A Adoração

A Adoração Reconhecida pelo Céu

por: Cláudio Hirle

Culto sem a Palavra(*) é multidão sem pão e assembléia sem Deus

Jesus Cristo anunciou a decepção a ser sofrida por muitos cristãos no grande “dia de Deus”, quando perceberem que toda a sua prática religiosa e expressão de adoração de uma vida inteira foram vãs. Essas pessoas vão descobrir que suas profecias, exorcismos, milagres, cânticos e preces não foram reconhecidos por Deus (Mateus 7:22 e 23 e 15:9). Que desilusão!

A adoração é tema central no Grande Conflito, e merece atenção especial nos últimos dias, quando o profano está tão perto do sagrado. Afinal, o que torna um culto aceitável a Deus? Que espécie de adoração é reconhecida pelo Céu?

O apóstolo Paulo, escrevendo ao jovem Timóteo, recomenda: “prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina… e se recusarão a dar ouvidos à verdade…” (II Timóteo 4: 2-4).

Este é, sem dúvida, um dos textos mais solenes para estes dias. Exatamente hoje muitas pessoas não estão suportando a verdadeira doutrina bíblica. É tempo de retornar à Palavra.

Não há outra maneira de obtermos segurança quanto à legitimidade de nossa adoração, a não ser na Palavra, pois é ela que atesta a “sã doutrina”, inclusive a doutrina da adoração. É a Palavra que normatiza o culto.

No mundo atual há uma generalizada busca por sensações, uma demanda por excitações. No culto e nas igrejas não é diferente. As pessoas querem emoções. Mas, a adoração embasada na Palavra é racional (Romanos 12:1).

Não se pode minimizar a importância do papel da Palavra no culto. É ela que prepara e habilita à adoração genuína. É ela que identifica o objeto da adoração: Deus. Ela indica as atitudes e o espírito adequados ao exercício da adoração, e ainda transfere o caráter de quem é adorado.

Portanto, grande erro é cometido ao se desenvolver qualquer programa ou encontro na casa de Deus, sem a centralidade da Palavra. Na igreja qualquer programa será fútil e vazio se a Palavra não ocupar a posição primordial.

Qualquer concentração da igreja, seja um encontro jovem, um musical, que ofereça arte, cultura e emoção, se não oferecer a Palavra ou se atribuir a ela posição secundária, poderá levar os presentes a qualquer reação, menos a uma atitude de adoração.

A arte tem o poder de impressionar e emocionar, mas é a Palavra que tem o poder de transformar. O espetáculo pode atrair público, mas quem vai converter é a Palavra apresentada no poder do Espírito (Hebreus 4:12). Como bem expressou Ellen White: “Uma sentença das Escrituras é de mais valor que dez mil pensamentos humanos” (White, Ellen. Testemunhos Seletos III. pág. 110).

Por tudo isso, a Palavra deve exercer papel central no culto. Caso contrário, os adoradores ficam privados do referencial para a adoração autêntica e perdem a sintonia com o Céu. Pode-se dizer que adoração sem revelação ou culto sem uso da Palavra, é mesa vazia, congregação faminta, multidão sem pão e assembléia sem Deus.

A adoração autenticada por Deus e o culto reconhecido pelo Céu tem a Palavra como seu núcleo. E este é o único culto que verdadeiramente alimenta e edifica o adorador.

Quando buscamos na Bíblia diretrizes para a adoração verdadeira, encontramos as informações necessárias para a identificação de sua natureza. Há duas cenas bíblicas em que nitidamente o culto verdadeiro e o falso foram contrastados. Elas servem de referência para a análise do culto.

O confronto entre a verdadeira e a falsa adoração é antigo. Remonta o tempo dos filhos de Adão. Caim estabeleceu um padrão próprio de adoração (Gênesis 4:3 e 5). Abel, por sua vez, seguiu o padrão de adoração estabelecido por Deus (Gênesis 4:4). Enquanto a adoração de Caim foi pomposa, atraente, chamativa, de fazer barulho, a de Abel foi simples, pura e obediente.

Caim usou um padrão humano, baseado na racionalização humana. Mas, a adoração legítima é regulada, não pela vontade humana, mas pela racionalização prescrita pelo “Assim diz o Senhor”.

E foi nesta base que a adoração de Abel foi estabelecida, e logo autenticada pelo Senhor: “Lampejou o fogo do Céu, e consumiu o sacrifício” (White, Ellen. Patriarcas e Profetas. Pág. 71). A história de Caim e Abel revela que existe apenas um padrão de adoração que o céu autoriza: o padrão que o próprio Deus estabeleceu em Sua Palavra.

Outro episódio bíblico bastante esclarecedor é o desafio entre Elias e os profetas de Baal. O contraste entre as atitudes adotadas de cada lado é bem perceptível. Os profetas de Baal invocaram seu deus com “saltos, contorsões e gritos histéricos, arrancando os cabelos e retalhando as próprias carnes” (White, Ellen. Profetas e Reis. Pág. 149). A natureza desta adoração foi caracterizada pelo barulho e pelo espírito de espetáculo. E não houve resposta, não houve fogo para consumir o sacrifício.

Já a natureza da adoração do profeta Elias foi outra. O gesto de culto foi singelo: Ele “orou com simplicidade e fervor” (White, Ellen. Profetas e Reis. Pág. 149).

A natureza de sua adoração foi diferente porque a natureza do seu Deus é outra. E qual é a natureza do Deus de Elias? O comentário de Ellen White sobre o texto de I Reis 19:11-12 lança luz sobre este ponto: “Nem sempre a obra que faz as maiores demonstrações é a mais bem sucedida em realizar o propósito de Deus… Nem sempre é a mais brilhante apresentação da verdade de Deus que convence e converte a alma. … É ainda a voz mansa e delicada do Espírito de Deus que tem poder para mudar o coração” (White, Ellen. Profetas e Reis. Pág. 164-165).

Não nos enganemos Deus não está no “forte vento” do ruído. Deus não está no “terremoto” do espetáculo. Deus não está no “fogo” dos saltos e gritos histéricos. Deus está na “mansa e suave brisa” do Seu Espírito.

Esta é a natureza do Deus da Bíblia: decência, ordem e solenidade. E como o adorador se comporta bem de acordo com a natureza do seu Deus, imitando-lhe o caráter, os verdadeiros adoradores estarão ajustados a este padrão de adoração.

A natureza da verdadeira adoração é, portanto, o que distingue o culto genuíno do falso. E conforme ficou verificado, na identificação da natureza desta legítima adoração, a palavra exerce papel fundamental. E a Palavra em última instância é Jesus (João 1:1). Dispensar a Palavra é então, dispensar Jesus. E sem Jesus não sobra nada, a não ser sensações vazias.

Hoje quando a controvérsia entre a verdadeira e a falsa adoração se intensifica, voltemos à Bíblia. Nela está a adoração que o Céu reconhece, segundo Paulo, racional, centralizada na Palavra. Conforme modelada por Abel, enquadra-se a um padrão divino, e não a um padrão humano. De acordo com o exemplo de Elias, ela é simples, fervorosa e solene, pois, a natureza do nosso Deus é distinta da de Baal. Ele não está na ostentação, nem nas contorções, nem no ruído. Ele se manifesta na voz mansa e delicada do Seu Espírito.


Mateus 7:22 e 23 “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.” (voltar)

Mateus15:9 “Porque do coração procedem os maus pensamentos, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.” (voltar)

Romanos 12:1 “Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” (voltar)

Hebreus 4:12 “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão de alma e espírito, e de juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.” (voltar)

Gênesis 4:3 e 5 “Ao cabo de dias trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao Senhor.” “mas para Caim e para a sua oferta não atentou. Pelo que irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante.” (voltar)

Gênesis 4:4 “Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura. Ora, atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta,” (voltar)

I Reis 19:11-12 “Ao que Deus lhe disse: Vem cá fora, e põe-te no monte perante o Senhor: E eis que o Senhor passou; e um grande e forte vento fendia os montes e despedaçava as penhas diante do Senhor, porém o Senhor não estava no vento; e depois do vento um terremoto, porém o Senhor não estava no terremoto; e depois do terremoto um fogo, porém o Senhor não estava no fogo; e ainda depois do fogo uma voz mansa e delicada.” (voltar)

João 1:1 “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” (voltar)


Cláudio Hirle é pastor adventista, atuando no distrito do Jaraguá – B.H.

(*) – O autor usa a expressão “Palavra” no sentido de “mensagem bíblica”, não necessariamente de sermão falado. (Nota dos editores do Música Sacra e Adoração) (voltar)

Tags: , , ,