por: Carlos Renato de Lima Brito
No primeiro semestre de 2008, recebemos em uma de nossas igrejas de Juazeiro um pregador excelente e relativamente conhecido nos meios reformados e conservadores das igrejas evangélicas. [*] Posso me enquadrar perfeitamente nestes rótulos. Reformado por adotar as doutrinas da graça e conservador por minha visão tradicional a respeito das Escrituras, das doutrinas fundamentais e de um culto reverente, formal e espiritual. Ele compartilhou que sua igreja não utilizava instrumentos musicais e que só eram entoados salmos metrificados nos cultos como se fazia nas igrejas calvinistas do século XVI. Disse que esta não foi uma imposição dele, mas que sua igreja foi conscientizada a esta prática, à luz dos estudos e conclusões do seu pastor. Disse também que procurava se excluir da polêmica e que não impunha este estilo de culto como norma para igrejas irmãs, mas que acreditava ser este modo de adorar o que mais distanciava dos abusos que têm sido praticados pelas igrejas evangélicas hoje e que reflete o que as Escrituras dizem a respeito da adoração.
Há muito que comentar sobre este ponto de vista. Quero dizer, no entanto, que simpatizo com esta posição e que desenvolveria minha fé numa igreja desta postura sem sentir nenhuma saudade dos instrumentos, dos cânticos e dos recursos áudio visuais da adoração moderna. A adoração é um esforço espiritual e interior essencialmente. Ela não deve necessitar de estímulos externos para se concretizar e para se desenvolver. Como é terrível ouvir alguém dizer: “Pastor, domingo o louvor foi devagar; não tinha ninguém para tocar e o grupo de louvor não estava muito seguro!”. A adoração não depende dos instrumentos, mas da ação do Espírito Santo em nossas vidas; a adoração não depende de quem está a frente, mas de quem está dentro de nós, se este é real em nossas vidas e se vivemos a alegria da salvação com intensidade.
Apesar de simpatizar com o ponto de vista, não concordo que instrumentos musicais sejam proibidos na adoração. O salmos contém instruções para o uso de instrumentos em seus cabeçalhos e em suas poesias (Salmos 92:3). Salmos também eram usados pela igreja primitiva como instrumentos de edificação (Colossenses 3:16). Na adoração celestial, os instrumentos musicais são vistos acompanhando os cânticos de adoração (Apocalipse 5:8).
É fato que instrumentos musicais podem ser uma pedra de tropeço, se forem usados de forma inadequada. Há três circunstâncias em que instrumentos musicais são uma pedra de tropeço: quando o instrumentista utiliza recursos musicais inadequados ao ambiente reverente do culto, quando o instrumento está fortemente associado a uma prática não cristã ou alheia ao culto e quando o instrumento provoca escândalo e divisão em uma igreja. Não é correto fazer com que um clarinete dê uma gargalhada na inflexão do instrumentista numa quarta de oração, não é correto trazer o berimbau da capoeira para servir a uma introdução mais exótica para um hino nem é correto adotar a bateria porque o filho do pastor a toca, mas metade da igreja pede exclusão da membresia por causa do escândalo.
A polêmica continuará. Não importa quanto a gente tente responder a mesma pergunta. Ela sempre retorna numa outra circunstância.
Nota dos Editores do Música Sacra e Adoração: Sendo o autor membro da igreja Batista, é natural que ele fale dentro deste contexto. Porém, acreditamos que as reflexões levantadas por este artigo sejam válidas para todas as denominações cristãs. (voltar)
Fonte: ViolaBrito