A Adoração

Colocando a Deus em Seu Devido Lugar

por: Jorge Luis Jesuino

Estou tendo uma certa dificuldade em começar este estudo, já apaguei mais de treze introduções diferentes, pois nenhuma delas descrevia em sua totalidade aquilo que gostaria de dizer. Espero não estar sofrendo uma síndrome de perfeição editorial, pois agora mesmo, já estou com uma imensa vontade de apagar mais este começo também. Estou me sentindo da mesma forma que Martinho Lutero, quando dizia que era um “verme diante da grandeza de Deus”.

Não tenho nenhuma condição intelectual de definir o lugar de Deus dentro de um ministério musical, pois Ele se enquadra em todos os aspectos que posso imaginar e é dono de tudo que posso pensar. Por isso Ele é Deus e eu homem. Então resolvi mudar o foco de minha visão, decidi também deixar de lado as leis do “bom escritor” e aceitar minha imaturidade e incompetência.

Descobri, da pior forma possível, que querer escrever sobre Deus em sua infinidade, é impossível com palavras, é impraticável falar dEle com uma mente limitada como a nossa (principalmente com a minha). Por isso Ele nos deu a adoração, para que pudéssemos expressar com, arte e sentimento, aquilo que nossas palavras não conseguem proclamar.

A única coisa que consigo pensar neste momento, é que: Colocar Deus em seu devido lugar, é mantê-Lo em primeiro lugar, dentro, não só de nossas vidas, mas também em nossos ministérios. Tendo um relacionamento íntimo, pessoal e crescente com Jesus Cristo. Além disso, precisamos nos manter íntegros, retirando de nossos caminhos os “deuses”, as pessoas e os objetos que possam entrar na frente dEle em nossas prioridades.

No livro de Provérbios (3:5-6) lemos: “Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas.” Pronto! Temos uma boa indicação de como devemos encarar o fato da presença de Deus em nossos ministérios musicais. Creio com todo meu coração, que nunca poderemos adorar alguém que não conhecemos, isso sem falar em nossas responsabilidades como ministro e sacerdócio.

Ron Mehl (a ternura dos dez mandamentos) diz algo sobre esse texto de provérbios que considero fantástico: “Todos os Teus caminhos significa, todas as nossas oportunidades e empreendimentos. A palavra Reconhecer não significa apenas conhece-Lo estudando sobre Ele, mas sim tendo um relacionamento com Ele.” Deus quer presentear nossos ministérios com sua, doce a amável, presença. Mas para que isso se torne realidade, devemos nos relacionar com Ele de forma sadia e plena.

O nosso problema, é que queremos, muitas vezes, as bênçãos de Deus, mas não temos o menor interesse em nos relacionar com o “dono das bênçãos”. Amamos ouvir sobre esse Ser amoroso e misericordioso, mas mudamos imediatamente de assunto, quando se começa a dizer sobre o Deus Justo. Chega a ser natural, nos dias de hoje, ter um relacionamento em que se tira vantagem pessoal. Mas para que nos relacionemos com Deus em nossos ministérios, precisamos mudar algumas coisas, começando com nossos conceitos egoístas.

Assim que Deus “entrar” em nossos ministérios, trará com Ele Suas “prioridades”, que devem ser seguidas por nós. E são essas prioridades que veremos a seguir.

Conversão

“Tão certo como eu vivo, diz o Senhor DEUS, não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que haveis morrer, ó casa de Israel?” (EZ 33:11)

Posso até ouvir: “Não! Não! Não! Você não vai me dizer, que tenho de colocar o ímpio e sua conversão em primeiro lugar no meu ministério, não é mesmo?” Vamos aos argumentos que certamente estão se construindo em sua cabeça:

1) Nosso ministério esta intimamente ligado à igreja local e seus cultos.
2) Temos como ferramenta principal de atuação, a música.
3) Já temos muitos problemas, para nos envolvermos com conversão de pessoas, aliás, pessoas ímpias e imorais.
4) Minha prioridade é Deus e nada mais importa.

Às vezes me assusta ver como nós, músicos & ministros, não gostamos (e até evitamos) de nos envolver com evangelismo pessoal e efetivo. Ficamos escondidos atrás de nossos instrumentos musicais (ou de nossa voz), como se fossem as únicas razões de nossa existência, ou de forma hipócrita, criamos conceitos que nos impedem de sair da plataforma. O pior disso tudo, é que, muitas vezes, inconscientemente, colocamos a culpa no próprio Deus.

Já disse isso, mas acho bom repetir: “quando Deus entrar em nosso ministério, trará com ele suas prioridades”. E sem nenhuma sombra de dúvida, a conversão de pessoas é uma de Suas prioridades mais urgentes (não tenho prazer na morte do ímpio). Sei que essa é uma “obrigação” temporária – na eternidade, não haverá necessidade de evangelistas, só de adoradores – mas no mundo caído em que viemos hoje, o evangelismo se faz tão necessário como a adoração e o ensino.

Priorizar o evangelismo (e portanto as pessoas) em nossos ministérios musicais, não é retirar o lugar merecido de Deus, mas sim, coloca-Lo em seu devido lugar. Creio que Ele se alegrará de forma surpreendente, quando ver que Seu amor pelos “ímpios & imorais” está sendo transmitido de forma magnífica em nossas músicas. Mas para que isso seja possível, é necessário que consigamos ver com os olhos de Deus, que são cheios de amor.

Demonstrar Seu amor com nossas composições, não retira de Deus nossa prioridade, pelo contrário, todos nossos atos de amor, para com as pessoas, são recebidos por Ele como adoração. Foi exatamente Ele quem nos ensinou: “Como o Pai me amou, também eu vos amei a vós; permanecei no meu amor.” (JO 15:9) O próprio Jesus Cristo teve atitudes de amor incondicional a nós homens: “Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu há seu tempo pelos ímpios.” (RM 5:6)

O que acontece, muitas vezes, é que nos esquecemos daquilo que Deus fez conosco. Sabemos que Ele morreu por nós e pelos nossos pecados, mas perdemos completamente a lembrança da vida que tínhamos quando fomos resgatados por Seu amor e por Sua adoração. Então não conseguimos olhar as pessoas como seres-humanos fracos e necessitados, só os vemos com ímpios e uma ameaça real para nossa “adoração”.

Graças a Deus que uma de suas prioridades, é a conversão, e que alguém um dia entendeu isso, porque assim, pude ser resgatado para a presença de dEle também. Gostaria que meu ministério musical, pudesse ser um “meio” para, além de auxiliar na conversão de almas ao Seu reino, as pessoas conhecessem a Ele e toda sua personalidade através de algo chamado: Santificação.

Santificação

“Santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós.”(1PE 3:15)

Quase todos sabem que a santificação (assim como a adoração) deve ser feita numa vida diária de crescimento consistente e contínuo. A maioria de nós descobre, mais cedo ou mais tarde, que esse “crescimento” não é algo rápido e muito menos fácil. Aprendemos com isso, que todos devemos nos posicionar dentro dos propósitos de Deus para nossas vidas e ministérios. Muitas vezes, isso acontece de uma forma tão lenta que não distinguimos esse desenvolvimento, porque Deus, muitas vezes, trabalha de forma lenta… mas para nossa alegria, Ele sempre trabalha.

Como ministros musicais, queremos as coisas de forma imediata, pensamos e nos acostumamos com isso. Achamos que a santificação é igual a música que tocamos: existirá uma “pequena” introdução, e logo em seguida já começará o que realmente interessa. Mas, para nosso desespero, não é assim.

Priorizar Deus em Sua santificação, é compreender que Ele nunca pára (mesmo que para nós pareça estar parado), nunca nos abandona, e nunca desiste. Temos vários exemplos que demonstram esta personalidade no Deus que cantamos e adoramos: Lembra do povo no deserto? Eles ficaram quarenta anos, sendo tratados, para então poderem entrar na terra que Deus tinha prometido a seus pais. E de Abraão? Um velho ancião, que via a promessa de Deus para sua vida, indo embora junto com sua idade avançada. Paulo? O grande “caçador de Cristãos”, três dias, sentado, cego e indefeso, numa praça em Israel.

Até Seu filho pode contemplar a personalidade de Deus, Lembra-se de Cristo? Ficou pendurado numa Cruz, em horas de dor e agonia, para então ser glorificado depois de três dias. Deus não toma atitudes “estranhas” conosco, por simples prazer cósmico ou necessidade de auto-afirmação, mas sim por amor e por saber o que é melhor para nós. Afinal foi Ele quem disse: “Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte.” (PV 14:12)

Não existe condição alguma de nos guiarmos sem a infinita sabedoria dEle, confiar em nós mesmos, é o mesmo que deixar o lobo cuidando do galinheiro. Mesmo que, muitas vezes, não compreendamos o que Deus quer fazer em nós, e não entendamos o porque das lutas e aflições, precisamos nos lembrar de Pedro que nos ensina: “Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de vós.” (1PE 5:7)

Somos essenciais para a Sua obra, mas não somos insubstituíveis. Ele quer nos usar, mas usará somente quem deixar. Para a nossa felicidade, esse “tratamento” vai nos levar novamente às pessoas, por que? Ron Mehl (a ternura dos dez mandamentos) responde esta pergunta melhor que eu: “Não existe nenhuma possibilidade de colocar Deus em primeiro lugar em nossa vida (e também ministério) e não ser notado. As pessoas não podem deixar de perceber algo diferente em você por causa de suas atitudes para com elas.” É interessante, mas priorizando a Ele e sua personalidade, as necessidades da congregação, saltam aos olhos do ministério que busca priorizar a Deus.

Conclusão

“Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados. Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé.” (1JO 5:3-4)

Estudar o lugar de Deus em nossos ministérios, é identificar qual o nosso lugar em relação a Ele, assim como os de nossas músicas também. O apóstolo João disse que os mandamentos do Senhor não são pesados, é exatamente por isso que são altamente aplicáveis as nossas realidades, mesmo a musical. Quando colocamos os interesses dEle em nossas músicas, retiramos qualquer interesse humano delas, abrimos nossos corações a Sua inspeção de prioridades e aceitamos qualquer mudança que queira fazer, mesmo que machuque nosso ego.

Adicionar os conceitos de Conversão & Santificação em nossos ministérios musicais, não é só possível como exigido. Necessitamos fazer com que as pessoas olhem para Deus enquanto nos ouvem. Nossas músicas devem conter letras que estejam de acordo com a verdade bíblica que se deve viver. Transmitir esta verdade, também significa, ensina-la.

Priorizar a Deus, é adquirir os mesmos olhos dEle; Amar a Deus, é olhar na mesma direção que Ele; Adorar a Deus é, também, cuidar de Seus interesses – E não existe maior interesse para um pai amoroso, do que saber que seus filhos estão sendo bem tratados neste mundo.

Até a próxima…

Jesuino
Projeto Ágape – Vila Mariana/SP

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