por: Rayssan Guimarães Cruz
Por muitos séculos, a música tem causado preocupação à igreja cristã. Teólogos e músicos sempre procuraram definir o tipo de música adequada para ser utilizada na adoração a Deus.
Em cada período de nossa história, novas formas e novos conceitos musicais são acrescentados, propiciando novo rumo para a música. [1] Quando analisamos a história da música, vemos que cada época mostra problemas e horizontes.
A grande preocupação da igreja é evitar qualquer semelhança ou influência das musicas e rituais pagãos. [2] A igreja primitiva tinha o intuito de ser diferente. O propósito era mostrar a diferença para atrair, e não a semelhança para difundir. Para evitar muitas dessas semelhanças, algumas decisões foram tomadas. Um exemplo foi a proibição de instrumentos musicais na liturgia da igreja. [3] Por muitos anos, os primeiros cristãos optaram por cânticos a capela. [4]
O mundo evoluiu, grandes descobertas foram feitas para beneficio da sociedade atual. E não foi diferente em reles ao à música. Novos conceitos e normas foram acrescentados para beneficiar e enriquecer nossa adoração. Imagine como seria se até hoje os instrumentos musicais ainda fossem proibidos na liturgia da igreja! O desenvolvimento musical é fruto do desenvolvimento da igreja. É claro que não podemos nos apegar a essa afirmação para introduzir qualquer estilo ou instrumento musical em nossas congregações.
“A diversidade de origens, cultura, localização geográfica, influencia social e outras variáveis tornam impossível e impraticável satisfazer gostos e preferências individuais sem causar confusões.” [5] O grande problema é que muitos tentam definir a música ideal a partir de seu gosto ou de sua cultura, mas não por “critérios teológicos claros originados de uma teologia da música na igreja”. [6] Essas discussões causam intrigas entre membros, pastores e músicos. Forma-se uma divisão: liberais de um lado conservadores de outro.
Não podemos questionar o fato de Deus não ter deixado normas específicas para a música. Ele poderia ter “revelado Sua vontade em relação à música e à adoração num único capítulo ou livro da Bíblia […], mas Ele decidiu não fazê-lo”. Entretanto, por meio de Sua Palavra, Ele nos deixou princípios infalíveis “que governam e transcendem as questões de cunho cronológico, étnico e cultural”. [7]
Como adventistas, devemos escolher o melhor para a adoração a Deus. Devemos lançar mão dos benefícios alcançados pela escolha da boa música. Esta é “um dos meios mais eficazes para impressionar o coração com verdades espirituais”. Por meio dela, “as tentações perdem seu poder, a vida assume nova significação e novo propósito, e o ânimo e a alegria se comunicam a outras pessoas!” [8]
A Bíblia afirma que a música tem um propósito definido (II Crônicas 20:14-22; II Crônicas 5; I Crônicas 16:8-36; Salmos 33:2; Salmos 67:5). Descobertas arqueológicas revelam que a música era uma arte altamente cultivada entre muitas nações antigas, inclusive entre os hebreus. [9] O objetivo principal era elevar os “pensamentos àquilo que é puro, nobre e edificante, e despertar na pessoa a gratidão para com Deus”. [10] A música é um dom de Deus para a humanidade. [11]
Há muito trabalho a ser feito “por aqueles que procuram trazer uma base teológica ao estudo da música na igreja”. Mas uma coisa é certa: no decorrer da História, a música cristã tem mostrado uma característica diferenciada. E para que ela continue com essa característica, não podemos defini-la a partir de nossas próprias conclusões, mas por meio dos princípios estabelecidos pela Palavra de Deus.
“Fazer música adventista do sétimo dia consiste em escolher o melhor. Nessa tarefa, acima de tudo, nos aproximamos de nosso Criador e Senhor e O glorificamos. Cumpre-nos aceitar o desafio de ter uma visão musical diferenciado e viável, como parte de nossa mensagem profética, dando assim uma contribuição musical adventista importante e revelando ao mundo que somos um povo que aguarda a breve volta de Cristo.” [12]
Rayssan Guimarães Cruz é formado em Música e estuda Teologia no Unasp, campus de Engenheiro Coelho, SP.
Referências:
1 – Luiz Cosme, Introdução à Música (São Paulo, SP: Editora Globo, 1959), p. 31. (voltar)
2 – Ver Rodrigo Silva, Apostila de História Eclesiástica I (Engenheiro Coelho, SP: SALT, 2009), p. 29. (voltar)
3 – Edson Frederico, Música, Breve História (Irmãos Vitale: SP, 1999), p. 60. (voltar)
4 – Silva, Apostila de História Eclesiástica I, p. 29. (voltar)
5 – Eurydice V. Osterman. O Que Deus Diz Sobre Música (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2007), p. 104. (voltar)
6 – Winter, Miriam T., Why Sing? Toward a Theology of Catholic Church Music(Washington D.C.: Pastoral Press, 1984), p. 195. (voltar)
7 – Osterman, op. cit., p. 2. (voltar)
8 – Ellen G. White Educação (Tatuí, Casa Publicadora Brasileira, 200l),p.168. (voltar)
9 – Paul McCommon, A Música na Bíblia (Rio de Janeiro, Casa Publicadora Batista), p. 143. (voltar)
10 – White, Música, Sua Influência na Vida do Cristão (Tatuí, SP. Casa Publicadora Brasileira, 2005), p. 19. (voltar)
11 – Osterman, op. cit., p. 106 (voltar)
12 – Ver voto 144-03G da Associação Geral. (voltar)
Fonte: Revista Adventista – Junho/2009, p. 11