por: Wolfgang H. M. Stefani
Análise do livro Joyful Noise: A Sensible Look at Christian Music (Um Barulho Alegre [*]: Um Olhar Sensível à Música Cristã), Hagerstown Review and Herald em 2003, 173 páginas, de Ed Christian.
A publicação do livro Joyful Noise por Ed Christian aumenta mais uma vez o nível do debate acerca da música. Isto sempre é valioso, porque ainda há muita coisa a ser discutida e aprendida acerca do discipulado cristão nesta área complexa de nossas vidas. Joyful Noise é, substancialmente, uma coletânea re-trabalhada de artigos publicados anteriormente com críticas ao livro do Dr. Samuele Bacchiocchi, O Cristão e a Música Rock. Ele pretende lançar “um olhar sensível à música cristã”, de forma a trazer cura a um assunto sensível e ajudar jovens alienados.
O apelo de Christian de que a música não deveria ser uma pedra de tropeço à unidade e que toda música deve ser colocada sobre o mesmo escrutínio é recomendável. Seus comentários sobre vídeos da MTV, entretenimento, aplausos, a necessidade que a música de adoração seja mais congregacional do que “música especial”, a razão pela qual os hinos tem sido rejeitados e a necessidade de bons líderes de cânticos são oportunas. As últimas sessenta ou mais páginas do livro apresentam reflexões genuínas vindas do coração de alguém com uma preocupação pastoral pela igreja.
Contudo, o impulso central e aparente propósito desta publicação necessita maior aprofundamento e exibe um tom cortante e argumentos fracos. Aqueles que acreditam que o processo de decisão cristã acerca da música é principalmente uma questão de gosto subjetivo – que “qualquer estilo de música pode ser utilizado para conduzir a mensagem cristã” e que “Deus aprova e abençoa, não importa qual seja o estilo de música”, desde que a letra apóie a fé e a unidade cristã não seja ameaçada – encontrarão neste livro uma bem-vinda conformação de seu ponto de vista. Porém, leitores que percebem a complexidade do assunto e que reconhecem a necessidade de algo mais objetivo serão desapontados com a falta de uma análise penetrante nas questões debatidas há séculos. Algumas preocupações mais importantes são:
Ao limitar sai discussão a uma reação ao livro do Dr. Bacchiocchi, o autor ignora o contexto mais amplo do debate, que transcende os limites das denominações cristãs, religiões mundiais, culturas e séculos. Se a resolução do debate sobre a música é tão simples quanto Christian sugere, por que não foi resolvido há gerações atrás? Christian dá a impressão que a discussão musical é essencialmente uma batalha entre amantes elitistas da música clássica ocidental e aqueles que são favoráveis à MCC (Música Cristã Contemporânea). Esta questão, porém, é muito mais complexa.
A afirmação de Christian de que as referências bíblicas à música são “menos úteis do que pensamos”, enquanto que, ao mesmo tempo ignora os escritos de Ellen White é tanto surpreendente quanto injustificável. Em contraste, sua ênfase nos chamados imperativos bíblicos ao entusiasmo, palmas e danças deixa qualquer um se perguntando o que havia de tão errado com o Movimento da Carne Santa, da campal de 1900 em Indiana, o qual foi combatido por Ellen White.
Uma característica frustrante do livro Joyful Noise é sua crítica cortante aos eruditos em diferentes áreas do conhecimento. Por exemplo, o autor faz uma caricatura do ponto de vista de Calvin M. Johansson, criando um quadro imaginário de sua igreja preferia como estando “morta ou morrendo”. Na realidade, Johansson é professor em uma universidade da Assembléia de Deus e é conhecido por seus escritos acerca da adoração carismática e práticas de música na adoração.
Através de todo seu livro, o mantra constante de Christian é que o estilo musical é neutro. Ele simplesmente afirma isso, nunca oferecendo evidências de suas afirmações. Embora ele admita que “há alguns estilos … que mesmo sem palavras são obscuros e ameaçadores” continua afirmando que “Deus pode ser louvado em qualquer estilo”. No final das contas, o que Christian está dizendo parece se resumir a fazer qualquer coisa que você sentir que está certo para você. Sem dúvida, as pessoas chegam ao conhecimento de Deus através de uma variedade de estilos musicais, mas Deus ainda considera Seus servos como responsáveis por aquilo que apresentam diante dEle.
Se adotarmos o ponto de vista de Christian, de que todos os estilos de música são igualmente válidos e que a ofensa à congregação é um árbitro significativo do que deve ser feito em um ambiente de adoração, estaremos, na verdade, legitimando o pretexto de as pessoas adorarem com qualquer música que acharem apropriada e a formarem grupos de adoração por interesses especiais, com base na similaridade do gosto musical. Por este raciocínio, em vez de favorecer a unidade, a música poderia tornar-se uma força ainda mais divisionista dentro de nossa igreja.
Embora Christian fale de seus pontos de vista em termos de relacionamentos na igreja e adoração, o que é elogiável, deixa de enunciar a sai visão musical – uma visão daquilo que “poderia ser” musicalmente na igreja. Sua filosofia de música é totalmente pragmática. Esta filosofia não necessita nem exige músicos adventistas, como parte de nossa mensagem holística, para fazer uma contribuição artística única, como um testemunha estática singular ao mundo.
O destino de nossos jovens é importante demais para que deixemos a nossa música derivando aleatoriamente, sem uma visão distintiva daquilo que “deve ser” para dirigi-la. Musicalmente, assim como em todas as outras áreas da vida, o comentário de P. T. Forsyth é pertinente: “A menos que haja dentro de nós aquilo que está acima de nós, em breve estaremos nos rendendo àquilo que está à nossa volta.” Creio que há jovens dentro de nossas fileiras que, com seu idealismo entusiasta e talentos concedidos por Deus, se levantarão para enfrentar o desafio de uma visão musical alternativa viável. Infelizmente, Joyful Noise perde esta oportunidade.
Observações dos editores do Música Sacra e Adoração – O Dr. Wolfgang H. M. Stefani, é um músico, erudito e pastor australiano. Ele recebeu formação acadêmica em música e tem um doutorado em Educação Religiosa pela Universidade Andrews em 1993. Sua tese doutoral trata de “O Conceito de Deus e o estilo da Música Sacra.” Ele tem ensinado música eclesiástica, hinologia, filosofia da música e educação religiosa em universidades e escolas. Tem servido por 14 anos como músico de igreja: organista, pianista, ministro de música, coordenador da música na igreja, e regente de coro. Apresentou mais de 60 seminários sobre música nos Estados Unidos, México, Japão, Austrália, França, Grã-Bretanha, Polônia e Escandinávia.
O Dr. Stefani esteve recentemente no Brasil, onde participou do 8º encontro de músicos realizado no Centro Universitário Adventista do UNASP, Campus 2 e ofereceu seminários e palestras em diversas cidades. Sua tese doutoral foi publicada sob o título “Música Sacra, Cultura e Adoração” pela Unaspress – Imprensa Universitária Adventista em 2002
Fonte: Biblical Perspectives
Traduzido por Levi de Paula Tavares em abril de 2008