por: Joêzer Mendonça
Há um argumento no livro Joyful Noise, de Ed Christian, sobre a música cristã contemporânea, que pede uma reflexão: a música não deveria ser julgada por gostos pessoais, mas pelos seus frutos espirituais.
Podemos ler esse argumento de dois modos. Um, pela perspectiva pragmática que parece endossar. Dois, pela modernização das estratégias a fim de tornar relevante e significativo a “velha e feliz história” às sociedades modernas.
Ações pragmáticas não são intrinsecamente ruins. Elas se tornam contraproducentes quando os meios utilizados para chegar ao fim distorcem o padrão de interpretação bíblica (no caso específico, o padrão teológico adventista). Para pensar antes do culto: a visão utilitária da música como ferramenta de evangelização encontra respaldo teológico, é uma estratégia de sobrevivência no mercado das religiões ou apenas atende a procura de gratificação e liberação das pessoas?
As escolas adventistas existem para quê? Existem não somente para dar aos filhos dos membros da igreja uma educação escolar pautada pelos princípios que a igreja advoga, embora muitos dos membros que podem não queiram, e muitos que querem não podem. Existem também para revelar a mensagem bíblica de salvação. Isso é ou não é pragmatismo?
Os hospitais adventistas existem para quê? Repito a resposta acima substituindo educação por atendimento clínico. Por sua vez, o Natal é devidamente cristianizado pelo desejo de alcançar pessoas que se mostram mais suscetíveis ao evangelho nesse período do ano.
No entanto, a escola não vai adotar o evolucionismo só para atrair novos alunos. A escola ensinará as teorias do evolucionismo, mas não as defenderá em detrimento do criacionismo bíblico. Não é porque se respeita o feriado junino e os brincantes dos festejos que festas juninas serão realizadas com boi-bumbá, quadrilha e fogueira no pátio dessas escolas. O pragmatismo precisa ter limites ou se derrapará para um “vale-tudo” criticado até porque não é cristão. Sem limites e reflexões a respeito, o pragmatismo vira PRAGAmatismo.
Algumas igrejas adventistas costumam fazer confraternizações em espaços adjacentes (pátios cobertos ou salões de jovens). Almoço ou jantar, se é um evento oficial que envolve os membros e convidados, o cardápio é via de regra vegetariano. Embora nem todos os membros sejam adeptos desse regime alimentar, a igreja segue o princípio geral que sustenta enquanto instituição.
Na música sacra não há um princípio tão claro quanto há nas recomendações alimentares e educacionais. Talvez porque a dinâmica da evolução musical ocorra de forma diferente em relação às funções do corpo humano e às estruturas do saber humano. Caso contrário, a Bíblia traria referências explícitas ao modo de compor. Contudo, nem os escritos de Ellen G. White, que fundamentavam biblicamente a interpretação adventista sobre vários temas, revelam quais os acordes que servem ou não à liturgia ou citam nominalmente os estilos mais adequados.
Vemos, porém, que o princípio de unidade congregacional permeia os eventos oficiais da igreja, e as estratégias de escolas e hospitais buscam o respeito à visão institucional.
No tocante à música congregacional dos cultos (a doxologia que envolve entrada do pastor e das pessoas que comporão a plataforma, o ofertório, as mensagens musicais, incluindo as músicas de apelo, os momentos do canto congregacional ou louvor, a música de saída do templo), as pessoas que fazem parte do ministério da música precisam visar a igreja como um todo, e não como grupos heterogêneos de gostos musicais.
É a comunidade (adventista) que está em adoração; não é meu gosto musical que está sendo adorado. Se é a comunidade reunida é adventista, não há razão para cantar, nesses momentos específicos, músicas extremamente associadas com o formato “louvor & adoração” da moda. Não porque alguns pensem que são canções doutrinariamente pobres ou musicalmente repetitivas. Esse argumento apenas reflete o infeliz senso de superioridade musical de alguns.
O argumento correto é o de unidade congregacional. Não é hora para associações religiosas inoportunas nem para inovações irreverentes ou que venham a constranger uma parte que seja da igreja.
Ok, os mais velhos são mais rapidamente constrangidos, mas apesar de ser impossível agradar a todos, a maioria conhece a forma adequada de celebrar em conjunto. Isso não quer dizer que só as músicas com mais de 100 anos devem ter preferência. Como exemplo, nos cultos matutinos do sábados, considerado o culto central da igreja, pode-se alternar hinos vibrantes ou meditativos, mas não de funeral, você sabe, com músicas contemporâneas dos CDs do Ministério Jovem, não as mais animadas, você sabe, e ainda com canções conhecidas de grupos e cantores da igreja.
Nem funeral nem oba-oba. Os extremos levam ou ao formalismo estático ou ao êxtase informal. Deus é Senhor mas é Pai. Jesus é o Salvador mas é Amigo. Mas nem o Pai nem o Amigo são colegas de recreio.
Fonte: Nota na Pauta