por: Jorge Luis Jesuino
Você pode estar pensando em que isso nos ajudaria? Afinal de contas, nós somos os especialistas, nós estudamos a adoração de forma profunda e específica. Apesar destes argumentos, pense comigo. Não estamos, muitas vezes, suprindo as necessidades de nossas congregações, e isso é essencial para que cumpramos nosso ministério de forma coerente e plena. Você pode me dizer por que?
Pensei realmente em não escrever este estudo, pois tudo o que queria ter dito sobre a adoração frente à necessidade das pessoas, já foi dito nos outros três artigos desta apostila. Então o que falar sobre, Povo & Adoração, que seja concreto a nós, ministros musicais, e que ainda não foi dito? Quero deixar claro também que não vou entrar novamente na discussão que diz se devemos priorizar Deus ou as Pessoas, creio que esta pergunta já foi amplamente respondida nos estudos anteriores e talvez até escreva algo, especificamente sobre este assunto, no futuro.
O que me proponho com este estudo, é expressar a ideia que as pessoas precisam, muitas vezes, de nossa ajuda. Algumas estão até doentes espiritualmente, necessitadas do remédio que a Adoração pode ser. O Louvor & Adoração congregacional pode se estabelecer como o primeiro passo rumo à cura e/ou benção espiritual que procuramos. Não existe nenhum tipo de misticismo envolvido nesta afirmação, é que uma ministração voltada para as necessidades da congregação, traz o renovo, cura e benção que todos necessitam.
O grande problema nisso tudo, é que as pessoas, muitas vezes, preferem morrer, a ter de se abrir conosco. – Não podemos negar suas razões, passamos muito tempo nos preocupando apenas com nossos umbigos musicais – Por causa disso, não temos nenhuma condição de direcionar nossas ministrações as necessidades delas. Para resolver esta dificuldade, devemos colocar o povo em seu devido lugar, que é, nada mais, do que: Ouvir as dificuldades que sentem ao se relacionarem com Sua adoração.
Aprendi uma grande lição sobre isto no início deste ano. É que com toda esta agitação sobre a dengue, achei que acrescentaria às estatísticas o meu nome. Tinha razões para isso, passei uma boa parte de minhas férias em Mato Grosso o Sul, onde neste ano sofre de uma das piores epidemias desta doença. Pensando estar com dengue, comprei todos os remédios que pude, mas de forma incrível e impressionante, meu estado de saúde piorou.
Eu tinha total convicção que poderia me curar, afinal de contas às coisas são muito simples: tomamos um remédio e ficamos curados. Isso soa familiar? Não é este, o mesmo argumento que usamos em relação à adoração? Muitos dizem a congregação que cante algumas músicas, chamem estes momentos de adoração, e todos os problemas de suas vidas serão resolvidos. Tomar o remédio chamado Adoração é muito maior do que cantar algumas músicas, aprendi isso da pior forma possível.
Depois de alguns dias, com meu estado de saúde cada vez pior, decidi então ouvir minha esposa (porque não aprendo a ouvi-la sempre?) e procurar um especialista. Um médico, que é membro de nossa igreja e amigo nosso, nos visitou e começou nossa conversa com uma pergunta: “O que você tem Jorge?”. Quero deixar claro que não sou adepto da tolerância zero, mas esta pergunta é meio fora de sentido, não acha? O que tenho? Estava com dores em todo o corpo, febre alta, vômitos e uma tosse horrível, que não me deixa respirar direito. E ele me vem com uma pergunta dessas? – Certamente esta brincando comigo.
Jesus também tinha esta mania, vivia perguntando aos cegos, aleijados e toda sorte de moribundos de Israel: “O que queres que eu te faça?”. Não sei quanto a você, mas isso me incomodava. Se eu fosse um dos discípulos, certamente diria a Jesus: Não seria lógico supor que ele queira ser curado? Isso é tão lógico que chega a ser irritante.
Mas o que não conseguia compreender, é que perguntar, e também ouvir, o que as pessoas têm (mesmo que seja óbvio) nos abre a porta para ação. Quando alguém nos fala de suas necessidades, está nos dando o direito de tentar auxilia-las de modo preciso. Lembra-se do médico amigo meu? Por causa da pergunta que me fez, tive condições de lhe expor aquilo que gostaria que curasse, e ele de me receitar os remédios adequados para minha cura. É pelo mesmo motivo que Cristo perguntava as necessidades das pessoas, mesmo que fossem obvias.
Usar a adoração como remédio para as doenças da alma, é algo tão específico quanto qualquer remédio comprado em farmácias, sempre se deve ter uma orientação médica (não me esqueço mais disso), porque caso contrário, você tomará remédios contra a dengue, sendo que você tem uma broncopneumonia, nunca será curado com o remédio certo para a doença errada.
Disponibilizar o remédio certo, para a doença certa, é muitas vezes insuficiente no que se refere à congregação, por isso C.S.Lewis diz: “Há dois tipos de pessoas; as que dizem a Deus: Seja feita a tua vontade, e as que ouvem Deus dizer: Tudo bem, então faça o que você quiser.” Esta é a melhor definição que conheço sobre este ponto da questão. Haverá pessoas em nosso caminho que, mesmo doentes, não aceitarão tomar qualquer remédio que lhes ofereça. Tudo o que fizermos para auxiliar estes tipos de indivíduos será, muitas vezes, inútil. Mas porque isso acontece?
Elie Wisel, um sobrevivente judeu dos campos de concentração nazista, conta sobre um rabi que ele conheceu em Auschwitz: “Ele orava todo o tempo… recitava passagens inteiras do Talmude de cor… mas um dia ele disse: Está acabado. Deus nos abandonou.” Não é preciso estar dentro de um campo de concentração para se ter dúvidas ou desistir. Todos já tivemos momentos de dor intensa e pensamos realmente em desistir, ou será que isso só acontece comigo? Wisel, estava tão assustado e deprimido com o que via naquele campo, que proclamou: “Se Deus vivesse na Terra, as pessoas atirariam pedras nas janelas de Sua casa.” Isso lhe parece palavras de alguém mortalmente ferido emocionalmente e espiritualmente?
Temos a pretensão de acusarmos as pessoas que são sinceras o suficiente para demonstrar suas feridas, enquanto nós, muitas vezes, escondemos as nossas. Sei que pode parecer que estou entrando em um campo diferente que o do ministério musical, mas se colocamos o povo em seu devido lugar, então temos que lhes dar o remédio que necessitam, e nestes casos, de feridas extremas, um remédio extraordinário se faz necessário: Relacionamento.
Relacionamento
Quando a adoração congregacional não cumpre seu papel, por culpa das próprias pessoas que queremos ajudar, então temos que partir para o âmbito pessoal, e um relacionamento, saudável & sincero, se faz necessário.
Conheço algumas pessoas que não necessitam de mais sermões e nenhuma adoração as alcança mais, pois estão em um tal estado de petrificação cardíaca que somente um relacionamento pode lhes ajudar. O problema, é que muitas vezes elas não encontram pessoas dispostas a lhes ajudar e amar. Essas pessoas, são brutalmente sinceras, e tendem a machucar com suas “verdades” quem está por perto, por causa disso, estão normalmente sozinhas nos cantos da congregação, até que ninguém mais as notem, e nunca mais voltem.
Para se ter um relacionamento com essas pessoas, devemos deixar claro nossos conceitos e opiniões, respeitosamente devemos ser firmes no que acreditamos e principalmente deixar claro que não importa o que aconteça, ou ela diga, estaremos lá para um novo começo.
Com uma adoração verdadeira, e relacionamentos sinceros, conseguiremos colocar o povo em seu devido lugar, um lugar de bênçãos e de cura. Onde Deus, o Soberano & Senhor, se torna nosso Amigo & Provedor.
Que Deus possa abençoar a todos.
Jesuino
Projeto Ágape – Vila Mariana/SP