por: Dr. Peter Masters
Os Fatos a Respeito dos Instrumentos Bíblicos e as Regras Firmes Restringindo Seu Uso na Adoração
Que é que a Bíblia ensina sobre como instrumentos devem ser usados na adoração? Esta é hoje uma inflamada questão. Aqueles que advogam o uso irrestrito de ‘números’ de solos e grupos instrumentais, apontam para o Velho Testamento e alegam que Deus permitiu todos os tipos de instrumentos e grandes orquestras contribuírem como um dos principais elementos para a adoração. Se Deus, argumentam eles, é o mesmo ontem, hoje e para sempre, Ele desejará o mesmo tipo de adoração hoje.
Mas será verdade que Deus permitiu adoração completamente instrumental na igreja judaica? Será verdade, por exemplo, que a adoração era liderada por tamborins tocados por moças dançando? Será verdade que os judeus adoravam regularmente com instrumentos de percussão e instrumentos de metais, e que estes geravam uma música poderosa e rítmica?
Um breve exame dos dados mostrará que esta ideia passa a milhares de quilômetros da verdade. No Velho Testamento, Deus pôs restrições muito firmes no uso dos instrumentos, obviamente para impedir que o excessivo deleite na música ao nível humano sobrepujasse e eclipsasse a adoração espiritual. Instrumentos eram permitidos, mas somente alguns, e somente em momentos determinados. Portanto, o exemplo do Velho Testamento ensina um grande princípio que hoje é tragicamente desprezado pelos adoradores do novo estilo.
Compreendemos que a Igreja de Jesus Cristo não está sob as regras do Velho Testamento. Suas regras de adoração não se aplicam a nós hoje. Contudo, os princípios gerais ensinados por Deus na ocasião ainda se aplicam e é por isso que precisamos examinar a afirmação de que Deus permitiu irrestritamente a adoração instrumental e rítmica.
Antes de examinarmos os fatos, um ponto genérico tem que ser estabelecido sobre adoração. Os promotores do novo estilo de adoração dizem que podemos fazer quase que qualquer coisa na adoração, desde que seja feito para a glória de Deus. Se podemos tocar gaita de foles e tambores em casa, também podemos usá-los para a glória de Deus na igreja, como um ato de adoração. A única questão a nos preocupar (dizem eles) é do “gosto” da platéia. (Se, por exemplo, a gaita de foles pode ofender os adoradores, então é apenas por esta razão que ela será inapropriada) Em princípio, contudo, se podemos usar um instrumento ou estilo de música para a glória de Deus em nossa vida privada ou social, também podemos usá-lo para a glória de Deus em adoração. Este é o argumento apresentado pelos advogados das novas tendências de adoração.
No entanto, este modo de pensar é equivocado, porque despreza uma regra vital da Bíblia – que Deus separa a adoração direta de todas as outras coisas feitas pelos Seus filhos. Tudo que fazemos em vida tem que ser feito para Sua glória, mas a adoração direta é uma atividade especial e única, governada por regras e diretrizes especiais. Veremos na seqüência que o Velho Testamento fala de pelo menos oito tipos de instrumentos usados comumente pelo povo daqueles dias, e todos eles eram permitidos na vida particular, social e cívica. Contudo, apenas quatro deles eram permitidos na adoração direta na casa de Deus. É imensamente importante estarmos conscientes disto.
Instrumentos Banidos
Tomemos, por exemplo, a flauta. Lemos de vários tipos de instrumentos da família da flauta, tais como a ‘flauta’ (halil) – uma flauta tocada transversalmente, com três ou quatro orifícios. Lemos do ‘dulcímero’ – uma flauta dupla. Mas nenhum tipo de flauta foi permitido na adoração no Templo.
Por que era assim? Porque o Senhor estava ensinando a necessidade de algumas restrições, a fim de que as mentes pudessem participar na adoração espiritual sem serem distraídas por instrumentos demais.
Outros instrumentos usados pelos judeus mas excluídos do Templo foram o tamboril ou ‘tabret’, que era um pandeiro e o ‘órgão’, que era uma enorme gaita-de-boca com sete a dez flautas (provavelmente com palhetas). Todos estes instrumentos poderiam ser usados para recreação e para festas cívicas ao ar livre, mas não na casa de Deus. Portanto, a alegação moderna de que qualquer coisa podia ser usada, está errada.
Ordens Enfáticas
De onde vem esta informação a respeito de restrições? Não será ela mera especulação de eruditos estudiosos da Bíblia? Não, ela está claramente especificada na Bíblia. Em vários textos (I Crônicas 15:16,28; 16:5,6,42; 25:1,6), lemos dos instrumentos indicados nos tempos de Davi (sob inspiração divina) para serem usados em adoração direta no Tabernáculo e no Templo. Veremos adiante que estes instrumentos foram limitados ainda mais para adoração particular ou ‘local’. Os instrumentos do Templo eram saltério, harpa e címbalos. 1 Estes deviam ser tocados pelos Levitas. Apenas os sacerdotes deveriam tocar a trombeta (inclusive a corneta), para propósitos especiais 2. Estes quatro instrumentos eram somente metade do número de instrumentos em uso comum naquele tempo.
No tempo do rei Ezequias, estas regras foram reafirmadas em II Crônicas 29:25-26: ‘E pôs os levitas na casa do Senhor com címbalos, com saltérios, e com harpas, conforme ao mandado de Davi e de Gade, o vidente do rei, e do profeta Natã; porque este mandado veio do Senhor, por mão de seus profetas. Estavam, pois, os levitas em pé com os instrumentos de Davi, e os sacerdotes com as trombetas.’
Apenas três tipos de instrumento deviam ser tocados pelos Levitas, e um pelos sacerdotes. Mas de que modo eles foram usados? Os versos seguintes nos respondem:
‘E Ezequias deu ordem que oferecessem o holocausto sobre o altar; e ao tempo em que começou o holocausto, começou também o canto do Senhor, com as trombetas e com os instrumentos de Davi, rei de Israel. E toda a congregação se prostrou, quando entoavam o canto, e as trombetas eram tocadas; tudo isto até o holocausto se acabar. E acabando de o oferecer, o rei e todos quantos com ele se achavam se prostraram e adoraram.’ (II Crônicas 29:27-29)
Foi a música caracterizada por ritmo forte? A ideia de que foi é pura especulação. Nos é dito que as trombetas chamavam o povo para as assembléias solenes, e acompanhavam a queima das ofertas – uma atividade solene, que causava temor e mesmo vergonha. O termo hebraico para ‘solenidade’ aparece na descrição destes atos de adoração. À luz disto, o mais provável é que as trombetas e címbalos fossem tocadas para incitar o povo à seriedade (os címbalos mantendo o tempo do cântico). A ideia de uma música com idioma moderno é terrivelmente forçada na leitura destas passagem que descrevem a adoração.
Naturalmente, adoração tem um forte elemento de alegria, mas ver as orquestras do Tabernáculo e do Templo como sendo bandas rítmicas é obviamente absurdo.Observamos que não havia nenhum tambor ou tamborins naquelas orquestras (como há hoje sobre as plataformas de muitas igrejas).
Orquestras Pequenas
Também observamos que os instrumentos tocavam somente durante a queima da oferta, e então a música parava, e cada pessoa continuava a adorar sem instrumentos.
No tempo de Davi, a orquestra da casa do Senhor parece ter consistido de vinte e sete músicos (I Crônicas 25:1-5). Se este é um entendimento correto, então esta era uma orquestra extremamente modesta para acompanhar o cântico de um enorme número de adoradores 3. Desta provisão bastante pequena, torna-se claro que esta música não tinha o objetivo de dominar ou distrair as pessoas da adoração inteligente e cheia de sentimentos.
Séculos depois, quando a adoração do Templo foi restaurada por Esdras e Neemias, a regra dos quatro instrumentos foi escrupulosamente seguida, confirmando que era uma regra que se aplicava para os judeus. (Ver Esdras 3:10 e Neemias 12:27.)
Todas estas instruções aplicaram-se primeiramente ao segundo estágio da recuperação da arca e, mais tarde, a toda a adoração no Templo. Contudo a mesma instrumentação não foi prescrita para adoração nas sinagogas locais 4. Esta era muito mais simples, e os címbalos e trombetas desapareceram. Tornou-se agora impossível forçar uma leitura de bandas ritmadas para dentro da Bíblia. Os instrumentos de corda indicados para a adoração ‘comum’ eram doces e suaves, ao invés de clamorosos.
No Livro dos Salmos, vemos que harpas e saltérios eram os únicos instrumentos para acompanhamento de salmos em adoração particular ou nas sinagogas 5. Não deveria haver nenhum instrumento de metal ou de percussão. O próprio título do livro, ‘Saltério’, é, por definição, uma coleção de canções cantadas ao acompanhamento da harpa. O Salmo 92 fornece um exemplo desta instrução. O título ou cabeçalho do salmo diz que era ‘Um Salmo e Cântico para o Dia do Sábado’. Ele devia ser cantado (verso 3) com um instrumento de dez cordas, o saltério, e a ‘harpa com um som solene’. Neste salmo nenhuma festa de lua cheia ou festa especial estava em mente, portanto ele era para ser acompanhado somente pelos dois instrumentos básicos.
Os seguintes salmos também estabelecem a regra que salmos eram para ser cantados ao som de harpas e saltérios: Salmo 33, 43, 49, 57, 71, 92, 108, 144 e 147. Nos Salmos 4 e 55 os títulos mencionam instrumentos de corda, e no Salmo 12 o título prescreve uma lira (um tipo de harpa) de oito cordas. Com estes instrumentos modestos e apropriados o canto era acompanhado em toda a adoração particular e nas sinagogas.
Há Contradições?
As regras do Velho Testamento são claras, mas às vezes parecem ser contraditas nos Salmos. Advogados do novo estilo de adoração apontam para passagens tais como Salmos 68:25 onde Davi menciona “as donzelas tocando adufes”, e insistem que isto justifica o uso do tamborim. Em diversos outros Salmos, Davi parece contradizer suas próprias regras (ou melhor, as regras dadas a ele por Deus). É a partir destes versos que muitos adoradores do novo estilo tomam suas licenças para organizar eventos tais como ‘concertos de louvor’.
Sua interpretação e uso que destes versos, contudo, é claramente equivocada, porque leva a Bíblia a se contradizer, e não há nenhuma contradição na Palavra de Deus. Não é possível que Deus daria ordens definitivas em um local e as contradiga totalmente em outro. Este fato deveria nos fazer examinar mais cuidadosamente aquelas passagens que parecem contradizer as regras. Quando o fazemos, percebemos imediatamente que os instrumentos banidos não estavam sendo usados na adoração direta a Deus, mas sim em festas cívicas ao ar livre, comemorando grandes batalhas da história.
Não devemos esquecer que os Israelitas eram tanto uma nação-governo quanto uma religião. Havia muitas coisas que lhes eram permitido fazer como nação mas que não tinham nenhum lugar na sua adoração direta e formal. Passeatas especiais, paradas militares e dias de ação de graças, eram atividades cívicas ao ar livre. Meninas pequenas iam à frente dessas procissões, dançando e sacudindo seus tamborins. Mas nenhuma dessas coisas foi jamais permitida no Templo.
O adufe-tamborim de Salmos 68:25 é obviamente parte de uma atividade cívica. Este salmo, embora profético e messiânico, é baseado em uma notável vitória militar. Refere-se às carruagens de Deus, e como um conquistador leva cativa uma hoste de prisioneiros, depois da batalha. Fala de futuras vitórias. O poder de Deus – como aprendido no santuário – é agora relembrado nas ruas, e ‘os cantores iam adiante, os tocadores de instrumento atrás; entre eles as donzelas tocando adufes.” O salmo inclui referências a ambos aspectos da vida judaica – festas cívicas e adoração direta. Não há contradição das regras do Templo.
Outro Salmo com ‘Adufes’
Em Salmos 81:2, o adufe é novamente encontrado: ‘Tomai o salmo, e trazei junto o tamborim, a harpa suave e o saltério.’ Este é um salmo de Asafe. Estava ele quebrando as regras e introduzindo na adoração o adufe, um instrumento proibido? A resposta é não, pois seu salmo é uma conclamação ao povo, para juntar-se na adoração e festividades da Festa dos Tabernáculos. Esta era a mais alegre de todas as festas. Comemorava a libertação do povo do Egito, sua sobrevivência no deserto, e a ‘colheita’ na Terra Prometida.
Durante os sete dias da festa, todos os israelitas viviam em ‘cabanas’ ou ‘tendas’ feitas de folhas de palmeiras, simbolizando as tendas da peregrinação no deserto. Esta festa, com suas ofertas, era também o festival nacional da colheita. Obviamente, era uma ocasião onde era dada expressão a virtualmente cada instinto cultural de vida ao ar livre, e muita música acompanhava as longas procissões de Israelitas viajando para comemorar a festa em Jerusalém. Naturalmente, as ‘donzelas’ tocavam seus tamborins, e a dança nacional dos Hebreus ficava em muita evidência à noite, em cada acampamento.
Com estas cenas de festividade nacional em mente, compreendemos que Asafe não errou quanto os instrumentos. Ele não adicionou o tamborim à orquestra do Templo, nem o prescreveu como um instrumento para adoração direta.
O Salmo 98:5-6 menciona a harpa para acompanhar o cântico de salmos, e adiciona trombetas. Ora, estas eram para ser tocadas somente pelos sacerdotes, em dias especiais de festas. Com muita segurança, este salmo inclui a comemoração de grandes vitórias e, desta forma, a adoração em dias especiais é o que está em mente.
A fórmula é, como sempre – tamborins e dança cultural nas festividades nacionais, doces instrumentos da família da harpa na adoração normal e o acréscimo de trombetas e címbalos na adoração do Templo.
Dança e Percussão
Os dois últimos dos salmos são constantemente citados pelos promotores do novo estilo de adoração, como uma justificativa para o uso irrestrito de instrumentos (com dança) na adoração direta.
O Salmo 149 inclui o verso ‘Louvem o seu nome com danças; cantem-lhe o seu louvor com tamborim e harpa.’ (verso 3)
Assumamos, para fins de argumentação, que a palavra hebraica traduzida como ‘dança’ realmente significa isto. (Muitas autoridades crêem que a palavra original, que significa ‘dar voltas’, poderia igualmente referir-se a um tipo de corneta ou trombeta que dava voltas ou era retorcida, ao invés de se referir a uma dança).
A questão é – o salmista está se referindo à adoração direta, ou às festividades nacionais dos judeus,incluindo os festivais de vitórias militares, com todo o seu regozijo ao ar-livre? À medida que lemos o salmo, a resposta torna-se óbvia. O Salmo 149 não é especificamente a respeito da adoração direta, pois estende-se amplamente sobre cada aspecto da vida nacional e particular. O salmista encoraja o povo de Deus a ser um povo que se regozija em cada setor da vida – o de adoração, o cívico, o de trabalho, e o de lazer. Assim, ‘danças’ claramente se refeririam à vida cultural e recreacional da nação. Os estudiosos nos dizem que a dança em rodopios ou volteios dos hebreus era uma atividade popular nas vilas, especialmente entre as crianças e adolescentes. Era completamente distanciada da dança de contato físico e de estimulação à sexualidade, dos nossos dias, e tinha um legítimo lugar nos grandes festivais cívicos.
O quinto verso do salmo, curiosamente, encoraja o povo a cantar bem alto sobre suas camas, enquanto o sexto verso deseja que eles louvem a Deus empunhando em suas mãos uma espada de dois gumes. Deviam eles literalmente levar camas e espadas para dentro do Templo, e empregá-los de alguma forma na adoração direta? É óbvio que não. Estes versos cobrem desde a adoração em privado até o serviço militar por amor ao Senhor.
O sétimo verso do salmo clama por vingança a ser executada sobre os gentios, e o oitavo clama para que os reis sejam presos com correntes. Uma vez que este salmo inclui festividades cívicas e paradas comemorativas de vitórias, não deveríamos nos surpreender em encontrar nele a menção de tamborins e danças. As regras para o Templo (para adoração direta) não foram contraditas. O senhor quer recato e simplicidade, e não entretenimento, show, barulho, desnecessária diversidade de instrumentos, e ostentação humana.
Que tal Salmo 150? Ele convoca o povo de Deus para louvá-Lo com tamborins, dança e órgãos, ao lado dos instrumentos permitidos para o Templo. (O órgão, como já temos dito, era um instrumento de sopro com sete a dez flautas.) O salmo assim começa – ‘Louvai ao SENHOR. Louvai a Deus no seu santuário; louvai-o no firmamento do seu poder.’
O ‘santuário’ aqui mencionado é descrito como ‘o firmamento do seu poder’ ou ‘poderosa expansão’ ou ‘poderosos céus’. Não é o Templo terrestre, mas sim o templo do inteiro universo, até mesmo a expansão infinita além do universo, onde anjos voam ao comando de Deus, e a terra é um pequenino grão de poeira 6. Como louvaríamos tal Deus?
O sexto verso do salmo nos diz que instrumentos não podem eles próprios ser um canal de louvor. Somente coisas que têm fôlego podem adorar. Somente almas viventes podem louvar ao Senhor. À luz disto, o salmo somente faz sentido quando entendido como um salmo ricamente figurativo, usando os tons característicos dos vários instrumentos para descrever as diferentes emoções da verdadeira adoração.
O puritano David Dickerson expressa isto em seu renomado comentário sobre os Salmos. Ele observa que ‘a pluralidade e variedade destes instrumentos era adequada para representar os vários sentimentos do homem espiritual … e para ensinar que incitação deveria haver das afeições e poderes de nossa alma para a adoração a Deus. Que melodia cada um deveria fazer em si mesmo …, para mostrar a excelência do louvor de Deus, a qual nenhum instrumento, nem qualquer expressão do corpo, poderia adequadamente expressar, seja com trombeta, saltério, etc.’
Aspectos dos Sentimentos
O pregador escocês Andrew Bonar escreve: ‘Na enumeração que este salmo faz de instrumentos musicais, há uma referência à variedade que existe entre os homens no modo de expressar alegria, e no modo excitar sentimentos.’ Em outras palavras, o salmo lista os instrumentos não como se devessem ser literalmente usados, mas como representando a gama de emoções que compõem a adoração sentida no coração. Os instrumentos são puramente figurativos ou representativos. Esta é a interpretação tradicional deste salmo.
A trombeta (verso 3) representa a nota da vitória. Nosso louvor deve ser ressonante, triunfante e exaltado. O saltério e a harpa dão os doces, doces tons da gratidão e do amor. O louvor deve ser cheio de sentimento. O tamborim e a dança (verso 4) falam da efervescente energia, esforço e entusiasmo de crianças e adolescentes envolvidos em uma atividade favorita. O louvor necessita e exige todas estas qualidades no coração do adorador.
Órgãos eram instrumentos de prazer ao invés de adoração, portanto somos aqui relembrados que o verdadeiro louvor deve ser o mais elevado deleite dos crentes, não meramente uma obrigação.
O quinto verso traz altos e ressonantes címbalos, uma óbvia alusão ao volume, força e poder do louvor digno.
Um popular estudo bíblico observa, a respeito deste salmo, que o escritor convoca para o louvor com todos os tipos de instrumentos musicais. Mas tomar esta visão muito literal deste salmo produz uma grave contradição na Bíblia. Deus é visto ordenando regras firmes, e então convocando a quebrá-las. O Salmo 150 não poderia cancelar e não cancela as restrições impostas sobre a música de adoração no Velho Testamento.
O Órgão de Hoje
Alguém pode objetar que o órgão-litúrgico de hoje é um enorme número de instrumentos ajuntados em um. É verdade, mas em seu favor, ele é tocado por um único instrumentista. Portanto, ao unir as suas vozes em um único som geral, ele pode afirmar, quando é tocado com modéstia e sensibilidade, ser um único instrumento.
O padrão de Deus permanece – que instrumentos musicais devem ser modestos em caráter, limitados em número, e jamais permitidos sobrepujar a inteligente e sincera oferta de adoração emanando das mentes e corações dos crentes. A ideia de que o Velho Testamento sanciona as palhaçadas musicais do presente tempo é baseada em uma visão extremamente superficial e equivocada dos dados bíblicos.
Adoração não é para exibicionismo humano. Deus resiste ao soberbo. Não é para se exibir ou admirar a habilidade artística humana. Jamais se deve permitir que auxílios musicais transformem a adoração em entretenimento. Estes nunca podem interferir com o caráter espiritual da adoração.
A adoração tradicional promove temor e reverência, espiritualidade e contemplação. Alegria deve fluir do coração, ao invés de ser desenvolvida através do excessivo uso de ajudas externas.
A adoração tradicional baseia-se na adoração bíblica, que obedece a certas restrições. O Senhor confia em Seu povo na utilização de auxílios musicais para apoiar o louvor, mas esta confiança nunca pode ser abusada. Esta confiança é completamente ignorada pelo estilo moderno de adoração.
Notas
1 – A primeira seleção de instrumentos feita por Davi, para a primeira e desastrosa tentativa de recuperação a arca, incluiu tamborins (II Samuel 6:5; I Crônicas 13:8). Enquanto a arca permaneceu na casa de Obede Edom, Davi reformulou e revisou radicalmente todos os arranjos para transportá-la, de modo a alinhá-los com a Lei. Neste tempo, foi dado a ele através de Gade (o vidente do rei) [e de Natã (o profeta)], novas instruções sobre os instrumentos musicais (II Crônicas 29:25). Agora o tamborim não foi incluído, e nunca mais aparece em qualquer lista de instrumentos para adoração direta ou adoração no Templo. O segundo estágio do retorno da arca (representando a regra vigente desde então) foi realizado sem ele. Provavelmente os címbalos foram usados principalmente como meio de dirigir a orquestra, uma vez que em I Crônicas 15:19, somente Asafe, o músico-chefe e outros dois líderes os tocaram. (voltar)
2 – A história do uso da trombeta na adoração remonta a Números 10, onde Deus ordenou duas trombetas de prata para o chamado do povo ao Tabernáculo. Os sacerdotes deviam tocá-las e continuar a fazê-lo pelas gerações futuras. Deviam ser tocadas em festas especiais e no começo do mês durante a queima das ofertas, para lembrar o povo da natureza da sua libertação histórica. Nunca foram instrumentos para acompanhar a adoração ‘comum’. Geralmente, o número de trombetas usadas em ocasiões especiais continuou a ser de duas (I Crônicas 16:6). Excepcionalmente, 120 sacerdotes tocaram trombetas na consagração do Templo de Salomão. Esta foi a maior multidão jamais reunida para adoração, e a maior e mais longa queima de ofertas. (voltar)
3 – A orquestra montada para acompanhar a arca para o segundo estágio da sua recuperação (uma procissão ao ar livre) teve três címbalos, onze liras e seis harpas. Uma vez que a arca estava no interior da tenda, a orquestra foi reduzida para oito harpas e liras, um címbalo e duas trombetas. O tamanho da orquestra mudou, mas nunca os tipos de instrumentos. A restrição foi mantida. Em I Crônicas 25:1-7, o número total de músicos era de 288, dos quais cerca de 260 formavam o coral. (voltar)
4 – ‘Sinagoga’ é uma palavra do Novo Testamento, mas a usamos aqui como um termo útil para descrever centros de adoração regionais e distritais – em outras palavras, a igrejas local judaica. (voltar)
5 – Com a única exceção do Salmo 5, que era para ser acompanhado com uma flauta solo. Este salmo, muito lamentador e nostálgico, era cantado nas peregrinações. (voltar)
6 – Alguns expositores dizem que isto fala tanto do santuário terrestre quanto do mais amplo firmamento. Neste caso, este é outro salmo que cobre todo o espectro da vida – da adoração no Templo, à vida cívica, à vida social. (voltar)
Artigo ” Worship in the Melting Pot – Part 2 – Brass, Strings and Percussion?”, publicado originalmente na edição nr. 70 da revista Sword & Trowel, 1998, No. 4, copyright 1998, Metropolitan Tabernacle , London ( www.MetropolitanTabernacle.org )
O artigo original está disponível em: http://www.freedomministries.org.uk/masters/worship2.shtml
O Dr Peter Masters é ministro do Metropolitan Tabernacle, em Londres, Inglaterra (a igreja de C.H. Spurgeon).
Texto traduzido em mar/2000, por Valdenira N. de M. Silva ([email protected], 0xx83.226.5219, Rua Buarque 198, João Pessoa, PB, 58045-160) e publicado no site http://solascriptura-tt.org/LiturgiaMusicaLouvorCulto/index.htm
Tradução revisada por Levi de Paula Tavares em janeiro de 2003