por Cristo e os anjos, e serviço ao Criador.
Mas o espírito reinante nos primeiros cultos não deve ter sido confortante. “Para Adão, a oferta do primeiro sacrifício foi uma cerimônia dolorosíssima. Sua mão deveria erguer-se para tirar a vida, a qual unicamente Deus podia dar. Foi a primeira vez que testemunhava a morte, e sabia que se ele tivesse sido obediente a Deus não teria havido morte de homem ou animal. Ao matar a inocente vítima, tremeu com o pensamento de que seu pecado deveria derramar o sangue do imaculado Cordeiro de Deus. Esta cena deu-lhe uma intuição mais profunda e vívida da grandeza de sua transgressão, que coisa alguma a não ser a morte do amado Filho de Deus poderia expiar. E maravilhou-se com a bondade infinita que daria tal resgate para salvar o culpado. Uma estrela de esperança iluminou o futuro tenebroso e terrível, e o aliviou de sua desolação total.” PP, 68.
Cada vez que oferecia um cordeiro por seus pecados, Adão tinha em mente a malignidade extrema da transgressão. Deus precisou sair de Seu lugar no Céu, encarnar-Se e ser morto e ressurreto para expiar o pecado de Adão e sua descendência.
Que havia regras expressas para a realização do culto podemos ver no capítulo 4 de Gênesis. Ora, se Caim e Abel sabiam quais os tipos de sacrifícios que prefiguravam o Redentor, era porque isso lhes fora ensinado durante a infância, a meninice e a juventude. Caim não poderia ser cobrado por Deus se não houvesse sido instruído que sem derramamento de sangue não há remissão de pecados. “[Caim e Abel] tinham sido instruídos com respeito à provisão feita para a salvação da raça humana. Deles era requerido que praticassem um sistema de humilde obediência, mostrando sua reverência a Deus e sua fé no Redentor prometido, dependendo dEle, mediante a morte dos primogênitos do rebanho e a solene apresentação do sangue como uma oferta queimada a Deus…” VA, 64.
Obstinadamente ele preferiu derramar sucos de frutas e legumes sobre o altar, ao invés de sangue inocente. Não amava a Deus e não estava interessado em seguir princípios e regras. “[Caim] não estava disposto a seguir estritamente o plano de obediência e procurar um cordeiro e oferecê-lo com os frutos da terra. Meramente tomou do fruto da terra e desrespeitou as exigências de Deus… Abel aconselhou seu irmão que não viesse diante do Senhor sem o sangue do sacrifício. Caim, sendo o mais velho, não quis ouvir a seu irmão…” Ibidem.
Efeitos da apostasia de Caim – “Recebendo a maldição de Deus, Caim se retirou da casa do pai. Escolheu a princípio para si a ocupação de cultivador do solo, e então fundou uma cidade, chamando-a pelo nome de seu filho mais velho. (Gn 4:17.) Saíra da presença do Senhor, rejeitara a promessa do Éden restaurado, a fim de buscar suas posses e gozos na Terra sob a maldição do pecado, ficando assim à frente daquela grande classe de homens que adoram o deus deste mundo.” PP, 81.
Terça
Duas Classes de Adoradores (Gênesis 4:25-26; Gênesis 6:1-8; Gênesis 8:20)
As Escrituras Sagradas deixam meridianamente claro que não há “zona neutra” ou “zona desmilitarizada” na vida espiritual. Só há um Deus e um arcanjo decaído lutando por nossas almas. Só há um culto verdadeiro, mas vários cultos falsos. Deus procura para adorá-Lo àqueles que o fazem em espírito e verdade. Satanás, por sua vez, é adorado por todos aqueles que rejeitam as revelações da Palavra de Deus e o oferecimento da graça salvadora, violando os Santos Mandamentos.
Desde o princípio tem sido assim. A primeira família estava dividida adoracionalmente: Adão, Eva e Abel adoravam o Senhor conforme as instruções diretamente recebidas. Caim optou por “formar outra igreja”, dissidiar ou divergir da forma cúltica correta. Ele foi o primeiro “deformador”, isto é, desvirtuou a religião verdadeira.
Quando se tornou um nômade e sua descendência começou a se multiplicar, propagou-se o mesmo espírito rebelde na progênie ou prole. A quinta geração depois de Caim evidencia o efeito do “culto deformado” (não reformado). Lameque afrontou a Lei de Deus inaugurando a trilha da bigamia e depois seguiu seu antepassado cometendo duplo homicídio e por motivos fúteis. Por certo ele adorava outros deuses que não exigiam justiça, retidão, humildade, porém eram servidos com obras más, mais a caráter da corrupção dessa linha de adoradores.
Diz a Escritura que no tempo de Enos “os homens começaram a invocar o nome do Senhor” (Gn 4:26). Deduzimos que o culto congregacional começou a ser praticado. Antes a adoração era mais individualizada ou em famílias ou clãs. Na geração de Enos o nome do Senhor começou a ser invocado, chamado, clamado, propagado (o verbo “invocar” procede do hebraico qara que significa propagar, chamar, gritar, recitar…)
Dois grupos: os bem-aventurados e os mal-aventurados
“Após a trasladação de Enoque para o Céu, os filhos dos homens que se colocavam contra o culto a Deus começaram a seduzir os filhos de Deus. Havia dois grupos no mundo de então, e sempre haverá. Os adoradores de Deus chamavam-se filhos de Deus. Os descendentes de Sete subiram as montanhas e lá fizeram sua morada, separados dos filhos de Caim. Ali, em seus lares nas montanhas, pensavam preservar-se da impiedade predominante e da idolatria dos descendentes de Caim. Mas depois de lhes serem removidas as exortações e a influência de Enoque, começaram a unir-se com os descendentes de Caim.
“Aqui desejo impressionar-lhes a mente com o fato de que há sempre dois grupos: aqueles que se posicionam como fiéis sentinelas de Deus, e aqueles que estão contra Deus. Deus tem um teste e uma prova para cada ser humano vivente sobre a face da Terra. Há sempre testemunhas fiéis a Deus, representantes da justiça divina, e outros que se opõem a Deus, representantes do governo de Satanás. É privilégio de todos os que testemunham esses dois grupos escolher a qual deles pertencerão…
“Os descendentes de Sete poderiam ter preservado sua integridade diante de Deus e exercido uma influência salvadora sobre os habitantes do mundo antigo, mas em vez de fazer isso começaram a unir-se à corrupção universal que prevalecia nos vales.
“Os adoradores de Caim desprezavam tudo o que se assemelhasse às ofertas sacrificais que representavam o Cordeiro de Deus que tiraria os pecados do mundo… Aqui vemos os dois grupos em evidência naquela época degenerada. Nem tudo era corrupção; nem tudo era fidelidade…
“A lei de Deus era calcada aos pés dos adoradores de Caim – estes eram idólatras; adoravam a criatura em lugar do Criador. Os descendentes de Sete reconheciam o poder, o domínio e o direito do Deus vivo para governar. Deus suportou a perversidade e iniquidade daquela raça de longevos até declarar que não mais os toleraria. Enviou anjos a Noé para informar-lhe qual era o Seu propósito a respeito dos habitantes do mundo antigo. Aquele fiel filho da justiça [Noé] declarou aos habitantes a mensagem segundo a qual cento e vinte anos marcariam o fim de seu tempo de graça.” Manuscrito 86, 1886.
Quarta
A Fé Demonstrada por Abraão (Gênesis 12:1-8; Gênesis 22:1-18)
Em Habacuque 2:4 está escrito que o justo viverá da fé. Fé, do hebraico emunah, significa firmeza, estabilidade, fidelidade, confiança. Firmeza em que, estabilidade em que, fidelidade em que ou a quem?
Por que Adão caiu? Porque não creu, não se firmou, não se estabilizou em Deus, não foi fiel a Ele. A Bíblia diz que essa desconfiança é transgressiva, porquanto levou ao ato de pecar e por esse o pecado entrou no mundo (Rm 5:12). Adão descreu e pecou.
Em seu estado de pureza, Adão via constantemente o Invisível (I Tm 1:17; Cl 1:15). No pós-pecado, Deus tornou-Se invisível à humanidade porque não podia mostrar-lhe Sua consumidora presença, sem causar completa extinção do pecado que vivia no pecador. Só seres santos veem a presença visível de Deus.
Revelou-se logo após a queda o conceito ou ideia de um instrumento espiritual chamado fé. Ela envolvia o exercício da vontade humana na direção da Palavra dita por Deus. O primeiro anúncio do Evangelho, por exemplo, era crível: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” (Gn 3:15) Deus falou no conflito entre o Descendente da mulher (Cristo Jesus) e o satânico autor do pecado, consumando-se com sua derrota completa. Eram palavras, sim, mas vindas do Deus Vivo, inteiramente confiáveis como verdade irreversível.
Assim ficou estabelecido o meio de a decaída humanidade agradar a Deus e fazer-Lhe a vontade. Sem fé é impossível agradar ou obter aceitação diante de Deus.
O patriarca da fé
Abrão (assim chamado anteriormente) era um semita nascido em Ur dos Caldeus. Vivia numa das maiores , mais progressistas e mais importantes cidades do mundo antigo. Perdera seu irmão mais novo Harã – um duro golpe para este homem. Depois casou-se com uma moça que não lhe podia dar filhos – uma verdadeira desgraça social na época. Por decisão de Terá, seu pai, mudou-se com a família para Harã, cerca de 800 quilômetros de distância.
Depois de estabelecido em Harã, com 75 anos de idade veio-lhe o chamado divino: “Sai-te da tua terra e da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que Eu te mostrarei.” (Gn 12:1) Não fez nenhuma pergunta a Deus sobre o destino. Pela segunda vez deixava o conforme e as vantagens de uma grande cidade para uma vida de nômade. Creu nas palavras de Deus (versos 2 e 3) e em obediência de fé saiu. “Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia.” (Hb 11:8) Visto que fé é confiança – nesse caso específico na Pessoa e palavras de Deus – Abrão não se apegou a nada mais.
As promessas que Deus lhe fizera e dadas como razão para a viagem, poderiam ser tidas por um racionalista como ilógicas e impossíveis. Um homem de 75 anos, casado com uma senhora de 65 e que não lhe dera um filho sequer. Seria possível transformar essa criatura em pai de uma grande nação? Como? Ainda mais: Todas as famílias da Terra receberiam uma bênção especialíssima através de sua descendência, mormente mediante Um que seria semente dele e traria em Si mesmo a glória e todos os atributos da Divindade.
Depois de 25 anos nasceu-lhe o filho da promessa, o que daria sequência ao cumprimento da promessa divina.
Quando Isaque tinha 20 anos (Abraão estava com 120 – ver PP, 147, § 3), Deus ordenou a seu pai que o sacrificasse sobre um altar, num lugar distante de Berseba.
“Mesmo agora não murmurou contra Deus, mas fortaleceu a alma pensando nas provas da bondade e fidelidade do Senhor. Este filho fora dado inesperadamente; e não tinha Aquele que conferira a preciosa dádiva o direito de reclamar o que era Seu? Então a fé repetiu a promessa: ‘Em Isaque será chamada a tua semente’ (Gn 21:12) – semente numerosa como os grãos de areia na praia…”
Deixemos que o Espírito de Profecia narre a experiência do patriarca: “A ordem foi expressa em palavras que deveriam ter contorcido angustiosamente aquele coração de pai: ‘Toma agora o teu filho, o teu único filho Isaque, a quem amas, … e oferece-o ali em holocausto’. Gn 22:2. Isaque era-lhe a luz do lar, a consolação da velhice, e acima de tudo o herdeiro da bênção prometida. A perda de tal filho por desastre, ou moléstia, teria despedaçado o coração do pai extremoso; teria curvado sua encanecida cabeça pela dor; entretanto, foi-lhe ordenado derramar o sangue daquele filho, com sua própria mão. Pareceu-lhe uma terrível impossibilidade.” PP, 148.
“Aquele dia – o mais comprido que jamais Abraão experimentara – arrastava-se vagarosamente ao seu termo. Enquanto seu filho e os moços dormiam, passou ele a noite em oração, esperando ainda que algum mensageiro celestial pudesse vir dizer que a prova já era suficiente, que o jovem poderia voltar ileso para sua mãe. Nenhum alívio, porém, lhe veio à alma torturada. Outro longo dia, outra noite de humilhação e oração, enquanto a ordem que o deveria deixar desfilhado lhe repercutia sempre no ouvido. Perto estava Satanás para insinuar dúvidas e incredulidade; mas Abraão resistiu a suas sugestões. Quando estavam a ponto de iniciar a viagem do terceiro dia, o patriarca, olhando para o Norte, viu o sinal prometido, uma nuvem de glória pairando sobre o Monte Moriá, e compreendeu que a voz que lhe falara era do Céu.
No lugar indicado construíram o altar, e sobre o mesmo colocaram a lenha. Então, com voz trêmula, Abraão desvendou a seu filho a mensagem divina. Foi com terror e espanto que Isaque soube de sua sorte; mas não opôs resistência. Poderia escapar deste destino, se o houvesse preferido fazer; o ancião, ferido de pesares, exausto com as lutas daqueles três dias terríveis, não poderia ter-se oposto à vontade do vigoroso jovem. Isaque, porém, tinha sido educado desde a meninice a uma obediência pronta e confiante, e, ao ser o propósito de Deus manifesto perante ele, entregou-se com voluntária submissão. Era participante da fé de Abraão, e sentia-se honrado sendo chamado a dar a vida em oferta a Deus. Com ternura procura aliviar a dor do pai, e auxilia-lhe as mãos desfalecidas a amarrarem as cordas que o prendem ao altar.
“E agora as últimas palavras de amor são proferidas, as últimas lágrimas derramadas, o último abraço dado. O pai levanta o cutelo para matar o filho, quando o braço subitamente lhe é detido. Um anjo de Deus chama do Céu o patriarca: ‘Abraão, Abraão!’ Ele rapidamente responde: ‘Eis-me aqui’. E de novo se ouve a voz: ‘Não estendas a tua mão sobre o moço, e não lhe faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus, e não Me negaste o teu filho, o teu único’. Gn 22:11-18.” PP, 152.
Quinta
Betel, a Casa de Deus (Gênesis 28:10-22)
As Escrituras não mencionam um ato devocional sequer da parte de Esaú. Sabemos que ele era talentoso caçador e gostava de viver ao ar livre, possivelmente fazendo excursões de caçado em vários locais. Era cozinheiro também, porquanto preparava as caças preferidas de seu pai. Isaque gostava do tempero de Esaú.
Aos 40 anos Esaú, pouco se importando com a advertência divina de não se misturar com povos pagãos, tomou para si duas mulheres hetéias que se tornaram um tormento para Rebeca. Hebreus 12:16 diz que Esaú era impuro, profano ou violador de coisas sagradas.
Jacó: o significado de seu nome já não o recomendava – suplantador ou aquele que apreciava tirar vantagem dos outros. O primeiro ardil preparado por Jacó contra seu irmão teve como oportunidade a fome e o cansaço de Esaú. Jacó estava de olho nos direitos de primogenitura do irmão mais velho. Queria-o a todo custo. Tirando vantagem da fraqueza física e mental de Esaú, negociou a primogenitura em troca de um saboroso cozido de lentilhas. Obteve por fraude o que poderia ter sido seu por direito.
Concordou com a mãe numa conspiração para enganar Isaque, fazendo-se passar pelo irmão a fim de obter a cobiçada bênção. Usou de falsidade ideológica.
Isso lhe custou um exílio de 20 anos e muito trabalho sofrimento e tapeações por parte de seu sogro. Quem com a língua engana, pela língua será enganado.
A diferença entre os gêmeos era que Jacó, a despeito de tudo, era mais devocional que Esaú. Temia a Deus e procurava conhecê-Lo. O Espírito de Deus podia trabalhar com Jacó porque esse não era endurecido como Esaú.
No curso de sua fuga teve um sonho que o impressionou muitíssimo, pois sabia ser vindo de Deus. Viu uma escada que ligava a Terra ao Céu e por ela circulavam milhares de anjos, subindo e descendo. No topo da escada estava o Deus de Abraão e Isaque. É interessante que Deus confirmou a primogenitura de Jacó. Avalizaria o Senhor algo obtido por astúcia e fraude? Não! Jacó já havia se arrependido de seus feitos. A mesma promessa feita a Abraão foi reforçada a Jacó: a possessão de uma extensa terra, uma descendência que superaria o status de tribo e se tornaria uma nação poderosa que propagaria o conhecimento do Deus vivo. Deus também prometeu guardá-lo em seu exílio e acompanhá-lo com Sua constante presença.
Ao despertar Jacó entendeu não se tratar de um simples sonho, mas de uma revelação. A presença divina esteve no lugar comum onde acampara. Ele o chamou de Betel ou Casa de Deus. Percebeu que a Casa de Deus é a porta dos céus. Betel pode ser qualquer lugar onde Deus Se manifesta. Diz EGW que pode ser até o quarto de um enfermo (CBV, 226). Deus não habita em templos feitos por mãos humanas, mas está sempre disposto a manifestar-Se onde haja verdadeiros adoradores.
Betéis modernas – “Nossos lares precisam tornar-se uma Betel, nosso coração um santuário. Onde o amor de Deus é nutrido na alma, haverá paz, haverá luz e alegria. Abri a Palavra de Deus com amor diante de vossa família, e perguntai: ‘Que disse Deus?'” Carta 24a, 1896.
Betel flutuante – “Ajoelhei-me no veleiro e comecei a clamar a Deus por livramento. E ali em meio aos vagalhões que nos cobriam, enquanto as águas lavavam o topo do veleiro sobre nós, eu fui tomada em visão, e vi que mais depressa se secaria cada gota do oceano antes que nós perecêssemos, pois minha obra havia apenas começado. Quando voltei da visão todos os meus temores se haviam dissipado, e cantamos e louvamos a Deus, e nosso pequeno veleiro era para nós como uma flutuante Betel.” PE, 23.
A Betel de sábados, domingos e quartas – Quando prestamos nosso culto de adoração com amor e reverência, a igreja que frequentamos torna-se uma Betel. Nem sempre a igreja (edifício) é a casa de Deus. Que estou dizendo?! Sim, num lugar onde não há reverência, temor e tremor, devoção, afeto, mas ruidosas conversas e descaso pelos momentos sagrados que ali passamos, Deus Se retira ofendido. O Senhor procura aqueles que O adorem em espírito e em verdade. Não havendo adoradores desse perfil, Deus não estará presente.
Há, na igreja, dois tipos de adoradores: devotos-trigo e professos-joio. O Pai está presente para os primeiros e distanciado dos segundos, não por que lhes queira mal, mas devido à sua atitude ignara (ignorante) e folgazã. Lembremo-nos da parábola do fariseu e do publicano no templo.
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