por: Jean R. Habkost
A palavra chave, quando o assunto é música sacra é “equilíbrio”. Mas o que é equilíbrio? Pergunta-se a 100 pessoas a noção de equilíbrio, e teremos 100 opções diferentes. Qual delas devemos seguir?
Antes de responder leve em consideração dois textos:
“Assim diz o SENHOR: maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço e aparta o seu coração do SENHOR!” (Jeremias 17:5)
“Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o poderá conhecer?” (Jeremias 17:9)
Agora, a resposta cabível é: O equilibro de Deus, é o único que deve ser seguido! Não há opinião humana, muito menos gostos e desgostos que possam ser o mais correto a se seguir, pois “nossa justiça é trapo de imundícia” (Isaías 64:6). Devemos andar em linha reta, conforme nos diz o Senhor:
“Os teus ouvidos ouvirão a palavra do que está por detrás de ti, dizendo: Este é o caminho, andai nele; quando vos desviardes para a direita ou para a esquerda.” (Isaías 30:21)
“Não declines nem para a direita nem para a esquerda; retira o teu pé do mal.” (Provérbios 4:27).
Devemos buscar na Sua palavra a voz que nos diz o caminho, sem nos desviarmos nem para o liberalismo e comodismo conforme os prazeres, nem para um fanatismo sem o Espírito Santo. E no assunto de música, nada como buscar a luz em Sua palavra; para isso vejamos alguns aspectos como os instrumentos no Santuário e de alguns acontecimentos na vida de Davi.
O Transporte da Arca
Vamos primeiro a II Samuel 6:1-19. Leia este texto atentamente. Aqui encontramos Davi levando a arca para Jerusalém. Porém, aconteceram algumas coisas que são importantes para entendermos alguns princípios sobre música. Note no versículo 3 que a arca foi colocada sobre um carro de bois, e essa descrição é confirmada no versículo 6. No versículo 5 temos uma lista de instrumentos que o povo estava utilizando durante a viagem.
Agora, notemos o que aconteceu: os bois tropeçam Uzá (que não era levita) toca a arca e morre, (6), e Davi se enche de temor com o acontecido, questionando o que havida feito de errado (9). Por três meses a arca ficou na casa de Obede-Edom (11). Passado este período, Davi resolve tentar novamente trazer a arca para Jerusalém e com todo o cuidado tenta fazer o melhor possível para dar certo. Ele coloca as pessoas devidamente designadas para levarem a arca e muda também a parte musical do cortejo! Desta vez a arca foi levada ao som de trombetas, sendo retirados os tambores que haviam sido colocados antes. (15). Note que, para o cortejo continuar, Davi teve que fazer uma reforma.
Se compararmos I Crônicas 13:1-2 com I Crônicas 15:1-2, podemos dizer claramente que Davi teve que deixar de fazer do SEU jeito e passou a fazer conforme o jeito de Deus. (Leia também I Crônicas 15: 25-28 e Patriarcas e Profetas pp. 705 a 707).
Quanto à dança de Davi, adianto aqui a luz sobre essa questão:
“Outra vez pôs-se em movimento o longo séquito, e a música de harpas e cornetas, trombetas e címbalos, ressoava em direção ao céu, misturada com a melodia de muitas vozes. E Davi saltava. … diante do Senhor, acompanhando em sua alegria o ritmo do cântico.
A dança de Davi em júbilo reverente, perante Deus, tem sido citada pelos amantes dos prazeres para justificarem as danças modernas da moda; mas não há base para tal argumento. Em nosso tempo a dança está associada com a extravagância e as orgias noturnas. A saúde e a moral são sacrificadas ao prazer. Para os que freqüentam os bailes, Deus não é objeto de meditação e reverência;” (Patriarcas e Profetas pág. 707)
Instrumentos na adoração
Deus estabeleceu, primeiramente o Tabernáculo no deserto, e depois o Templo de Jerusalém como a sua habitação no antigo Israel. Depois temos as sinagogas no Novo Testamento e hoje temos nossas igrejas contemporâneas.
Vemos assim, uma clara modificação nos lugares onde o povo de Deus se reunia e se reúne para adorar. Não precisamos mais de sacrifícios, nem sermos judeus, pois a graça de Cristo está aberta a todos. Mas será que a adoração a Deus mudou também? Temos a base de que, assim como no serviço do antigo Templo, Deus não permitiu tambores em Sua adoração, hoje e na Nova Terra também não há de ter nem haverá de ter. Temos aqui versículos sobre instrumentos e adoração de Deus no céu: Apocalipse 5:8-14; 7:11-12; 11:16; 14:2; 15:2; 19:4. Devemos notar que em nenhum deles são citados tambores.
Mas vamos analisar melhor o serviço levítico de adoração no antigo Templo de Jerusalém, para vermos como era a adoração musical dentro dele, lembrando que o santuário terrestre é cópia do celestial; logo, o que houve nele aqui, há de haver lá no céu.
Em I Crônicas 25:1-6, temos a função e os instrumentos que deveriam fazer parte da adoração. Note que os profetas deveriam profetizar ao som de harpas, alaúdes e címbalos (1) e também o canto para a Casa do Senhor (6). Temos também no capítulo 28, versículo 19, a afirmação de que todo o serviço para o Santuário foi escrito por mandado de Deus. Temos mais uma confirmação disso em II Crônicas 29:25:
“Também estabeleceu os levitas na Casa do SENHOR com címbalos, alaúdes e harpas, segundo mandado de Davi e de Gade, o vidente do rei, e do profeta Natã; porque este mandado veio do SENHOR, por intermédio de seus profetas.”
Na vitória de Josafá sobre Moabe e Amom, o povo ao retornar para Jerusalém, entrou na casa de Deus para adorar com alaúdes, harpas e trombetas. (II Crônicas 20:28).
É interessante notarmos que é clara a distinção de instrumentos que Deus escolheu para a Sua adoração. Nada de instrumentos que enfatizam o ritmo, pois Deus sabe que o ritmo estimula o corpo, a harmonia a mente e a melodia o espírito; logo devemos ter uma música com menos ênfase no ritmo, melhorando a harmonia e enfatizando a melodia, que é a mensagem que deve ser pronunciada e gravada pelo seu povo.
Esdras 3:10 e Neemias 12:27 nos relatam mais ocasiões de louvor a Deus sem tambores e sim com os instrumentos que Deus havia ordenado como úteis para o Seu louvor.
Os Salmos
Salmos são o que poderíamos chamar hoje de “hinos”; porém hinos antes de vir o Messias, Jesus o Cristo. Existe a grande polêmica sobre os Salmos 149 e 150, mas antes de irmos até eles vejamos algo interessante em outros Salmos, os quais são todos feitos para os instrumentistas que Deus ordenou para o seu louvor:
Salmo 4 – “Salmo de Davi ao mestre de canto, com instrumentos de cordas“
Salmo 5 – “Salmo de Davi ao mestre de canto, para flautas“
Salmo 6 – “Salmo de Davi ao mestre de canto, com instrumentos de cordas. Em tom de oitava.”
Salmo 45:8 – “dos palácios de marfim os instrumentos de cordas e te alegram.”
Salmo 47:5 – “o Senhor subiu ao som de trombeta.”
Salmo 67 – “Ao mestre de canto, para instrumentos de cordas“
Salmo 76 – “”Ao mestre de canto, com instrumentos de cordas. Salmo de Asafe”
Salmo 88 – “Salmo dos filhos de Cora ao mestre de canto, para ser cantado com cítara“
Salmo 92: 1,3 – “(Cântico para o dia de Sábado) Bom é render graças ao Senhor, e cantar louvores ao teu nome, ó Altíssimo, anunciar de manhã a tua benignidade, e à noite a tua fidelidade, sobre um instrumento de dez cordas, e sobre o saltério, ao som solene da harpa.”
Salmo 108:2 – “Preparado está o meu coração, ó Deus; cantarei, sim, cantarei louvores, com toda a minha alma. Despertai, saltério e harpa; eu mesmo despertarei a aurora.”
Salmo 137:1,2 – “Junto aos rios de Babilônia, ali nos assentamos e nos pusemos a chorar, recordando-nos de Sião. Nos salgueiros que há no meio dela penduramos as nossas harpas,”
Salmo 147:7 – “Cantai ao SENHOR com ações de graças; entoai louvores, ao som da harpa, ao nosso Deus”
Interessantemente, nota-se que foram feitos salmos de louvores destinados a todos os instrumentos permitidos dentro do santuário, os quais Deus escolheu para que fosse louvado, e não vemos nem um Salmo para o mestre da percussão ou mestre dos tambores. Por que será?
“A exclusão do tambor no templo pode indicar que Deus não quis o instrumento na música de adoração por causa de sua relação direta com o misticismo e por sua influência no sentido de excitar as danças e embotar a consciência e o juízo. O ritmo do tambor que inclinava as pessoas à dança deveria estar fora do culto que requer a lucidez da mente para a compreensão da vontade de Deus. Além disso, uma vez que o templo era uma representação do trono de Deus, a música a ser usada ali deveria distinguir-se daquela usada nas celebrações profanas”. (Pastor Vanderlei Dorneles – Professor e doutorando em Teologia pela Andrews University)
“O Estudo da música e da liturgia do Templo de Jerusalém, bem como do Santuário celestial, foi muito instrutivo. Vimos que, por respeito pela presença de Deus, instrumentos de percussão e música de entretenimento que estimula as pessoas fisicamente, não eram permitidos nos serviços do Templo, nem são usados na liturgia do Santuário Celestial. Para a mesma razão, instrumentos rítmicos e música que estimula as pessoas fisicamente em vez de elevá-las espiritualmente, está fora de lugar na igreja hoje. A adoração nos dois templos, terrestres e celestial, também nos ensina que Deus deve ser adorado com grande reverência e respeito. Música na igreja não pode tratar Deus com frivolidade e irreverência. Deveria ajudar aquietar nossas almas e a responder a Ele em reverência.” (Pastor Samuele Bacchiocchi – Professor e Doutor em teologia na Andrews University)
“Uma possível explicação para não usar bateria pode ser que, por sua natureza, não é um instrumento melódico. Em toda a Bíblia, há numerosas referências para cantar e fazer “Melodia” com a voz e com instrumentos. Como a bateria não é capaz de fazer “melodia”, as sagradas Escrituras não a apresentam como sendo usada no santuário.
Dos três principais elementos da música – ritmo, melodia e harmonia – o ritmo é o elemento que oferece satisfação imediata, e não requer o grau de reflexão e contemplação que a melodia e a harmonia requerem. O aspecto característico da bateria e de outros instrumentos de percussão na música de hoje, é o de acentuar a batida suplantando a melodia e todos os outros elementos. Pesquisas científicas têm provado que quando o impulso e o repouso da música é rápido, apela mais ao físico. Por outro lado, quando o tempo entre o impulso e o repouso é mais lento, a mente é mais ativamente envolvida…
Esta é a razão pela qual os jovens naturalmente se inclinam para a música que é rápida ou que tem uma batida enérgica. O fato de ela ser contemporânea é significativo e relevante para eles – o que eles podem entender. Isso apóia o raciocínio de que se alguém quer que Deus controle sua mente, é difícil que Ele o faça através de uma maneira que acentua o físico no lugar da mente. ‘Satanás sabe que órgãos provocar para animar, absorver e seduzir a mente, de maneira que Cristo não seja desejado. Os anseios espirituais da alma por conhecimento divino, por crescimento na graça, estão ausentes’ (Lar Adventista, pág. 407)” (Professora Eurydice Osterman – Professora na Universidade Adventista de Oakwood e Doutora em Música)
E quanto aos tão polêmicos Salmos 149 e 150? Uma leitura com atenção e consideração pelo o que Deus quer dizer e o que devemos escutar e não o que queremos escutar, pode-se desvendar claramente a grande polêmica. Note no Salmo 149 os versículos 5 e 6 a referencia de leito e espada de dois gumes. Agora eu pergunto: Você leva a sua cama para igreja? Ou quem sabe vai armado? Creio que não! Seria dentro do templo? Também creio que não.
Mas e agora, o 150 logo no seu primeiro versículo nos diz que devemos louvar no seu santuário e no firmamento. O que falar do versículo 4 que diz que devemos louvar com adufes e danças? Isso é no santuário? Não!
O Salmo 150 não afirma desta forma: “Louvai a Deus no seu santuário COM…” mas simplesmente ele descreve uma lista de motivos e meios que podemos louvar a Deus.
Então podemos louvar a Deus com adufes?
Dois pontos com relação a isso:
- Nos dois capítulos (149 e 150), a palavra dança vem da palavra hebraica Maschowal que se refere a instrumento de sopro como a gaita de foles, cornetim ou flauta, e não a dança como sugere algumas traduções.
- Ainda que fossem adufes e danças, eu lhe pergunto: Depois de tudo o que já foi visto sobre o santuário e os instrumentos escolhidos por Deus, você acha que encontramos uma contradição Bíblica? Apenas um versículo pode contradizer toda lista e liturgia do santuário? De forma alguma!
Olhando no contexto histórico é simples encontrar onde louvar a Deus com “adufes” e “danças“, e este seria durante a guerra, onde tambores eram tocados para ritmar o exército a marchar (dançar) para o combate, honrando assim a Deus, pois Ele estava com eles nas batalhas e os fazia vencer. E hoje isso ainda se enquadra em nossa igreja, não em guerras, mas nas marchas dos Desbravadores em suas cerimônias ou em eventos como o desfile do dia da independência do Brasil (07 de setembro).
“Porque eu, o SENHOR, não mudo…” (Malaquias 3:6)
“…Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança.” (Tiago 1:17)
Deus ainda é o mesmo, e ainda quer o louvor como Ele ordenou que fosse. Deus não é secular, nem mundano, Deus é santo e quer um povo santo, com hábitos santos (separados).