A Forma da Adoração / Debate Sobre a Música na Igreja

Palmas na Igreja Adventista

por: Levi de Paula Tavares

Qual é a posição da igreja com respeito ao uso de palmas na adoração?

Na verdade, assim como em toda a questão da música sacra e da adoração, não existe o que poderíamos chamar de “posição oficial”, do tipo que poderíamos encontrar entre as 28 crenças fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Mesmo a “Filosofia Adventista de Música”, um documento oficial da Associação Geral, publicado em 1972, e revisto em 2005, não traz nada a respeito das palmas, talvez por que fosse impensável para os que participaram de sua elaboração que alguém, algum dia usaria palmas na igreja.

Vamos então, buscar na revelação divina os subsídios necessários para compreendermos a vontade de Deus com relação a isto. Os textos bíblicos que citam, de alguma forma, este tipo de manifestação são os seguintes:

Números 24:10 – “Então a ira de Balaque se acendeu contra Balaão, e bateu ele as suas palmas; e Balaque disse a Balaão: Para amaldiçoar os meus inimigos te tenho chamado; porém agora já três vezes os abençoaste inteiramente.”

II Reis 11:12 – “Então Joiada fez sair o filho do rei, e lhe pôs a coroa, e lhe deu o testemunho; e o fizeram rei, e o ungiram, e bateram as palmas, e disseram: Viva o rei!”

Jó 27:22-23 – “E Deus lançará isto sobre ele, e não lhe poupará; irá fugindo da sua mão. Cada um baterá palmas contra ele e assobiará tirando-o do seu lugar.”

Jó 34:36-37 – “Pai meu! Provado seja Jó até ao fim, pelas suas respostas próprias de homens malignos. Porque ao seu pecado acrescenta a transgressão; entre nós bate palmas, e multiplica contra Deus as suas palavras.”

Salmos 47:1 – “Batei palmas, todos os povos; aclamai a Deus com voz de triunfo. Porque o SENHOR Altíssimo é tremendo, e Rei grande sobre toda a terra.”

Salmos 98:8 – “Os rios batam as palmas; regozijem-se também as montanhas,”

Isaías 55:12 – “Porque com alegria saireis, e em paz sereis guiados; os montes e os outeiros romperão em cântico diante de vós, e todas as árvores do campo baterão palmas.”

Lamentações 2:15 – “Todos os que passam pelo caminho batem palmas, assobiam e meneiam as suas cabeças sobre a filha de Jerusalém, dizendo: É esta a cidade que denominavam: perfeita em formosura, gozo de toda a terra?”

Ezequiel 6:11 – “Assim diz o Senhor DEUS: Bate com a mão, e bate com o teu pé, e dize: Ah! Por todas as grandes abominações da casa de Israel! Porque cairão à espada, e de fome, e de peste.”

Ezequiel 21:14 – “Tu, pois, ó filho do homem, profetiza e bate com as mãos uma na outra; e dobre-se a espada até a terceira vez, a espada dos mortos; ela é a espada para a grande matança, que os traspassará até o seu interior.”

Ezequiel 21:17 – “E também eu baterei com as minhas mãos uma na outra, e farei descansar a minha indignação; eu, o SENHOR, o disse.”

Ezequiel 22:13 – “E eis que bati as mãos contra a avareza que cometeste, e por causa do sangue que houve no meio de ti.”

Ezequiel 25:6 “Porque assim diz o Senhor DEUS: Porquanto bateste com as mãos, e pateaste com os pés, e com todo o desprezo do teu coração te alegraste contra a terra de Israel,”

Naum 3:19 – “Não há cura para a tua ferida, a tua chaga é dolorosa. Todos os que ouvirem a tua fama baterão as palmas sobre ti; porque, sobre quem não passou continuamente a tua malícia?”

A simples leitura dos textos acima nos deixa claro imediatamente que a expressão “bater palmas” na cultura hebraica dos tempos do Antigo Testamento, se referia muito mais a uma expressão de surpresa e espanto do que qualquer forma de comemoração ou reconhecimento, como hoje ocorre na nossa cultura. Esta expressão de surpresa poderia ser tanto positiva quanto negativa, ou até mesmo de forte reprovação, zombaria, escárnio e desprezo.

Na verdade, podemos agrupar os textos acima, de acordo com seus significados, da seguinte forma:

  • Surpresa, espanto: Números 24:10; Salmos 98:8; Isaías 55:12; Lamentações 2:15; Naum 3:19
  • Reprovação, repreensão, rejeição, desprezo: Jó 27:22-23; Ezequiel 6:11; Ezequiel 22:13
  • Afirmação, concordância: Jó 34:36-37; Ezequiel 21:14; Ezequiel 25:6-7
  • Celebração, reconhecimento: II Reis 11:12; Salmos 47:1-2

Assim, fica bastante óbvio que qualquer referência a textos bíblicos que mencionem “bater palmas” (os quais ocorrem apenas no Velho Testamento), não pode ser transposta diretamente para a nossa cultura e às manifestações atuais, uma vez que o sentido das expressões bíblicas é muito diferente daquele empregado hoje. Será necessário uma análise do contexto das citações, para podermos compreender mais corretamente seu significado. Vamos analisar apenas os dois textos que indicam um significado de celebração ou reconhecimento, já que os outros significados estão, por si mesmos, excluídos da adoração.

Em II Reis 11:12 é citado o aplauso de reconhecimento e celebração. Porém, dizer que o rei estava sendo adorado através desta manifestação é absurdo! Fica assim evidenciado que o ato de bater palmas não era usado de forma direta como elemento de adoração, mesmo quando era usado como forma de celebração ou reconhecimento.

De todos os textos acima, a única referência bíblica acerca de bater palmas que poderíamos, de alguma forma, relacionar com o louvor é de Salmos 47:1-2. Porém, devemos observar uma coisa importante: O contexto do Salmo 47 indica que não é o povo de Israel que estava sendo chamado a bater palmas, mas sim as nações que haviam sido subjugadas. Ora, será que os povos pagãos, que não conheciam a Deus de forma plena nem O amavam, e que foram subjugados em Seu nome, estariam dispostos a adorá-Lo? Estariam dispostos a saudar o Deus do povo que os dominara? Provavelmente não e, neste caso, não podemos, de forma alguma, chamar isso de adoração.

Portanto, sendo Salmos 47:1-2 o único texto que poderia ser utilizado para defender esta prática como parte da adoração, podemos dizer com segurança que não há justificativa escriturística para fazer uso desta expressão no contexto da adoração a Deus na igreja. Se fosse esta a intenção do Salmo, ou se houvesse uma justificativa coerente para isto, este prática teria sido introduzida no Templo. Porém o relato bíblico nega esta possibilidade, já que não há nenhuma indicação aqui ou qualquer outro lugar da Bíblia de que bater palmas fosse uma característica usual na adoração.

Além disso, diferentemente da prática que se quer adotar atualmente em algumas igrejas (inclusive com o apoio de alguns pastores), notamos que somente Deus é o receptor desta expressão exuberante de alegria relatada no Salmo 47, e não um cantor, pregador, ou qualquer outra pessoa que se apresenta à frente. Da mesma forma, este “bater palmas” não é um acompanhamento rítmico à música que está sendo cantada. Tendo em vista a análise feita acima, não podemos dizer com certeza que o aplauso tenha entrado na igreja Adventista do Sétimo Dia como o resultado de uma pesquisa com oração, na Bíblia e nos escritos de Sra. White. Veio, como tantas outras coisas vieram, mais pelo “desejo de moldar-se segundo outras igrejas” (Mensagens Escolhidas, vol. 2, p. 18).

Ellen White, embora sem mencionar palmas diretamente, dá o seguinte conselho, referindo-se a um regente e cantor: “Movimentos corporais são de pouco proveito. Tudo o que esteja ligado, de alguma forma, com o serviço religioso, deve ser digno, solene e impressivo. Deus não se agrada quando ministros que professam ser representantes de Cristo, representam-No tão mal como se fossem arremessar o corpo em atitudes de representação, gesticulando de modo indigno e vulgar, e gestos grosseiros e reles. Tudo isso diverte e despertará a curiosidade daqueles que desejam ver coisas estranhas, bizarras e empolgantes, mas estas coisas não elevarão a mente e o coração daqueles que as testemunham.” Manuscript Releases, vol. 5, Manuscript nr. 306 – Music, p. 194

Foi mostrado a Ellen White o conflito final do povo remanescente de Deus:

“Vi que alguns, com fé robusta e gritos clamavam perante Deus. Estavam pálidos e seus rostos demonstravam a profunda ansiedade resultante de luta interna. Grossas gotas de Suor banhavam sua fronte…

Os anjos maus os rodeavam, oprimindo-os com trevas para ocultar-lhes a visão de Jesus … De quando em quando Jesus enviava um raio de luz aos que angustiosamente oravam, para iluminar seu rosto e dar alento aos seus corações.

Vi que alguns não participavam dessa obra…ao contrário mostravam-se indiferentes e negligentes, sem cuidar-se de resistir as trevas que os envolviam, e essas trevas os encobriam como uma densa nuvem. Os anjos de Deus se afastaram deles e acudiram em auxilio aos que dedicadamente oravam. Vi anjos de Deus que se apressavam para auxiliar todos quantos de empenhavam em resistir com todas as forças aos anjos maus e procuravam ajudar-se a si mesmos invocando perseverantemente a Deus.” (Primeiros Escritos, pp. 269-270)

Brevemente, antes da vinda de Jesus, cada cristão deve passar pela experiência do Getsêmani. Aqueles que desenvolveram uma experiência superficial baseada no emocionalismo, não suportarão este tempo. Porém aqueles que têm aprendido a defender a verdade e os princípios, receberão ajuda para permanecerem firmes.

Haverá um verdadeiro derramamento do Espírito Santo. Porém não será acompanhado de música mundana, palmas, leviandade, trivialidade e fanatismo – ao contrário, nos levará a uma profunda contrição de alma. Mas antes do verdadeiro derramamento do Espírito Santo virá um movimento falso, assim como antes da segunda vinda de Cristo haverá uma segunda vinda falsa. Não será muito melhor esperar pelo Espírito Santo verdadeiro e pela verdadeira Segunda Vinda?

“E naquele dia se dirá: Eis que este é o nosso Deus, a quem aguardávamos, e ele nos salvará; este é o SENHOR, a quem aguardávamos; na sua salvação gozaremos e nos alegraremos”. Isaías 25:9


Seguem abaixo algumas outras citações de Ellen White a respeito da ordem e solenidade no culto:

“Não temos tempo agora para gastar em buscar as coisas que agradam unicamente aos sentidos. É preciso íntimo esquadrinhar do coração. Necessitamos, com lágrimas e confissão partida de um coração quebrantado, aproximar-nos mais de Deus; e Ele Se aproximará de nós.” – Review and Herald, 14 de novembro de 1899 – Evangelismo, p. 510

“As superfluidades que se introduziram no culto em ______, têm de ser vigorosamente evitadas. … A música só é aceitável a Deus quando o coração é consagrado, e enternecido e santificado por sua docilidade. Muitos, porém, que se deleitam na música não sabem coisa alguma sobre produzir melodia ao Senhor, em seu coração. Estes foram ‘após seus ídolos'”. Ezequiel 6:9. – Carta 198, 1899.

“Quando os professos cristãos alcançam a alta norma que é seu privilégio alcançar, a simplicidade de Cristo será mantida em todo o seu culto. As formas, cerimônias e realizações musicais não são a força da igreja. No entanto, estas coisas tomaram o lugar que deveria ser dado a Deus, tal como se deu no culto dos judeus.

O Senhor revelou-me que, se o coração está limpo e santificado, e os membros da igreja são participantes da natureza divina, sairá da igreja que crê a verdade um poder que produzirá melodia no coração. Os homens e as mulheres não confiarão então em sua música instrumental, mas no poder e graça de Deus, que proporcionará plenitude de alegria. Há uma obra a fazer: remover o cisco que se tem trazido para dentro da igreja. …

Esta mensagem não se dirige apenas à igreja de ______, mas a todas as igrejas que lhe seguiram o exemplo.” – Manuscrito 157, 1899.

“Outros ainda vão ao extremo oposto, pondo mais força nas emoções religiosas, e manifestando intenso zelo nas ocasiões especiais. Sua religião parece ser mais da natureza de um estimulante do que uma permanente fé em Cristo.

Os verdadeiros pastores conhecem o valor da obra interior do Espírito Santo sobre o coração humano. Satisfazem-se com a simplicidade nos cultos. Em vez de dar valor ao canto popular, volvem sua atenção principalmente para o estudo da Palavra, e dão de coração louvor a Deus. Acima do adorno exterior, consideram o interior, o ornamento de um espírito manso e quieto. Na sua boca não se acha engano.” – Manuscrito 21, 1891.

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